sábado, 24 de fevereiro de 2007

O aborto numa aula de Geografia

Já quase no final da aula, depois de terem sido analisados vários mapas sobre a distribuição da taxa de natalidade no mundo, o diálogo professor-alunos "aquece"...
Professor: "Então, quem me quer dizer quais serão os factores que explicam as reduzidas taxas de natalidade verificadas em muitos dos países europeus"?
Muitos alunos vão referindo a utilização dos métodos contraceptivos, o planeamento familiar, as despesas tidas com os filhos e os casamentos tardios até que intervém o José Fernando.
Inês (13 anos): "Eu acho que a principal causa é a utilização dos métodos contraceptivos."
Professor: "José Fernando, consideras mesmo que a prática do aborto é responsável pelo reduzido número de nascimentos verificados em muitos dos países europeus"?
Professor: "Então consideras que a prática do aborto constitui um método contraceptivo"?
José Fernando: "Acho que sim".
Professor: "E concordas que assim seja?"
José Fernando: "Não sei. Para quem concorde com o aborto será."
Muitos dos alunos ficam a cochichar entre si, admirando-se de, na próxima aula, irmos aprofundar o tema do aborto...

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Avaliar? Para quê?

A Ministra da Educação foi ao Parlamento defender o fim das provas globais, argumentando que as mesmas eram "dispensáveis" e "irrelevantes" do ponto de vista da avaliação dos alunos. Inteiramente de acordo! De facto, tanto professores, como alunos não davam às provas globais a importância que estas deveriam ter. Porquê? Muito simples: porque o peso de apenas 25% que as mesmas tinham na avaliação final a isso obrigava...
Ora, diagnosticado o problema, a equipa ministerial fez bem em tentar encontrar uma solução. Só não compreendo que a solução tenha sido a simples "destruição" do problema. Em vez de reforçar o peso das provas globais para uma percentagem nunca inferior a 50%, por forma a dar-lhes alguma dignidade e conceder-lhes um papel decisivo no sentido de avaliar as competências essenciais a adquirir pelos alunos no final da escolaridade obrigatório, a Ministra optou pelo caminho mais fácil. Acabou com as provas globais e abriu ainda mais o caminho do facilitismo... Já não bastava termos uma situação que quase impede que se "reprovem" alunos que não estejam em final de ciclo? O problema é que os alunos se vão apercebendo desta "onda" de facilitismos, sendo já hoje possível constatar muitas situações de alunos do 3º ciclo do ensino básico que afirmam não se preocuparem em ter muitas negativas, porque pensam que, pelo simples facto de estarem em risco de dupla retenção, julgam ter o "direito" de transitar de ano... É a lógica do facilitismo a funcionar!!!
Apenas mais um apontamento. O antigo Ministro da Educação, David Justino, afirmou, uma vez mais em público, que não faz sentido continuar-se a insistir na centralização dos programas pedagógicos e conteúdos curriculares, devendo-se conferindo às escolas a devida autonomia nesta área. Já defendi muitas vezes esta ideia aqui no blogue: a Escola deve ter uma maior ligação ao território envolvente, pelo que, mais do que ensinar apenas conceitos teóricos e generalistas, deve haver a preocupação de contextualizar cada uma das realidades escolares...