segunda-feira, 28 de novembro de 2005

(In)disciplina nas escolas portuguesas

O Ministério da Educação resolveu, uma vez mais, dar a conhecer através do Diário de Notícias, os dados de um estudo realizado pelos seus serviços acerca dos casos de ofensas à integridade física verificados nas escolas portuguesas no ano lectivo 2004/05. Não sou contra a que estes estudos sejam divulgados, mas porque é que o Ministério da Educação não realiza uma conferência de imprensa séria para dar a conhecer a todos os órgãos de comunicação social de tiragem nacional os resultados dos estudos que assiduamente costuma realizar? Fica a questão...
Quanto ao número de agressões verificadas, não podemos dizer se são poucos ou muitos. Mas, certamente não são números para sorrir... Podemos sim afirmar que as escolas devem ter um conjunto de instrumentos, baseados na autonomia de competências, que responsabilizem os pais e encarregados de educação pelo comportamento dos seus educandos na escola. António Nóvoa tem toda a razão quando diz que a autoridade não se impõe, conquista-se... Mas, já não concordo com o conhecido Professor universitário quando este diz que, por forma a contrariar os alunos que não querem estar na escola se deve recuperar a ideia de um "contrato", com direitos e deveres de parte a parte, a celebrar com os alunos e as famílias, deixando a hipótese das multas para outros sectores. Então, porque é que não se poderão "castigar" os pais daqueles que vêem a escola como o depósito dos seus filhos, aproveitando, muitas vezes, o abono de família para despesas que nada têm que ver com a educação dos jovens? Porque não fazer uma discriminação positiva a este nível? Porque não avançar com maiores abonos de família para os alunos que, com dificuldades financeiras em casa, conseguem resultados satisfatórios e diminuir ou acabar com este apoio para as famílias que "desprezam" a escola e "abandonam" os seus filhos na escola?
Já agora, uma palavrinha para a pseudo-polémica acerca da retirada de crucifixos das escolas portuguesas. O Ministério das Educação não terá mais nada que fazer do que preocupar-se com questões que nada influem no maior ou menor sucesso escolar??? É que não é a presença ou ausência dos crucifixos que fazem melhorar o rendimento dos alunos, tal como não são as graças que a Ministra diz querer que os docentes façam nas chamadas "aulas" de substituição que vão fazer com que os alunos se sintam mais motivados para os estudos...

terça-feira, 22 de novembro de 2005

No meio de tanta desilusão ganhou a Ministra da Educação... Mas, não a Educação!

O debate que ontem teve lugar no programa "Prós e contras" sobre o actual estado da educação em Portugal, dominado pela contestação que os sindicatos da educação têm manifestado contra as medidas emanadas da tutela, saldou-se, na minha opinião, numa profunda desilusão...
Desilusão, porquê? Primeiro há que evidenciar a "qualidade" dos intervenientes no mesmo: o que foram fazer ao debate uma professora aposentada e um teórico da educação, que pouco sabem da realidade e do que efectivamente se passa nas escolas portuguesas? Depois, é deveras confrangedora a forma politiqueira e desfasada da realidade como os representantes dos sindicatos da FENPROF e da FNE dão a conhecer os problemas vividos pelos professores no contexto actual das alterações legislativas levadas a efeito pelo Ministério da Educação. E, o que dizer do representante dos encarregados de educação? Aliás, o senhor Albino Almeida é o representante de quantos encarregados de educação do País? É bom que se saiba, porque a realidade a este nível apenas demonstra que os pais, regra geral, alheiam-se completamente da vida escolar dos seus educandos, pelo que seria bom que se percebesse que legitimidade tem o senhor Albino Almeida para falar do ensino em Portugal...
No final das mais de duas horas de debate de pouca qualidade e de reduzido esclarecimento público, fiquei com a ideia de que foi a Ministra Maria de Lurdes Rodrigues quem melhor conseguiu fazer passar a sua mensagem, coadjuvado pelo anterior Ministro David Justivo, demonstrando muito bem que as actuais alterações no sistema de educação apenas poderão não estar a dar resultado em muitas das escolas por culpa dos próprios Conselhos Executivos e Pedagógicos dessas escolas. Aliás, notou-se bem que a Ministra da Educação foi para este debate com a lição bem estudada, enquanto que os senhores sindicalistas apenas apontaram "armas" para a conversa do costume: a capacidade de organizar greves e a retirada dos direitos laborais...
Mais uma vez perdeu-se uma boa oportunidade para elucidar a opinião pública portuguesa do que realmente se passa nas nossas escolas, com destaque para a falta de capacidade e de empenho que grassa por muitas escolas, embora tivesse ficado bem patente o défice de conhecimento efectivo que a actual equipa ministerial e os senhores sindicalistas parecem ter do que verdadeiramente é ensinar nas escolas portuguesas. E, quanto a outras questões pertinentes, como o regime de concursos, a avaliação, a indisciplina e os currículos, nada ou quase nada se discutiu...

