terça-feira, 23 de dezembro de 2008

O ano "horribilis" da Educação!!!!

Este foi um 2008 envolto em muita discórdia e contestação em matéria de Educação. Sobre a capa do rigor e exigência, Maria de Lurdes Rodrigues introduziu nas escolas uma série de mudanças que, na prática, têm conduzido ao descrédito da já de si depauperada Escola Pública. A última pedrada no charco foi a da pseudo-avaliação de professores, que de facto, não passa de uma estratégia para reduzir as despesas no orçamento do Ministério da Educação. Pretende-se que, à custa da divisão da carreira de professor e do estabelecimento de quotas, as despesas com os salários do quadro docente diminuam, por forma a reduzir o défice orçamental. De resto, este modelo de avaliação não apresenta nada de formativo!!!
Espero sinceramente que o próximo ano seja de viragem em termos do percurso educativo que o nosso país está a levar!!! Seja com o recurso a manifestações e a greves ou, tão só, ao simples acto do voto, estou certo que daqui a um ano já teremos outra personagem à frente do Ministério da Educação. Alguém que conheça o que é, de facto, uma escola e tudo o que por lá acontece. É que, hoje em dia, a escola é muito mais do que um simples lugar onde se ensinam conteúdos programáticos. Sim, é verdade!!! Com a falta de responsabilidade demonstrada por muitos pais deste país, é aos professores que se pede que sejam os condutores da geração futura!!! Assim, o meu desejo para o próximo ano, em termos educacionais, é que o rigor, a exigência e o respeito retornem à Escola Pública...
Feliz Natal e um Bom Ano 2009...

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

A esticar a corda...

Este Ministério da Educação decidiu há três anos atrás, como se diz na gíria, "entrar a matar" com os professores. Depois de uma campanha orquestrada no sentido de denegrir a imagem dos docentes portugueses, começou a invadir as escolas com despachos e circulares, visando inundar os professores de trabalho que de pedagógico e útil para os alunos tem muito pouco. Desde as aulas de substituição, transformadas em autênticos tempos de ocupação dos tempos livres dos alunos, até aos Magalhães, mero instrumento de recreio, e ao actual sistema de avaliação, ineficaz, injusto e nada formativo, muito pouco se aproveitou para a Educação destes três anos de Governo PS. Aliás, o mais importante ficou por fazer: alterar os programas curriculares...
Agora, pela primeira vez em onze anos que lecciono, vou ser obrigado, por obra e graça desta equipa ministerial, a ter de passar todo o dia de sábado, dia 20 de Dezembro, na escola, em reuniões de avaliação. Terei uma reunião logo às 8.30H e terminarei o dia com uma reunião às 17. 30H. Ou seja, terei de sair de casa às 7.30H e regressar por volta das 21H., a um sábado, dia em que, supostamente, um professor não trabalha na escola. Já basta os outros dias e o trabalho da escola feito em casa. A justificação para esta alteração é, segundo a tutela, a intenção de dar conhecimento aos pais das notas dos alunos ainda antes do Natal. Dado que as aulas acabam à 5ª feira, o Ministério propôs a realização de reuniões de avaliação ao sábado para que na 4ª feira seguinte tudo esteja terminado. Ora, então porque não terminar as aulas um dia antes, para evitar a deslocação à escola a um sábado. Digo isto porque para os professores que têm filhos pequenos (e eu tenho dois, um com um ano e outro com dois anos) os problemas são mais que muitos!!! O infantário onde tenho os meus filhos não está aberto aos sábados e os avós vivem todos longe, uns na Covilhã, outros em Lisboa, pelo que, se por acaso, a minha esposa (por sinal, também professora) também tivesse reuniões nesse sábado não tinhamos onde deixar os nossos filhos. Ou será que o Ministério nos possibilita a que levemos os filhos para as reuniões de avaliação? Enfim, no mínimo, revela uma postura muito pouco sensata...
Já houve tempos em que havia aulas ao sábado. Felizmente, terminou-se com esse disparate, que prejudicava a vida dos professores, dos funcionários, dos alunos e das suas famílias... Agora, pela primeira vez que me lembro vamos ter dezenas de milhares de professores a passarem todo o sábado na escola com reuniões de avaliação, com graves prejuízos para si e para as suas famílias. O meu caso só não é pior, porque a minha mulher não vai ter reuniões nesse dia. Caso contrário, eu queria ver como fazia!!! Mandava uma carta à Ministra para ver se ela me arranjava alguém para ficar com os meus filhos nesse dia...

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Mais uma para o rol dos disparates!!!

Só quem está no ensino, sabe realmente como funcionam os CEF`s, os PIEF`s, os cursos profissionais e as Novas Oportunidades. Só quem lecciona a turmas deste género é que sabe até que ponto pode chegar o desleixo, a iliteracia e o desprezo demonstrados por muitos dos alunos que compõem estas turmas. Já nem falo da (falta de) postura que muitos dos alunos destas turmas demonstram dentro da sala de aula! Enfim, a procura do sucesso forçado tem destas consequências...
Vou já na lição número 60 com a minha turma dos profissionais de Turismo e já sei, como se costuma dizer, "o que a casa gasta". Nesta turma tenho dezoito alunos e as dificuldades em termos de aprendizagem demonstradas por uma larga maioria deles são de bradar aos céus. A falta de pré-requisitos, de conhecimentos e de métodos de trabalho é de tal ordem que, comparando com as demais turmas, o ensino nestes profissionais parece estar ao nível do 2º ciclo do ensino básico e não de um ensino secundário. Muitos alunos não sabem sequer elaborar uma introdução para um trabalho prático e a ignorância é tanta que ter resultados sem recorrer ao facilitismo é uma tarefa árdua... Veja-se aqui ao lado a prova de como a ignorância pode ser de arrepiar!!! Pensar que o Algarve é um país é sinal de quê? Não pode ser só distracção...
Ora, a solução para este estado de coisas passa por "puxar" por estes alunos e não por ir atrás da lógica do "deixa andar" ou do "faz de conta". Recuso-me a passar alunos que não sabem o mínimo dos mínimos e não evidenciam o mínimo dos esforços... Nâo estou para fomentar a ignorância!!!

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Quais as consequências dos rankings?

Depois de há três semanas muito se ter falado e escrito sobre os rankings das escolas resultantes das avaliações tidas pelos alunos nos exames nacionais, o tema agora em voga é o das avaliações dos professores. Ora, convém esclarecer que o mais importante sobre os rankings ficou por dizer e escrever...
Apenas o jornal Público, uma vez mais, se prestou ao trabalho de fazer uma profunda reflexão sobre o que realmente está por trás dos resultados obtidos pelos alunos aos exames do secundário e a sua seriação por escola e distrito. Fizeram-se muitas reportagens nas "melhores" e "piores" escolas, nas públicas e nas privadas, mas será que o Ministério da Educação se interessou em fazer uma análise atenta dos resultados dados a conhecer. Não me parece...
Durante pouco mais de uma hora debruçei-me sobre os resultados obtidos pelos alunos da escola onde dou aulas de Geografia há já quatro anos. Uma análise atenta aos resultados das seis disciplinas com mais alunos levados a exame nos últimos dois anos na minha escola permitiu-me chegar a duas conclusões deveras pertinentes:
1. As disciplinas de História e de Geografia são aquelas que dão um melhor contributo para os resultados da escola, com classificações nos exames bem acima da média nacional (ver o 1º quadro). As outras quatro disciplinas apresentam resultados abaixo da média nacional, algumas delas com valores, no mínimo, preocupantes.
2. Quer no ranking nacional, como no ranking distrital, a minha escola obtém resultados bastante positivos às disciplinas de História e de Geografia, bem diferentes dos resultados verificados com as outras disciplinas, com destaque pela negativa para a de Matemática (ver o 2º quadro).
Razões? Não acredito na mera casualidade. Porventura, este sucesso a História e a Geografia advém de um trabalho que vem já do 3º ciclo do ensino básico e que baseia o ensino aqui ministrado, pelo menos no que diz respeito à Geografia, na prossecução de uma estratégia de exigência e rigor nas competências exigidas aos alunos.
Curiosamente, nos últimos anos, a disciplina de Geografia tem sido aquela que, na minha escola, tem tido piores performances a nível interno no que diz respeito às classificações obtidas pelos alunos no 3º ciclo. Mas, o facto de termos a Geografia mais negativas do que a generalidade das disciplinas da escola não tem de ser, forçosamente, sinal de desleixo, incúria ou mau ensino ministrado. Bem pelo contrário. Pode ser (e na minha opinião é) sinal de exigência e seriedade. Ou seja, será que são os professores de Geografia da minha escola que são muito exigentes ou os demais é que não exigem tanto??? A verdade é que, nos últimos dois anos, a fazer valer nos resultados obtidos pelos alunos no exame nacional de Geografia A, aqueles que têm chegado ao ensino secundário parece já levarem uma boa "bagagem" de conhecimentos adquiridos em anos de escolaridade anteriores, permitindo-lhes ter bons resultados a nível nacional. À custa de quê? Muito simples: à custa da elevação do nível de exigência... Quando em 2007 levei os "meus" alunos ao exame de Geografia A foi com imensa satisfação que os vi alcançar resultados bem acima da média nacional. Claro que eles se portaram bem no exame não só porque "exigi" deles ao longo dos dois anos de Geografia, mas também porque já vinham com bons pré-requisitos, por acção dos professores de Geografia que tiveram no ensino básico. E, claro, também devido ao empenho e determinação dos próprios alunos.

