quarta-feira, 19 de novembro de 2014

E que tal sabermos as reais taxas de empregabilidade dos cursos do ensino profissional?

Hoje, de manhã, quando passava a pé pelo centro histórico de Viseu encontrei-me com duas antigas alunas às quais leccionei Geografia há três anos atrás. Eram alunas de uma turma do ensino profissional do curso de Turismo Ambiental e Rural. Lembro-me que era uma turma que havia iniciado o curso com cerca de 24 alunos e que quando terminou, passados três anos, não teria mais de 14 alunos. A turma era bastante heterogénea: as raparigas trabalhavam bem e esforçavam-se por ter bons resultados, enquanto que os rapazes não estavam para se "chatear" muito com o curso e estavam ali porque, como diziam "a isso somos obrigados". Ao longo dos três anos do curso, cerca de 10 alunos haviam desistido de o frequentar...
Quando o curso chegou ao fim, depois dos alunos terem tido uns meses de estágio profissional, deixei de ter notícias da turma, até porque, entretanto, mudei de escola. Pois bem, ao encontrar-me com as estas duas antigas alunas fiquei a saber um pouco mais sobre o que aconteceu com os alunos da turma. Perguntei-lhes se tinham entrado para a Universidade ou se já trabalhavam. "Nem uma coisa, nem outra", responderam. "Estamos desempregadas desde que o estágio terminou". Estavam muito desiludidas com a situação e disseram-me que apenas duas colegas estavam a trabalhar na área do turismo, uma num hotel da região e outra na autarquia local. A maioria dos rapazes emigrou para a França e Suiça e as restantes raparigas estavam no desemprego, à excepção de uma aluna (a que tinha melhores resultados e a única que desde o início me pareceu que estava no curso de turismo por vocação, até porque a mãe tinha um empreendimento de turismo rural) que havia ido estudar Turismo para o ensino superior.
Seria importante que cada escola tivesse o cuidado de ter uma equipa de docentes que se preocupasse em saber por onde andam os alunos que terminam os cursos profissionais. Não basta arranjar-lhes os estágios profissionais, dar-lhes o certificado de conclusão e depois fechar a página. Lembro-me de há uns anos atrás ter feito, a pedido da direção da escola, um trabalho de monitorização do percurso pós-escolar dos alunos. Foi um trabalho simples: pegar nos contactos telefónicos dos alunos ou dos seus encarregados de educação e questioná-los, uma ou duas vezes por ano, sobre a situação profissional dos antigos alunos dos cursos profissionais. O mesmo poderia ser feito para os alunos do curso regular. Seria crucial e importante que as escolas (e o MEC) conhecessem a taxa de empregabilidade (assim como a qualidade dessa empregabilidade) dos alunos que terminam os cursos profissionais. É uma tarefa simples, mas vital para se perceber até que ponto é que este tipo de ensino funciona ou não...
Fiquei com pena das duas miúdas. Por sinal, uma delas até era das mais aplicadas da turma, sempre muito preocupada e esforçada nas tarefas desenvolvidas dentro e fora da sala de aula. Concluiu com sucesso todos os módulos e estagiou num hotel da região. Mas, como a própria me disse na curta conversa que tivemos: "os hotéis só querem estagiários, porque assim não têm de pagar muito". E é por esta e outras razões que o desemprego dos jovens atinge valores tão elevados, obrigando inclusive muito destes jovens a emigrarem. É que dá que pensar: de 24 alunos que iniciaram este curso profissional, apenas 14 o terminaram e, passados mais de dois anos, apenas 2 alunos conseguiram emprego na área do curso, sendo que quase metade emigrou. Pergunto: não será importante que se conheça a realidade do ensino profissional em Portugal?

domingo, 9 de novembro de 2014

Atenção à notícia do DN... Realismo ou sensacionalismo?

O DN do último sábado trouxe como chamada de capa a pretensão de Nuno Crato em municipalizar a educação, delegando nas autarquias a gestão dos recursos administrativos e do pessoal. Afirma o DN que, a concretizarem-se os objectivos do governo, as autarquias poderão receber 13600 euros por cada professor que dispensarem, tendo em conta as necessidades "reais" de cada concelho relativamente ao número de professores efectivos nesse concelho. 
A notícia parece-me demasiado "sensacionalista", a tentar procurar a venda rápida de jornais. Título de capa "chamativo", numa lógica de mercantilização da classe docente. Não comprei o jornal. Achei o título estranho e pouco plausível de evidenciar algo real. Como se fosse possível dispensar professores em troca de uns quantos milhares de euros! Até parece que não existem leis em Portugal e que vivemos numa selva. Aliás, o despedimento é algo que nem existe na Função Pública. O que de mais próximo temos é a chamada "requalificação", também conhecida como "mobilidade especial" e que, mesmo assim, implica a existência de uma série de condições para se poder concretizar.
Claro que não ignoro que Nuno Crato e este governo têm em vista a diminuição do número de professores. Somos mais de 100 mil e, a verdade, é que somos mais vistos como uma despesa no Orçamento de Estado do que como agentes essenciais no desenvolvimento humano do país. O número de professores contratados diminuiu para menos de metade em relação há 5 anos atrás. Por outro lado, as rescisões levaram à saída de uns quantos milhares de professores. E as reformas antecipadas só não são em maior número por condicionalismos vários. Mesmo assim e com base na redução da natalidade e no aumento da emigração e do êxodo rural, o MEC espera continuar com a diminuição do número de professores existentes no sistema público de educação.
Mas, daí a pensar que seja possível que exista uma espécie de troca em que pela saída de um professor uma autarquia seja ressarcida em cerca de 14 mil euros custa a acreditar. Não estamos na Venezuela ou na Coreia do Norte!!! A municipalização da Educação até poderá ser uma pretensão do MEC e das próprias autarquias, assim como de muitos diretores de escolas, mas ainda temos leis e uma Constituição que enunciam deveres, mas também direitos a proteger.   
Entretanto, António Costa, o candidato do PS a Primeiro-Ministro continua mudo no que toca a enunciar aquilo que pensar fazer (ou não) na área da Educação. Recorde-se que este governo apenas continuou a aprofundar aquilo que vinha do seu antecessor. É que foi o PS que começou com a ideia de conceder maior autonomia às escolas numa lógica de municipalização das mesmas. 
A ver vamos os próximos capítulos desta autêntica novela...