quinta-feira, 17 de novembro de 2005

Greves de alunos e professores...

Hoje, na escola onde lecciono, os alunos resolveram fazer greve e exigir o fim das aulas de substituição. Manifestaram-se toda a manhã por Lamego e até conseguiram fazer parar o trânsito... Não houve aulas para quase ninguém e das três turmas a que hoje teria que leccionar, apenas me apareceram 10 alunos de uma delas.
Amanhã será dia de greve para muitos professores como forma de protesto contra muitas das medidas tomadas por este Governo. No entanto, na minha escola, sei de casos de muitos colegas meus que aproveitaram a greve de amanhã para regressarem ainda hoje às suas terras de origem, antecipando, desta forma, o fim-de-semana. Não concordo com este tipo de estratégia. Isto não é fazer greve a sério... Greve a sério é ir à escola e aí manifestar-se ou aderir à manifestação que se realiza em Lisboa.
Eu cá não vou fazer greve. Quem costuma vir a este blogue já sabe a minha posição acerca deste assunto e a estratégia que defendo para que os professores possam "exigir" deste e de qualquer outro Governo maior respeito.
Entretanto, na minha escola, o ambiente entre alguns professores e o Conselho Executivo vai de mal a pior. Desta vez, tudo se ficou a dever ao facto de ter passado uma circular do Conselho Executivo pelos professores a informar que não serão aceites faltas justificadas ao abrigo do artigo 102º no dia de greve...

quarta-feira, 16 de novembro de 2005

Facilitismos para combater o insucesso escolar? Não, obrigado...

O Governo publicou recentemente o Despacho Normativo n.º 50/2005, do Ministério da Educação, que vem definir um conjunto de medidas que visam combater o insucesso e o abandono escolares no ensino básico. Até aqui tudo bem: intenções, preocupações, estratégias e prioridades... O problema surge quando analisamos o teor de tais medidas: no seu artigo 4º do Despacho vem indicado que os alunos do ensino básico que se encontrem em situação de reprovar de ano (três ou mais negativas), e que já tenham ficado retidos pelo menos uma vez ao longo do seu percurso escolar, terão uma última oportunidade, através de uma "avaliação extraordinária", a cargo dos conselhos pedagógicos das escolas, que ponderarão "as vantagens de nova retenção". Por outras palavras, quando se poderia supor que a prioridade seria envidar todos os esforços para que os alunos com maiores dificuldades ou aqueles que estão desinteressados da escola fossem apoiados activa e seriamente para melhorar o seu processo de ensino-aprendizagem, opta-se, mais uma vez, na lógica de enfiar a cabeça debaixo da areia e tentar a transição administrativa de ano dos alunos... Na realidade, trata-se de insistir numa medida que já é aplicada por muitas escolas. Por exemplo, no ano passado, na minha Direcção de Turma tive quatro alunos que foram sujeitos a este tipo mecanismo e que só não transitaram de ano (de facto não o mereciam) sobretudo porque tive que elaborar os respectivos relatórios de retenção repetida, cada um deles com cerca de 8 páginas e, assim, convencer o Conselho Pedagógico a não permitir a transição daqueles alunos que, durante o ano lectivo, andaram a "brincar" às escolinhas, com a conivência dos encarregados de educação...
Todos os anos, entre 15 e 17 mil alunos deixem a escola sem terminarem o 9.º ano, o que é elucidativo da incapacidade que o sistema de ensino português demonstra para "apoiar" os alunos que apresentam maiores dificuldades. A solução não pode ser nivelar por baixo, por forma a contrariar as estatísticas da UE, mas sim investir noutro tipo de currículos para estes alunos, mas também de exigências para com os encarregados de educação.
Mas, com esta equipa ministerial já nada é de admirar. Em pouco mais de meio ano de "trabalho", Maria de Lurdes Rodrigues e Valter Lemos apenas têm (des)investido em matéria de alterações introduzidas ao estatuto da carreira docente, prolongamento das horas lectivas e não lectivas para alunos e professores nas escolas e aplicação de medidas que visem a transição facilitada de ano dos alunos. Quanto a medidas que, realmente, são necessárias e urgentes, nada...

