sábado, 15 de dezembro de 2007

Avaliações, reflexões e Natal...

Depois de quase três meses de aulas é tempo de avaliações. Mais uma vez, é no 8º ano de escolaridade que o sucesso escolar à disciplina de Geografia menos se evidencia. A dificuldade sentida por muitos alunos para apreenderem correctamente (de forma rigorosa e não facilitista) os conteúdos relacionados com o clima constitui a razão para tal circunstância. Apesar da diversidade de estratégias utilizadas a taxa de níveis inferiores a três neste ano de escolaridade ronda os 40%. Estou crente que no próximo período de aulas a situação irá melhorar... Já nas turmas do 7º e 9º anos, as negativas propostas à minha disciplina ficaram-se pelos 15%. Nada mau...
É também tempo para reflectir sobre o que poderia ter decorrido melhor nestes três primeiros meses de aulas e as estratégias que deverão ser seguidas para que o sucesso escolar, a determinação e o rigor exigidos a todos os intervenientes educativos (professores, alunos e pais) possam ser alcançados. As últimas novidades sobre o estatuto do alunos não ajudam nada a que tal anseio seja atingido. Entretanto, continuo à espera que os currículos escolares no ensino básico sejam efectivamente revistos, a fim de acabar com as redundâncias e trapalhadas que afectam este nível de ensino...
Entretanto, há que viver esta época festiva, não esquecendo que o Natal é a festa das crianças... Um Feliz Natal para todos!!!

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

De mãe para professora

Chegou-me via email uma cópia da correspondência tida entre uma Professora de Ciências Naturais e uma Encarregada de Educação. A docente informava a mãe da aluna que esta não havia realizado os TPC`s pela terceira vez consecutiva. A Encarregada de Educação responde-lhe, de seguida, afirmando que a legislação não obriga os alunos a realizarem trabalhos em casa, além de que os pais têm mais que fazer do que saber se os educandos levam TPC`s para fazer ou não. Outra particularidade: a professora é tratada por "Senhora de Ciências"...
1. Com disciplinas com cargas horárias tão reduzidas (um bloco de aulas por semana), como são os casos de Geografia ou História no 7º ano, o envio de TPC`s poderá constituir um importante suporte de estudo e revisão da matéria leccionada a aproveitar pelos alunos;
2. Há pais que demonstram um desprezo pela vida escolar dos filhos e pela função docente que não me escandalizaria nada que fosse criada legislação que punisse estes pais (por exemplo, perdendo o direito a parte do abono de família);
3. Raramente envio TPC`s aos meus alunos, até porque a sua eficácia é reduzida (nunca ficamos a saber se foi o aluno que os fez ou se copiou), mas não há dúvidas que, mesmo sem TPC´s, ficamos sempre a saber quais os alunos interessados pela matéria dada nas aulas: basta no início de cada aula fazer umas questões sobre a matéria leccionada...

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Obrigados a deixar passar??? Era o que faltava...

A edição de hoje do Correio da Manhã traz como título "Pressão para não chumbar", dando a conhecer que nalgumas escolas deste país, os professores dos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico estão a ser pressionados pelos conselhos executivos, no sentido de evitarem ao máximo as negativas (notas inferiores a três), já no primeiro período lectivo. A ser verdade, é urgente que a Inspecção Geral da Educação e, porventura, a Procuradoria Geral da República tome conta deste assunto...
Em dez anos de serviço docente nunca fui pressionado por qualquer conselho executivo para atribuir uma determinada nota. Muito pelo contrário! Quanto tive encarregados de educação a duvidarem da avaliação atribuída por mim aos seus educandos, com a instauração de pedidos de revisão de nota, nunca deixei de ter a confiança dos órgãos executivo e pedagógico da escola.
Compreendo que possam existir mecanismos que alertem os professores para diversificarem as suas estratégias de ensino, a fim de que as aprendizagens dos seus alunos possam ser melhoradas. Para tal temos as aulas de recuperação, as tutorias, os clubes, etc. Agora, pressão para que as positivas aumentem com o intuito de "agradar" aos inspectores é que nem pensar!!!
A propósito, visto que qualquer professor tem uma enorme satisfação quando os seus alunos fazem por merecer boas avaliações, decidi-me por criar um novo blogue destinado aos meus alunos. Pode ser que alguns deles o aproveitem da melhor forma e melhorem as suas notas. Com esforço e não por via do facilitismo ou da pressão sobre os professores...

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

A lógica dos CEF`s e as verdades que a opinião pública desconhece...

A carta aberta que o professor de Ciências Físico-Químicas Domingos Cardoso endereçou a Cavaco Silva a propósito da "tortura" por que passa cada vez que tem aulas com uma turma do CEF (Curso de Educação e Formação) pode não representar a totalidade do universo dos alunos que se encontram matriculados neste tipo de cursos (que, convenhamos, de educativos têm muito pouco!), mas não deverá estar muito longe da realidade de muitas escolas deste país. É que há ainda quem não saiba (porventura até o próprio Presidente da República) que muitos destes cursos apenas existem para evitar que muitos alunos multipliquem o seu rol de retenções e/ou abandonem a escola. Esta foi, em grande medida, a forma arranjada para tornear a desgraça das estatísticas da Educação no 3º ciclo...
Nunca leccionei a turmas do CEF, mas ouvindo os meus colegas lá da escola que têm turmas do CEF, parece que com a maioria destes alunos não se consegue trabalhar, apenas ocupar tempo. Como diz um colega meu, "é o mesmo que tentar fazer omoletes sem ovos!!!"
Muito haveria para dizer sobre os cursos CEF. Mas, bastará uma leitura atenta da carta aberta de Domingos Cardoso para saber um pouco sobre a forma como (não) funcionam muitas das turmas CEF deste país!!! Boa leitura (caso isso seja possível)...