sábado, 8 de novembro de 2008

Estou com vocês...

Escrevo já depois da 1 hora da manhã de sábado, depois de ter estado quase duas horas no Hospital de S. Teotónio, em Viseu, com a minha filha, aflita com uma gastroenterite. O meu outro filhote ficou em casa com a minha esposa e desde quinta-feira que anda às voltas com vómitos...
Quando se tem dois filhos doentes e os avós estão distantes, qualquer decisão que se queira tomar está dependente dos filhotes. Eles são a prioridade, pelo que me é totalmente impossível, assim como à minha esposa, também ela professora, irmos acompanhar a manifestação do desagrado docente. Apesar de tudo, estamos com vocês todos. Força...
Adenda - Actualizei a foto às 18H. de sábado e que me foi enviada por telemóvel pelo meu colega Paulo Ribeiro, da Régua. Entretanto, a Ministra já veio dizer que esta manifestação em nada alterará o rumo por ela defendido em termos de modelo de avaliação do desempenho docente. Fica a questão: o que se seguirá???

sábado, 1 de novembro de 2008

Figuras patéticas!!!

É triste termos de assistir à prestação patética do nosso Primeiro-Ministro por terras da América Latina no papel de autêntico vendedor da banha da cobra numa cimeira onde dominaram as caras de espanto e de desprezo por parte dos representantes políticos dos países participantes. Alguém imagina o Primeiro-Ministro espanhol a suplicar para que lhe comprassem uns quantos portáteis? Claro que não...
Mas, Sócrates presta-se a este tipo de serviço, qual companheiro de democratas tão singelos como Chavéz, Kadafi ou Eduardo dos Santos. Mas, ainda por cima o homem representa o papel de caixeiro-viajante da pior forma possível: com analogias infantis, afirmando que o seu portátil é como o Tintim e tentando convencer os mais ingénuos que no seu Governo não há outro portátil em funcionamento que não seja o Magalhães!!!
Este Sócrates anda perdido de amores pelo Magalhães que até mete dó... O fanatismo é tanto que ignora as figuras tristes que faz. Bem esteve o SPRC que chamou a comunicação social em peso para dar a conhecer as condições de trabalho miseráveis para professores e alunos que ainda grassam por este país fora... Com tanto "choque tecnológico" na cabeça de Sócrates e Lurdes Rodrigues, estas personagens esquecem-se que ainda há quem tenha de ensinar e aprender em salas minúsculas, onde cada aluno tem menos de 1 metro quadrado de espaço para se mexer. Ainda esta semana tive de dar uma aula à minha turma do profissional numa sala que tem menos de 20 metros quadrados, onde os alunos são enfiados em três filas de mesas, sem espaços livres entre eles e onde para chegar aos alunos da ponta tenho de passar pelo meio de sete alunos, entre carteiras e mochilas espalhadas pelo chão. Miserável... E anda este Primeiro-Ministro a representar este tipo de papel, que a não ser dramático, é, no mínimo, de autêntica comédia... Nem Charlot faria melhor!!!

sábado, 18 de outubro de 2008

De bradar aos céus!!!

Na primeira ficha de avaliação que dei aos alunos do curso profissional de "Turismo Ambiental e Rural" vi respostas para todos os gostos. Por isso, tive notas que foram dos 4 aos 19 valores. Mas, a mais surreal é a que aqui dou a conhecer. Vejam com atenção a operação que uma aluna do 10º ano de escolaridade foi capaz de fazer (ainda, por cima, com recurso à máquina de calcular). Surreal, não?
Se não desse vontade para ficar desanimado, até seria razão suficiente para rir às gargalhadas. Provavelmente, para a Ministra da Educação, a culpa deste tipo de situações é dos professores. Mas, cá para mim, o mais provável é que esta aluna tenha vindo sempre a passar à custa do facilitismo, tendo chegado ao ensino secundário sem saber sequer fazer uma simples operação de somar... E, certamente, por estar num curso profissional irá acabar o 12º ano e até chegar à Universidade!!!

sábado, 4 de outubro de 2008

Vale a pena ler...

O filósofo José Gil escreveu, na última edição da revista Visão, um artigo que deveria ser de leitura obrigatória para todos aqueles que (ainda) comungam da ideia que a vida de professor é fácil e que o rumo da educação está bem entregue aos actuais paladinos do Plano Tecnológico da Educação.
Cliquem no artigo e leiam-no com atenção.
Deixo apenas uma das melhores passagens do artigo assinado por José Gil e que revela o seu profundo conhecimento da realidade que impera por estes dias na escola pública portuguesa.
"Quebrou-se-lhes (aos professores) a espinha, juntando ao desespero anterior um desespero maior. O ambiente nas escolas é agora de ansiedade, com a corrida ao cumprimento das centenas de regulamentações que desabam todos os dias do Ministério para os docentes lerem, interpretarem e aplicarem. Uma burocracia inimaginável, que devora as horas dos professores, em aflição constante para a conciliar com uma vida privada cada vez mais residual e mesmo com a preparação das lições, em desnorte com as novas normas (tal professor de filosofia a dar aulas de "baby sitting" em cursos profissionalizantes) - tudo isto" sob a ameaça da despromoção e do resultado da avaliação que pode terminar no desemprego."
Este artigo vale muito mais do que os pseudos "Prós e Contras" da RTP1 sobre a Educação ou muitas das intervenções dos sindicalistas do costume que, ora se insurgem contra o ME, ora assinam memorandos que levam à desmobilização de dezenas de milhares de professores.
Obrigado José Gil...

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Seis aulas de profissional decorridas...

Depois de seis aulas (9 horas) passadas com os alunos do curso profissional de Turismo Ambiental e Rural é-me já possível formular conclusões um pouco mais sustentadas sobre a "matéria-prima" que tenho de moldar ao longo deste ano lectivo.
A turma tem dezanove alunos, sendo que uma boa parte deles provém de um CEF (curso de educação profissional) da área de fotografia. Os outros vêm do ensino dito regular. Constatei que, à excepção de três alunos que demonstram ter razoáveis hábitos de trabalho, os outros vêm com a ideia que neste tipo de curso não tem de se trabalhar muito. Na primeira semana de aulas quase todos se queixaram que, à disciplina que lecciono, estavam a escrever muito. Ora, tendo em conta que não existe manual para a disciplina de TTG (Turismo e Técnicas de Gestão) e que quase tudo o que têm escrito tem sido copiado dos Power-points que lhes elaboro e apresento, não existem razões sérias para estas queixas. Por outro lado, o que passam para o caderno é sobre a forma de tópicos, esquemas e diagramas, o que os favorece no trabalho. E ainda lhes criei um blogue, onde apresento resumos da matéria dada nas aulas...
Mas, há mais! Nas últimas duas aulas estive a desenvolver com eles matéria relacionada com os temas da análise da produtividade e dos custos, matéria esta essencial tendo em conta que é suposto que, caso eles venham a trabalhar na área do turismo, convém estarem familiarizados com a forma de gerir convenientemente qualquer negócio da área do turismo. Ora, logo no início da realização dos exercícios práticos, pude constatar que os números são um dos "terrores" que os atormentam. Deste modo, tive que ensinar-lhes o cálculo matemático mais elementar.
Apesar de tudo, dos dezanove alunos da turma, a maior parte deles parece estar a gostar da disciplina. Claro que todos os dias se queixam da "dureza" da disciplina, mas quase todos se têm aplicado na hora de passar a matéria leccionada e realizar os exercícios exigidos. A participação oral continua a não ser muita e, a verdade, é que o silêncio impera em muitos momentos da aula. Às vezes, sinto que estou a falar "chinês" para eles...
Como acontece em quase todas as turmas existem sempre os "desmancha-prazeres". Na turma, há um aluno, já com 22 anos(!) que tem vindo a "saltitar" de profissional para profissional, sabe-se lá à procura de quê, e que a toda a hora se queixa do esforço da aula! E, há ainda a acrescentar que um dos alunos da turma, pura e simplesmente, não liga a nada do que ali se passa. Não passa nada para o caderno, não participa de forma interessada e demonstra que, vindo dele, pouco ou nada se pode esperar de positivo: já apresenta uma boa dose de faltas injustificadas...