sexta-feira, 11 de novembro de 2005

Uma medida difícil, mas necessária...

O Ministério da Educação apresentou hoje aos sindicatos de professores uma proposta que prevê que as colocações dos docentes dos quadros de escola e de zona pedagógica devem ter uma periodicidade plurianual de 3 e 4 anos segundo o nível de ensino abrangido.
Esta é uma medida que, a ser concretizada, deixará muitos docentes satisfeitos, enquanto que outros ficarão resignados e contrariados na sua função docente, com prejuízos elevados nas suas vidas aos níveis familiar, emocional e financeiro.
No entanto, em termos gerais, podemos afirmar que os alunos serão os grandes beneficiados com esta medida, visto que é provável que haja um reforço da estabilidade do corpo docente de muitas escolas, com óbvias vantagens em termos do desenvolvimento de projectos educativos mais coerentes e de maior alcance, ao mesmo tempo que o processo de ensino-aprendizagem poderá efectivar-se de forma mais estável e com melhores resultados pedagógicos.
Muitos professores sairão com as suas expectativas defraudadas por terem de leccionar durante 3 ou 4 anos longe das suas casas e famílias, enquanto que outros que agora estão contra esta proposta até poderão ficar satisfeitos com os resultados das colocações plurianuais e, assim, até mudarem a sua opinião sobre a referida medida. Eu próprio que, este ano lectivo, estou a 70 Kms de casa, tendo que fazer 140 Kms todos os dias, poderei ter de ficar durante os próximos 3 anos numa escola a mais de 120 Kms de casa. Mas, é impossível agradar a todos... Assim, visto que são os alunos quem mais beneficiam com esta proposta, não posso deixar de concordar com o conteúdo principal desta medida. No entanto, esta proposta deveria ter sido acompanhada de outras medidas que pudessem beneficiar os professores que estão longe das suas casas e que necessitam que as suas escolas tenham condições, no mínimo, razoáveis para que a motivação de professores e o sucesso escolar andem juntos nas nossas escolas. Pena é que os docentes que ficam longe das suas famílias de 2ª a 6ª feira (outros há que estão várias semanas fora de casa!) tenham que se desenrascar por escolas que não lhes oferecem as melhores condições para exercerem condignamente a sua profissão...

quarta-feira, 9 de novembro de 2005

Parabéns pelos 125 anos...

Não é todos os dias que uma escola do nosso País se pode orgulhar de comemorar o seu 125º aniversário. Efectivamente, só há pouco mais de 30 anos é que Portugal assistiu ao "boom" do ensino secundário, pelo que não posso deixar de destacar o facto de ter quase o "privilégio" de poder leccionar numa escola com 125 anos de história e por onde já passaram milhares de homens e mulheres de um concelho ainda desfavorecido do Interior do nosso Portugal.
Votos de muitos e bons anos na difícil missão de instruir, formar e educar as gerações futuras do concelho de Lamego...

segunda-feira, 7 de novembro de 2005

Só trabalhar na escola? Isso é que era bom...

