terça-feira, 30 de outubro de 2012

84 degraus

Imagine-se numa escola quase novinha em folha, daquelas em que se gastaram largos milhões de euros, e que para se deslocar da sala de professores até à sala de aula tem de descer 84 degraus, sendo que depois de 90 minutos de aula, volta a ter de regressar à sala de professores e, portanto, ver-se obrigado a subir os mesmos 84 degraus.
Agora há que acrescentar o facto de nessa deslocação ter de se munir do respectivo material de trabalho. A saber: uma pasta com o manual, o dossier do professor e a papelada habitual, outra pasta com o portátil, outra pasta com o projector multimédia e respectiva ficha tripla e ainda o livro de ponto. E, para concluir a peripécia toda, só falta dizer que na dita deslocação ainda se sujeita a ter de levar com alguma chuva, visto que entre o edifício principal e os contentores (sim as obras ainda não terminaram, pelo que ainda há aulas nos chamados monoblocos) a cobertura não é completa e, muitas vezes, está "apinhada" de alunos, pelo que ou leva chapéu de chuva ou ainda apanha com alguns pingos. Finalmente, apenas referir que existe um elevador, mas que o mesmo apenas está indicado para portadores de deficiência.
Pois bem, o que atrás enunciei não é ficção e ocorre numa das escolas que teve a mãozinha da Parque Escolar: a escola onde sou professor. Ora, há dias em que se chegam a descer, no total, à volta de 400 degraus e a subir os mesmos 400 ou mais degraus, em deslocações aos monoblocos para dar as aulas, ao bar para tomar um café ou à reprografia para tirar fotocópias... Ontem dei-me ao trabalho de contar os degraus que percorri: ao final do dia tinha subido e descido um total de 712 degraus (metade em cada sentido).
Esta é daquelas escolas em que se gastaram largas dezenas de milhões de euros em obras de requalificação, quando muitas dessas escolas ainda estavam em boas condições e apenas precisavam de algumas melhorias. Aliás, em muitas das escolas não houve requalificação. Houve sim destruição do que existia e construção de raiz. Até pavilhões gimnodesportivos foram deitados abaixo para se construírem pavilhões novinhos em folha, como se fossemos um país rico. Só na escola onde dou aulas gastaram-se quase 20 milhões de euros! Uma escola de uma vila em declínio populacional que tinha uma escola secundária construída há cerca de duas décadas, ainda em razoáveis condições, com gimnodesportivo, e que foi praticamente deitada abaixo para a construção de uma mega-escola que mais parece uma universidade! Parecemos um país rico...
Esta é daquelas situações que evidenciam até que ponto foi a irresponsabilidade do anterior Governo. Uma escola que até estava em razoáveis condições (das muitas que foram construídas nas décadas de 80 e 90, com três blocos - em forma triangular - mais um bloco maior ao fundo) e foi quase deitada abaixo, quando bastaria que se melhorasse o que existia. Quanto muito poderia ter-se construído mais um bloco de aulas. Mas não! Sócrates lembrou-se de gastar mais dinheiro, sem que o país tivesse recursos financeiros para isso, e avançou com a ideia de requalificar quase todas as escolas deste país. Mas, o disparate foi de tal ordem que muitas das escolas que precisavam urgentemente de obras foram deixadas para o fim do projecto: ainda ontem vi uma reportagem sobre o estado lastimável em que se encontra o Liceu Camões, em Lisboa, construído na década de 1960, que esse sim, precisava de obras de fundo...
Mas, o mais caricato disto tudo (o mais vergonhoso é gastar-se dinheiro que não se tem em obras de utilidade duvidosa) é o facto de muitos dos arquitectos que "pensaram" estas novas escolas pouco perceberem do funcionamento de uma escola. Caso soubessem não colocariam uma sala de professores no piso 1 e salas de aula no piso -2, obrigando professores a descerem e subirem 84 degraus de cada vez que têm que dar aulas no piso -2; nem fariam uma sala de professores sem bar, obrigando os docentes a irem ao bar dos alunos situado no piso -1 e, portanto, a terem de descer e subir cerca de 50 degraus e a perderem tempo precisoso nos intervalos; nem fariam corredores com reduzido acesso à iluminação natural, obrigando a gastos exorbitantes de energia. Isto já para não falar dos aparelhos de ar condicionado em todas as salas... Enfim, os exemplos por esse país fora são mais que muitos. Mas, os candeeiros do Siza Vieira numa escola do Porto devem ter batido o recorde da indecência!
A verdade é que tivemos um primeiro-ministro que se preocupou em fazer muita obra, ignorando a sua necessidade, utilidade e forma de se pagar. É que qualquer um consegue ser primeiro-ministro de um país em que se manda fazer obra para que outros a paguem...

