sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Este MEC anda a brincar às provas... Ao que chegámos!

É a primeira vez que aqui escrevo sobre a prova de avaliação que o MEC quer obrigar os colegas contratados a realizar. Desde o início que discordei da ideia da prova. Mas, pior que isso, a ideia de colocar à prova professores apenas porque não estão efectivos pareceu-me, desde o início, um autêntico disparate. A lógica de ter professores habilitados por instituições do ensino superior a terem de fazer uma prova de aptidão de conhecimentos para a profissão docente já me parece absurda, mas ignorar a sua experiência docente ainda me parece mais grave. Então um colega com 10 anos de serviço, mas efectivo, não precisa de fazer a prova, ao passo que um seu colega com 15 anos de serviço, mas ainda a contrato, já tem de a fazer? Qual a lógica disto? Nenhuma...
Mas, depois de conhecer o modelo da prova é que fiquei abismado com o estado a que esta situação toda chegou. É mesmo para perguntar: o MEC quer avaliar os professores contratados ou quer, simplesmente, fazer pouco deles? É que se os meus alunos do secundário vissem a prova certamente que diriam que os exames que eles terão de fazer no fim do secundário são bem mais complicados do que a prova que alguns dos seus professores terão de fazer. A pergunta que aqui deixo e que consta do modelo da prova é apenas um pequeno exemplo de como o MEC anda a brincar às provas de avaliação dos professores. 
Afinal, isto da prova era para levar a sério ou não? Claro que se o modelo de prova que foi dado a conhecer fosse difícil, veríamos os sindicatos dizer que o que se pretendia era reduzir o número de candidatos à profissão docente. Mas, com uma prova destas até parece que o objectivo é outro. Esperará Crato que muitos colegas contratados tenham negativa na prova para o vermos afirmar que tinha razão quando dizia que há bons e maus professores e que, graças à prova, esses maus professores sairão do sistema? Será esse o álibi para estender a prova aos professores efectivos?
Uma coisa é certa. Tudo aquilo que rodeia a forma como este assunto tem vindo a ser conduzido pelo MEC (os seus objectivos, a forma como foi definida em termos de estrutura, a população-alvo, a definição das data e local de realização e até o seu pagamento) denota uma profunda falta de respeito pela profissão docente. E a dúvida que se coloca (desviar as atenções dos reais problemas ou dificultar o acesso à profissão?) faz todo o sentido. É que não vejo aqui nenhuma intenção de melhorar a forma como se ensina (e aprende) nas escolas públicas deste país...
E o gozo já começou! O Público pediu a alunos com 13 anos que fizessem a prova e nas questões de escolha múltipla ninguém falhou. Claro que a reacção dos miúdos foi a que se esperava: "Então é isto que pedem que os professores saibam?"; "Que prova tão fácil!". É a paródia total...
Para quem quiser conhecer o guião e o modelo da prova aqui ficam as ligações:
- Guião da prova: clicar aqui
- Modelo da prova: clicar aqui

domingo, 10 de novembro de 2013

A importância de analisar os rankings...

Todos os anos, por esta altura, costumo aqui escrever um post sobre os rankings das escolas que são dados a conhecer pelos vários órgãos de comunicação social. Sempre preferi destacar os revelados pelo jornal Público. Apesar de muita gente criticar os rankings continuo a pensar que a divulgação pública dos resultados obtidos pelos alunos nos exames nacionais devem ser vistos como uma importante oportunidade para que cada escola se auto-avalie, para além dos benefícios que cada comunidade educativa pode ter por saber de que forma é que a "sua" escola está a evoluir ao nível dos resultados escolares.
Há já vários anos que costumo aqui fazer uma análise muito sucinta do registo dos resultados obtidos pelos alunos no exame de Geografia A da escola onde lecciono. Como este ano lectivo estou numa nova escola (com novos procedimentos, novas formas de trabalhar, novas formas de encarar os exames, etc.) resolvi analisar os resultados obtidos, nos últimos quatro anos, no exame de Geografia A pelos alunos da escola onde estive a leccionar no último quadriénio, até porque nos dois primeiros anos leccionei ao 11º ano e "levei" alunos a exame. Por outro lado, apesar de nos últimos dois anos não ter tido turmas do 11º ano, muitos dos alunos que foram a exame haviam sido meus alunos uns anos antes no 3º ciclo do ensino básico. E foram quatro anos numa escola onde o grupo de Geografia teve a "exigência nas aprendizagens" como uma das suas principais prioridades. Um grupo de docentes relativamente jovem, com uma média de idades a rondar os 40 anos de idade, e que funcionou sempre bem no sentido de fomentar nos alunos o gosto pela Geografia.
Sou dos que consideram que a estabilidade docente numa escola, mas sobretudo a escolha dos professores que leccionam anos de exame constituem factores decisivos com vista à obtenção de resultados satisfatórios nos exames. Por outro lado, a forma como em anos de escolaridade anteriores aos anos de exame (a partir do 7º ano de escolaridade) se começa a cultivar a exigência e o rigor são, quanto a mim, factores determinantes para que os alunos se preparem convenientemente para os exames. Dou um exemplo concreto: para que qualquer aluno chegue, no 11º ano, ao exame de Geografia A em condições óptimas de conhecimento e literacia geográfica é importante que ao longo do 3º ciclo do ensino básico o aluno tenha sido "habituado" a conviver com a exigência e o rigor adequados ao desenvolvimento do conhecimento geográfico. Pelo contrário, se durante os 7º, 8º e 9º anos predominou o facilitismo e a reduzida exigência o mais certo é que o aluno esteja mal preparado quando chega ao ensino secundário e aí já será muito mais difícil incutir no aluno os pré-requisitos que lhe faltam. Ou seja, a influência docente nos exames não é só a do professor titular da disciplina, mas também dos seus colegas de grupo disciplinar que tiveram esses alunos em anos anteriores. É todo um trabalho colectivo que deve ser incentivado e orientado num único sentido por parte dos professores de cada disciplina, independentemente do ano de escolaridade em que leccionam.
Os resultados obtidos pelos alunos nos exames nacionais deveriam ser sempre alvo de um estudo aprofundado em cada escola, tanto em termos de comparação com escolas de meio sócio-cultural semelhante, como ao nível da evolução registada ao longo dos anos. Deveria haver um procedimento obrigatório por parte de cada uma das escolas por forma a diagnosticar os problemas existentes (um dos que considero mais graves é o da discrepância que em muitas escolas existe entre a nota interna e a nota de exame), assim como ponderar possíveis soluções para ultrapassar os problemas diagnosticados.
Os exames não devem ser uma obsessão, mas não devem ser negligenciados. E a análise cuidada dos resultados obtidos pelos alunos deve ser seriamente realizada tanto a nível de grupo disciplinar, como da própria escola como um todo...   
E para quem quiser saber tudo acerca dos resultados nos exames nacionais nos últimos cinco anos, em todas as disciplinas, deixo a indicação do melhor site que conheço: o projecto BESP (para o conhecerem cliquem aqui) . Vale a pena visitarem-no para ficarem a saber os resultados da "vossa" escola nos exames nacionais à "vossa" disciplina...