sábado, 3 de novembro de 2007

Os rankings das escolas têm de ter consequências

Mais uma vez e pelo sétimo ano consecutivo, o Ministério da Educação deu a conhecer os resultados obtidos pelos alunos nos exames do ensino secundário. E, mais uma vez, apenas um jornal se deu ao trabalho de avaliar de forma séria e rigorosa as diferentes realidades escolares que povoam um pouco por todo o país.
Com um dossier especial de 64 páginas, de acesso livre na Internet, o jornal Público dá conta dos resultados obtidos por cada escola nas principais disciplinas. E, se mais uma vez, fica patente que não faz sentido algum comparar as médias alcançadas pelas "melhores" escolas privadas deste país, que escolhem e fazem a seriação dos seus alunos, com a maioria das nossas escolas públicas, abertas a todo o universo educativo das suas áreas geográficas, convém não deixar de fazer uma avaliação séria e ponderada dos resultados obtidos pelos estabelecimentos de ensino público a nivel distrital e a nível disciplinar.
Dou apenas um exemplo. A Escola Sec./3 de Latino Coelho, em Lamego, onde no passado ano lectivo "levei" 20 alunos ao exame nacional de Geografia (num total de 30 alunos) obteve nesta disciplina uma média de 12,2 valores, ocupando o 98º lugar a nível nacional (num total de 519 escolas) e o 5º lugar à escala distrital (entre 27 escolas). Bons resultados, portanto, se tivermos em conta que, no conjunto das oito disciplinas, a escola se ficou pelo 318º lugar a nível nacional.
Claro está que há duas variantes que influenciam de forma decisiva as notas obtidas nos exames: por um lado, a qualidade da matéria-prima, ou seja, as capacidades demonstradas pelos alunos, e por outro, o desempenho docente e a capacidade dos professores para motivarem os seus discentes. Deste modo, penso que as escolas têm um papel importante a desempenhar no sentido de distribuírem da melhor forma o seu corpo docente pelos diferentes níveis de ensino. Ou seja, talvez não seja assim tão indiferente as decisões que os Conselhos Executivos tomam na hora de escolherem os professores que nas suas escolas irão leccionar âs turmas do ensino secundário. É bom que também as escolas reflictam seriamente sobre os resultados dos exames!!!

domingo, 28 de outubro de 2007

Andam a brincar com a Educação...

A mais recente novidade governamental em matéria educativa é de bradar aos céus. Falo do novo Estatuto do Aluno do ensino básico e secundário que, de uma vez por todas, atira às urtigas qualquer pingo de respeito que ainda poderia existir pela instituição escolar.
Com a pressa de mostrar serviço em Bruxelas em matéria de sucesso escolar e depois do coelho saído da cartola das Novas Oportunidades, é chegada a hora de impedir a reprovação da rapaziada que falta às aulas para ir curtir para outras bandas. Faça-se um exame de recuperação aos preguiçosos, que é como quem diz, faça-se uma prova bem levezinha, pois a dita prova é de recuperação e se não o for a culpa é de quem a elaborou: o professor, quem havia de ser?
Estou para ver como se vai comportar Cavaco Silva!!! Se promulgar tal aberração, está mais que visto que o objectivo é agradar a Bruxelas, colocando Portugal em bicos de pés, mesmo que a nossa juventude não saiba a tabuada do seis ou não saiba distinguir a China do Japão...
Entretanto, a profissão docente passará a ser cada vez mais parecida com a profissão de tratador de animais, sobretudo daqueles cujos pais ignoram por completo a vida escolar dos seus filhos. E este tipo de pais "deseducadores" são cada vez em maior número...
Este Ministério da Educação anda a brincar com coisas sérias. Só pode...

sábado, 13 de outubro de 2007

Maus tempos na Educação...

O mais recente relatório sobre o estado da Educação em Portugal dado à estampa pela Comissão Europeia envergonha qualquer português que julgue ser possível que o nosso país chegue rapidamente ao nível de desenvolvimento dos países do pelotão da frente desta Europa a 27 cada vez mais desigual. Em todos os cinco níveis analisados pela UE Portugal encontra-se abaixo da média europeia. Um cartão vermelho para os governos que nas últimas décadas nos têm "desgovernado" no sector da Educação...
Entretanto, a nível interno, esta semana foi marcada pela pressão exercida pelas autoridades governamentais no que toca às manifestações realizadas pela Fenprof. Nada me liga a este sindicato (bem pelo contrário, já que sempre defendi a criação de uma Ordem dos Professores), mas aquilo que se sabe sobre a forma como as autoridades policiais exerceram a sua autoridade nas acções levadas a efeito por este sindicato em Montemor-o-Velho e na Covilhã nada auguram de bom no que concerne à capacidade deste Governo para aceitar opiniões contrárias à sua. A "festa da democracia" não se proclama, comprova-se nas atitudes!!!

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Meras palavras de circunstância...

