A primeira semana de aulas, das cerca de trinta e cinco que este ano lectivo vai ter, chegou ao fim. Uma nova escola, novos alunos, novos colegas, novos procedimentos, enfim, uma nova experiência que se tem revelado bastante positiva.
Mas o que mais me surpreendeu nesta primeira semana de aulas foi mesmo o relato que ouvi de verdadeiras histórias alucinantes de colegas que fazem enormes sacrifícios para exercerem a sua função docente. Fiquei particularmente sensibilizado com as histórias de algumas colegas que, com filhos menores, fazem centenas de quilómetros por dia e passam três a quatro horas diárias a conduzir para, ao final de um estafante dia de trabalho, poderem estar junto da sua família. Numa classe profissional maioritariamente feminina, estas histórias são mais do que marcantes...
Há quatro anos que não tinha necessidade de fazer boleias. Agora, numa escola mais longínqua de casa e onde as boleias são o "pão nosso de cada dia" há já muitos anos, visto que uma percentagem considerável de professores são de fora, as conversas tidas durante as viagens permitem que nos possamos aperceber dos grandes sacrifícios que muitos professores (e, sobretudo professoras) fazem para poderem exercer a sua profissão. A este propósito, chocou-me o caso de uma colega que todos os dias passa quase quatro horas do dia em viagem... Mas conheci outros casos, como o de vários colegas que, simplesmente, foram obrigados a mudarem de área de residência (situação que se torna mais complicada quando há uns anos atrás resolveram comprar casa e se vêem agora obrigados a arrendar outra casa). Ou o caso mais chocante de todos: o de uma colega contratada que a viver em Viseu, com dois filhos menores, foi colocada em Guimarães e vai ter de ir com os filhos para a cidade-berço, enquanto o marido vai ficar por Viseu. Famílias separadas e destroçadas, onde os filhos são os grandes sacrificados...
A este propósito, a revista Visão desta semana traz uma interessante reportagem sobre a difícil vida daqueles professores que, já com muitos anos de serviço, continuam a ter uma situação mais do que instável. São histórias de vida iguais a muitas outras que conhecemos de colegas nossos e que deveriam merecer um pouco de reflexão...
Este ano (e, provavelmente nos próximos quatro anos) lá vou ter as minhas boleias para fazer os cerca de 50 kms do percurso casa-escola. Para além de se poupar dinheiro, tem a grande vantagem de podermos confraternizar com os nossos colegas de trabalho. Somos quatro ou cinco num carro, onde as conversas vão para além do que se passa na escola, apesar de sabermos que estamos numa profissão onde o trabalho e as preocupações com a escola não ficam do lado de dentro da escola. Deveriam, mas, por muito que não queiramos, há sempre trabalho da escola que tem de ser feito em casa. E quem tem disciplinas onde não existe manual (sobretudo as técnicas dos cursos profissionais) sabe do que falo...
Claro que cada caso é um caso e também conhecemos os casos de colegas que acabaram beneficiados pelas regras, mais do que duvidosas, que este ano foram estabelecidas nos concursos de professores: colegas menos graduados que por estarem afectos a um QZP acabaram por ultrapassar colegas mais graduados e ficaram colocados próximo de casa, enquanto que outros com mais graduação, mas afectos a uma escola, não conseguiram colocação na mobilidade interna ou conseguiram numa escola bem longe de casa...
Esta primeira semana de aulas veio confirmar uma situação que já antes pensava: que a vida de professor depende muito da forma como a direcção de uma escola funciona. Podemos queixar-nos muito da tutela, da burocracia que não acaba, das turmas que tendem a ser cada vez maiores, da difícil tarefa de ensinar, mas parece-me que uma boa organização da escola e o fomento de um bom ambiente de trabalho, proporcionadas pelo órgão de gestão escolar, podem melhorar em muito a própria prestação dos professores. Digo isto porque a primeira semana de trabalho numa nova escola deu-me a clara ideia que, efectivamente, os obstáculos criados pela tutela podem ser ultrapassados ou pelo menos minorados, por uma direcção que percebe que com professores motivados é mais fácil atingirem-se bons resultados nos nossos alunos. Felizmente tive a sorte de ter ficado numa escola onde uma das primeiras preocupações do órgão de gestão é o de ter um bom ambiente de escola, onde os professores se sentem motivados...