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Sobre o ranking das escolas (parte 2)

Considero a publicação dos resultados obtidos pelos alunos nos exames nacionais (aquilo a que vulgarmente conhecemos como rankings das escolas) como uma importante ferramenta que deveria ser utilizada por cada uma das escolas a fim de que se saiba a que nível cada escola está no panorama nacional, a cada uma das disciplinas e na sua globalidade, bem como no sentido de avaliar a sua própria evolução ao longo dos anos. Contudo, em muitas das escolas por onde tenho passado, desde que os rankings são de divulgação pública, parece-me que este trabalho de análise profunda é descurado, seja aquando da divulgação dos resultados, seja quando se distribuem as turmas do secundário pelos professores da escola. Esta análise deveria ir muito para além do que é feito pelo Conselho Pedagógico e pelo Conselho Geral e ser muito mais afincada nos próprios departamentos curriculares e de subcoordenação de grupo disciplinar. 
Desde que tenho este blogue que dou aqui a minha opinião sobre a importância que os rankings podem ter com vista a melhorar os resultados dos alunos e das escolas. Em Novembro de 2007 escrevi que "há duas variantes que influenciam de forma decisiva as notas obtidas nos exames: por um lado, a qualidade da matéria-prima, ou seja, as capacidades demonstradas pelos alunos, e por outro, o desempenho docente e a capacidade dos professores para motivarem os seus discentes. Deste modo, penso que as escolas têm um papel importante a desempenhar no sentido de distribuírem da melhor forma o seu corpo docente pelos diferentes níveis de ensino.  Ou seja, talvez não seja assim tão indiferente as decisões que os Conselhos Executivos tomam na hora de escolherem os professores que nas suas escolas irão leccionar às turmas do ensino secundário." Passados cinco anos continuo a pensar o mesmo.
Todos os anos tenho divulgado os resultados dos exames nas escolas por onde tenho passado. Ora, se nos primeiros sete anos como professor andei a "saltitar" de escola em escola, tornando impossível a concretização de um trabalho duradouro nessas escolas, nos últimos oito anos apenas mudei de escola por uma única vez (isto para me aproximar da minha área de residência).
Nos últimos seis anos leccionei a disciplina de Geografia A ao 11º ano (ano de exame) por três vezes, tendo tido a vantagem de (re)encontrar alunos no 11º ano quando haviam sido meus alunos em anos anteriores (tanto no básico como no 10º ano). Ora, se houve medida positiva que Maria de Lurdes Rodrigues tomou no sentido de melhorar a escola pública foi a de tentar tornar o corpo docente das escolas mais estável, através da efectivação dos professores do quadro por quatro anos (para bem dos alunos, mas dificultando, muitas vezes, a aproximação mais rápida dos docentes às suas áreas de residência). Mas, o interesse maior é o dos alunos. Estamos cá por eles.
Ora, passados estes últimos seis anos, e já que em três desses anos "levei" alunos do 11º ano a exame, resolvi analisar os resultados obtidos pelos alunos no exame de Geografia A nas duas escolas por onde passei. Analisei os dados da DGDCI e elaborei uma pequena tabela com os dados mais relevantes.
Coincidência ou não, os melhores resultados obtidos no exame de Geografia A ocorreram quando leccionei a disciplina: em 2006/07, 2009/10 e 2010/11. Por outro lado, no ano lectivo 2011/12 alguns dos alunos que fizeram exame haviam sido meus alunos no 9º ano de escolaridade. O trabalho realizado pelos meus colegas em 2007/08 e 2011/12 também foi muito positivo e apenas em 2008/09, os resultados estiveram muito abaixo da média nacional (se bem me lembro quem leccionou Geografia nesse ano foi uma colega que estava ávida por ir para a reforma!).
Enfim, parece-me claro que a escolha dos professores que leccionam ao secundário, sobretudo em anos terminais que implicam a realização de exame, não deve ser banalizada. A escolha de um ou outro docente pode ser determinante para que os resultados possam ser bons ou menos bons.
Por outro lado, ainda há quem tenha a ideia (absurda quanto a mim!) que as turmas do secundário com exame devem ser entregues aos chamados "professores da casa" ou aos que têm mais anos de serviço. Como se a idade ou a experiência fosse sinónimo de maior competência... A este propósito, recordo quando pela primeira vez dei aulas a uma turma do secundário que tinha exame nacional nesse ano à minha disciplina. Foi no meu quarto ano de serviço, na Mêda, tinha então 24 anos e os resultados dos alunos, coincidência ou não, foram dos melhores do distrito e quase todos eles entraram para a faculdade para cursos que exigiam médias razoáveis.
Parece-me, pois, claro que as escolas deveriam analisar com muito mais profundidade os resultados obtidos pelos seus alunos nos exames nacionais, a cada uma das disciplinas, avaliando o que de melhor e pior aconteceu, as discrepâncias entre as classificações internas e os resultados nos exames, entre outras variáveis importantes. E será também importante que as escolas saibam analisar as razões que podem estar por detrás dos bons e maus resultados dos alunos. É que, continuo a pensar que nem tudo se deve ao aluno, assim como não deve ser descurada a forma como o professor ensina não aquando da análise dos resultados obtidos nos rankings.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Sobre o ranking das escolas (parte 1)