O discurso do Presidente da República nas comemorações do 5 de Outubro esteve cheio de elogios à profissão docente. Depois de meses de silêncio em matéria educativa, Cavaco Silva decidiu aliar o dia evocativo da Implantação da República com o dia mundial do professor, apelando à sociedade portuguesa para a importância de respeitar, acarinhar e prestigiar a função do professor. Palavras bonitas, mas insuficientes.
Depois de amanhã o discurso do Presidente será mero arquivo histórico, pois só com actos políticos sérios e capazes levados a cabo pelas entidades competentes é que as palavras poderão ter algum sentido prático. Ora, os últimos dois anos de governação socialista não auguram nada no sentido de prestigiar a classe docente. Muito pelo contrário! Com a minimização do acto de leccionar em prol dos actos burocráticos e com as dificuldades impostas à progressão na carreira docente, a vida do professor esforçado e dedicado à escola em nada tem sido prestigiada pelo actual Governo. Enfim, pode ser que daqui a um ano Cavaco Silva se lembre novamente dos professores deste país...

domingo, 30 de setembro de 2007

País da treta...

Um país que não cuida e protege da melhor forma os mais novos (cada vez em menor número) não passa de um projecto de país desenvolvido. É isso que penso de Portugal quando confrontado com o facto de termos uma legislação miserável no que toca à defesa da maternidade e da paternidade.
Na passada sexta-feira fui pai pela segunda vez. Depois de uma gravidez de risco que a minha esposa teve de aguentar, de forma heróica, temos pela frente tempos difíceis e desgastantes, com dois filhos de tenra idade: um de vinte e um meses e outro recém-nascido. Ambos somos professores e não temos família por perto: os avós vivem bem longe de nós. Mas, pelos filhotes nada é sacrifício...
Ora, o que o Estado nos concede para cuidar do elemento mais novo da família resume-se a um abono de família que nem para as fraldas do mês chega e uma licença de maternidade de quatro meses (com a hipótese de ter mais um mês sem direito a vencimento), a par de uma licença de paternidade de uns míseros cinco dias. Pouco, muito pouco, quando sabemos que outros países decentes desta Europa cada vez mais desigual permitem o alargamento da licença de maternidade até três anos e concedem subsídios verdadeiramente natalistas.
Como poderemos ter um país de jovens (lembremos-nos que o número de idosos já supera o de jovens) quando a classe média é posta de lado no que toca a incentivos decentes à natalidade? Aos quatro meses de idade um bébé deixa de ter a necessidade de ter a mãe ou o pai por perto? É isso que pensam os nossos governantes? Que com quatro meses já pode ser "despejado" no infantário, como se já não fosse um ser frágil? Só visto!!!
Enfim, tinha de desabafar. A felicidade de ter mais um filho não me impede que deva protestar com a actual situação de completo abandono que este e os anteriores governos demonstram ter pela classe média portuguesa. Sim, porque para a "arraia miúda" já há rendimentos mínimos e outros incentivos à preguiça...

sábado, 22 de setembro de 2007

A primeira semana de aulas

Para mim, este é já o décimo ano consecutivo em que o mês de Setembro é dominado pela azáfama do início de mais um ano lectivo, nomeadamente no que respeita à "arrumação" dos horários familiares. Há quem pense que a vida de um professor se resume ao trabalho que medeia entre a entrada e a saída da escola. Esquecem-se que não é nada fácil fazer a organização da vida familiar quando se lecciona a quase uma hora de casa e se tem uma filha ainda no infantário.
Este ano calharam-me em sorte oito turmas do ensino básico com a disciplina de Geografia, sendo que em duas delas ainda lecciono Área de Projecto e noutra Estudo Acompanhado. Nada mais, nada menos do que 200 alunos!!! Ou seja, este vai ser um ano complicado e de grande exigência. Ainda por cima, em dois dias seguidos da semana entro às 8.30H, o que me obriga a levantar pouco depois das 6.30H para levar a filhota ao infantário e seguir viagem para a escola...
Felizmente, já conheço mais de 2/3 dos alunos de que sou professor, o que facilita em muito o trabalho. Esta é uma das vantagens da estabilidade do quadro docente. Por outro lado, este é já o terceiro ano consecutivo que estou na mesma escola, o que permite um conhecimento dos "cantos à casa", sendo uma vantagem ao nível dos conselhos de turma.
A primeira semana de aulas foi desgastante: a habituação a um novo horário de trabalho e às rotinas próprias da vida de professor notaram-se, sobretudo, a difícil tarefa de, à 3ª e 4ª feira ter de acordar às 6.30H, preparar a filhota de 20 meses, levá-la ao infantário e conduzir durante 45 minutos para chegar à escola. Mas, daqui a umas semanas o organismo já estará habituado...
A primeira impressão que tenho das 8 turmas é bastante positiva. Logo na primeira aula, gastei apenas 20 minutos para apresentações e o resto do tempo foi para dar matéria. A receptividade por parte dos alunos foi, em termos gerais, interessante e agradável. 7º ano: as paisagens; 8º ano: o clima; 9º ano: os recursos energéticos. Aulas dinâmicas e alunos interventivos. Bom prenúncio...
A todos, um ano lectivo cheio de sucesso.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Regresso à escola

Estamos em Setembro, mês em que milhares de professores e alunos regressam à rotina das aulas. Digo rotina, não no sentido de algo fastidioso ou secante, mas sim de convivência e partilha de experiências entre professor e turma. Sim, porque convém não esquecer que os alunos de hoje passam mais tempo na escola com os professores do que em casa com os pais.
Nesta primeira semana de trabalho tive de escala em dois exames de equivalência à frequência do 9º ano e fui corrector em 15 exames de Geografia. Nenhum com avaliação positiva!!! Seguem-se as reuniões de departamento e de grupo e a preparação do novo ano lectivo. É que faltam menos de 10 dias para o primeiro dia de aulas.
Um bom ano lectivo para todos os professores e alunos que aqui costumam fazer uma visita...

