quinta-feira, 15 de junho de 2006

Afinal, o que se ganhou com a greve?

Depois da greve convocada pela Fenprof e mais alguns sindicatos menos conhecidos e da manifestação que se lhe seguiu em Lisboa, fica a questão: qual o contributo da greve para a resolução dos problemas mais prementes da Educação???
Sejamos frontais. A greve de quarta-feira teve na opinião pública em geral uma reacção negativa e crítica, por duas razões principais: por um lado, a falta de bom-senso na escolha do dia para a greve (na véspera de um feriado) e, por outro lado, o desconhecimento público da proposta de alteração do ECD veiculada (se existir...) pelos sindicatos que foram a favor da greve. Também não nos podemos esquecer que, como sempre, os números apresentados pela tutela e pela Fenprof quanto à adesão de greve divergem em muito: de menos de 30% a mais de 80%. O mais certo é que uns e outros estejam errados... A comunicação social reservou para o final dos serviços noticiosos a reportagem sobre a manifestação de professores em Lisboa e o que se viu (pelo menos na SIC) não foi muito dignificante para a classe docente: desde professores que mais pareciam saídos de um filme de terror (falo de uma senhora que toda a gente deve ter visto e que parecia uma viúva vistosa) até docentes empunhando cartazes em que a figura da Ministra da Educação aparece travestida de drácula, tudo se viu, menos a preocupação de informar convenientemente a opinião pública sobre as mudanças propostas pela tutela e as contra-propostas (caso existam) defendidas pelos sindicatos.
Enfim, penso que esta greve em nada contribuiu para que possamos levar a efeito a concretização das medidas essenciais para a dignificação da nossa classe profissional. Todos os comentadores foram unânimes ao afirmar que a Fenprof apenas poderá ser ouvida e tida em conta de forma séria se deixar de actuar como se actuava há trinta anos atrás. Os tempos são outros, pelo que o sindicalismo não pode continuar a ser confundido com corporativismos dependentes de directrizes partidárias. Até o Presidente da República deu a entender que, efectivamente, a opinião pública está, na sua maioria, com a Ministra...
Esperemos que as negociações com a tutela decorram de forma séria e atenta, por forma a que aos pontos mais duvidosos da proposta ministerial (a categoria de professor titular, as exigências para a progressão na carreira e a forma de avaliação de desempenho do professor) sejam feitas contra-propostas credíveis, mas não menos exigentes...

16 comentários:

henrique santos disse...

Caro Miguel
temos sido inseparáveis companheiros de debate em vários lados da blogosfera. Quase sempre em lados opostos.
Eu penso que o que nos separa é mais cavado na teoria do que na prática, senão vejamos. A sua situação profissional é, penso eu, muito mais problemática do que a minha. As medidas apresentadas pelo ME vão atingi-lo mais profundamente a si do que a mim. Eu penso que tenho, talvez, mais consciência disso do que o Miguel, mas logo veremos.
A sua juventude, perdoe-me que o aponte ou felicite, fá-lo desconhecer certas coisas que para os mais velhos são evidentes: a Fenprof não tem 30 anos; sem a Fenprof já tínhamos (ou nem sequer tínhamos) um Estatuto pior do que este, desde 1989; sem luta não se consegue muita coisa; as propostas de ECD em 89 foram inicialmente, or parte do Governo, piores do que estas; inicialmente as greves foram baixas e depois com a consciencialização dos professores atingiram mais de 90% de adesão arrastando até sindicatos que no início estavam de acordo com as propostas do governo; a posição da profissão e das suas reivindicações já passou por fluxos e refluxos diversos e que a influência das conjunturas políticas e sociais envolventes condiciona muito o peso dos professores e do seu estatuto; estamos numa fase em que o trabalho, docente ou não, é cada vez mais desvalorizado pelo poder dominante; a Fenprof precisa de mudar muita coisa mas tem sido muito importante para os professores e para a Educação em Portugal tendo apresentado e intervindo sobre muitas matérias importantes da Educação; sem sindicatos estavamos tramados; as Ordens não podem meter-se em questões reivindicativas tão importantes; os sindicatos não se metem nem se devem meter só em questões da profissão mas são e devem ser parceiros para a definição das políticas; a culpa de existirem muitos sindicatos não cabe à Fenprof que há muitos anos pugna pela medição da representatividade sindical.
O Miguel, parece-me, fala muitas vezes de cátedra. Para isso convinha talvez estudar mais um pouco a história da profissão docente e dos seus movimentos sindicais, antes e depois do 25 de Abril. Talvez depois pudessemos polemizar melhor. E já agora estou receptivo a que o Miguel me aponte algumas fontes teóricas ou práticas onde eu possa elucidar melhor o meu raciocínio e estar mais à sua altura.

