segunda-feira, 24 de julho de 2006

Aferir para ter sucesso? Não me parece...

A Ministra da Educação, em entrevista ao JN, afirma que "para prevenir o insucesso no fim do básico, precisamos de ter instrumentos de aferição e controlo da qualidade das aprendizagens no final do 1.º, 2.º e 3º ciclos". Ora, a questão que se deve colocar a esta proposta é muito simples: "Será que um aluno, ao saber que vai realizar uma prova que nada influi na sua avaliação, se empenha de forma adequada e exigível na realização da mesma?". Não me parece...
Por isso é que penso que a proposta da Ministra em avançar, no próximo ano lectivo, com provas de aferição no final do 1º e 2º ciclos apenas servirá para gastar recursos financeiros, não permitindo uma cabal análise da realidade do processo de ensino-aprendizagem em Portugal. Bem pelo contrário, as desigualdades entre as escolas de elite e as escolas mais desfavorecidas aumentarão, dado que os resultados dos alunos menos empenhados ainda serão bem piores de quando os mesmos prestam provas sabendo que as notas dessas provas poderão pesar na sua avaliação final.
Pois eu proponho duas medidas, porventura algo radicais: estender o nível de classificação de 0 a 20 ao ensino básico, acabando com a classificação inócua e injusta que vai de 0 a 5, e avançar para um sistema de provas globais (nacionais ou ao nível de escola) de cariz anual e a todas as disciplinas, tendo as mesmas um peso de 40% na classificação final. É que temos que levar os alunos a pensar que a Escola é para levar a sério!!! E as provas de aferição não os levam a pensar assim...

quinta-feira, 20 de julho de 2006

Défice de humildade...

A forma como a Ministra da Educação tem vindo a lidar com todo o processo relacionado com a repetição dos exames de Física e de Química do 12º ano revela, no mínimo, uma insensatez e falta de capacidade de auto-análise pelos erros de cálculo revelados pelos serviços do Ministério da Educação quando estes já sabiam antecipadamente das quatro razões que a Ministra considerou como justificativas para mandar repetir estes exames.
Apesar de tudo, não considero que as quatro justificações invocadas pela Ministra sejam inócuas; apenas penso que as mesmas já eram do conhecimento do seu Ministério, pelo que nunca poderão ser rejeitados erros de omissão, falta de ponderação e notória incapacidade de antecipação de problemas que se sabiam vir poder a existir...
Deste modo, justificar a aplicação de um regime de excepção com base em quatro circunstâncias que já eram conhecidas antes da realização do primeiro exame é razão mais do que óbvia para levar a opinião pública pensar que o princípio da igualdade não foi respeitado apenas porque os resultados dos exames de Física e Química na 1ª fase foram um descalabro. É que é essa a justificação que é dada pela despacho ministerial que valida uma segunda oportunidade concedida a alguns alunos... E, assim não vale!!!
Reconhecer o erro é uma atitude nobre em política. Pena é que também seja uma raridade!!!

quarta-feira, 12 de julho de 2006

Debate da Nação: o estado da Educação...

Teve hoje lugar na Assembleia da República mais um debate da Nação, cujos temas principais foram a Educação e a Ciência. O Primeiro-Ministro avançou com uma novidade e discorreu sobre algumas das principais medidas tomadas a cabo por este Governo na matéria versada.
Passemos então à análise da intervenção de José Sócrates.
Quanto à medida anunciada hoje de reforçar, nos próximos anos, as áreas da educação, da formação e da ciência com mais 1.300 milhões de euros em relação ao anterior quadro comunitário de apoio apenas se pode, por enquanto, afirmar que, mais do que a quantidade de financiamentos previstos interessa ponderar a sua forma de gestão e aplicação. Digo isto porque estaremos muito mal se os fundos comunitários continuarem a ser canalizados para encher os bolsos de formadores em acções de formação que deixam muito a desejar. Deste modo, prefiro não ter grandes expectativas...
Quanto às três medidas já implementadas e elogiadas por Sócrates no seu discurso no Debate da Nação diremos que:
- o reforço do ensino tecnológico e profissional nas escolas públicas, de necessidade premente, poderá ter bons resultados, desde que o mesmo não seja feito à custa da redução de exigência científica a ministrar, pelo que, também aqui há que esperar para avaliar os resultados de tal medida;
- as aulas de substituição foram, no último ano lectivo, um verdadeiro descalabro na maioria das escolas, na medida em que, na sua generalidade, funcionaram como autênticas aulas de ocupação de alunos, com notórias falhas ao nível do desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem, visto que as escolas não conseguiram arranjar mecanismos de substituição do professor em falta por outro docente da mesma disciplina, pelo que há que rever a aplicação desta medida;
- o concurso plurianual de colocação de professores, embora com objectivos desejáveis de diminuição da instabilidade do corpo docente das escolas, apenas poderá ser aferido, em termos de resultados, no segundo ano de aplicação, no sentido de apurar se os corpos dirigentes das escolas terão a preocupação ou não de manter os professores com as mesmas turmas do ano anterior.

quinta-feira, 6 de julho de 2006

Este ano calhou-me a fava...

Nos últimos três dias a expressão que mais vezes tenho ouvido dos meus colegas lá da escola foi esta: "Este ano calhou-te a fava...". E, logo a mim que ando cheio de trabalho, com a tese de mestrado em atraso e envolto em muitas outras peripécias que agora não interessam ao caso. E o que é isto da fava? Pois bem, trata-se da instauração de pedidos de revisão de notas...
A verdade é que, fui visado, e logo duas vezes, ao nível de recursos interpostos por Encarregados de Educação tendentes a alterar a classificação obtida pelos seus educandos à minha disciplina. Claro que não poderei falar dos casos em concreto, até porque se encontram ainda em fase de resolução, pelo que se tratam de situações confidenciais, mas sempre poderei reflectir um pouco sobre a forma como este tipo de situações, sempre aborrecidas, são resolvidas.
Pois bem, considero a actual legislação que rege este tipo de casos como, grosso modo, equilibrada e visando proteger os alunos de situações injustas que lhes possam acontecer em termos da atribuição dos níveis de avaliação. No entanto, penso que o modo como o pedido de revisão de nota é efectuado não devia ser tão arbitrário, ao ponto de termos casos de Encarregados de Educação que, simplesmente, pedem a revisão da nota sem conseguirem fundamentar de forma concreta a sua pretensão. Será que tem lógica uma mãe pedir a revisão de nota do seu filho, quando a mesma nunca se interessou por saber quais os critérios de avaliação vigentes na disciplina em causa? E, não nos esqueçamos que o Director de Turma os pode facultar ao Encarregado de Educação se este os solicitar...
Digo isto porque, para além dos dois pedidos de revisão que tive em mãos, ainda participei num pedido de revisão de nota doutra disciplina. E nesse pedido de revisão aquilo que ouvi da participação da Encarregada de Educação do aluno sobre a professora visada é de bradar aos céus: ou a professora não percebe nada da sua profissão ou a mãe da aluna inventa muito... Não seria melhor existir uma minuta própria para o efeito, a ser preenchida de forma conveniente para evitar considerações que, muitas vezes, só servem para extremar posições entre pais e professores?