sexta-feira, 23 de março de 2007

Claro que compensa aprender. Mas, não à custa do facilitismo!!!

O recente programa "Novas Oportunidades" lançado pelo Governo apresenta-se aos olhos de muitos daqueles a quem se destina (adultos com um reduzido grau de qualificação) como uma excelente oportunidade para melhorar o seu curriculum e qualificações académicas. Mas, a que custo???
O slogan da campanha é "Aprender compensa"... Mas, a mim parece-me que a pedra angular que norteia este programa é mais a possibilidade de, a curto prazo, melhorar de forma significativa as qualificações da mão-de-obra portuguesa nas estatísticas nacionais e internacionais e não a de proporcionar, a todos aqueles que abandonaram precocemente a escola, a possibilidade de voltarem às escolas para efectivamente aprenderem e, assim, melhorarem as suas competências básicas.
Convém termos bem presente que este processo de certificação dos conhecimentos adquiridos ao longo da vida activa nada tem que ver com o regresso às carteiras da escola. Tudo se processa de forma muito rápida, visto que o candidato apenas tem de preencher uns formulários que lhe atestem a sua experiência laboral. Nada como o que acontecia até aqui, em que muitos adultos voltavam à escola para frequentar o Ensino Recorrente Nocturno e, efectivamente, aprenderem para conseguirem adquirir o certificado do 12º ano de escolaridade.
Esta estratégia do Governo, apoiada em muito do que se faz nos países nórdicos (mas lá possivelmente com maior rigor e exigência), parece-me excessivamente simplista e pouco rigorosa, sendo até injusta para com aqueles que efectivamente frequentam as escolas para alcançarem um igual nível de qualificações, mas à custa de uma maior exigência e esforço.
Conheço o caso de um amigo meu da Covilhã que deixou a escola há uns anos atrás e que tem andado a frequentar uma série de cursos de formação profissional (alguns remunerados) ao mesmo tempo que faz uns part-times em lojas comerciais. Pois bem, agora tem andado numa roda-viva para conseguir que lhe façam uns elogios por escrito em como atende muito bem ao público para, assim, conseguir que no Centro de Competências lhe atestem capacidades equivalentes ao 12º ano de escolaridade e, dessa forma, poder facilmente melhorar o seu curriculum vitae. Será que esta situação, igual a tantas outras, é justa para com aqueles que de forma esforçada tentam terminar o 12ºano na escola, seja no ensino regular, seja no recorrente nocturno. Não me parece...
Melhorar a qualificação dos portugueses à custa do facilitismo e da descida do nível de exigência? Não obrigado!!!

sábado, 10 de março de 2007

Educação Sexual: mais uma "tarefa" para a Escola...

Segundo proposta do grupo de trabalho liderado por Daniel Sampaio, cada escola dos 2º e 3º ciclos deverá incluir no seu Projecto Educativo uma componente direccionada para a Educação para a Saúde, onde os conteúdos relacionados com a sexualidade deverão ser obrigatoriamente tratados uma vez por mês, devendo esta ainda abranger as temáticas da alimentação, da violência escolar e do tabaco, álcool e drogas.
Mas, o que pretendo chamar a atenção com este apontamento não é o desprestígio a que chegou a função docente (cujas notícias recentes relacionadas com a violência escolar bem elucidam). Pretendo, sim, dar a minha opinião sobre o alcance da proposta apresentada por Daniel Sampaio. Convém, desde já, esclarecer os mais distraídos que nas disciplinas de Ciências Naturais, Geografia e Biologia já são tratadas questões relacionadas com a reprodução e a prevenção sexuais e que também em Formação Cívica e Área de Projecto se podem realizar trabalhos inerentes ao tema da Sexualidade. Depois, não acredito que seja a falta de informação prestada aos jovens a justificar as elevadas percentagens de gravidezes ocorridas na adolescência em Portugal.
E que tal abordarmos o problema pelo lado dos pais? É que não serão poucos os pais a precisarem de aconselhamento sobre como lidar com os seus filhos. Informação já existe e não é pouca. O problema está, muitas vezes, em casa e na incapacidade que muitos pais sentem em conseguirem educar, de forma conveniente, os seus filhos.

sexta-feira, 2 de março de 2007

O aborto numa aula de Geografia (continuação)

No seguimento do meu último artigo, tenho a dizer que, depois de leccionada parte da matéria da Demografia, os debates realizados nas minhas aulas com as turmas do 8º ano sobre os métodos contraceptivos, o planeamento familiar, a educação para a sexualidade e o aborto têm sido bastante proveitosos. No debate de hoje, os alunos envolveram-se com maior interesse na resposta à questão "Consideras a prática do aborto como mais um método contraceptivo colocado à disposição das mulheres"?
Fiquei satisfeito com a participação dos alunos, sobretudo no que toca a entenderem a importância de se utilizarem devidamente os métodos contraceptivos. Ao mesmo tempo, a turma foi da opinião de que o aborto não deve ser visto como mais um método de prevenção da gravidez, tendo muitos deles condenado a possibilidade de se efectuar a interrupção voluntária da gravidez até às 10 semanas, sem que para isso haja justificações de força maior.
Deixo aqui apenas duas das respostas escritas pelo punho de um aluno e de uma aluna da turma, respeitando, obviamente, o seu anonimato.
Pena é que haja o perigo de que muitos adolescentes, por não serem bem informados, nem esclarecidos, possam vir a pensar que, com o aborto livre até às 10 semanas de gravidez, a prevenção poderá ser facilmente "descartada". E, esse risco existe! Só quem não lida com adolescentes pode dizer o contrário...