IsaMar disse...

Olá...
Não ganhamos nada com a greve.
Penso que as novas medidas serão postas em acção...embora cá na Madeira...o Sindicato dos Professores afirme que haverá uma luta constante contra as propostas da SrªMinistra.
Dizem ainda que poderá haver mais greves entre Agosto e final de Outubro.
Penso que só estamos a impedir algumas mudanças no ensino...que deveriam haver...mas com maior senso da parte da Srª Ministra

IC disse...

Ainda bem, Henrique Santos, que não é preciso ser-se uma velhota como eu, a dias da aposentação, para conhecer a história da profissão docente e dos seus movimentos sindicais, antes e depois do 25 de Abril.

Miguel, que a sua situação profissional é muito mais problemática do que a minha, não há dúvida, pois já não apanho com o novo estatuto, mas os jovens professores que são empenhados no ensino, como me tem parecido e, portanto, não duvido de que o Miguel é, continuarão a ter a minha solidariedade activa no que puder - só não em greve, pois não poderei fazer mais nenhuma, a de dia 14 foi a última já que vou deixar de ter patrão ou serviço a que faltar.

João Paulo Silva disse...

Meu caro Miguel,
eu assino por baixo tudo o que disse o Henrique.

E se me permites, creio que não vimos as mesmas coisas:
- o dia foi mais que explicado: não podia ser outro.
- o momento? ias fazer quando? Depois de sair em diário da república?

E ter 10 mil professores na rua não é a prova que valeu a pena?

JP

Anónimo disse...

Miguel
As greves não è a melhor maneira de se resolverem os problemas.
Com os meus 54 anos e de ter passado por um regime autoritàrio, sou contra as greves em qualquer sector, pois todos ficamos prejudicados com elas.
È claro que somos um paìs livre e sò participa quem quer.
Continue assim e aqui fica o meu agradecimento.
Tudo de bom para si.

Pedro disse...

Caro Henrique, o seu comentário é bastante longo, mas isso não quer dizer que seja fastidioso ou desinteressante. Bem pelo contrário...
Permita-me alguns comentários.
1. A minha juventude não me impede de saber como funcionam muitos dos nossos sindicatos, sejam ou não afectos à Educação. No caso da Fenprof, algumas das últimas edições da revista Visão e do jornal Público dão a conhecer a forte, para não dizer excessiva, dependência que este sindicato tem com o Partido Comunista.
2. Se o estado da Educação em Portugal está mal, tal não se deve apenas aos políticos, mas também à (in)acção dos sindicatos: veja-se, por exemplo, o caso da actual legislação que rege a avaliação do desempenho dos professores, contra a qual a Fenprof nunca se opôs de forma veemente, nem fez greves, e que todos sabemos ser inócua, injusta e pouco séria.
3. A divisão entre professores é primeiramente incentivada pelos próprios sindicatos que raramente se unem e que tendem a "afastar" os professores mais sérios da chamada luta sindical por só falarem em direitos e esquecerem-se dos deveres...
4. Não é a minha condição de novato da profissão docente (com apenas 8 anos de serviço) que me leva a ter uma postura "umbiguista" em termos de política educativa. Por outro lado, o facto de criticar a Fenprof não quer dizer que seja a favor da proposta ministerial. Bem pelo contrário. Bastará ler os meus últimos artigos para saber o que penso de tal proposta...
Um abraço.