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Agosto: mês de balanço...

Para a generalidade dos professores, este é o mês em que se faz o balanço de mais um ano lectivo que terminou. Se não é, deveria ser... Para além do gozo merecido de férias e de algum descanso, há que fazer a devida reflexão daquilo que correu bem e mal ao longo dos últimos onze meses.
Pessoalmente, este foi mais um ano de muito trabalho, embora recompensado com os bons resultados obtidos pela grande maioria dos meus alunos: em quase duzentos alunos, a percentagem de níveis negativos que atribuí não chegou aos 20%, para além de que na minha turma do secundário os resultados obtidos pelos alunos nos exames nacionais superaram largamente a média nacional. Tudo isto sem nunca ter baixado o nível de exigência. Bem pelo contrário: só com rigor e seriedade se pode alcançar a competência! A estratégia que tenho vindo a seguir deste que acabei o meu estágio (há já nove anos) de ser exigente para com os alunos e não fazer testes facilitistas nunca me desiludiu. Se no início do ano lectivo é habitual os alunos queixarem-se, depois com aulas diferenciadas, atractivas e motivadoras, os resultados aparecem...
Pena é que ao longo dos anos tenha vinda a sentir que os nossos alunos se deixam levar pela onda do facilitismo e do eduquês que inundou o sistema de ensino. Enfim, isto daria pano para mangas...
Umas boas férias para todos!!!

quarta-feira, 25 de julho de 2007

A revolução tecnológica não chega!!!

Depois de inúmeras notícias a evidenciarem o estado calamitoso a que chegou o estado da Educação em Portugal (resultados paupérrimos na generalidade dos exames nacionais, situações de juntas médias incompetentes, casos de delação contra professores, degradação da carreira do professor "que lecciona"), finalmente surge uma boa notícia no campo da Educação: as escolas portuguesas estarão, proximamente, equipadas com um computador com ligação à Internet, uma impressora e um videoprojector em cada sala de aula, para além de um quadro interactivo por cada duas salas. A revolução tecnológica chegou à escola!!!
Mas, para termos uma Escola de sucesso não chega "impingir" aos alunos computadores e Internet. Há que investir no rigor e na promoção do trabalho e do empenho. Doutra forma continuaremos a ter resultados vergonhosos nos exames nacionais (ainda por cima exames bem mais fáceis de realizar do que aqueles que se faziam há dez ou quinze anos atrás). E isto só se consegue alterando, por completo, a legislação sobre a avaliação dos alunos no ensino básico e secundário. Há que voltar aos bons e velhos tempos em que com mais de dois níveis negativos se chumbava de ano. Há que impedir que a lei permita que alunos com sete e oito níveis negativos possam progredir de ano apenas porque psicologicamente a retenção poderá ser gravosa para o discente. Há que reforçar os instrumentos que permitam ao professor promover a disciplina e o bom comportamento dos alunos. Há que punir os pais que, pura e simplesmente, ignoram a vida escolar dos seus filhos. Há que alterar o currículo escolar, diminuindo o número de disciplinas no ensino básico, por forma a aumentar a carga lectiva das principais disciplinas. Há que alargar os exames nacionais aos 4º e 9º anos de escolaridade, acabando com as provas de aferição. Enfim, há que apostar no rigor, na competência e na exigência. Muito há, pois, ainda por fazer...

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Em correcção de exames...

Nos últimos dois dias estive a corrigir 14 exames nacionais de Geografia A da 2ª fase e fiquei abismado com o elevado número de disparates que fui "obrigado" a ler... Depois de ter ficado satisfeito com as notas obtidas ao exame de Geografia A pelos alunos da minha turma de secundário (o 11º E) e sabendo que o nível de exigência do exame de Geografia em nada se compara com aquele que eu tive de fazer há uns treze anos atrás para entrar para a Faculdade, nunca pensei que ainda houvesse tanta ignorância junta nuns míseros 14 exames. Algumas das respostas dadas pelos alunos evidenciam uma tal preocupante falta de conhecimentos, que nem a minha avó com mais de 80 anos e apenas a 4ª classe ousa apresentar...
Pois bem, em 14 provas corrigidas tive 3 negativas e das restantes 11 positivas, houve um total de 7 provas com nota dez. Mas, a custo!!! Curiosamente a melhor nota (catorze valores) foi de um(a) aluno(a) do ensino recorrente, muito provavelmente um adulto a frequentar o ensino nocturno... Enfim, foi difícil ter de corrigir tanto disparate junto. Como é possível!!!
Mais uma prova de como os "meus" alunos do 11º E se portaram bastante bem no exame da 1ª fase...

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Em conformidade...

Foram hoje publicados os resultados dos exames nacionais do ensino secundário. Como havia previsto no artigo anterior, não se registaram discrepâncias entre as notas internas da minha turma de Geografia A e as notas de exame: a média da turma manteve-se inalterada nos 13 valores.
Apesar de tudo, e tendo em conta a reduzida exigência verificada, na minha opinião, ao nível dos conteúdos constantes no exame, penso que a turma poderia ter feito bem melhor. Apenas um aluno, o Sérgio, saiu da regularidade, aproveitando da melhor maneira as vinte questões de escolha múltipla que apareceram no exame: com uma nota interna de 12 valores chegou ao exame e teve 17 valores. Para os alunos que gostam de escrever (e nesta turma eram quase todos) este tipo de questões fechadas parece tê-los confundido e atrapalhado. De todos os alunos da turma que foram a exame, apenas um, o José Tiago, terá que voltar a fazer exame, pois precisava de 9 valores e apenas conseguiu 7 valores. Enfim, nem sempre tudo corre às mil maravilhas. Apesar de tudo, tudo correu como previsto: bem!!!
Aliás, tendo em conta a média nacional de 11 valores verificada no exame de Geografia A, há que dar os parabéns aos alunos do 11º E da Latino Coelho, que estiveram bem acima desse valor, com uns merecidos 13 valores de média...