terça-feira, 5 de novembro de 2013

A Escola Pública, os contratos de associação e a liberdade de escolha...

A reportagem da autoria da jornalista Ana Leal, que a TVI passou em horário nobre na noite de segunda-feira, demonstra até que ponto é que o bem público pode ser completamente subvalorizado (e até mesmo desprezado) em proveito de interesses privados que apenas têm como objectivo a obtenção do lucro fácil. Foram inúmeros os casos dados a conhecer (Aveiro, Coimbra, Caldas da Rainha, Loriga, Seia, Sabugal, entre outros) onde as escolas públicas têm sido subaproveitadas em benefício de colégios particulares. E as ligações de antigos governantes (do PSD e do PS) e de antigos directores regionais da Educação que passaram a directores de escolas privadas constituem autênticos casos de polícia a investigar... 
Mas vamos ao maior paradoxo de todos. O Estado gastou (e continua a gastar) centenas de milhões de euros a requalificar escolas públicas. Ao mesmo tempo sabemos que o declínio da taxa de natalidade está já a sentir-se nas escolas portuguesas (sobretudo nas regiões do Interior do país), o que aliado à situação (tantas vezes proclamada pelo MEC) de que há professores a mais, deveriam constituir justificações mais do que suficientes para defender a Escola Pública: acabar com muitos dos contratos de associação, aproveitar ao máximo a oferta pública existente e não desperdiçar professores.  
Qual a lógica de se estabelecerem contratos de associação com escolas privadas quando num mesmo concelho existem escolas públicas com capacidade para receberem todos os alunos desse concelho? Será que Nuno Crato e o próprio Cavaco Silva (que promulgou o novo Estatuto do Ensino Particular e Cooperativo) conseguem arranjar uma justificação válida para este tipo de situação? Não me parece... É que a liberdade de escolha não pode ser proclamada à custa do esbanjamento dos recursos públicos, ainda para mais quando vivemos, como Passos Coelho não se cansa de dizer, "tempos de excepção". É que se estamos num tempo de crise que obriga à multiplicação dos cortes e ao aumento da austeridade, então o sensato era defender a Escola Pública e apenas possibilitar os contratos de associação em concelhos do país onde a oferta pública fosse insuficiente.
Na última década, PSD-PP e PS têm sido, neste aspecto, as duas faces de uma mesma moeda. Ambos os partidos, quando estiveram no poder, continuaram a insistir nesta fórmula vergonhosa de financiar colégios privados, ao mesmo tempo que impunham cortes à Escola Pública. E agora vem Nuno Crato abrir as portas ao cheque-ensino e à liberdade de escolha como se as nossas escolas públicas estivessem a "rebentar pelas costuras". Bem pelo contrário: com a redução drástica do número de jovens a que iremos assistir nos próximos anos nada justifica que se desinvista da Escola Pública para financiar colégios privados que, não nos esqueçamos, têm como principal objectivo a obtenção do lucro. Neste particular, este governo e Cavaco Silva prestaram um mau serviço ao país... 
Fica o registo da reportagem que a TVI emitiu...