IC disse...

Miguel, eu também fiquei receptiva ao que disse o Henrique Santos: "aponte algumas fontes teóricas ou práticas onde eu possa elucidar melhor o meu raciocínio". Agora, não leve a mal que faça o reparo, fiquei esclarecida por si que tem como fontes, por exemplo, a revista Visão e o jornal O Público. Obviamente que não o vou esclarecer sobre nada relativo, por exemplo, às actuais ligações/relações dos dirigentes da FENPROF (que não é um sindicato, mas uma federação de sindicatos)a/com o Partido Comunista. Digo-lhe apenas que não pude deixar de sorrir comigo mesma com a "informação" que o Miguel tem sobre "a excessiva dependência". Tenho feito pessoalmente algumas críticas e chamadas de atenção a dirigentes quer da FENPROF quer do SPGL, e tenho-as feito pessoalmente porque conheço pessoalmente de longa data alguns, inclusive o Secretário Geral da FENPROF e o Presidente do SPGL (anterior e actual após as recentes eleições em que se manteve após a sua lista ter vencido face à lista opositora (de que também conheço pessoalmente grande parte dos candidatos e as suas posições partidárias).
Não voltarei a comentar, pois o Miguel tem todo o direito a ter as suas informações e a escolher as respectivas fontes, e, repito, espero que não leve a mal este comentário, pois sou uma avó a dias da reforma, também não critico quaisquer posições de minhas filhas, um pouco mais velhas do que o Miguel, mas não deixo de lhes dar opiniões (a elas, principalmente informações), tal como, aliás, aceito que elas mas dêem a mim. E, repare, os professores não são "carneiros", além de que seria ridículo imaginar que a quantidade deles que aderiu à greve e a quantidade que veio à manifestação o fez por "inclinações" partidárias, pois até é conhecido que boa parte dos professores têm, em termos eleitorais, preferências pró-PS, o partido que está neste momento na governação do país.

P.S.: Não deixo, pelo que disse, de apreciar a intervenção activa que o Miguel tem no seu blog, nem de concordar com alguns dos pontos de vista que tem colocado ao longo deste ano lectivo.

A Professorinha disse...

Nunca pensei que com a greve a nossa imagem melhorasse, nunca. Mas nunca deixaria de fazer greve com a desculpa de que "é na véspera de um feriado". As pessoas será que não sabem que eu desconto bastante dinheiro por esse dia de greve? Que não é a mesma coisa que pedir um artigo 102? Farei greve em véspera de feriados, de fins-de-semana e até no meio de feriados. A ministra assim o quis, assim o conseguiu. Primeiro somos uns incompetentes, depois, no fim, vem dizer que estragámos o bom trabalho realizado durante o ano lectivo. É uma hipócrita! E é só isto que me permito chamar-lhe porque se não nunca mais acabo...

henrique santos disse...

Miguel
o meu conhecimento dos sindicatos da Fenprof é um conhecimento por dentro. Fui vários anos dirigente do SPN e da Fenprof.
Acredite que conheço bem alguns dos defeitos e das virtudes da Fenprof. Creia que o que lhe aponta falha largamente o alvo, mas tal, é tão somente a inha opinião.
Acho que é também por dentro dos sindicatos que se deve lutar, em grande parte. Não são imunes à crítica mas deve-se ter em conta a sua grande importância social e profissional. Embora eu também seja e tenha sido muito crítico, internamente, claramente percebi que, em tempo de neoliberalismo galopante, os sindicatos são um travão de resistência à erosão dos direitos não só profissionais mas dos direitos humanos mais gerais.
Tenho acompanhado as suas análises aàs propostas de regime legal. Tenho concordado com muita coisa que diz. Penso que na prática, aprofundando a análise, o que nos une é mais do que o que nos separa.

Pedro disse...

