Já por várias vezes aqui escrevi sobre o regime salarial dos professores que vigora em Portugal em comparação com o que se passa noutros países da OCDE. Das últimas vezes que trouxe este assunto aqui ao blogue fi-lo (por exemplo aqui), tendo como referência o relatório "Education at a Glance" de 2012 e na caixa de comentários foram muitas as críticas dos colegas mais velhos. Dei a minha opinião com base naquilo que considero mais correcto e até dei exemplos de países onde o regime salarial dos professores é, na minha opinião, mais equilibrado e, portanto, mais justo.
Agora que foi publicado o novo relatório da OCDE (versão 2013 com dados de 2011) sobre a Educação, resolvi voltar a este tema, até porque, pelo que se sabe, o Governo se prepara para definir uma nova tabela salarial.
Mas, vamos aos dados. Apresento aqui o quadro com os principais dados dos salários dos professores em vigor no ano 2011. E o que podemos constatar? Uma vez mais, ressaltam à vista, dois aspectos principais:
1. Portugal é um dos países da OCDE onde há uma maior diferença de salários entre os professores que iniciam a sua carreira e aqueles que estão no topo da carreira. E, mesmo se analisarmos os salários de um professor com 15 anos de serviço e um seu colega no último escalão, o que vemos é uma diferença enorme, das maiores de todos os países da OCDE.
2. Há países (aqueles que estão assinalados a verde), dos quais destaco a Austrália, a Dinamarca e o Reino Unido, onde vigora uma maior homogeneidade salarial, correspondente a uma maior justiça salarial. Aliás, vejam-se os casos da Austrália e do Reino Unido, onde o salário de um professor com 10 anos de serviço é precisamente o mesmo que o de um seu colega com 35 anos de serviço, indo de encontro à lógica de que "para função igual, salário igual".
Eu bem sei que alguns dos colegas mais velhos detestam que se digam estas coisas e que se dê a conhecer a realidade salarial em vigor noutros países. Afirmam, como já afirmaram quando escrevi aqui sobre este assunto, que é de elementar justiça que a um maior número de anos de serviço corresponda um melhor salário e, que portanto, o que actualmente existe está correcto... Eu não digo que não possa existir alguma diferença salarial, mas considero de uma enorme injustiça que a desigualdade salarial que existe em Portugal entre os professores (sobretudo entre os que têm 10 anos de serviço e os que estão no final da carreira) seja a maior de todos os países da OCDE, pelo que seria de toda a justiça que esta discrepância salarial fosse atenuada.
A minha proposta seria a da redução do número de escalões (no máximo três ou quatro) e a da existência de uma diferença salarial muito mais pequena que a actual. Vejam-se os casos dos países assinalados a verde, onde a diferença salarial entre quem tem 10 anos de serviço e quem está no fim da carreira não chega aos 5000 dólares anuais (ou seja, 320 euros mensais), enquanto que em Portugal essa diferença chega a ser três vezes superior (cerca de 15000 dólares anuais, ou seja, à volta de 800 euros por mês de diferença). É isto que eu considero completamente injusto e de que os sindicatos nunca falam. Será porque quem está a frente dos sindicatos está nos escalões superiores, não lhes interessando apelar a uma maior homogeneidade salarial?
E já nem falo do escândalo que é termos colegas contratados com 10, 15, 20 ou mais anos de serviço a ganharem como se estivessem no início da carreira...
Enfim, deixo, uma vez mais bem expressa a minha opinião sobre este assunto. Defendo uma menor discrepância salarial na classe docente, assente numa redução do número de escalões e no reforço dos salários dos professores que têm menos anos de serviço. Que possamos seguir aqueles que, quanto a mim, são alguns dos bons exemplos: a Dinamarca, a Finlândia e a Noruega, por sinal, todos países nórdicos e da Europa mais desenvolvida...