sábado, 21 de junho de 2014

Sobre o facilitismo patente nos exames. O caso da Geografia...

As aulas terminaram e, depois das reuniões de avaliação, alunos e professores encontram-se em plena fase de exames. Este ano letivo não tive turmas do 11º ano, pelo que não tive a preocupação acrescida de ter de "preparar" os alunos para o exame de Geografia A. No entanto, tive uma turma do 10º ano que daqui a um ano terá de fazer o exame de Geografia A, com matéria dos 10º e 11º anos de escolaridade. E, felizmente, muitos alunos desta turma já pensam nos exames, com um ano de antecedência... Daí que tenha tido a curiosidade de ver até que ponto é que o exame de Geografia A deste ano continuava a ter o mesmo grau de dificuldade (reduzida) dos anos anteriores. Ainda por cima, durante a última semana, as notícias vindas a público sobre os exames já realizados (Português, Filosofia, entre outros) tinham tido algo em comum: o facilitismo. 
Pois bem, o exame de Geografia A deste ano lectivo teve uma novidade em relação ao do ano anterior: o número de questões de escolha múltipla aumentou de 20 para 24 e o seu peso na cotação total (de 200 pontos) passou de 100 para 120 pontos. Ou seja, num exame do ensino secundário de uma disciplina que pertence às ciências sociais e humanas, mais de metade das questões são respondidas com uma cruz!!! E, ainda por cima, se dão quatro hipóteses de resposta e uma delas está correta, a probabilidade de responder corretamente é de 25%, o que na verdade aumenta para 50% se tivermos em linha de conta que duas das hipóteses apresentadas são "descaradamente" erradas.
Assim, temos que, uma vez mais o IAVE (provavelmente a mando do MEC) continua a desprezar a capacidade que os alunos devem ter para responderem de forma descritiva às questões, preferindo a lógica das questões de escolha múltipla. Cada vez mais se ignoram as questões de desenvolvimento (descreva, explique, caraterize, justifique...) e se insiste nas questões de resposta curta (indique, identifique). É inadmissível que numa disciplina das ciências sociais e humanas o MEC continue a permitir que o IAVE elabore exames deste género. E nos grupos de desenvolvimento (em seis grupos apenas dois têm questões de desenvolvimento) o grau de dificuldade também não é considerável. Deixo apenas aqui o exemplo de um dos grupos de desenvolvimento do exame de Geografia A deste ano em que qualquer aluno razoável do 9º ano se consegue safar. Repare-se que das três questões formuladas neste grupo duas respondem-se com meia dúzia de palavras e apenas a terceira questão implica uma resposta mais extensa, mas sem ter de apresentar qualquer justificação ou enumerar conclusões com base na análise de um mapa ou gráfico. 
Enfim, andam os professores de Geografia a "debitar" matéria desde o 7º ao 11º ano de escolaridade para depois termos exames deste calibre. Os testes que os meus alunos fazem são bem mais difíceis e exigentes do que esta espécie de exame. E depois temos os professores das universidades a queixarem-se de muitos dos alunos que têm. Pudera! Com o nível de exigência e dificuldade que os exames do IAVE apresentam não admira que um aluno medíocre consiga, com algumas aulas de apoio, ter 10 valores neste exame...