Depois de ter lido muito daquilo que se escreveu nos principais jornais do país sobre os rankings das escolas secundárias de 2012, chamou-me a atenção o trabalho apresentado pelo Expresso. Desde logo, fiquei admirado com uma das frases constante na chamada de capa: "Antiguidade dos professores também é decisiva nas notas". Depois de ler isto, resolvi analisar com maior cuidado o suplemento do Expresso para tentar perceber com que bases é que esta afirmação era sustentada. Numa das passagens do trabalho jornalístico é dada a palavra a uma investigadora, de seu nome Maria Manuel Vieira, onde afirma que "os dados indicam a importância decisiva da experiência profissional dos professores na qualidade dos desempenhos dos alunos". De concreto, mais nada... Fala de dados, mas não os revela!
Pois bem, resta saber se experiência é aqui qualificada como maior número de anos de serviço ou se experiência tem que ver com a qualidade (e não quantidade) profissional dos docentes. E, para mim, qualidade profissional pouco tem que ver com os anos de serviço que se tem. Isto porque um professor com 25 ou 30 anos de serviço não tem de ser, forçosamente e de forma imediata, um profissional mais competente e qualificado do que um seu colega com 10 ou 15 anos de serviço. Isto parece-me claro. 
Ora, a ideia que a investigadora e o Expresso tentam passar é a de que professores com mais anos de serviço (por isso falam em antiguidade) podem potenciar nos alunos melhores resultados nos exames nacionais. Esta é uma teoria cujos fundamentos são, quanto a mim, muito frágeis! Será assim tão evidente que um colega com 25 anos de serviço apresenta melhores competências para leccionar a turmas do ensino secundário e preparar melhor os alunos do que aquele que apenas tem 10 anos de serviço. Tenho muitas dúvidas...
O Expresso apresenta no seu suplemento um novo indicador que tenta provar esta sua teoria: a percentagem de professores do quadro de cada uma das escolas. Ora, este indicador é manifestamente insuficiente para se ter certezas, até porque muitas vezes até são professores do quadro com poucos anos de serviço aqueles que dão aulas ao secundário, enquanto que colegas com 30 anos de serviço preferem, muitas vezes, ter turmas do 3ºciclo. Por outro lado, temos casos de professores contratados com 10 ou 15 anos de serviço que leccionam ao secundário com muitos bons resultados. Enfim, cada caso é um caso, pelo que a reflexão deverá ser feita no interior de cada escola.
Só para se ter uma pequena ideia da subjectividade da teoria da antiguidade dos professores proporcionar melhores resultados nos exames resolvi pesquisar no suplemento do Expresso as situações da escola onde lecciono e da escola do país com maior percentagem de professores do quadro. A lógica do Expresso cai pela base: a minha escola, com pouco mais de 2/3 de professores do quadro obteve melhores resultados do que a escola onde quase todos os professores são do quadro (ver quadro). Por outro lado, das quase 500 escolas secundárias que tiveram mais de 100 exames, a escola onde dou aulas consegue estar à frente de largas dezenas de escolas cujo corpo docente apresenta uma maior percentagem de professores do quadro, o que prova que a teoria do Expresso é muito frágil. Assim, continuo a pensar que o que mais determina a posição das escolas no ranking é o contexto social em que se insere a escola, bem como a qualidade (não a antiguidade) do seu corpo docente.
Aliás, nesta questão da experiência não me admiro nada que a teoria de Laffer (aplicada aos impostos e que agora é tão falada) se possa aplicar. Recordo que a teoria de Laffer defende que a partir de uma determinada taxa de imposto a receita arrecadada pelo Estado passa a ser menor do que conseguida com uma taxa inferior. Parece-me que algo de parecido acontece com os professores: a partir de uma determinada altura (25/30 anos de serviço) a muita experiência que se possa ter não determina que a qualidade e sucesso do ensino sejam melhores do que a proporcionada por um colega com 10 ou 15 anos de serviço. Mas, claro, cada caso é uma caso!
Enfim, continuo a pensar que há uma multiplicidade de factores que determinam os resultados obtidos pelas escolas nestes rankings: o contexto sócio-económico em que se inserem as escolas (este é para mim o mais importante), a qualidade do corpo docente, o acompanhamento e apoio prestados ou não pelas famílias e até a qualidade da gestão de cada escola, entre outros.
Voltarei ao assunto...    