terça-feira, 26 de junho de 2007

O exame nacional de Geografia A

Ontem fui coadjuvante no exame nacional de Geografia A. Cheguei à escola pouco antes das 8.30H, onde encontrei alguns dos alunos do 11ºE, a quem leccionei Geografia A nos últimos dois anos e que se preparavam para entrar para a sala, a fim de realizarem o exame. Muitos deles estavam nervosos, até porque este é o primeiro ano em que são sujeitos a este tipo de avaliação externa.
Dirigi-me para a sala do Secretariado de exames e aí estive durante as duas horas que durou a prova. Poucos minutos depois das 9 horas entregaram-me os dois enunciados da prova (a prova tem duas versões) e comecei a analisar pormenorizadamente as questões, no sentido de perceber até que ponto e com que profundidade foram leccionadas as matérias que agora estavam em julgamento no exame. Fiquei satisfeito. O exame pareceu-me bastante acessível, com vinte questões de escolha múltipla, na sua maioria fáceis de responder, e dois grupos de desenvolvimento que foram trabalhados de forma adequada durante as aulas: a demografia e a agricultura. Espero, sinceramente, que as notas do exame possam atingir ou até mesmo superar as notas internas...
No final do exame encontrei-me com alguns alunos e todos eles, à excepção do Tiago, estavam satisfeitos com a sua prestação. Disseram que o exame havia sido bem mais fácil que os testes de avaliação que, durante dois anos, lhes dei. Enfim, mais vale assim do que a situação inversa. Agora, resta esperar que as expectativas se confirmam. Mais tarde darei notícias...

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Reuniões de avaliação...

Começaram as reuniões de avaliação do terceiro período. Antes de ir para o terceiro Conselho de Turma do ensino básico desta semana, resolvi vir até aqui deixar um pequeno apontamento para reflexão.
O estado de espírito dominante na maioria dos professores nesta época do ano demonstra o quão frustante é a vida de um professor que se preza pelo rigor e exigência. A maioria dos meus colegas desesperam, dizendo qualquer coisa parecida com o seguinte: "para que servem os testes de avaliação dados aos alunos, se estes podem progredir de ano, mesmo sem terem adquirido as competências básicas da disciplina"!!!
Cada vez se torna mais difícil ser-se rigoroso e exigente na arte de bem ensinar...

sexta-feira, 15 de junho de 2007

O final de mais um ano lectivo...

Chega hoje ao fim mais um ano de actividades lectivas. E já lá vão nove!!! No entanto, o trabalho prossegue com reuniões de avaliação e todo o trabalho inerente aos exames nacionais (as vigilâncias e a realização, vigilância e correcção de exames).
Foi um ano de muito trabalho, com sete turmas de três níveis diferentes e quase duzentos alunos. Mas, foi também um ano que se pautou, regra geral, por um satisfatório aproveimento de resultados, apesar de ter tido duas turmas do 7º ano de escolaridade manifestamente problemáticas em termos comportamentais e de desempenho escolar. Mais uma vez foi à turma do secundário (o 11º E) que mais gostei de leccionar, tendo-se dinamizado um conjunto de actvidades bastante interessantes, com destaque para os artigos publicados no jornal da escola, o blogue dos alunos e a participação na iniciativa "Parlamento dos Jovens". Apenas atribuí dois níveis negativos nesta turma, num total de vinte alunos e, agora, aguardo curioso pelo desempenho dos alunos no exame nacional de Geografia A.
Depois das reuniões de avaliação do ensino básico virei aqui reflectir sobre a prestação dos alunos dos 7º e 8º anos de escolaridade. Até lá...

terça-feira, 5 de junho de 2007

Cheio de trabalho, sem portátil e à espera das férias...

Há mais de um mês que não vinha aqui. Razões? Várias, com destaque para o facto do disco rígido do meu portátil ter estoirado, pelo que teve de ir para a fábrica durante umas semanas (vá lá que estava ainda dentro da garantia!) e o facto do trabalho lá na escola e em casa ter sido exorbitante, com testes, exames, aulas e reuniões a ocuparem muito do meu limitado tempo. Agora que falta pouco mais de uma semana para terminarem as aulas é que não vou ter tempo disponível para aqui vir. Fica, pois, prometido que lá para meados ou finais deste mês virei aqui por a conversa em dia. Há tanto por escrever sobre o que se tem passado no nosso país. Um abraço a todos...

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Novo líder da FENPROF. Será para termos mais do mesmo?

No sector da Educação, o sindicalismo português tem vindo a atravessar, desde há uns anos, um período a que o povo costuma apelidar como "as passas do Algarve"! Estando sujeitos a um nível de credibilidade muito abaixo do desejável, os dois sindicatos mais representativos dos professores, a FENPROF e a FNE, têm tido grandes dificuldades para assumirem uma postura de verdadeiro rigor, coerência e exigência.
A FENPROF tem agora um novo líder: Mário Nogueira de seu nome. Apenas o conheço de aparecer de forma assídua na televisão, assumindo um estilo que, sinceramente, não me agrada. Ora, a credibilidade é condição basilar para que quem quer falar se consiga fazer ouvir!!! Como quem semeia ventos arrisca-se a colher tempestades, não antevejo grandes alterações na (in)capacidade dos sindicatos da Educação para serem levados a sério pela tutela! Sei que a outra concorrente ao cargo de líder da FENPROF era uma ilustre desconhecida do grande público. Talvez por isso não tenha ganho as eleições, mas talvez essa condição pudesse ter mais vantagens para a concretização dos reais anseios do sindicalismo português...

quarta-feira, 18 de abril de 2007

Apanhado de surpresa...