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

A primeira impressão com os alunos do "profissional de turismo"

Ontem tive o primeiro contacto com a turma do curso profissional de Turismo Ambiental e Rural onde lecciono a disciplina de Turismo e Técnicas de Gestão. Apresentei os objectivos do curso e as possíveis saídas profissionais e a primeira impressão que tive foi a de que ficaram minimamente entusiasmados. O problema surgiu quando lhes pedi para escreverem na ficha biográfica a razão pela qual escolheram este curso. A principal resposta que apareceu não foi a do gosto pelo curso ou a vontade de procurar emprego nesta área. Bem pelo contrário. O que mais li foi do género "quero acabar o 12º ano mais depressa" e "o curso de turismo é interessante". Ora, este tipo de respostas dá a entender que algo de muito errado está a acontecer com estes cursos e que os objectivos dos mesmos poderão estar a ser deturpados.
Pretende-se que os alunos que optam por um curso profissional tenham grandes afinidades, a começar pela vontade e o gosto, com a área do curso que terão de desenvolver ao longo de três anos. Ora, tirando três alunos, num conjunto de dezassete, que escreveram querer ir trabalhar no sector do turismo, a verdade é que parece que muitos alunos (ainda) não estão motivados para o que os espera...
Na aula de hoje, a segunda, comecei a dar a matéria propriamente dita. O primeiro módulo versa matéria de economia e, a verdade, é que não percebo qual a razão que leva os autores dos programas destas disciplinas a serem tão exigentes. É que o primeiro módulo que vou desenvolver com os alunos é quase "copy-paste" do programa de economia do 10º ano. Não se percebe: se se pretende que este tipo de cursos sejam mais práticos, então porque é que são tão exigentes com os conteúdos das disciplinas? Estive 90 minutos a tentar estabelecer diálogo com os alunos sobre temas como o orçamento familiar e a economia aberta e, da parte deles, o que mais ouvi foi silêncio, à excepção de dois alunos que ainda foram falando sobre a matéria.
Já vários colegas me disseram para simplificar ao máximo o programa da disciplina, mas, mesmo assim, não vai ser fácil. Está visto que a primeira estratégia terá de ser a de motivá-los; caso contrário a sala de aula irá ficar mais parecida com uma sala de palestrantes, onde um fala e os outros ouvem... Demasiado calmo para o meu gosto. Darei mais notícias.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Em início de ano lectivo nada melhor para o Governo do que dar a conhecer dados estatísticos do sucesso educativo. É a política...

A equipa da Ministra Maria de Lurdes Rodrigues tem a máquina bem oleada. Senão vejamos... Agora que o novo ano lectivo está aí à porta e a comunicação social nos brinda todos os dias com notícias e reportagens sobre a precaridade social em que vivem muitos professores, o aumento do desemprego docente e as elevadas despesas com que muitas famílias da classe média são confrontadas, nada melhor do que um "turbilhão" de informações veiculadas pela tutela para amenizar esta situação. Se nos últimos dias tinhamos tido uma catadupa de reportagens, emanadas do Ministério da Educação (ME), sobre o mais que propalado "Plano Tecnológico da Educação", eis que hoje surgem informações, outra vez veiculadas pelo ME, sobre o sucesso escolar, com a contínua diminuição das taxas de retenção de alunos.
A Ministra da Educação e o Secretário de Estado Valter Lemos desdobram-se em entrevistas junto da comuncação social sobre o alcance deste sucesso escolar. Justificam-no com as acções levadas a cabo por esta equipa governamental, recusando a ideia de facilitismo. Quem não está nas escolas todos os dias e ignora a realidade escolar desconhece até que ponto é que um aluno tem de ser tão fraco para ficar retido. E, agora, com a avaliação dos professores, não me admiro que a tendência para passar os alunos continue a aumentar.
Os verdadeiros resultados deste sucesso educativo serão dados a conhecer daqui a uns anos quando se souber por onde param muitos dos alunos que agora frequentam os CEF`s, os cursos profissionais e as Novas Oportunidades... É bom que se saiba!!!

terça-feira, 2 de setembro de 2008

De volta ao trabalho...

Aí está mais um ano lectivo! Para muitos professores é sinal de desânimo por não terem obtido colocação, por não estarem numa escola do seu agrado ou por outra razão qualquer. Para outros, esperemos que a maioria, é sinal de regresso à nobre função de ensinar...
Na minha escola, hoje foi um dia dedicado às reuniões de departamento. Por sinal, no meu departamento fui eu o secretário e muitos foram os temas abordados. Claro que o que mais suscitou curiosidade por parte de todos foi o da distribuição de serviço. Houve quem ficasse agradado, mas também quem demonstrasse enfado com o que lhe calhou em "sorte".
Eu não me posso queixar muito. Comparando com o ano passado, em que tive oito turmas com Geografia, acrescidas de duas trumas com Área de Projecto e uma com Estudo Acompanhado, foram-me agora destinadas sete turmas do básico com Geografia e uma turma do secundário com uma disciplina que, para mim constitui novidade: Turismo e Técnicas de Gestão. Esta nova disciplina faz parte do curso profissional denominado "Turismo Ambiental e Rural".
Estou para ver como vai decorrer este novo ano lectivo, nomeadamente, com esta turma do curso profissional. Estive a falar com alguns colegas meus lá da escola que não me deram boas notícias sobre este tipo de alunos. Aconselharam-me a não "puxar" muito por eles, pois, na sua maioria, são alunos com grandes limitações. O problema é que, depois de ter analisado o programa da disciplina de "Turismo e Técnicas de Gestão", das duas uma: ou levo o programa a sério e não posso facilitar, ou ignoro as orientações do Ministério da Educação e coloco a fasquia da exigência muito por baixo. A primeira estratégia para arranjar uma solução viável será ver a "matéria-prima" com que vou trabalhar. A ver vamos no primeiro dia de aulas como correm as coisas... De resto vou ter duas turmas do 7º ano que são novidade e mais cinco turmas que sigo desde o ano passado.
Votos de um ano lectivo proveitoso para todos...

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Férias de Verão: para o ano há mais...

Depois de umas férias de Verão onde percorri com a minha Salete e os nossos filhotes mais de 2000 Kms, desde Viseu a Évora, passando por toda a Beira Litoral, a Beira Interior, a Estremadura e o Alentejo, ao longo de duas longas semanas, é tempo de preparar um novo ano lectivo... Os tempos que se aproximam avizinham-se muito trabalhosos...
Estas foram duas semanas bastante proveitosas, com o intuito de piscar o gosto humanista aos meus dois filhotes, nomeadamente à Dianinha que, à beira de completar três anos de idade, já compreende o que é um castelo ou uma Igreja. Visitámos muitas aldeias, vilas e cidades históricas, com destaque para Évora, Portalegre, Elvas, Alcobaça, Mafra, Óbidos, Sortelha, Vila Viçosa, Marvão, Castelo de Vide, Alandroal e Estremoz... Também tivémos o cuidado de estar em contacto com o mar e, por isso, passámos pela Nazaré e pela Figueira da Foz. E, claro percorremos Lisboa na melhor época do ano para visitar a nossa capital sem o stress, nem as confusões dos dias de semana.
Claro que não foi fácil percorrer mais de meio país com duas crianças de um e dois anos, pernoitando em hotéis e almoçando e jantando em restaurantes! Mas, quem corre por gosto não se cansa e os miúdos adoraram. Tirámos mais de 500 fotografias e filmámos muitas horas de aventuras com os nossos pequenotes para recordarmos mais tarde estas férias do Verão de 2008, onde a prioridade foi visitar algum do Portugal Monumental que temos o privilégio de possuir. Deixo-vos com duas fotos tiradas, uma em Vila Viçosa e outra em Sortelha. Valeu a pena!!!

