Hoje, de manhã, quando passava a pé pelo centro histórico de Viseu encontrei-me com duas antigas alunas às quais leccionei Geografia há três anos atrás. Eram alunas de uma turma do ensino profissional do curso de Turismo Ambiental e Rural. Lembro-me que era uma turma que havia iniciado o curso com cerca de 24 alunos e que quando terminou, passados três anos, não teria mais de 14 alunos. A turma era bastante heterogénea: as raparigas trabalhavam bem e esforçavam-se por ter bons resultados, enquanto que os rapazes não estavam para se "chatear" muito com o curso e estavam ali porque, como diziam "a isso somos obrigados". Ao longo dos três anos do curso, cerca de 10 alunos haviam desistido de o frequentar...
Quando o curso chegou ao fim, depois dos alunos terem tido uns meses de estágio profissional, deixei de ter notícias da turma, até porque, entretanto, mudei de escola. Pois bem, ao encontrar-me com as estas duas antigas alunas fiquei a saber um pouco mais sobre o que aconteceu com os alunos da turma. Perguntei-lhes se tinham entrado para a Universidade ou se já trabalhavam. "Nem uma coisa, nem outra", responderam. "Estamos desempregadas desde que o estágio terminou". Estavam muito desiludidas com a situação e disseram-me que apenas duas colegas estavam a trabalhar na área do turismo, uma num hotel da região e outra na autarquia local. A maioria dos rapazes emigrou para a França e Suiça e as restantes raparigas estavam no desemprego, à excepção de uma aluna (a que tinha melhores resultados e a única que desde o início me pareceu que estava no curso de turismo por vocação, até porque a mãe tinha um empreendimento de turismo rural) que havia ido estudar Turismo para o ensino superior.
Seria importante que cada escola tivesse o cuidado de ter uma equipa de docentes que se preocupasse em saber por onde andam os alunos que terminam os cursos profissionais. Não basta arranjar-lhes os estágios profissionais, dar-lhes o certificado de conclusão e depois fechar a página. Lembro-me de há uns anos atrás ter feito, a pedido da direção da escola, um trabalho de monitorização do percurso pós-escolar dos alunos. Foi um trabalho simples: pegar nos contactos telefónicos dos alunos ou dos seus encarregados de educação e questioná-los, uma ou duas vezes por ano, sobre a situação profissional dos antigos alunos dos cursos profissionais. O mesmo poderia ser feito para os alunos do curso regular. Seria crucial e importante que as escolas (e o MEC) conhecessem a taxa de empregabilidade (assim como a qualidade dessa empregabilidade) dos alunos que terminam os cursos profissionais. É uma tarefa simples, mas vital para se perceber até que ponto é que este tipo de ensino funciona ou não...
Fiquei com pena das duas miúdas. Por sinal, uma delas até era das mais aplicadas da turma, sempre muito preocupada e esforçada nas tarefas desenvolvidas dentro e fora da sala de aula. Concluiu com sucesso todos os módulos e estagiou num hotel da região. Mas, como a própria me disse na curta conversa que tivemos: "os hotéis só querem estagiários, porque assim não têm de pagar muito". E é por esta e outras razões que o desemprego dos jovens atinge valores tão elevados, obrigando inclusive muito destes jovens a emigrarem. É que dá que pensar: de 24 alunos que iniciaram este curso profissional, apenas 14 o terminaram e, passados mais de dois anos, apenas 2 alunos conseguiram emprego na área do curso, sendo que quase metade emigrou. Pergunto: não será importante que se conheça a realidade do ensino profissional em Portugal?