sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Uma história de arrepiar...

Hoje, enquanto preparava na sala de professores uma ficha de avaliação para as minhas turmas do 9º ano, a Directora de Turma de uma dessas turmas chegou-se perto de mim e disse-me que queria contar-me uma situação que tinha ocorrido com ela durante uma das sessões de tutoria com três alunas da sua turma.
Contou-me então que na última sessão de tutoria tinha estado a preparar as três alunas para o teste de História. Questionou as alunas sobre a localização geográfica da Rússia. No globo terrestre que havia levado para a tutoria nenhuma das alunas conseguiu localizar esse enorme país. Assustada com a situação pediu então às alunas que localizassem Portugal no mundo. Nenhuma foi capaz de o fazer!!! Relembro: alunas do 9º ano de escolaridade!!!
Ficou então quase em estado de choque e resolveu vir contar-me a história, sabendo que já sou professor de Geografia de uma das alunas desde o 7º ano. Não me admirei com a situação já que tenho da aluna a clara convicção das extremas dificuldades da mesma. Ao chegar a casa fui analisar as avaliações que lhe dei nos 7º e 8º anos e verifiquei que sempre dei nota 2 à aluna e que a mesma transitou no passado ano lectivo com cinco níveis negativos à custa do preenchimento de umas grelhas que permitem a passagem de ano de forma algo burocrática e administrativa. Quem é professor sabe do que falo.
Depois temos resultados deste género: melhoria do sucesso educativo para as estatísticas e do agrado do Ministério da Educação, mas o desbravar de um rumo perigoso e enganador, assente no crescente facilitismo e no abaixamento do rigor e seriedade científicas...

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

É preciso ter descaramento!!!

José Sócrates decidiu agora começar com a estratégia de elogiar a classe docente, com vista à minimização dos estragos que a manifestação do próximo dia 8 de Março lhe poderá causar em termos de imagem pública.
Sejamos claros e directos:
1. O aumento do número de alunos nos ensinos básico e secundário deve-se a uma política que visa "depositar" nos CEF`s e nos cursos profissionais os miúdos com duplas e triplas retenções, abrindo caminho a uma quase passagem administrativa, visto que a não conclusão destes cursos pelos alunos é praticamente impossível, dado o tão baixo nível de exigência requerido.
2. A melhoria do sucesso escolar dos últimos dois anos deve-se, em grande medida, aos resultados obtidos pelos alunos dos cursos profissionais e tecnológicos, onde o nível de exigência é o que se sabe... Quem é professor sabe do que falo!
Resumindo, o tão propalado sucesso dos últimos dois anos nada tem que ver com os professores, mas tão só com uma estratégia de claro facilitismo emanada de Lisboa. A ideia dos CEF`s e dos cursos profissionais é, como a das Novas Oportunidades, boa e positiva, mas, como disse Manuel Maria Carrilho, tornou-se numa farsa, visto que se embarcou pelo caminho do facilitismo e não pela lógica do ensino prático aliado a níveis elevados de exigência e rigor... Como dizia uma professora no "Prós e Contras" da RTP: "como se podem reprovar os meninos dos CEF`s se o programa de muitas das suas disciplinas é completamente inverso ao das suas necessidades? No final, somos obrigados a passá-los!"...

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Notas sobre o debate com a Ministra da Educação no "Prós e Contras" da RTP

Depois de três longas horas de debate sobre as propostas do Governo para a avaliação de desempenho dos professores e para a gestão das escolas, sobressaem três ideias principais:
1. A Ministra da Educação entrou no debate com a intenção de se explicar, mas acabou a desconversar, ignorando as questões que directamente lhe eram colocadas e refugiando-se na velha e gasta estratégia de Sócrates: a fuga para a frente, ao repetir que o inglês no 1º ciclo está alargado a todo o país, que a escola a tempo inteiro é uma realidade e que a acção social escolar está reforçada. Quando se viu confrontada com argumentos sérios e directos que colocam muitas dúvidas sobre a aplicação das duas propostas governamentais em discussão, Maria de Lurdes Rodrigues desconversou e provou desconhecer muito sobre a realidade da Escola Pública portuguesa;
2. A classe docente está desmotivada, arrasada e descrente no caminho que a Educação no nosso país está a tomar. Os professores mais velhos anseiam pela reforma, enquanto que os mais novos desesperam com os principais problemas da escola: a burocracia crescente e o facilitismo extremo na avaliação dos alunos.
3. Nada melhor que professores no terreno e que efectivamente leccionam para darem a conhecer a realidade da nossa Educação: CEF´s e cursos profissionais que tentam camuflar (e não inverter) o insucesso escolar; divisão de uma classe profissional em duas categorias, que origina um mal-estar crescente na nossa profissão; aulas de substituição que na prática são uma mera ocupação do tempo livre dos alunos; pressão exercida sobre os docentes para não reterem alunos no 1º, 2º e 3º ciclos.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

O ensino do portfólio...