Daniela, o meu comentário em relação à "viúva vistosa" apenas serve de alerta para o facto desse tipo de postura poder ser contraproducente para a dignidade da nossa classe profissional, pois pode passar a imagem para a opinião pública de que os professores gostam muito de teatro e do "faz de conta", em vez de termos uma postura séria de manifestação e de defesa de propostas diferentes e credíveis...
Enfim, tudo se resume a uma questão de gosto!
IC, não coloco em questão a sua experiência e as suas boas intenções em alertar a geração mais nova de docentes para os tempos difíceis que se avizinham. É precisamente esse tipo de atitude que penso que os mais "velhos" devem ter e não o "deixar andar" à espera da reforma...
Professorinha e Henrique, é claro que estamnos do mesmo lado da "barricada", apesar das formas diferentes de actuação que defendemos.
A todos, um abraço...

emn disse...

«tendem a "afastar" os professores mais sérios... » (?) está enganado Miguel... Conheço muitos «sérios» e considero-me muito «séria»...
Quanto à «partidarização» posso dizer-lhe que sou ideologicamente de direita (embora de nenhum partido) e fiz greve, como farei todas as que forem marcadas... (embora me doa no bolso).

Anónimo disse...

Como eu, professor do ensino privado, vos invejo. Deve ser bestial viver num mundo como o vosso.
Quem vos ouvir falar pensará certamente que este é o mais avançado País do mundo em termos de educação. Mas será mesmo possível que não se enxergam?

Anónimo disse...

"Daniela, o meu comentário em relação à "viúva vistosa" apenas serve de alerta para o facto desse tipo de postura poder ser contraproducente para a dignidade da nossa classe profissional, pois pode passar a imagem para a opinião pública de que os professores gostam muito de teatro e do "faz de conta", em vez de termos uma postura séria de manifestação e de defesa de propostas diferentes e credíveis..."
Olha Pedro, comentários destes é que envergonham a classe. Não estás propriamente num café e nem nós estamos aqui para sessões de "corte e costura". Tem vergonha na cara que, apesar de relativamente jovem, já tens idade para isso. É bem verdade que a formação académica não equivale, nem de perto nem de longe, a formação pessoal!
Ana

Pedro disse...

Com que então a Ana ficou "picada" com o que eu disse!!!
Pois, olha volto a dizer-te o que penso acerca deste tipo de actuação por parte de alguns dos nossos colegas que apreciam o género "faz de conta" e o estilo teatral para protestar. Eu detesto essa forma de actuar e não me sinto representado por colegas que vão para a rua travestidos de preto e gritando nomes feios à Ministra, quais miúdos de palmo e meio em pleno Halloween...
Esse não é o meu estilo. Sou a favor de negociações sérias e credíveis entre interlocutores credíveis e digo-o sem me esconder sobre a pele do anonimato. É que não estou aqui para agradar a ninguém, mas sim para discutir a Educação de forma séria...
Tenho dito!

Anónimo disse...

Ó Criatura!!!
A falta de elegância e de verniz é um problema grave, mas muito mais grave é um professor que pretender avaliar os outros pela forma como vestem "(...) falo de uma senhora que toda a gente deve ter visto e que parecia uma viúva vistosa".
Mas também é verdade que, como muitos de nós sabemos, se soa que alguns professores foram acusados de defender posições pro-nazis perante os alunos. Portanto existirem professores que criticam e julgam os seus colegas pelo aspecto é, obviamente, um mal menor! E não temos mais nada a dizer, não é verdade?
Assinado: Ana Teresa

Pedro disse...

Cara Ana Teresa, diz que pretendo "avaliar os outros pela forma como vestem", mas deveria ter dito que o que eu fiz foi opinar sobre uma senhora (que disse representar todos os professores e, portanto, também a mim) pela forma como protesta contra a aplicação da proposta ministerial do ECD???
Seja coerente e séria e deixe-se de indirectas nazis ou quaisquer outras que lhe venham à cabeça...
É que essa costuma ser a estratégia daqueles que pretendem tapar o sol com a peneira. Seja frontal e não se esconda por trás de nomes, nos quais ficamos a saber o mesmo.
Qual o seu blogue (se tiver?)? Qual a sua profissão? Donde me conhece? Donde é? Dê a cara e não tenha medo, mulher...