No passado sábado, Marques Mendes cometeu uma enormidade (não sei se de propósito ou não!) ao comparar a evolução dos alunos do 1º ciclo registados entre 1980 e 2010 com a evolução verificada no número de professores de todos os ciclos de ensino no mesmo período de tempo.
Resolveu fazer a dita comparação através de dois gráficos colocados lado a lado, dando a ideia de que tem havido uma relação de proporcionalidade inversa quase directa: uma redução de 51% de alunos e um aumento de 53% de professores entre 1980 e 2010.
Resolveu fazer a dita comparação através de dois gráficos colocados lado a lado, dando a ideia de que tem havido uma relação de proporcionalidade inversa quase directa: uma redução de 51% de alunos e um aumento de 53% de professores entre 1980 e 2010.
A jornalista deixou passar esta ideia e, quer queiramos,
quer não, a mensagem de Marques Mendes passou incólume, dado que a jornalista
não o questionou sobre a asneira (propositada ou não!) que Marques Mendes tinha
acabado de fazer. A verdade é
que a ideia passada por Marques Mendes de que Portugal tem, actualmente,
professores a mais (mesmo que apresentando valores de 2010 e comparando níveis
de ensino incomparáveis) passou para a opinião pública e, como sabemos, o que
se diz na televisão neste género de programas de comentário político tem maior
capacidade de influenciar a opinião pública do que muitas
conferências de imprensa que os sindicatos realizem no sentido de fazerem
passar as suas opiniões.
Claro que, logo na segunda-feira, este foi um dos
principais temas de conversa entre professores. Fosse nos blogues ou nos
jornais, através de artigos de opinião, houve quem se indignasse com a
prestação de Marques Mendes. Mas, a indignação não chega. A verdade é que a
ideia veiculada por Marques Mendes passou na televisão, em horário nobre, e
certamente que muitos milhares de portugueses que não ligam aos blogues de
educação e que, sendo do privado, até têm algum "ódio de estimação"
pelos professores (e não devem ser poucos!) se viraram agora contra os
professores, acreditando nas palavras de Marques Mendes. Já não bastava termos
de levar com o Miguel Sousa Tavares para agora termos de levar com as mentiras
de Marques Mendes.
Estou
bastante curioso para ver se no próximo sábado vamos ver Marques Mendes a
retratar-se. É o mínimo que se lhe exige. Ele que venha novamente com os
gráficos, que compare o que há a comparar, que peça desculpa e que assuma o erro. Até pode vir com a ideia de que há
professores a mais, mas que apresente factos verdadeiros e números
comparáveis.
É que convém não esquecer que se em 2010 tivemos quase 140
mil professores ao serviço na Escola Pública (103 mil deles do quadro), este ano deve ter havido uma quebra de mais de 20 mil docentes (menos 5 mil do quadro, que entretanto se reformaram, e menos 15 mil contratados) em relação a 2010...
E atenção que se analisarmos o actual número de professores
a exercerem funções (cerca de 120 mil) com o número actual de alunos (quase 1
milhão e meio), o rácio vai dar qualquer coisa como 80 professores/1000 alunos
(próximo da média da OCDE), valor bem inferior ao que apresentávamos em 2010 no
estudo da OCDE "Education at a Glance" (de 112 docentes/1000 alunos)
e que fazia de nós, em 2010, o país da OCDE com o maior rácio
professores/alunos.
De então
para cá, a redução verificada no número de professores foi enorme, pelo que
falar-se em professores do quadro a mais não faz, quanto a mim, qualquer
sentido. E note-se
que, certamente, há que continuar a contratar professores para as necessidades
temporárias...
Adenda: Marques Mendes voltou, como se exigia, a falar sobre o erro que havia cometido ao comparar o incomparável. É verdade que não pediu desculpas pela falha, mas, pelo menos admitiu o erro, ao corrigi-lo comparando, agora sim, dados comparáveis. Claro que faltou uma análise mais profunda sobre a evolução ocorrida no número de alunos e de professores entre 1980 e 2010, nomeadamente ao nível das causas. E, claro que a omissão à evolução tida entre 2010 e 2013 é grave. Mas, pelo menos não fez de conta que não tinha ouvido as críticas que lhe foram feitas.
2 comentários:
Haja coragem de chamar os bois pelo nome.Gostei:)
Espere sentado...
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