No regresso a casa depois de ter estado na escola desde as 10H. até às 19H. (com três aulas e mais uma reunião intercalar) aproveitei para ouvir a excelente reportagem da TSF a propósito do programa Novas Oportunidades. Já tinha ouvido falar de alguns casos vergonhosos acerca deste programa, no mínimo, facilitista e "amigo" do sucesso estatístico, mas esta reportagem da TSF revela situações de bradar aos céus.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Conversas na sala de professores

Esta tem sido uma semana dedicada às reuniões intercalares na minha escola. Por isso, tenho passado muito do meu tempo a trabalhar na sala de professores, à espera que chegue a hora das reuniões. Além de preparar aulas, de fazer e corrigir testes de avaliação e de consultar a blogosfera, não tenho tido a capacidade de me "imunizar" em relação às conversas dos meus colegas. Duas conclusões sintéticas acerca do teor dessas conversas:
1. Muitos dos professores com trinta e mais anos de serviço passam quase todo o tempo a falar da sua reforma. Anseiam pelo dia da aposentação e consultam legislação atrás de legislação para saberem em quanto ficará a sua reforma. A muitos deles não os oiço dizer uma única palavra sobre o processo de ensino-aprendizagem dos alunos...
2. A maioria dos professores mais novos, muitos deles contratados, deslocados e "pau para toda a obra" desesperam ao constatarem que, com a legislação que aí temos à porta e os vícios porque pecam as nossas escolas, terão a vida muito mais dificultada para subirem na carreira, independentemente do trabalho que demonstram no dia-a-dia. Apesar de tudo, são dos que mais se preocupam com os alunos...
Enfim, assim vão as conversas na sala dos professores!

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Trabalhos feitos pelos alunos e a reprodução das desigualdades sociais

No início deste 2º período de aulas, desafiei os alunos das minhas três turmas do 9º ano de escolaridade a desenvolverem um trabalho de pesquisa sobre um país em vias de desenvolvimento à sua escolha. Deveriam investigar as causas do fraco desenvolvimento humanoesse país, bem como dar a conhecer a evolução dos seus principais indicadores socio-económicos. No final, seria feita a apresentação à turma do resultado da informação pesquisada. Assim, combinaram-se as datas para que os alunos, em grupos de dois ou três, fizessem as respectivas apresentações aos seus colegas. Claro que prestei todos os esclarecimentos sobre a forma de desenvolverem o trabalho, bem como as regras de elaboração dos trabalhos em Power-point. Tiveram cerca de um mês para executarem o trabalho...
A semana passada foi dedicada à apresentação dos trabalhos e houve de tudo, desde trabalhos miseráveis a trabalhos extraordinários. Outros houve que nem sequer se deram ao trabalho de fazerem qualquer coisinha.
A apresentação dos trabalhos pelos alunos permitiu-me concluir que a falta de pré-requisitos e do chamado "background" familiar por parte de muitos alunos constitui um factor decisivo de diferenciação entre os discentes. Aqueles que têm bons conhecimentos de informática, adquiridos noutros anos de escolaridade, e que têm a sorte de terem uns pais preocupados com a vida escolar dos seus filhos, conseguem realizar trabalhos de investigação muito mais interessantes do que aqueles que, apesar de até serem esforçados, pouco percebem do Word, do Power point ou de qualquer outro recurso informático.
Veja-se aqui, nesta reportagem da SIC, como no Reino Unido a situação, neste particular, está a milhas de distância. Por aqui chegamos a ter professores (e não serão poucos) que sabem muito menos destes novos recursos pedagógicos do que a generalidade dos seus alunos.
Deixo-vos com dois trabalhos elaborados por um grupo de alunos da cidade, que têm computador em casa com acesso à internet e cujos pais têm um razoável índice cultural. Claro que nem me vou dar ao trabalho de apresentar aqui trabalhos negativos, diria que até mesmo miseráveis, que mais parecem feitos na estratégia do "copy-paste"!

sábado, 2 de fevereiro de 2008

You Tube: um recurso educativo de excelência...

Nas minhas últimas aulas leccionadas às tumas do 8º ano de escolaridade, os vídeos disponibilizados pelo You Tube têm sido de uma enorme utilidade. Encontro-me a dar matéria relacionada com o efeito de estufa e muitas das catástrofes naturais daí decorrentes, pelo que os vídeos do You Tube têm ajudado os alunos a melhor compreenderem, tanto as causas, como as consequências de desastres naturais tão diversos, tais como inundações, cheias, desabamentos de terras, avalanchas, secas, vagas de frio, etc.
Os livros bem podem trazer a teoria, mas não há dúvida que se queremos ir um pouco mais além numa melhor explicação dos conteúdos leccionados em Geografia, a Internet, assim como os jornais, podem ser bastante úteis, tanto para o professor, como para os alunos.
Claro que pesquisar e organizar a informação dá trabalho, mas no final todos ficam a ganhar... Pelo menos os alunos ficam. Espero bem que também o professor possa vir a ser valorizado, tanto por pais, como pelos titulares que farão a nossa avaliação de desempenho. Quanto aos alunos, esses, claro que agradecem e reconhecem o trabalho efectuado!