Desde a semana passada que Nuno Crato sabe das
intenções dos sindicatos de professores avançarem para uma greve às avaliações
e ao primeiro dia de exames do secundário, caso a tutela não volte atrás nas
suas intenções de aplicar a proposta de mobilidade especial aos professores do
quadro.
A proposta do MEC é conhecida e, no mínimo, pode-se adjectivar de inadmissível. Colocar a hipótese de enviar um professor do quadro para uma
situação de inactividade, com uma redução salarial de 33% do
seu salário logo a partir de Setembro (caso não tenha horário na sua escola ou
QZP de provimento) e que ao fim de 18 meses pode significar a retirada total do
seu vencimento, quando sabemos que todos os docentes do quadro são necessários
ao sistema público de educação é considerar os professores como meros objectos
descartáveis. É uma proposta indecente e que não pode ser desculpabilizada na velha lógica de que a primeira proposta é sempre irreal e a pior de todas para depois a suavizar e torná-la menos angustiante.
Nuno Crato deveria ser mais frontal e evitar
comentários como aquele que proferiu há uns dias atrás de que “nada é verdade
sobre a forma como se vai aplicar a mobilidade especial”. É o género de
comentário que dá a entender que o que hoje é verdade, amanhã pode ser mentira,
pelo que "os professores que esperem, para saber com o que podem contar em
Setembro." Entretanto, estamos com um pré-aviso de greve e com uma manifestação marcada e o MEC continua a defender a aplicação da mobilidade especial aos professores, ignorando que há uma alternativa credível: a mobilidade geográfica.
Esta, realizada com bom-senso e equilíbrio, seria bem aceite pela larga maioria dos professores,
dado que qualquer um compreende que um professor não tendo horário completo na
sua escola de provimento, certamente que poderá ter horário incompleto nessa
mesma escola ou ser necessário para outras tarefas importantes a nível
educativo (apoios pedagógicos, tutorias, etc.) ou numa noutra escola próxima,
isto já para não falar das situações de substituição temporárias que na nossa
classe profissional (maioritariamente feminina e de cariz muito desgastante)
são muito frequentes.
Atirar com a ideia de que quem não tiver horário completo em Setembro será colocado de parte com 2/3 do salário à espera que algo aconteça (que é o que prevê a proposta do MEC) é fazer pouco de um profissional que escolheu ser professor e, portanto, prestar um serviço social
de relevante importância, sobretudo nos dias que correm…
A simples ideia da mobilidade especial constitui
motivo de apreensão, angústia e desespero para a grande maioria dos professores
do quadro. Basta pensar que há colegas que estão efectivos longe de casa e que decidiram não concorrer para perto das suas áreas de residência com receio de ficarem no fim da lista de professores do seu grupo disciplinar e, portanto, com possibilidades de serem atingidos pela mobilidade especial. Poderiam ter lugar
perto de casa, mas preferem continuar numa escola longe da suas residências por serem dos
primeiros nas listas de graduação das escolas onde estão efectivos. Enfim, uma instabilidade
terrível, quando sabemos que os concursos são de quatro em quatro anos…
Nuno Crato parece não dar sinais de que irá voltar atrás. É pena e, caso as negociações com os sindicatos não tragam “fumo branco” acredito que iremos ter uma manifestação de grandes proporções no próximo dia 15 de Junho, com dezenas de milhares de professores, acompanhados das suas famílias, a darem conta do seu descontentamento. Também quero crer que, apesar
da greve ao primeiro dia de exames poder ser contornada pela tutela, através da
requisição dos serviços mínimos, poderemos ter uma greve às avaliações com uma boa adesão, como sinal evidente da contestação à mobilidade especial.
Nuno Crato sabe da enorme redução que nos últimos anos houve no número de professores do quadro, assim como de colegas contratados. Sabe que há mais de 6 mil colegas que (des)esperam pelo dia em que recebam a carta da CGA a dar anuência à sua aposentação. Sabe que no próximo ano lectivo haverá mais alguns milhares de docentes a pedirem a sua aposentação. Sabe que nos próximos 4 anos não haverá mais professores a efectivarem. Portanto, sabe
muito bem que não há necessidade nenhuma de avançar com a mobilidade especial.
Se
Nuno Crato não quer desperdiçar nenhum professor do quadro (e faz muito bem em
não querer) então tem uma alternativa mais que sensata: a mobilidade
geográfica. E, abordada de forma ponderada e sensata, esta alternativa não pode
originar situações absurdas de vermos colegas de Vilar Formoso a serem deslocados
para Aveiro ou colegas de Bragança a terem de ir dar aulas para o Porto. Haja
bom-senso!!!
6 comentários:
Pois... o que é que esperavam de quem pouco ou nada percebe de política educativa?!
Mas este é, sem dúvida, o ministro que foi mais desejado pelos professores!
Nuno Crato começa a recuar
http://expresso.sapo.pt/governo-adia-mobilidade-especial-para-professores=f809173
Pedro,
Pelo que li, apenas irão para o "sistema de requalificação" os professores que recusarem uma colocação algures numa escola onde sejam necessários.
Parece-me bastante racional.
Eu também digo que não haverá professores dos quadros a mais. Mas que estão mal distribuídos, não tenho qualquer dúvida.
Gostei do teu comentário.
Subscrevo na íntegra.
Concordo contigo. Só espero que a manifestação de Lisboa possa contar com mais professores do que a de 2008.
Concordo com o prof. Pedro. Haja honestidade para separar as águas.
Já chega!
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