segunda-feira, 21 de julho de 2008

Merecidas férias...

A partir de hoje estou de férias. Finalmente! Depois de um longo ano lectivo, cheio de trabalho e envolto em muitas polémicas (com destaque para a grande Marcha de 8 de Março e o controverso acordo assinado entre o ME e os sindicatos) é chegado o tempo para umas merecidas e mais que ansiadas férias. Assim, até ao próximo dia 20 de Agosto (dia de regresso ao trabalho) o tempo será dedicado às minhas maiores riquezas: a minha esposa e os meus dois filhotes.
Depois de um ano lectivo muito duro e deveras cansativo, quero passar o maior tempo possível junto da minha família, dado que, em condições normais, o meu trabalho não me permite estar mais do que cinco ou seis horas por dia junto dos meus filhotes: aliás, de 2ª a 6ª feira um professor passa mais tempo com os filhos dos outros e seus alunos do que com os seus próprios filhos, isto já para não falar do tempo que passamos a preparar aulas e a elaborar e corrigir fichas e testes em casa, penalizando as nossas próprias famílias.
Assim, os quatro iremos aproveitar ao máximo estes dias para estarmos juntos e passearmos um pouco por todo o país. Em vez de "abancarmos" numa praia a derreter ao Sol, quais lagartos, iremos desfrutar daquilo que o nosso país tem de melhor: a sua diversidade paisagística. Iremos percorrer quase todo o país de lés a lés, exceptuando as ilhas e o sul abrasador, privilegiando o Minho, as Beiras e a Estremadura. Estaremos em contacto com o mar, a serra e o rio e iremos visitar o Portugal Histórico dos castelos e monumentos antigos.
Umas boas férias para todos os que aqui me costumam visitar.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

O futuro milagre português...

Daqui a menos de cinco anos Portugal será visto no espaço da União Europeia como o país que conseguiu o milagre de alterar radicalmente o estado da sua Educação. Em poucos anos veremos as taxas de abandono e insucesso escolar do nosso país diminuírem drasticamente. Por outro lado, a percentagem de jovens a terminarem o ensino obrigatório aumentará consistentemente.
Em Bruxelas e por cá, quase todos ficarão orgulhosos com este sucesso e o Governo não cessará de auto-elogiar-se pelo sucesso alcançado. Ninguém se irá preocupar em questionar as estratégias utilizadas para atingir tamanho milagre. Quase todos ficarão orgulhosos por já não estarmos na cauda das estatísticas europeias e diremos "Ámen" ao trabalho realizado pela equipa ministerial de Maria de Lurdes Rodrigues. Esta ficará na história da governação portuguesa como a Ministra que conseguiu o sucesso educativo que os seus antecessores não alcançaram.
Daqui a menos de cinco anos já poucos irão ousar questionar a validade de medidas que estão na base deste sucesso estatístico: a criação das Novas Oportunidades, a banalização dos CEF`s de forma indiscriminada, a generalização de Cursos Profissionais onde impera o facilitismo, a realização de exames nacionais com um nível de exigência extremamente reduzido, a equipação prática das faltas injustificadas às faltas justificadas...
Até o Presidente da República "come" com o que lhe dão, ao congratular-se com a melhoria das notas dos exames à disciplina de Matemática!!!

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Com as mãos na massa. Literalmente...