16 de Abril, segunda-feira, 8.30H - Dou início ao que esperava vir a ser uma normal semana de trabalho, igual a tantas outras. A aula do 11ºE, entre as 8.30H e as 10.00H decorreu bem, tendo leccionado matéria relacionada com a rede rodoviária nacional. Na última meia hora de aula, duas alunas apresentaram a notícia da semana, relacionada com a futura construção do Hospital de Proximidade de Lamego. Na aula que se seguiu, a do 8ºC, entre as 10.15H e as 11.45H sou surpreendido pela dificuldade que senti em conseguir altear um pouco mais a minha voz. Falámos sobre as causas e tipos de migrações e a aula lá chegou ao fim, embora me senti-se já preocupado com a minha falta de voz. Na terceira aula do dia, a do 7ºB, das 12.00H às 13.30H é que foram elas: poucos minutos depois da aula se iniciar fiquei completamente rouco e afónico, sem conseguir falar de forma audível. Resolvi então pedir a uma aluna para me ir comprar uma garrafa de água e pedi aos alunos que realizassem um mapa hipsométrico de Portugal Continental, dado que esta é a matéria que estou a leccionar no 7º ano. Eles lá trabalharam e a aula chegou ao fim, sem que eu tivesse que puxar muito pela voz.
Ao almoçar lembrei-me que durante a ida para a escola, na parte da manhã, tinha ouvido na rádio que se comemorava o Dia Mundial da Voz. Coincidências! E eu sem voz!!! Fui à farmácia, mas lá aconselharam-me a ir ao Hospital. Resultado: três dias de atestado médico, sem poder falar, nem esforçar a voz e esperar que na sexta-feira já possa falar normalmente. É que sem voz, não há professor que se aguente!!!

quarta-feira, 11 de abril de 2007

À mulher de César não basta ser; é preciso parecer...

A recente polémica (que, diga-se, foi dada à estampa pela primeira vez em 2005 pelo autor do blogue Do Portugal Profundo) sobre a forma como Sócrates se licenciou na Universidade Independente em Engenharia Civil dá que pensar se tivermos em conta que este Governo tem vindo, insistentemente, a apelar ao regresso da população menos instruída aos bancos da escola ou aos chamados Centros de Competências...
A Educação merece ser valorizada, mas a credibilidade de quem a pretende fomentar constitui um pressuposto basilar para não se ser sujeito a más interpretações. Tornar a população com melhores qualificações profissionais à custa da redução do rigor e exigência é trabalhar para as estatísticas e não para a melhoria efectiva das capacidades da população activa portuguesa.
A Escola é para ser levada a sério. As aulas devem ser frequentadas, os exames devem ser exigentes e as amizades e compadrios devem ficar de fora...

sexta-feira, 23 de março de 2007

Claro que compensa aprender. Mas, não à custa do facilitismo!!!

O recente programa "Novas Oportunidades" lançado pelo Governo apresenta-se aos olhos de muitos daqueles a quem se destina (adultos com um reduzido grau de qualificação) como uma excelente oportunidade para melhorar o seu curriculum e qualificações académicas. Mas, a que custo???
O slogan da campanha é "Aprender compensa"... Mas, a mim parece-me que a pedra angular que norteia este programa é mais a possibilidade de, a curto prazo, melhorar de forma significativa as qualificações da mão-de-obra portuguesa nas estatísticas nacionais e internacionais e não a de proporcionar, a todos aqueles que abandonaram precocemente a escola, a possibilidade de voltarem às escolas para efectivamente aprenderem e, assim, melhorarem as suas competências básicas.
Convém termos bem presente que este processo de certificação dos conhecimentos adquiridos ao longo da vida activa nada tem que ver com o regresso às carteiras da escola. Tudo se processa de forma muito rápida, visto que o candidato apenas tem de preencher uns formulários que lhe atestem a sua experiência laboral. Nada como o que acontecia até aqui, em que muitos adultos voltavam à escola para frequentar o Ensino Recorrente Nocturno e, efectivamente, aprenderem para conseguirem adquirir o certificado do 12º ano de escolaridade.
Esta estratégia do Governo, apoiada em muito do que se faz nos países nórdicos (mas lá possivelmente com maior rigor e exigência), parece-me excessivamente simplista e pouco rigorosa, sendo até injusta para com aqueles que efectivamente frequentam as escolas para alcançarem um igual nível de qualificações, mas à custa de uma maior exigência e esforço.
Conheço o caso de um amigo meu da Covilhã que deixou a escola há uns anos atrás e que tem andado a frequentar uma série de cursos de formação profissional (alguns remunerados) ao mesmo tempo que faz uns part-times em lojas comerciais. Pois bem, agora tem andado numa roda-viva para conseguir que lhe façam uns elogios por escrito em como atende muito bem ao público para, assim, conseguir que no Centro de Competências lhe atestem capacidades equivalentes ao 12º ano de escolaridade e, dessa forma, poder facilmente melhorar o seu curriculum vitae. Será que esta situação, igual a tantas outras, é justa para com aqueles que de forma esforçada tentam terminar o 12ºano na escola, seja no ensino regular, seja no recorrente nocturno. Não me parece...
Melhorar a qualificação dos portugueses à custa do facilitismo e da descida do nível de exigência? Não obrigado!!!

sábado, 10 de março de 2007

Educação Sexual: mais uma "tarefa" para a Escola...