Este ano lectivo, devido às novas regras de cumprimento de horas não lectivas, alguns colegas meus lá da escola decidiram que levariam o mínimo de trabalho escolar para as suas casas, com destaque para o serviço de correcção das fichas de avaliação dos alunos...
Visto que este ano fiquei a cargo de oito turmas de quatro níveis diferentes e sabendo que me seria impossível apenas corrigir as fichas de avaliação na escola, resolvi contabilizar o tempo gasto a corrigir mais de duzentos testes...
Pois bem, comecei a correcção das referidas provas de avaliação, muitas das quais com mais de quatro páginas de folha de teste escritas, há cerca de dez dias atrás. Acabei hoje de corrigir o último teste e pelas minhas contas levei uma média de dez minutos para cada prova (mais para os testes do secundário e menos para os do 3º ciclo). Assim sendo, só na correcção de fichas de avaliação gastei cerca de 35 horas de trabalho, quase exclusivamente, caseiro... Ou seja, dado que tenho 22 horas de componente lectiva na escola, se tivesse que fazer este trabalho na escola, assumindo que não teria que preparar aulas e que o número de horas semanais é de 35 horas, levaria, no mínimo, três semanas a corrigir os testes. E claro, sem as condições de conforto, sossego e silêncio lá de casa...
Este apontamento serve apenas de alerta para todos aqueles (professores ou não) que julgam que os docentes não levam trabalham para casa. Pois bem, desde a preparação de aulas, até à concepção das provas de avaliação e sua correcção, entre muito outro trabalho burocrático, há quem tenha que levar muito trabalho da escola para casa. Pelo menos, para quem lecciona ao 3º ciclo e ensino secundário assim é obrigado. É a "tal" excepção que (não) temos...

quarta-feira, 2 de novembro de 2005

Educação sexual nas escolas: nada de novo...

O grupo de trabalho para a Educação Sexual em meio escolar, coordenado por Daniel Sampaio, necessitou de meio ano para concluir que não deve ser criada uma nova disciplina para esta área, aconselhando o Governo para que se revitalizem os currículos sobre Educação para a Saúde. Ou seja, nada de grandes novidades...

Convém lembrar que, actualmente, a Educação para a Sexualidade já é uma realidade nas escolas portugueses, sendo leccionada em diversas disciplinas, tais como a Biologia ou a Geografia, e na área curricular não disciplinar de Formação Cívica. Vir agora afirmar, com toda a pompa e circunstância, que as escolas e agrupamentos escolares devem aproveitar as áreas não disciplinares de Formação Cívica e de Área de Projecto, para também abordarem a questão da educação para a saúde, é não perceber que em muitas escolas isso já se faz.

Provavelmente, Daniel Sampaio e a sua equipa, não sabem muita da realidade escolar portuguesa... Aliás, já há umas semanas atrás, o irmão de Jorge Sampaio escreveu na revista Xis um artigo sobre as aulas de substituição num teor que só evidencia que ainda há quem pense que leccionar no ensino superior é algo de muito parecido com o que acontece no ensino básico. Puro engano, caro Daniel Sampaio...

Sempre defendi que a Educação para a Sexualidade não deve ser incorporada numa disciplina específica. O que deve ser potenciado é aquilo que já se faz em muitas escolas: leccionar conteúdos desta área nas disciplinas que se relacionem com este tema, nomeadamente na Biologia, aproveitar a Formação Cívica para desenvolver competências nos alunos a este nível e dinamizar colóquios e acções de formação onde professores, pais e alunos tenham uma intervenção activa e capaz.

Assim, penso que Daniel Sampaio não chegou a nenhuma conclusão especial. Só é pena que, mais uma vez, seja necessário que venha alguém do ensino superior dizer o que se deve fazer com a Educação para a Sexualidade para que o que já se faz passe a formato de lei... Quanto a professores, será que alguém os ouviu? Se sim, não parece...