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Aposentações

Um dia destes estava na sala dos professores a corrigir umas fichas de trabalho da minha turma do profissional quando se sentou ao meu lado um dos colegas com mais anos de serviço lá da escola. O colega em questão é professor na minha direcção de turma e vinha no intuito de me relatar um episódio ocorrido na aula com uns alunos da turma e que o levou a participar disciplinarmente a ocorrência. O colega, depois de me contar a situação ocorrida, começou a lamentar-se dos alunos que em hoje em dia temos, recordando, num espiríto saudosista, os tempos em que dava aulas há 30 anos atrás e que nada tinham que ver com os tempos de hoje.
O colega confidenciou-me que, muito proximamente, irá colocar os papéis para a sua reforma, dado que se encontra cansado e desmotivado com a escola que temos. Dizia ele que esperava que este fosse o último ano a dar aulas. E, num estilo de quase monólogo continuou a comparar os tempos do "antigamente" com os tempos de agora, evidenciando revolta e frustação com o período que vivemos na escola pública portuguesa. 
Esta é daquelas situações que, de forma muito assídua, vamos assistindo nas salas de professores. Os nossos colegas com 30 ou mais anos de serviço parecem estar em "pulgas" para que venha o momento de se poderem reformar, muitos deles com penalizações de 20% ou mais por recorrerem a aposentações antecipadas. Curiosamente ou não, muitos destes professores até são poupados a terem as turmas consideradas como mais difíceis. Por outro lado, sabemos da redução de carga lectiva que muitos têm, assim como o facto de muitos dos cargos que lhes conferem menor número de horas a leccionar (por exemplo, a coordenação de departamentos) serem, muitas vezes, da sua competência.
Acredito que muitos devam estar fartos de ensinar (ou aturar os alunos, como muitos dizem!), mas se eles se queixam, o que podemos nós (aqueles com menos anos de serviço como eu) dizer, quando já não temos qualquer esperança de chegar ao topo da carreira, nem ter direito às reduções de carga lectiva a que estes colegas tiveram direito. Por exemplo, com quase 15 anos de serviço completo apenas vou no 2º escalão, pelo que, sabendo-se do congelamento das carreiras e dos entraves à subida de escalões, sei que jamais poderei chegar ao topo da carreira. Por outro lado, se agora os colegas mais velhos ainda se podem aposentar mais cedo, o mais certo é que daqui a uns anos a idade da reforma se aproxime dos 70 anos e não dos actuais 65 anos.
A propósito da idade da reforma dos professores, não percebo qual a lógica de se continuar a permitir que os educadores e professores do 1º ciclo se possam reformar com 60 anos! É uma situação de gritante discriminação em relação aos demais professores dos 2º e 3º ciclos e do secundário que não se compreende, sabendo nós que aqueles apenas têm uma turma, enquanto que os outros têm muito mais trabalho com centenas de alunos de níveis diferentes e, cada vez mais, a leccionarem, ao mesmo tempo, disciplinas diferentes (situação muito comum nos colegas que têm CEF`s e profissionais). Os sindicatos de professores, dominados essencialmente por professores do 1º ciclo, são dos principais responsáveis por esta situação, sendo que ainda não foi desta que um Ministro da Educação teve a coragem de alterar esta benesse.
Enfim, uns queixam-se porque estão cansados (apesar de terem reduções de carga lectiva e estarem em escalões bem remunerados), outros queixam-se porque são considerados os "parentes pobres" do ensino (apesar de terem direito à aposentação com apenas 60 anos de idade), mas quem tem, de facto, a vida de professor mais complicada são os que têm poucos anos de serviço e que leccionam a centenas de alunos (muitos com quase 10 turmas a seu cargo!), para além de estarem sujeitos a terem CEF`s , PCA´s e profissionais e que não podem ter esperanças de virem a alcançar os melhores escalões remuneratórios, nem a reformarem-se antes dos 65 anos, nem tão pouco a terem consideráveis reduções de componente lectiva... Estes, sim é que teriam razões para se queixarem, mas até são os que menos se queixam nas salas de professores!!!   