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Merecidas férias...

A partir de hoje estou de férias. Finalmente! Depois de um longo ano lectivo, cheio de trabalho e envolto em muitas polémicas (com destaque para a grande Marcha de 8 de Março e o controverso acordo assinado entre o ME e os sindicatos) é chegado o tempo para umas merecidas e mais que ansiadas férias. Assim, até ao próximo dia 20 de Agosto (dia de regresso ao trabalho) o tempo será dedicado às minhas maiores riquezas: a minha esposa e os meus dois filhotes.
Depois de um ano lectivo muito duro e deveras cansativo, quero passar o maior tempo possível junto da minha família, dado que, em condições normais, o meu trabalho não me permite estar mais do que cinco ou seis horas por dia junto dos meus filhotes: aliás, de 2ª a 6ª feira um professor passa mais tempo com os filhos dos outros e seus alunos do que com os seus próprios filhos, isto já para não falar do tempo que passamos a preparar aulas e a elaborar e corrigir fichas e testes em casa, penalizando as nossas próprias famílias.
Assim, os quatro iremos aproveitar ao máximo estes dias para estarmos juntos e passearmos um pouco por todo o país. Em vez de "abancarmos" numa praia a derreter ao Sol, quais lagartos, iremos desfrutar daquilo que o nosso país tem de melhor: a sua diversidade paisagística. Iremos percorrer quase todo o país de lés a lés, exceptuando as ilhas e o sul abrasador, privilegiando o Minho, as Beiras e a Estremadura. Estaremos em contacto com o mar, a serra e o rio e iremos visitar o Portugal Histórico dos castelos e monumentos antigos.
Umas boas férias para todos os que aqui me costumam visitar.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

O futuro milagre português...

Daqui a menos de cinco anos Portugal será visto no espaço da União Europeia como o país que conseguiu o milagre de alterar radicalmente o estado da sua Educação. Em poucos anos veremos as taxas de abandono e insucesso escolar do nosso país diminuírem drasticamente. Por outro lado, a percentagem de jovens a terminarem o ensino obrigatório aumentará consistentemente.
Em Bruxelas e por cá, quase todos ficarão orgulhosos com este sucesso e o Governo não cessará de auto-elogiar-se pelo sucesso alcançado. Ninguém se irá preocupar em questionar as estratégias utilizadas para atingir tamanho milagre. Quase todos ficarão orgulhosos por já não estarmos na cauda das estatísticas europeias e diremos "Ámen" ao trabalho realizado pela equipa ministerial de Maria de Lurdes Rodrigues. Esta ficará na história da governação portuguesa como a Ministra que conseguiu o sucesso educativo que os seus antecessores não alcançaram.
Daqui a menos de cinco anos já poucos irão ousar questionar a validade de medidas que estão na base deste sucesso estatístico: a criação das Novas Oportunidades, a banalização dos CEF`s de forma indiscriminada, a generalização de Cursos Profissionais onde impera o facilitismo, a realização de exames nacionais com um nível de exigência extremamente reduzido, a equipação prática das faltas injustificadas às faltas justificadas...
Até o Presidente da República "come" com o que lhe dão, ao congratular-se com a melhoria das notas dos exames à disciplina de Matemática!!!

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Com as mãos na massa. Literalmente...

A escola onde lecciono tem a funcionar vários cursos de educação e formação, os conhecidos CEF´s, que estão agora bastante na moda e que se destinam, quase em exclusivo, para os alunos que frequentam o 3º ciclo do ensino básico, já de idade avançada e, portanto, com retenções em anos anteriores e em risco de abandono escolar. Uma das formas encontradas pela tutela para combater o insucesso e abandono escolares foi a criação de cursos com uma componente mais prática e virados para a vida profissional e não tanto para a prossecução de estudos no ensino superior.
Os CEF´s têm vindo a funcionar, em muitas escolas do nosso país, como um escape para aqueles jovens a quem a escola, enquanto espaço de aprendizagem, pouco ou nada diz. Muitos destes alunos, autênticos focos de instabilidade e indisciplina, mudam a sua postura ao frequentarem este tipo de cursos, de vertente muito mais prática.
A finalizar o 1º ano do curso CEF de padaria e pastelaria da minha escola, foi proposta aos alunos uma actividade prática dominada pela inversão de papéis. Em vez de serem os alunos a confeccioarem pães e bolos, sugeriu-se que cada aluno convidaria um professor para lhe ensinar uma das receitas do seu reportório. Assim, o Marco que havia sido meu aluno durante dois anos consecutivos no 7º ano (e nos dois havia ficado retido) convidou-me para a actividade. Não pude deixar de aceitar o convite, dado compreender a importância de que se reveste este tipo de exercícios para os alunos. Assim, coloquei o avental e segui as instruções do meu "professor" para confeccionar uns bolinhos de côco. O resultado foi excelente e fomos os primeiros a terminar. Todos gostaram dos doces que fizemos e o Marco ficou todo contente. Uma boa experiência que permite concluir que é possível realizar actividades que podem motivar os alunos mais problemáticos.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Brincar com as NEE`s? Não, não e não...

O Ministério da Educação decidiu mexer na legislação que regula o ensino das crianças que apresentam necessidades educativas especiais (NEE`s). Até agora os jovens que apresentassem, de forma comprovada, através de atestado médico ou relatório equivalente, limitações físicas ou psicológicas ao seu normal desempenho escolar podiam ser avaliados ao abrigo de uma legislação própria que permitia que os discentes tivessem uma redução do seu currículo escolar, formas diferenciadas de avaliação ou a estruturação de um currículo próprio, por forma a que o seu processo de ensino-aprendizagem não fosse prejudicado. Por outro lado, os alunos com casos mais graves de deficiência podiam ser encaminhados para estabelecimentos de ensino especializados neste tipo de situações.
A partir do próximo ano lectivo, está prevista, à luz da defesa de uma pseudo-escola inclusiva, a passagem dos alunos com necessidades especiais para os estabelecimentos de ensino regular. Por outro lado, a utilização da Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF) como instrumento para sinalizar as crianças com necessidades educativas especiais irá ter consequências óbvias ao nível da redução do número de alunos NEE`s. Ou seja, muitos alunos que até agora apresentavam atrasos preocupantes em termos de desenvolvimento cognitivo e que, por isso, eram avaliados ao abrigo da legislação das NEE`s irão deixar de usufruir dessa disposição legal.
Deixo apenas aqui um exemplo concreto. Aqui ao lado, tenho um pequeno excerto de uma ficha de avaliação que dei este ano a um aluna com NEE´s. A dita aluna apresenta, com base em relatórios médicos, um significativo défice de QI, aliado a outros problemas. Foi avaliada como aluna com NEE`s, pelo que tive de elaborar fichas de avaliação adaptadas, com questões muito simples. Antes do teste dei-lhe e a conhecer os temas que deveria estudar (muito menos que os seus colegas). O resultado foi o que se vê na figura. Se com adaptações curriculares, a aluna teve este desempenho, imagine-se sem adaptações curriculares... Enfim, prevê-se, já para Setembro, uma verdadeira catástrofe para as escolas, professores, mas sobretudo para os alunos que até agora detinham NEE`s.
Se por um lado vamos ter muitos alunos que deixarão de usufruir da legislação que lhes permitia um ensino diferenciado, por outro lado iremos ter de lidar com alunos para os quais não estamos minimamente preparados em termos de formação pedagógica. Já há cinco anos atrás tive na minha Direcção de Turma um aluno autista e foi o cabo dos trabalhos para que os docentes se entendessem com o aluno, visto que a formação nesta área é nula para a maioria dos professores...