Segundo proposta do grupo de trabalho liderado por Daniel Sampaio, cada escola dos 2º e 3º ciclos deverá incluir no seu Projecto Educativo uma componente direccionada para a Educação para a Saúde, onde os conteúdos relacionados com a sexualidade deverão ser obrigatoriamente tratados uma vez por mês, devendo esta ainda abranger as temáticas da alimentação, da violência escolar e do tabaco, álcool e drogas.
Mas, o que pretendo chamar a atenção com este apontamento não é o desprestígio a que chegou a função docente (cujas notícias recentes relacionadas com a violência escolar bem elucidam). Pretendo, sim, dar a minha opinião sobre o alcance da proposta apresentada por Daniel Sampaio. Convém, desde já, esclarecer os mais distraídos que nas disciplinas de Ciências Naturais, Geografia e Biologia já são tratadas questões relacionadas com a reprodução e a prevenção sexuais e que também em Formação Cívica e Área de Projecto se podem realizar trabalhos inerentes ao tema da Sexualidade. Depois, não acredito que seja a falta de informação prestada aos jovens a justificar as elevadas percentagens de gravidezes ocorridas na adolescência em Portugal.
E que tal abordarmos o problema pelo lado dos pais? É que não serão poucos os pais a precisarem de aconselhamento sobre como lidar com os seus filhos. Informação já existe e não é pouca. O problema está, muitas vezes, em casa e na incapacidade que muitos pais sentem em conseguirem educar, de forma conveniente, os seus filhos.

sexta-feira, 2 de março de 2007

O aborto numa aula de Geografia (continuação)

No seguimento do meu último artigo, tenho a dizer que, depois de leccionada parte da matéria da Demografia, os debates realizados nas minhas aulas com as turmas do 8º ano sobre os métodos contraceptivos, o planeamento familiar, a educação para a sexualidade e o aborto têm sido bastante proveitosos. No debate de hoje, os alunos envolveram-se com maior interesse na resposta à questão "Consideras a prática do aborto como mais um método contraceptivo colocado à disposição das mulheres"?
Fiquei satisfeito com a participação dos alunos, sobretudo no que toca a entenderem a importância de se utilizarem devidamente os métodos contraceptivos. Ao mesmo tempo, a turma foi da opinião de que o aborto não deve ser visto como mais um método de prevenção da gravidez, tendo muitos deles condenado a possibilidade de se efectuar a interrupção voluntária da gravidez até às 10 semanas, sem que para isso haja justificações de força maior.
Deixo aqui apenas duas das respostas escritas pelo punho de um aluno e de uma aluna da turma, respeitando, obviamente, o seu anonimato.
Pena é que haja o perigo de que muitos adolescentes, por não serem bem informados, nem esclarecidos, possam vir a pensar que, com o aborto livre até às 10 semanas de gravidez, a prevenção poderá ser facilmente "descartada". E, esse risco existe! Só quem não lida com adolescentes pode dizer o contrário...

sábado, 24 de fevereiro de 2007

O aborto numa aula de Geografia

Já quase no final da aula, depois de terem sido analisados vários mapas sobre a distribuição da taxa de natalidade no mundo, o diálogo professor-alunos "aquece"...
Professor: "Então, quem me quer dizer quais serão os factores que explicam as reduzidas taxas de natalidade verificadas em muitos dos países europeus"?
Muitos alunos vão referindo a utilização dos métodos contraceptivos, o planeamento familiar, as despesas tidas com os filhos e os casamentos tardios até que intervém o José Fernando.
Inês (13 anos): "Eu acho que a principal causa é a utilização dos métodos contraceptivos."
Professor: "José Fernando, consideras mesmo que a prática do aborto é responsável pelo reduzido número de nascimentos verificados em muitos dos países europeus"?
Professor: "Então consideras que a prática do aborto constitui um método contraceptivo"?
José Fernando: "Acho que sim".
Professor: "E concordas que assim seja?"
José Fernando: "Não sei. Para quem concorde com o aborto será."
Muitos dos alunos ficam a cochichar entre si, admirando-se de, na próxima aula, irmos aprofundar o tema do aborto...

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Avaliar? Para quê?

A Ministra da Educação foi ao Parlamento defender o fim das provas globais, argumentando que as mesmas eram "dispensáveis" e "irrelevantes" do ponto de vista da avaliação dos alunos. Inteiramente de acordo! De facto, tanto professores, como alunos não davam às provas globais a importância que estas deveriam ter. Porquê? Muito simples: porque o peso de apenas 25% que as mesmas tinham na avaliação final a isso obrigava...
Ora, diagnosticado o problema, a equipa ministerial fez bem em tentar encontrar uma solução. Só não compreendo que a solução tenha sido a simples "destruição" do problema. Em vez de reforçar o peso das provas globais para uma percentagem nunca inferior a 50%, por forma a dar-lhes alguma dignidade e conceder-lhes um papel decisivo no sentido de avaliar as competências essenciais a adquirir pelos alunos no final da escolaridade obrigatório, a Ministra optou pelo caminho mais fácil. Acabou com as provas globais e abriu ainda mais o caminho do facilitismo... Já não bastava termos uma situação que quase impede que se "reprovem" alunos que não estejam em final de ciclo? O problema é que os alunos se vão apercebendo desta "onda" de facilitismos, sendo já hoje possível constatar muitas situações de alunos do 3º ciclo do ensino básico que afirmam não se preocuparem em ter muitas negativas, porque pensam que, pelo simples facto de estarem em risco de dupla retenção, julgam ter o "direito" de transitar de ano... É a lógica do facilitismo a funcionar!!!
Apenas mais um apontamento. O antigo Ministro da Educação, David Justino, afirmou, uma vez mais em público, que não faz sentido continuar-se a insistir na centralização dos programas pedagógicos e conteúdos curriculares, devendo-se conferindo às escolas a devida autonomia nesta área. Já defendi muitas vezes esta ideia aqui no blogue: a Escola deve ter uma maior ligação ao território envolvente, pelo que, mais do que ensinar apenas conceitos teóricos e generalistas, deve haver a preocupação de contextualizar cada uma das realidades escolares...

sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

Instabilidade e desmotivação nas escolas

Com a publicação em Diário da República do novo Estatuto da Carreira Docente (ECD) seria de esperar que o ambiente nas escolas públicas portuguesas melhorasse ou, pelo menos, deixasse de estar tão avesso a questões laborais e se aplicasse mais aos problemas educativos.
Pois bem, durante esta semana apercebi-me que as dúvidas sobre o ECD continuam a dominar as conversas da maioria dos professores, com o desânimo e a desmotivação a serem os pontos fortes do dia-a-dia nas escolas portuguesas. A grande maioria dos professores encontra-se desapontada com o que o novo ECD lhes reserva e, infelizmente, parece-me que este estado de espírito tem consequências ao nível do processo de ensino-aprendizagem que deveria estar imune a estas questões. Falo de muitos dos professores com mais anos de serviço, aqueles que desesperam por passar à aposentação e que, simplesmente, parecem estar-se nas tintas para os alunos. Claro que há excepções, mas nas conversas tidas aqui e ali, na escola e fora dela, tenho assistido a conversas de colegas meus que demonstram o quão falta de profissionalismo grassa (ainda) na nossa profissão. Então no primeiro ciclo sei de casos de bradar aos céus!!! Simplesmente inacreditáveis!!! Curiosamente, muitos daqueles que são os mais afectados pelas novas regras do ECD, os professores mais novos e em início de carreira, até que parecem como que conformados com o que lhes está destinado no novo ECD. Penalizados na progressão na carreira, nos vencimentos e noutras questões, há também os que se dizem fartos da profissão docente e afirmam querer mudar de emprego.
Enfim, nada de bom auguro nos próximos tempos para o Sistema de Educação em Portugal. E, mais do que os professores, os mais afectados serão os alunos, ou seja, os futuros homens e mulheres do nosso país.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

A Educação não passa só pela Escola...

Cada vez que se discute um problema de carácter social, a Escola é, repetidamente, chamada a intervir no sentido de incutir na população mais jovem os valores e princípios mais adequados mediante os quais uma sociedade se deve reger. Seja ao nível do combate ao tabagismo, ao alcoolismo, à toxicodependência ou a outro flagelo da sociedade, seja na promoção de gestos e comportamentos válidos, é a Escola e, consequentemente, aos professores que se vem exigir a assumpção do papel de bons educadores.
O problema é que, por muitos discursos que os nossos governantes possam fazer no sentido de valorizar o papel do professor como nivelador e orientador da sociedade (convém lembrar que discursar não chega!!!), a verdade é que quando surgem episódios como o ocorrido com o jogador benfiquista Luisão, todo um trabalho de promoção de valores de cidadania deixa de ter a consistência devida.
Na sexta-feira passada, na minha última aula do dia, já os alunos falavam do que tinha acontecido com Luisão. Riam-se e achavam piada à situação, como que valorizando a atitude do jogador. Não os ouvi condenar a atitude dos magistrados e, nem chamados à atenção, foram capazes de criticar o jogador.
Uma coisa é certa: por mais leis que se "fabriquem" no Parlamento para elevar o nível de educação dos nossos jovens, são estes maus exemplos que levam tudo a perder...

segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

Juventude inquieta? E que mais?

São 22.45H. de segunda-feira e estou sentado no sofá da sala a ver o Programa da RTP "Prós e Contras". Aborda-se o tema da juventude e as transformações que nos últimos anos têm afectado esta faixa da população, ao nível, por exemplo, da crescente dependência dos jovens face aos pais, da sua falta de autonomia e excessiva irreverência, da dificuldade em encontrar emprego, entre outras questões.
Para onde caminhamos, afinal? Se os jovens de hoje são inquietos, o que dizer dos adolescentes? No mínimo irrequietos... A ainda curta experiência de professor que tenho (de apenas nove anos) é suficiente para chegar à conclusão que uma Escola digna, rigorosa, firme e respeitada por todos constitui um factor fundamental para termos uma juventude que vá para além da banal irreverência. Por outro lado, há que não esquecer que a actual geração de pais que têm entre 35 e 45 anos apresenta, grosso modo, sérios problemas de falta de autoridade sobre os filhos. Lembremo-nos que estes pais foram os primeiros jovens a seguir ao 25 de Abril de 1974 e não sabem o que era viver em ditadura...
Enfim, muito há por fazer para que, daqui a uns anos não venhamos a ter vergonha da juventude que andamos a "produzir". Pais ausentes e uma Escola facilitista do estilo "depósito de miúdos" são duas realidades que devem ser, urgentemente, alteradas. Doutra forma iremos passar pelo que os ingleses estão agora a viver. Veja-se a reportagem emitida pela SIC-Notícias "Caos nas salas de aula" para se perceber do que falo...