Mais um ano lectivo e mais uma turma do ensino não regular. E vão sete anos consecutivos com turmas do ensino profissionalizante. Depois de turmas do ensino tecnológico, de profissionais, CEF`s e PCA`s, desta vez foi a vez do vocacional. Muda o nome, mas vai dar tudo ao mesmo: turmas para as quais são "direccionados" sobretudo alunos difíceis, com dificuldades de aprendizagem, com duas ou mais retenções e, muitas vezes, com problemas de comportamento, enfim, aqueles que são apelidados como os alunos que chateiam e dão mais problemas. Claro que há excepções e até podemos ver nestas turmas alunos interessados e que têm vocação para a área que escolheram. Mas, são mesmo excepções e, muitas vezes, estes alunos até têm de fazer um esforço acrescido para não se deixarem "estragar" pelos seus colegas do costume, aqueles a quem a escola nada diz em relação ao estudo e trabalho...
Depois de nos últimos seis anos ter tido diversas turmas do ensino não regular, posso afirmar que apenas uma dessas turmas era composta maioritariamente por alunos que, efectivamente, escolheram o ensino profissionalizante por vocação e não por obrigação. Era uma turma do curso profissional de Turismo Ambiental e Rural e os alunos trabalhavam como se tratasse de uma (boa) turma do ensino regular. Tanto na sala de aula, como nas saídas de campo, o esforço e dedicação eram ponto de ordem. Mas, como disse, foi uma turma de excepção. A maioria das turmas do ensino não regular são compostas por alunos que pouco se empenham, onde é evidente a falta de hábitos de trabalho e que, muitas vezes, apenas estão na escola porque a isso são obrigados. Não estudam e pouco trabalham e, muitas vezes, constituem aqueles que, no futuro, serão os indivíduos mais problemáticos da sociedade. Alguns deles serão autênticos delinquentes...
Ora, os professores que têm de dar aulas a estas turmas correm sempre o risco de terem em mãos os piores alunos da escola, aqueles que apresentam um maior número de retenções, um maior historial de problemas disciplinares, sinalizações junto da CPCJ, problemas familiares, enfim, um autêntico barril de pólvora pronto a explodir. Estes professores deveriam ter, na minha opinião, uma espécie de benesse por terem de enfrentar estas turmas tão difíceis. Essa benesse poderia equiparar-se a uma redução da componente lectiva, dado o desgaste que estas turmas provocam nos docentes.
Tenho colegas meus que, com 20, 25, 30 e até mais anos de serviço nunca leccionaram a este tipo de turmas. Colegas que nunca saíram do ensino regular. Que não fazem a mínima ideia do que é ter turmas do ensino profissionalizante. E depois até afirmam que a experiência lhes concede a capacidade para leccionarem que os seus colegas mais novos não possuem. Mas, curiosamente ou não, essa tão propalada experiência parece que os não torna habilitados a leccionarem às turmas difíceis do ensino não regular. Aliás, quem já deu aulas aos profissionais e vocacionais fica sempre perplexo quando vê aparecerem colegas da chamada "velha guarda" que nunca leccionaram a estas turmas, mas que gostam de dar palpites sobre a forma correcta de "enfrentar" estes alunos. Porque será que algumas escolas não distribuem o serviço lectivo de forma mais equitativa por todos os professores? Porque será que alguns colegas são sempre "aliviados" destas turmas? Porque será que são, muitas vezes, os colegas contratados e mais novos a terem de ficar com estas turmas? E porque será que não se alivia a componente lectiva dos docentes que têm de ficar com estas turmas? Certamente que quem já teve este tipo de turmas me compreende perfeitamente...