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Dados para reflectir

Ontem dei-me ao trabalho de fazer uma pequena pesquisa sobre alguns dados relacionados com o desenrolar do processo de ensino-aprendizagem que tenho vindo a desenvolver desde que dou aulas, já lá vão dez anos.
Fui consultar os dez livros do professor que tenho guardados e retirei de lá dois dados interessantes: a evolução do número de alunos a quem leccionei Geografia no ensino básico e a evolução do número de níveis negativos atribuídos neste ciclo de ensino. Dêem uma vista de olhos aos dois quadros...
Em relação ao número de alunos que tive é notório um aumento significativo de há cinco anos para cá. Com a redução da carga lectiva de Geografia no ensino básico torna-se evidente a necessidade de ter mais turmas de Geografia para preencher o horário do professor. Por outro lado, basta num determinado ano lectivo não ter nenhuma turma do ensino secundário para que o número de alunos inflacione até às duas centenas.
Em relação aos níveis negativos atribuídos verifica-se que, grosso modo, a tendência é para a sua redução, mais significativa nos últimos quatro anos, a rondar uma média inferior aos 20%. É curioso notar que o ano em que dei mais negativas foi precisamente um dos anos em que menos alunos tive (apenas 55), o que permite indicar que não tem de haver uma ligação directa entre sucesso educativo e o número de alunos a quem se dá aulas. Penso que o principal factor responsável pela melhoria das notas estará no funcionamento de cada escola (sobretudo em termos pedagógicos), apesar de que a redução do número de alunos poderá contribuir para um elevamento do sucesso... Por outro lado, não podemos ser ingénuos e escamotear o facto de que, hoje em dia, com as actuais directrizes (formais, mas sobretudo as informais) emanadas do Ministério da Educação começa a ser muito mais complicado atribuir níveis negativos aos alunos, até porque de há uns anos para cá têm-se vindo a privilegiar a aquisição de competências (do saber, mas também do saber-fazer e do saber-ser) e não tanto a aquisição de conhecimentos, o que permite que um aluno, apesar de poder ter nos conhecimentos uma média a rondar os 35% possa, não se comportando mal, obter uma média final de quase 50%, o que lhe permite chegar facilmente à positiva...
Enfim, convém de vez em quando reflectirmos sobre aquilo que temos feito...

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Continuamos na senda do facilitismo...

Não se percebe. Eu não percebo. Ou melhor, percebo que o Ministério da Educação esteja numa onda de crescente facilitismo em relação aos nossos alunos com vista à melhoria significativa das estatísticas, em termos do sucesso educativo, mas não percebo que haja quem não queira ver que as consequências a longo prazo serão catastróficas... Seja em termos da cada vez mais difícil possibilidade de se reterem alunos em anos não terminais, seja no âmbito do conteúdo dos exames nacionais, parece claro que, com esta equipa ministerial e a anuência do Presidente da República, o facilitismo veio para ficar...
O caso mais gritante foi o que ocorreu com o exame de Matemática do 9º ano. Segundo os especialistas na matéria, nomeadamente os docentes da Associação de Professores de Matemática (APM), "a prova é mais fácil do que as dos anos anteriores, existindo diversos itens que podem ser resolvidos por alunos de outros ciclos de escolaridade, como por exemplo o item 3". Assim, "os resultados poderão vir a ser melhores, não significando que existiu uma melhoria nas aprendizagens dos alunos". Não sou eu que o digo, é a APM!!!

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Os alunos e o bullying...

Uma das minhas duas turmas do 7º ano de escolaridade às quais lecciono Área de Projecto decidiu tratar, durante o terceiro período de aulas, o tema do bullying. A escolha partiu dos alunos e foi, certamente, uma resposta aos muitos casos de violência escolar que nos últimos tempos têm vindo à estampa em muitos órgãos de comunicação social. É um tema pertinente, até porque muitos miúdos desconheciam este termo, e que exige alguma ponderação e cuidado na hora de o investigar.
Quero aqui dar a conhecer um dos melhores trabalhos que recebi e que permite perceber até que ponto a violência psicológica e física entre alunos necessita de ser alvo de políticas sérias de prevenção e intervenção.

sábado, 7 de junho de 2008

Um trabalho interessante...

No final de mais um ano lectivo e com todo o trabalho que se avizinha em termos de ponderação das avaliações dos alunos, dou a conhecer um dos excelentes trabalhos que recebi de um grupo de alunos do 7º ano de escolaridade a quem leccionei Área de Projecto. O trabalho versa os perigos da má utilização da Internet. Vale a pena dar uma vista de olhos...

terça-feira, 27 de maio de 2008

Um último esforço...

A pouco mais de duas semanas para o términus de mais um ano lectivo, no que às aulas diz respeito, encontro-me em regime de quase exclusividade à árdua tarefa de correcção de fichas de avaliação. Recuso-me a levar trabalho para casa, pelo que quando estou na escola (e de ano para ano são cada vez mais as horas por semana que passo na escola) todos os furos que tenho no meu horário são dedicados a preparar aulas e corrigir testes.
A vida em casa é destinada à família, com prioridade para os meus dois filhotes!!! Já basta o tempo que os dois têm de passar no infantário!!! Assim, tenho tido pouquíssimo tempo para me dedicar à blogosfera. Que as próximas três semanas passem depressa... Até breve!!!
PS - Aconselho a que passem uma vista de olhos ao excelente trabalho realizado por umas alunas minhas sobre o Douro Internacional. Vejam aqui. Vale a pena...

terça-feira, 13 de maio de 2008

O problema é o professor ser exigente!!!

Aqui vai mais uma para a colecção dos inúmeros disparates que tenho de ler quando corrijo testes. Muitos destes alunos que demonstram uma profunda ignorância ao nível do cálculo matemático defendem-se afirmando que a culpa é minha, por não deixar utilizar a calculadora nas aulas de Geografia. Reparem bem: o cálculo exigido é uma simples divisão de 36 por 60. Ensinei nas minhas aulas de Geografia a forma correcta de realizar divisões. Muitos alunos agradeceram e disseram-me que o uso da calculadora na disciplina de Matemática faz com que não pensem. Aqui têm a prova disso. Este aluno percebeu a forma de calcular a taxa de crescimento efectivo e fez as operações correctas até chegar à conta final. Aí foi o descalabro. Porquê? Simplesmente porque o professor é exigente e o obrigou a raciocinar.
A lógica do facilitismo parece que veio definitivamente para ficar. Esta Ministra tem incentivado à assumpção desta postura por parte de muitos professores. Muitos alunos já não raciocinam. O caos da Matemática é bem elucidativo. Com a banalização do uso da calculadora, muitos miúdos já nem sequer sabem fazer uma simples operação de multiplicação ou divisão de cabeça. O telemóvel trata do assunto. A culpa? É do sistema que temos...

terça-feira, 6 de maio de 2008

Descubram as desgraças...

A Ministra da Educação veio recentemente afirmar que "«chumbar os alunos é a maneira mais fácil de resolver o problema da exigência do sistema educativo". A Ministra chegou a dizer que a "repetência não serve para aumentar o rigor e a exigência de trabalho com esses alunos", parecendo insinuar que a melhor solução para estes alunos é mesmo passarem de ano.
Pois bem, o que fazer com alunos que, pura e simplesmente não estudam, nem se esforçam? Dou um exemplo concreto! Nas mais recentes fichas de avaliação que estive a corrigir, surgiram-me uma série de respostas semelhantes à que aqui mostro. Fotografei a resposta ainda antes de a corrigir para verem até que ponto pode ir a ignorância de alunos que não sabem quanto é "2000-2400" ou "300-260". E o que dizer da operação "84:60". A culpa será do professor, como parece insinuar a Ministra da Educação? O professor ensina, volta a ensinar, exercita com os alunos, mantém um blogue para os apoiar, presta um ensino indvidualizado aos que mais necessitam e depois há alunos que, pura e simplesmente, demonstram que não estudam.
Está mais que visto que, com esta equipa ministerial, o facilitismo veio para ficar. Quem quiser que comungue dessa prática. Não contém comigo para isso!!!

terça-feira, 22 de abril de 2008

O resultado obtido pelos sindicatos: de milhares passámos a algumas dezenas...

