Na última legislatura, dos 230 deputados com assento na Assembleia da República, 39 tinham a profissão de professores. A seguir aos advogados é a segunda classe profissional com maior protagonismo no parlamento. Contudo, se analisarmos com atenção a sua acção legislativa (sim, porque a principal função do parlamento é a de legislar), a verdade é que estes professores quando chegam a deputados parecem esquecer-se por completo da sua profissão anterior. Vestem a pele de deputados e a Educação parece ser algo que pouco ou nada lhes diz...
Digo isto porque tendo estes professores a obrigação de saber o que se passa nas nossas escolas e a forma como o sistema de educação funciona no nosso país, haveria muito a legislar por forma a que o sistema melhorasse substancialmente. Quem está bem colocado num lugar trabalha sempre melhor. Toda a gente o sabe. Ora, no início de cada ano lectivo um dos assuntos de que mais se costuma falar nas nossas escolas é o que tem que ver com os concursos de professores e as suas injustiças. Este ano não fugiu à regra. Todos dizem que a existência de um único concurso, assente apenas na graduação profissional, seria factor de justiça e equidade. E o que temos é precisamente o contrário; várias fases de concursos, várias prioridades e a graduação profissional ultrapassada por outros critérios. Ora, porque razão é que durante os últimos quatro anos não vimos acções concretas por parte dos deputados da Nação que já foram professores falar no parlamento sobre a necessidade de alterar os procedimentos nos concursos de professores? E todos os partidos têm professores nas suas listas!!!
Atentemos agora aos candidatos a deputados. Basta analisar as listas dos dois principais partidos no círculo eleitoral de Viseu. A coligação PSD-PP apresenta uma lista em que 36% dos candidatos são professores. No PS, a segunda profissão mais representativa dos candidatos é a de professor. Pois é, continuamos a ter muitos professores nas listas dos vários partidos. E é caso para perguntar: será isto uma vantagem para a classe docente? Só se for por sobrarem mais algumas vagas para os concursos, porque quando estes colegas chegam a deputados parecem esquecer-se que são professores e deixam-se enredar pela teia dos regimes partidários e da disciplina de voto.
Porque não se legisla na Assembleia da República no sentido de haver apenas um concurso de colocação de professores assente na graduação profissional? Com tantos professores no Parlamento não seria difícil legislar nesse sentido...