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Para reflectir...

Hoje, de manhã, quando ia para a escola, ouvi uma notícia na TSF que me deixou perplexo e furioso. A notícia dava conta de um ataque horrendo ocorrido no Paquistão por um grupo extremista taliban sobre uma rapariga de 14 anos, de seu nome Malala Yousufzai, conhecida pelas suas acções a favor da paz e do direito à educação.
Malala Yousufzai ficou conhecida a nível internacional quando, em 2009, com apenas 11 anos, relatou através de um blogue, a difícil vida das mulheres (crianças e adultas) sob o domínio do fundamentalismo taliban. A sua luta por uma educação integral nunca foi aceite pelos fundamentalistas. A partir dessa altura, a adolescente passou a ser considerada, imagine-se, como um alvo a abater pelos taliban. Simplesmente horrível!!! 
Ao chegar a casa fui tentar saber um pouco mais sobre a vida desta autêntica heroína e foi ao ver um dos vídeos presentes no youtube sobre Malala Yousufzai que fiquei espantado com a capacidade de resistência desta adolescente. Esta é daquelas histórias de vida que merece ser analisada em sala de aula com os nossos alunos (por exemplo na aula de Cidadania) para que vejam que ainda há muitas crianças no mundo que esperam (e sofrem!) pelo dia de terem pleno direito à educação, enquanto que outras (que a têm gratuita) a desprezam e não lhe dão o devido valor. Eu já decidi: este será um dos assuntos a debater junto da minha direcção de turma e esta história estará na base da discussão sobre o tema. Pode ser que o esforço e a dedicação de Malala Yousufzai à sua nobre causa, colocando a própria vida em risco, contagie algum daqueles alunos que ainda não dão o devido valor à instrução e educação.
Fica aqui o registo de um pequeno documentário sobre Malala Yousufzai. Para reflexão...

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Mais uma turma de um curso profissional