Ontem foi dia de manifestação de professores em Viseu. Ou melhor, de mini-manifestação!!! Segundo a Plataforma Sindical, a manifestação visou protestar contra a "divisão dos docentes em categorias hierarquizadas, a prova de ingresso dos jovens professores e o modelo de gestão". Ora, com o memorando de entendimento recentemente assinado entre o Ministério da Educação e a Plataforma Sindical a força de contestação dos professores esmoreceu por completo. Se em Fevereiro tinhamos sido mais de 2 000 docentes nas ruas de Viseu, ontem não passámos de algumas dezenas. Simplesmente miserável!!!
Os sindicatos bem tentam passar a ideia de que a luta continua, mas o sentimento da maioria dos professores é outro: desistência, desilusão e desacordo. Os sindicatos criticam o que muitos professores vão desabafando pela blogosfera. Ainda agora, enquanto escrevo estas palavras, oiço na sala de professores um sindicalista dizer a seguinte piada: "os meninos dos blogues só sabem escrever, mas não sabem lutar". Sabe lá ele o que diz! Será que costuma ler os blogues do Ramiro Marques ou o do Paulo Guinote, entre muitos outros? Será que sabe da importância de grupos de professores que surgiram na blogosfera e se transformaram em movimentos credíveis de defesa da profissão docente? Este ódio dos sindicatos por todos quantos não pensam como eles é demonstrativo da reduzida capacidade de democraticidade destas estruturas...
Continuo a pensar que o rumo seguido pela Plataforma Sindical poderia ter sido outro. Concordar com o Mnistério da Educação e depois ouvir os professores em pseudo-plenários não foi a melhor estratégia. Esticar a corda e depois fazer figura de fraqueza deu no que deu: os professores perderam a força e a luta esfumou-se!!!
Enfim, como se costuma dizer no futebol, para o ano há mais...

sábado, 12 de abril de 2008

Uma força de contestação que se esfumou...

Depois de uma série de rondas negociais que deveriam ter ocorrido antes da publicação do decreto n.º 2/2008, eis que, em simultâneo, Ministério da Educação e Plataforma de Sindicatos sorriem para as televisões e "cantam" vitória. Uma vitória de Pirro, muito provavelmente... Só faltou mesmo a foto em conjunto com ambos os intervenientes a darem palmadinhas nas costas entre si!
O Ministério consegue que as manifestações e greves deixem de ter sentido de se realizarem, fazendo com que se esfume, por completo, a força emanada pelo descontentamento dos professores. Os tão badalados plenários a realizar na próxima 3º feira terão, muito provavelmente, uma adesão diminuta.
De facto, o que continua a ter força de lei é a "monstruosidade" em vigor pelo decreto nº 2/2008. Muito água irá ainda correr debaixo da ponte. As minhas espectativas não são as mais optimistas. Mas, não tenhamos dúvida que toda uma força de contestação se esfumou...

segunda-feira, 7 de abril de 2008

A indisciplina, os pais e a (falta de) lógica dos números...

Há quem pense que a análise dos números oficiais do Ministério da Educação sobre as situações de violência e indisciplina nas escolas constitui condição suficiente para avaliar até que ponto é que as escolas são locais mais ou menos seguros. Aliás, o presidente do Conselho das Escolas, Álvaro Santos, defende que os estabelecimentos de ensino são dos lugares mais seguros da sociedade. Só alguém que ande muito distraído é que pode afirmar algo deste género.
Desde logo, porque todos (ou quase todos, pelos vistos) sabemos que os números oficiais sobre tudo o que diga respeito a violência (seja verbal ou física, seja na escola ou fora dela) ficam sempre abaixo da realidade e estão sujeitos a factores diversos que impelem ou não à sua denúncia.
Só alguém muito distraído é que não percebe que o bulling nas escolas é uma realidade que nada tem que ver com as partidas e brincadeiras que os alunos realizavam há 20 anos atrás na escola. Hoje, temos uma situação em que basta percorrer os corredores das escolas ou frequentar os seus espaços de recreio, já para não falar das próprias salas de aula, para perceber que a violência entre alunos constitui uma realidade banal e rotineira das nossas escolas.
Uma forma de alterar a situação actual passa por termos um Estatuto do Aluno exigente para com os alunos e os seus pais. O mais recente é o que sabe: facilitista e nada exemplar. Desde logo, temos o erro gravíssimo de se minimizar o facto do aluno incorrer em faltas injustificadas. Por outro, há que ser consequente. Quando o Estatuto do Aluno refere que "aos pais e encarregados de educação incumbe, para além das suas obrigações legais, uma especial responsabilidade, inerente ao seu poder-dever de dirigirem a educação dos seus filhos e educandos, no interesse destes, e de promoverem activamente o desenvolvimento físico, intelectual e moral dos mesmos", o referido Estatuto deveria prever consequências não apenas para os alunos, mas também para os pais quando o aluno demonstrasse um comportamento incorrecto. Porque não retirarem-se privilégios em sede de abono de família ou em termos fiscais? Talvez assim os pais negligentes abrissem os olhos...

terça-feira, 1 de abril de 2008

Estar no terreno...

Paulo Guinote e Isabel Fevereiro falaram bem e demonstraram até que ponto é que o discurso dos teóricos da Educação é confrangedor! Há que estar no terreno para saber a realidade do ensino em Portugal.

segunda-feira, 31 de março de 2008

A última caminhada...

Iniciou-se hoje o terceiro período de aulas. Depois de uma interrupção das actividades lectivas dominadas pelo lastimável vídeo do Carolina Michaelis, eis que é tempo de voltar ao que verdadeiramente interessa: ensinar...
À excepção de uma das minhas turmas do 9º ano, todas as outras sete turmas a quem lecciono a disciplina de Geografia apresentaram no final do 2º período de aulas uma melhoria significativa nas suas avaliações. Fiquei satisfeito com a prestação geral dos meus alunos e espero que este último período possa ser ainda melhor. Isso mesmo lhes disse hoje e irei continuar a dizer ao longo dos próximos dias.
Infelizmente, a situação actual na Educação está difícil e instável. Adivinham-se novas formas de luta docente, devido às políticas desencadeadas por este Governo, para além de que a burocracia não pára de crescer. O tempo dedicado aos alunos escasseia cada vez mais, em contraponto com aquele que é gasto em reuniões e papéis supérfulos.
A todos os que aqui me costumam visitar, faço votos de um trabalho profícuo em prol dos alunos...

sexta-feira, 21 de março de 2008

Big Brother nas escolas: um mal necessário?

Com os problemas decorrentes de uma sociedade cada vez mais alheada de valores tão básicos como o respeito, a disciplina, a seriedade ou tão simplesmente a verdade, eis que a única forma de nos defendermos dos perigos da insegurança é o recurso ao "Big Brother". Seja nos centros históricos das principais cidades, seja nas centrais de transportes rodoviários e ferroviários, seja nos shopping-centers, hipermercados ou instituições bancárias, seja nas estações de serviço, entre muitos outros locais, a forma encontrada para evitar problemas desnecessários centrou-se na instalação da videovigilância, com óbvias vantagens ao nível da segurança das pessoas e dos seus haveres. George Orwell bem nos avisou...

Será necessário que também as escolas tenham de recorrer a esta medida tão drástica com o intuito de devolver a normalidade aos corredores, às cantinas, ao recreio e às salas de aula das nossas escolas? A continuar assim, não estaremos longe de termos câmaras de filmar em tudo quanto é canto das nossas escolas. Enfim, há males necessários...

quarta-feira, 19 de março de 2008

Senhora Ministra, com argumentos destes...

