quarta-feira, 3 de junho de 2015

A propósito das turmas do vocacional e profissional...

Nas últimas semanas muito se falou de delinquência e violência na adolescência. Todos recordamos os casos ocorridos em Salvaterra de Magos e na Figueira da Foz. Contudo, basta folhear o Correio da Manhã, o Jornal de Notícias ou os jornais locais para perceber que a delinquência juvenil apresenta contornos cada vez mais graves e preocupantes que vão para além das situações pontuais ou ocasionais.
Curiosamente (ou não), quando a comunicação social aprofunda um pouco mais estes casos (não se limitando a reportar a notícia), ficamos a saber que, muitas vezes, estes adolescentes frequentam turmas do ensino vocacional ou profissional. Claro que também há alunos problemáticos em turmas do ensino regular, mas seria importante que a tutela e as escolas refletissem sobre este fenómeno. É que se o ensino vocacional/profissional apresenta contornos especiais ao nível do tipo de alunos que o frequentam (desmotivados, desinteressados, com problemas de aprendizagem e/ou comportamentais, etc.), então há que repensar a forma como são dadas às escolas as condições necessárias para que os professores que têm estas turmas consigam lidar com alunos tão problemáticos como os que frequentam estas turmas.
É que não basta juntar neste tipo de turmas do vocacional/profissional os alunos problemáticos das escolas, por forma a que se "limpe" das turmas do regular os alunos desinteressados e indisciplinados, e depois esperar que aulas menos teóricas e mais práticas possam "despertar" nestes alunos o interesse pela escola... Há muito mais a fazer, sobretudo ao nível do apetrechamento dos recursos humanos e materiais necessários para que os professores consigam lidar com estes alunos tão "difíceis". 
Há oito anos consecutivos que tenho turmas com este tipo de alunos: dos antigos cursos tecnológicos aos atuais cursos profissionais, passando pelos ex-CEF`s e atuais vocacionais, há oito anos que tenho tido a meu cargo este tipo de alunos. E se nalguns casos (excecionais) houve turmas que se assemelharam a turmas do regular (lembro-me, sobretudo, de uma turma do curso profissional de turismo, cujos alunos estavam nesse curso porque assim queriam e não porque tivessem sido "empurrados"), outros casos tive em que o objetivo da formação deste tipo de alunos foi apenas o de permitir que os alunos que contribuíam para as retenções fossem para um tipo de curso mais fácil de terminar. Mas, e o resto? É que se estes alunos apresentam caraterísticas muito próprias, então há que canalizar meios específicos para estas turmas. Dou apenas alguns exemplos: possibilidade de haver assessorias nas disciplinas ditas mais teóricas, disponibilizar salas específicas para estas turmas (dotadas de computador, de projetor multimédia e de materiais específicos para trabalhos práticos), possibilitar que estas turmas sejam divididas em dois grupos e tenham uma componente horária de aulas menos pesada, apostar nos serviços de psicologia e orientação das escolas relativamente a estes alunos, etc. 
É que é, também na escola, que os problemas de delinquência juvenil pode ser prevenida. E um dos focos de abordagem deste fenómeno está precisamente neste tipo de turmas...