Este ano vou ter a meu cargo seis turmas de três níveis diferentes: quatro turmas do 9º ano, uma turma de 7º ano de currículo alternativo (PCA) e uma turma de 10º ano do curso profissional de Técnico de Turismo Ambiental e Rural. Tenho no total cerca de 120 alunos, o que dá uma média de 20 alunos por turma.
Na turma do profissional vou leccionar uma disciplina a que nunca me estreei: Ambiente e Desenvolvimento Rural (ADR). Como não há manual para esta disciplina de cariz técnico, espera-me muito trabalho na preparação de materiais para os alunos.
Em quinze anos de serviço, é já a terceira turma diferente que tenho a meu cargo no curso de Turismo Ambiental e Rural e a quarta disciplina diferente que vou leccionar. Em 2008/09  leccionei Turismo e Técnicas de Gestão, em 2010/11 dei Geografia e Área de Integração, em 2011/12 voltei a leccionar Geografia e agora vou dar a disciplina de Ambiente e Desenvolvimento Rural. Apesar de ser professor de Geografia, parece que me estou a especializar a dar aulas no curso de Turismo! Ora, se na disciplina de Geografia me sinto à vontade, tendo muitos materiais já preparados dos 10º e 11º anos do curso regular de humanidades, já em relação às outras disciplinas o trabalho foi muito, sobretudo na disciplina de Turismo e Técnicas de Gestão (uma disciplina de economia). Mas, são ossos do ofício e quando se é professor do 3º ciclo e secundário há que estar preparado para este tipo de situações bastante exigentes e desgastantes...
Agora, neste ano lectivo 2012/2013, vou ter que leccionar a disciplina técnica de Ambiente e Desenvolvimento Rural, que abarca matéria não só de geografia, como também de ecologia, biologia, agronomia e até de direito, pelo que serão muitas as horas que irei passar a preparar materiais para os alunos. A este propósito, penso que só quem lecciona este tipo de disciplinas técnicas percebe o trabalho acrescido que tem, pelo que seria justo uma espécie de bonificação horária em relação aos professores que dão as disciplinas dos cursos regulares. Mas, enfim, esta é outra conversa que tem que ver com as diferenças existentes entre os professores dos 1º e 2º ciclos (que geralmente só leccionam as suas disciplinas) e os que são do 3º ciclo e secundário (e que, por isso, têm muito mais trabalho por se arriscarem a darem disciplinas específicas dos CEF`s e dos profissionais).
Como referi, esta será já a terceira experiência de um curso profissional do secundário que terei a meu cargo. A primeira que tive foi em 2008/09, tendo tido boas experiências com os alunos dessa turma, sendo que alguns até já trabalham em áreas relacionadas com o turismo. Seguiu-se outra turma em 2010/11, com alunos bastante heterogéneos e, portanto, com resultados bastante díspares. Agora estou com outra turma e a primeira impressão (ainda só tive cinco tempos com os alunos) tem sido, globalmente, positiva. A turma tem apenas 12 alunos e, apesar de me parecerem pouco interventivos na aula, têm demonstrado esforço na concretização das tarefas propostas para a aula. Aliás, foi interessante verificar que quando lhes mostrei o mais recente vídeo de propaganda do turismo português, uma das alunas realçou que já tinha visto uma notícia sobre o vídeo a propósito de alguns erros que o mesmo apresenta. Sinal de que vê os noticiários... Por outro lado, a maioria dos alunos da turma provem de turmas do 9º ano regular, tendo integrado este curso profissional por razões ligadas ao interesse pelo turismo e não tanto por motivos de maior facilitismo.  
Claro que a imagem que muitas vezes se tem dos cursos profissionais é o de maior facilitismo e de menor exigência, com alunos problemáticos e indisciplinados. Ora, uma coisa é certa: os programas das disciplinas são tudo menos exigentes e, quanto aos alunos, parece-me que tem havido uma mudança positiva no tipo de alunos que se têm vindo a matricular nestes cursos. Uma das soluções para que tudo decorra pelo melhor é o professor ter a capacidade de se adaptar ao tipo de turma que tem pela frente. Ora, se a turma é fraca, não adianta estar a ser demasiado exigente e interessa que os alunos atinjam os chamados "objectivos mínimos" através da aplicação de diferentes estratégias que vão desde a insistência no trabalho prático até à análise de documentários que motivem o interesse dos alunos.  Mas, se a turma é composta por alunos com boas capacidades e que demonstram interesse e empenho, os resultados a atingir podem ser muito interessantes, com a realização de pequenos trabalhos de investigação e a aplicação de testes de avaliação exigentes, sem baixar o rigor e sem incorrer em facilitismos... Aliás, neste âmbito basta referir o facto de já ter tido alunos do ensino profissional que conseguiram entrar no ensino superior.
Uma das riquezas de Portugal é, sem dúvida, o turismo e tudo o que envolve esta actividade: a paisagem, o clima, o património natural e construído, a hospitalidade e a simpatia do nosso povo. Interessa também capacitar os nossos recursos humanos, pelo que a aposta nos cursos profissionais de Turismo poderá constituir uma estratégia fundamental no sentido de melhorar a nossa capacidade de atracção turística, bem como combater o desemprego jovem.