A escola onde lecciono tem a funcionar vários cursos de educação e formação, os conhecidos CEF´s, que estão agora bastante na moda e que se destinam, quase em exclusivo, para os alunos que frequentam o 3º ciclo do ensino básico, já de idade avançada e, portanto, com retenções em anos anteriores e em risco de abandono escolar. Uma das formas encontradas pela tutela para combater o insucesso e abandono escolares foi a criação de cursos com uma componente mais prática e virados para a vida profissional e não tanto para a prossecução de estudos no ensino superior.
Os CEF´s têm vindo a funcionar, em muitas escolas do nosso país, como um escape para aqueles jovens a quem a escola, enquanto espaço de aprendizagem, pouco ou nada diz. Muitos destes alunos, autênticos focos de instabilidade e indisciplina, mudam a sua postura ao frequentarem este tipo de cursos, de vertente muito mais prática.
A finalizar o 1º ano do curso CEF de padaria e pastelaria da minha escola, foi proposta aos alunos uma actividade prática dominada pela inversão de papéis. Em vez de serem os alunos a confeccioarem pães e bolos, sugeriu-se que cada aluno convidaria um professor para lhe ensinar uma das receitas do seu reportório. Assim, o Marco que havia sido meu aluno durante dois anos consecutivos no 7º ano (e nos dois havia ficado retido) convidou-me para a actividade. Não pude deixar de aceitar o convite, dado compreender a importância de que se reveste este tipo de exercícios para os alunos. Assim, coloquei o avental e segui as instruções do meu "professor" para confeccionar uns bolinhos de côco. O resultado foi excelente e fomos os primeiros a terminar. Todos gostaram dos doces que fizemos e o Marco ficou todo contente. Uma boa experiência que permite concluir que é possível realizar actividades que podem motivar os alunos mais problemáticos.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Brincar com as NEE`s? Não, não e não...

O Ministério da Educação decidiu mexer na legislação que regula o ensino das crianças que apresentam necessidades educativas especiais (NEE`s). Até agora os jovens que apresentassem, de forma comprovada, através de atestado médico ou relatório equivalente, limitações físicas ou psicológicas ao seu normal desempenho escolar podiam ser avaliados ao abrigo de uma legislação própria que permitia que os discentes tivessem uma redução do seu currículo escolar, formas diferenciadas de avaliação ou a estruturação de um currículo próprio, por forma a que o seu processo de ensino-aprendizagem não fosse prejudicado. Por outro lado, os alunos com casos mais graves de deficiência podiam ser encaminhados para estabelecimentos de ensino especializados neste tipo de situações.
A partir do próximo ano lectivo, está prevista, à luz da defesa de uma pseudo-escola inclusiva, a passagem dos alunos com necessidades especiais para os estabelecimentos de ensino regular. Por outro lado, a utilização da Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF) como instrumento para sinalizar as crianças com necessidades educativas especiais irá ter consequências óbvias ao nível da redução do número de alunos NEE`s. Ou seja, muitos alunos que até agora apresentavam atrasos preocupantes em termos de desenvolvimento cognitivo e que, por isso, eram avaliados ao abrigo da legislação das NEE`s irão deixar de usufruir dessa disposição legal.
Deixo apenas aqui um exemplo concreto. Aqui ao lado, tenho um pequeno excerto de uma ficha de avaliação que dei este ano a um aluna com NEE´s. A dita aluna apresenta, com base em relatórios médicos, um significativo défice de QI, aliado a outros problemas. Foi avaliada como aluna com NEE`s, pelo que tive de elaborar fichas de avaliação adaptadas, com questões muito simples. Antes do teste dei-lhe e a conhecer os temas que deveria estudar (muito menos que os seus colegas). O resultado foi o que se vê na figura. Se com adaptações curriculares, a aluna teve este desempenho, imagine-se sem adaptações curriculares... Enfim, prevê-se, já para Setembro, uma verdadeira catástrofe para as escolas, professores, mas sobretudo para os alunos que até agora detinham NEE`s.
Se por um lado vamos ter muitos alunos que deixarão de usufruir da legislação que lhes permitia um ensino diferenciado, por outro lado iremos ter de lidar com alunos para os quais não estamos minimamente preparados em termos de formação pedagógica. Já há cinco anos atrás tive na minha Direcção de Turma um aluno autista e foi o cabo dos trabalhos para que os docentes se entendessem com o aluno, visto que a formação nesta área é nula para a maioria dos professores...