No debate parlamentar sobre Educação realizado ontem, Maria de Lurdes Rodrigues respondeu da seguinte forma a um deputado da oposição a propósito das notas dadas pelos professores poderem contar para a avaliação destes:
Com argumentos destes estamos conversados sobre a qualidade das intervenções da Ministra da Educação naquela que, supostamente, deveria ser a casa da democracia.
Há uns dias atrás, o Ministério da Educação veio informar os professores que estes poderiam estar descansados pois a progressão das avaliações dos alunos só contariam 6,5% para a avaliação de desempenho docente.
Pois eu considero um completo disparate que as notas dadas pelos professores aos alunos tenham qualquer tipo de peso (nem que seja 1%) para as avaliações dos professores. Não argumento com as analogias feitas com os casos dos médicos ou juízes, mas tão só na injustiça em que se poderá incorrer ao assumir-se tal estratégia. Injustiça para alunos, pois as avaliações destes apenas devem ter consequências para a progressão ou não destes, mas sobretudo para os docentes que ficariam em total perda de igualdade de oportunidades entre si, apenas pelo facto de se fazer depender o seu desempenho profissional pelo maior ou menor empenho demonstrado pelos discentes!
O desempenho profissional de um professor mede-se pela capacidade de trabalho que o mesmo prova ter, seja na forma como aplica as suas estratégias de ensino, seja na cientificidade evidenciada na elaboração e correcção das fichas de avaliação, seja ainda na flexibilidade e adaptabilidade do seu método de ensino ao seu público-alvo. A única forma possível de fazer depender o seu desempenho das notas dos alunos será, porventura, através da realização de exames nacionais aos alunos, diagnosticando possíveis discrepâncias entre as notas internas e as notas externas destes! Aí sim, poderá avaliar-se quem, de facto, se deixa levar pela onda do facilitismo e quem verdadeiramente assume uma postura de exigência e rigor no ensino.
Só uma última nota: já todos devem ter reparado que na retórica utilizada por José Sócrates e Maria de Lurdes Rodrigues é extremamente raro ouvirem-se palavras como "rigor" e "exigência". Porque será???

quinta-feira, 13 de março de 2008

Assim vale a pena...

Para quem está dentro da forma como, efectivamente, funciona o sistema educativo português, palavras como desmotivação, desilusão, facilitismo, indisciplina, displicência não são novidade. A Escola Pública está em crise! O desajustamento curricular e a redução do rigor e exigência tornam raros os casos de sucesso efectivo, baseado no real esforço demonstrado pelos alunos, no seu dia-a-dia escolar...
Tenho mais de 200 alunos a meu cargo na disciplina de Geografia, 60 deles também a Área de Projecto e quase 30 a Estudo Acompanhado. Alunos efectivamente interessados e dedicados ao trabalho são cada vez mais uma raridade. É por isso que rejubilo de felicidade quando os meus alunos demonstram um grande empenho naquilo que realmente interessa à Escola: o trabalho, o estudo, o respeito, a disciplina.
Assim, dou a conhecer um dos excelentes trabalhos realizados em Área de Projecto sobre temáticas relacionadas com a disciplina de Geografia. Este trabalho foi elaborado por três alunos do 7º ano de escolaridade. Só uma nota: tenho alunos do secundário incapazes de elaborar um trabalho deste género...

quinta-feira, 6 de março de 2008

A pergunta da Sr.ª Ministra: qual é a alternativa? Eis a minha resposta...

Em entrevista à RTP1, a Ministra da Educação, questionou por várias vezes a jornalista Judite de Sousa com a seguinte expressão "Qual é a alternativa?"
Pois bem, a alternativa, neste momento, poderá residir no aperfeiçoamento do actual modelo de avaliação de desempenho dos professores. E esse aperfeiçoamento terá, porventura, que se basear, desde já, no adiamento do processo de avaliação dos professores contratados para o início do próximo ano lectivo, com as regras e pressupostos estabelecidos logo desde Setembro e não a meio deste ano lectivo. Depois, há que alterar os parâmetros definidos no actual modelo de avaliação que possam suscitar situações de injustiça e desigualdade entre professores, pois, não tenhamos dúvida que, com este sistema, não é indiferente leccionar numa escola de uma vila do Interior ou numa escola de elite de uma cidade do Litoral, assim como não é indiferente leccionar numa escola com três dezenas professores ou numa escola com mais de cem docentes. Vejamos um exemplo da insensatez deste sistema: permite que um docente exigente e rigoroso com os seus alunos e que, por isso, não consiga obter melhorias significativas nos resultados dos seus discentes não seja bonificado na sua avaliação, viabilizando, no entanto, que um professor menos cuidadoso e mais irresponsável (e não serão poucos!) que não se importe de inflacionar as notas dos alunos possa ser beneficiado na sua avaliação. É injusto... Mas, poderia dar outros muitos outros exemplos das injustiças deste modelo...

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Uma história de arrepiar...

Hoje, enquanto preparava na sala de professores uma ficha de avaliação para as minhas turmas do 9º ano, a Directora de Turma de uma dessas turmas chegou-se perto de mim e disse-me que queria contar-me uma situação que tinha ocorrido com ela durante uma das sessões de tutoria com três alunas da sua turma.
Contou-me então que na última sessão de tutoria tinha estado a preparar as três alunas para o teste de História. Questionou as alunas sobre a localização geográfica da Rússia. No globo terrestre que havia levado para a tutoria nenhuma das alunas conseguiu localizar esse enorme país. Assustada com a situação pediu então às alunas que localizassem Portugal no mundo. Nenhuma foi capaz de o fazer!!! Relembro: alunas do 9º ano de escolaridade!!!
Ficou então quase em estado de choque e resolveu vir contar-me a história, sabendo que já sou professor de Geografia de uma das alunas desde o 7º ano. Não me admirei com a situação já que tenho da aluna a clara convicção das extremas dificuldades da mesma. Ao chegar a casa fui analisar as avaliações que lhe dei nos 7º e 8º anos e verifiquei que sempre dei nota 2 à aluna e que a mesma transitou no passado ano lectivo com cinco níveis negativos à custa do preenchimento de umas grelhas que permitem a passagem de ano de forma algo burocrática e administrativa. Quem é professor sabe do que falo.
Depois temos resultados deste género: melhoria do sucesso educativo para as estatísticas e do agrado do Ministério da Educação, mas o desbravar de um rumo perigoso e enganador, assente no crescente facilitismo e no abaixamento do rigor e seriedade científicas...

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

É preciso ter descaramento!!!

José Sócrates decidiu agora começar com a estratégia de elogiar a classe docente, com vista à minimização dos estragos que a manifestação do próximo dia 8 de Março lhe poderá causar em termos de imagem pública.
Sejamos claros e directos:
1. O aumento do número de alunos nos ensinos básico e secundário deve-se a uma política que visa "depositar" nos CEF`s e nos cursos profissionais os miúdos com duplas e triplas retenções, abrindo caminho a uma quase passagem administrativa, visto que a não conclusão destes cursos pelos alunos é praticamente impossível, dado o tão baixo nível de exigência requerido.
2. A melhoria do sucesso escolar dos últimos dois anos deve-se, em grande medida, aos resultados obtidos pelos alunos dos cursos profissionais e tecnológicos, onde o nível de exigência é o que se sabe... Quem é professor sabe do que falo!
Resumindo, o tão propalado sucesso dos últimos dois anos nada tem que ver com os professores, mas tão só com uma estratégia de claro facilitismo emanada de Lisboa. A ideia dos CEF`s e dos cursos profissionais é, como a das Novas Oportunidades, boa e positiva, mas, como disse Manuel Maria Carrilho, tornou-se numa farsa, visto que se embarcou pelo caminho do facilitismo e não pela lógica do ensino prático aliado a níveis elevados de exigência e rigor... Como dizia uma professora no "Prós e Contras" da RTP: "como se podem reprovar os meninos dos CEF`s se o programa de muitas das suas disciplinas é completamente inverso ao das suas necessidades? No final, somos obrigados a passá-los!"...

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Notas sobre o debate com a Ministra da Educação no "Prós e Contras" da RTP

Depois de três longas horas de debate sobre as propostas do Governo para a avaliação de desempenho dos professores e para a gestão das escolas, sobressaem três ideias principais:
1. A Ministra da Educação entrou no debate com a intenção de se explicar, mas acabou a desconversar, ignorando as questões que directamente lhe eram colocadas e refugiando-se na velha e gasta estratégia de Sócrates: a fuga para a frente, ao repetir que o inglês no 1º ciclo está alargado a todo o país, que a escola a tempo inteiro é uma realidade e que a acção social escolar está reforçada. Quando se viu confrontada com argumentos sérios e directos que colocam muitas dúvidas sobre a aplicação das duas propostas governamentais em discussão, Maria de Lurdes Rodrigues desconversou e provou desconhecer muito sobre a realidade da Escola Pública portuguesa;
2. A classe docente está desmotivada, arrasada e descrente no caminho que a Educação no nosso país está a tomar. Os professores mais velhos anseiam pela reforma, enquanto que os mais novos desesperam com os principais problemas da escola: a burocracia crescente e o facilitismo extremo na avaliação dos alunos.
3. Nada melhor que professores no terreno e que efectivamente leccionam para darem a conhecer a realidade da nossa Educação: CEF´s e cursos profissionais que tentam camuflar (e não inverter) o insucesso escolar; divisão de uma classe profissional em duas categorias, que origina um mal-estar crescente na nossa profissão; aulas de substituição que na prática são uma mera ocupação do tempo livre dos alunos; pressão exercida sobre os docentes para não reterem alunos no 1º, 2º e 3º ciclos.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

O ensino do portfólio...

No regresso a casa depois de ter estado na escola desde as 10H. até às 19H. (com três aulas e mais uma reunião intercalar) aproveitei para ouvir a excelente reportagem da TSF a propósito do programa Novas Oportunidades. Já tinha ouvido falar de alguns casos vergonhosos acerca deste programa, no mínimo, facilitista e "amigo" do sucesso estatístico, mas esta reportagem da TSF revela situações de bradar aos céus.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Conversas na sala de professores

Esta tem sido uma semana dedicada às reuniões intercalares na minha escola. Por isso, tenho passado muito do meu tempo a trabalhar na sala de professores, à espera que chegue a hora das reuniões. Além de preparar aulas, de fazer e corrigir testes de avaliação e de consultar a blogosfera, não tenho tido a capacidade de me "imunizar" em relação às conversas dos meus colegas. Duas conclusões sintéticas acerca do teor dessas conversas:
1. Muitos dos professores com trinta e mais anos de serviço passam quase todo o tempo a falar da sua reforma. Anseiam pelo dia da aposentação e consultam legislação atrás de legislação para saberem em quanto ficará a sua reforma. A muitos deles não os oiço dizer uma única palavra sobre o processo de ensino-aprendizagem dos alunos...
2. A maioria dos professores mais novos, muitos deles contratados, deslocados e "pau para toda a obra" desesperam ao constatarem que, com a legislação que aí temos à porta e os vícios porque pecam as nossas escolas, terão a vida muito mais dificultada para subirem na carreira, independentemente do trabalho que demonstram no dia-a-dia. Apesar de tudo, são dos que mais se preocupam com os alunos...
Enfim, assim vão as conversas na sala dos professores!

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Trabalhos feitos pelos alunos e a reprodução das desigualdades sociais

No início deste 2º período de aulas, desafiei os alunos das minhas três turmas do 9º ano de escolaridade a desenvolverem um trabalho de pesquisa sobre um país em vias de desenvolvimento à sua escolha. Deveriam investigar as causas do fraco desenvolvimento humanoesse país, bem como dar a conhecer a evolução dos seus principais indicadores socio-económicos. No final, seria feita a apresentação à turma do resultado da informação pesquisada. Assim, combinaram-se as datas para que os alunos, em grupos de dois ou três, fizessem as respectivas apresentações aos seus colegas. Claro que prestei todos os esclarecimentos sobre a forma de desenvolverem o trabalho, bem como as regras de elaboração dos trabalhos em Power-point. Tiveram cerca de um mês para executarem o trabalho...
A semana passada foi dedicada à apresentação dos trabalhos e houve de tudo, desde trabalhos miseráveis a trabalhos extraordinários. Outros houve que nem sequer se deram ao trabalho de fazerem qualquer coisinha.
A apresentação dos trabalhos pelos alunos permitiu-me concluir que a falta de pré-requisitos e do chamado "background" familiar por parte de muitos alunos constitui um factor decisivo de diferenciação entre os discentes. Aqueles que têm bons conhecimentos de informática, adquiridos noutros anos de escolaridade, e que têm a sorte de terem uns pais preocupados com a vida escolar dos seus filhos, conseguem realizar trabalhos de investigação muito mais interessantes do que aqueles que, apesar de até serem esforçados, pouco percebem do Word, do Power point ou de qualquer outro recurso informático.
Veja-se aqui, nesta reportagem da SIC, como no Reino Unido a situação, neste particular, está a milhas de distância. Por aqui chegamos a ter professores (e não serão poucos) que sabem muito menos destes novos recursos pedagógicos do que a generalidade dos seus alunos.
Deixo-vos com dois trabalhos elaborados por um grupo de alunos da cidade, que têm computador em casa com acesso à internet e cujos pais têm um razoável índice cultural. Claro que nem me vou dar ao trabalho de apresentar aqui trabalhos negativos, diria que até mesmo miseráveis, que mais parecem feitos na estratégia do "copy-paste"!

sábado, 2 de fevereiro de 2008

You Tube: um recurso educativo de excelência...

Nas minhas últimas aulas leccionadas às tumas do 8º ano de escolaridade, os vídeos disponibilizados pelo You Tube têm sido de uma enorme utilidade. Encontro-me a dar matéria relacionada com o efeito de estufa e muitas das catástrofes naturais daí decorrentes, pelo que os vídeos do You Tube têm ajudado os alunos a melhor compreenderem, tanto as causas, como as consequências de desastres naturais tão diversos, tais como inundações, cheias, desabamentos de terras, avalanchas, secas, vagas de frio, etc.
Os livros bem podem trazer a teoria, mas não há dúvida que se queremos ir um pouco mais além numa melhor explicação dos conteúdos leccionados em Geografia, a Internet, assim como os jornais, podem ser bastante úteis, tanto para o professor, como para os alunos.
Claro que pesquisar e organizar a informação dá trabalho, mas no final todos ficam a ganhar... Pelo menos os alunos ficam. Espero bem que também o professor possa vir a ser valorizado, tanto por pais, como pelos titulares que farão a nossa avaliação de desempenho. Quanto aos alunos, esses, claro que agradecem e reconhecem o trabalho efectuado!

domingo, 27 de janeiro de 2008

Avaliação dos professores: uma necessidade que merece justiça e imparcialidade

O Ministério da Educação tem vindo sucessivamente a afirmar que a avaliação dos docentes constitui condição essencial para que o sistema educacional português possa caminhar no sentido da sua credibilização. Estou completamente de acordo...
O que tinhamos até há bem pouco tempo era um sistema de avaliação de professores que de rigor e exigência não tinha nada. Mais parecia um processo de auto-avaliação não sujeito a qualquer tipo de ponderação e que, por isso, permitia que dois docentes completamente díspares em termos de trabalho efectivamente prestado tivessem a mesma avaliação. Não conheço ninguém que naquela forma de avaliar tivesse tido uma avaliação abaixo de Satisfaz.
E, o que temos agora? De um sistema automatizado como o que tinhamos e, por isso, injusto, passámos para um sistema excessivamente burocratizante e envolto em complexidades enormes, em que a arbritariedade poderá ser uma realidade a partir do momento em que existem quotas e, por isso, de interesses instalados em cada uma das escolas e departamentos curriculares.
Por isso, considero que seria importante simplificar as fichas de avaliação (temos 14 items de auto-avaliação sujeitos a resposta aberta, 16 items de avaliação a preencher pelo coordenador do departamento e mais 14 items de avaliação a preencher pelo director da escola) e abolir as quotas em vigor, sob pena de se arrastarem injustiças e pedidos de reapreciação e anulação das avaliação dos docentes, algo parecido com o que aconteceu com a subida à condição de professor titular. Ora, como o tempo não estica e a motivação origina bons desempenhos, não tenhamos dúvida que muitos docentes estariam mais preocupados na sua auto-avaliação do que na avaliação dos alunos. E, o processo de ensino-aprendizagem não pode ser prejudicado apenas pelo facto fos docentes estarem inundados em papelada para preencher (já chegam os papéis relacionados com os planos de recuperação e outros que tais).
Mais uma vez alguém mente: os sindicatos afirmam não terem sido chamados a intervir na elaboração das fichas de avaliação dos docentes, enquanto que o Ministério da Educação afirma o contrário. Seguem-se ameaças da Fenprof de recorrer aos tribunais. Enfim, parece-me que tempos melhores na Educação ainda estão por chegar...