quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Algumas verdades sobre o ensino profissional

Muitos são aqueles que falam do ensino profissional sem saberem realmente como funciona o ensino profissional em Portugal. Para já há que distinguir o ensino profissional privado (tanto existe o bom como o péssimo) do ensino profissional público que ainda está, regra geral, muito aquém do melhor que há no privado...
De facto, existem escolas profissionais de ensino privado que já têm muitos anos de experiência e que, de facto, são exigentes tanto ao nível da requisição de professores, como no que concerne à aplicação requerida aos alunos. Muitas destas escolas têm uma forte ligação ao mundo empresarial e os alunos rapidamente encontram lugar no mundo do trabalho. Depois temos as escolas profissionais privadas que apenas têm em vista a obtenção de fundos comunitários para atrair futuros alunos (à custa dos subsídios de alojamento, de refeição e de estudo) e cujo nível de exigência está muito abaixo do mínimo.
Este ensino profissional enferma dos seguintes problemas:
- a maior parte dos alunos são incluídos neste tipo de ensino não por vocação e interesse, mas porque são alunos menos interessados e com maiores dificuldades de aprendizagem, ou seja, já com algumas retenções no seu historial;
- a maior parte dos professores que dão aulas a estas turmas são escolhidos não porque têm maiores competências para ensinar a este tipo de alunos, mas porque não estão no topo da carreira e, portanto, não podem escolher as turmas aquando da distribuição de serviço; aliás, muitos dos professores contratados chegam às escolas e ficam com estas turmas (os do quadro preferem as turmas do ensino regular);
- o nível de exigência requerido a estes alunos não é o mesmo em relação aos alunos do ensino regular: basta referir que quando um aluno não termina com aprovação um módulo a uma qualquer disciplina tem à sua disposição pelo menos mais três momentos de avaliação (o 2º momento, a época de Junho/Julho e a época de Setenbro) para conseguir aprovação ao respectivo módulo;
a forma como a maior parte do mundo empresarial olha para os alunos provenientes do ensino profissional é ainda de muita desconfiança: o objectivo de muitas empresas é ainda a questão do emprego a baixos custos (ou mesmo de borla) e não tanto a competência dos alunos com vista a contratarem um futuro empregado pós-estágio;
Enfim, muito haveria a dizer sobre o ensino profissional em Portugal, mas fico-me por aqui na certeza de que muitos daqueles que falam deste assunto estão a milhas de saber o que realmente é ter uma turma do ensino profissional, seja um CEF do ensino básico, seja um profissional do secundário.
Fica aqui o registo do último artigo de Santana Castlho sobre este assunto:

 

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Sobre a dimensão das turmas. Vale a pena ler...

No Público do passado dia 23 de Agosto li um artigo de Laura dos Santos sobre a questão do número de alunos por turma. Vale a pena ler, até porque falamos de alguém que, efectivamente, leccionou na escola pública (no 2º ciclo) antes de se tornar professora universitária. É que um dos problemas de muitos daqueles que estão à frente do Ministério da Educação é que não sabem o que é a escola pública, pois nunca deram aulas a alunos do ensino não universitário. Aliás, também há muita gente nos sindicatos de professores que vão pelo mesmo caminho: há quantos anos é que o Mário Nogueira não dá aulas???

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Mais uma de Santana Castilho para registar

Santana Castilho volta a escrever no Público sobre as possíveis consequências que a política craticista poderá ter na escola pública portuguesa. Para ler e reler mais tarde...

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Dizer o que muitos pensam...

No passado dia 1 de Agosto, na sua habitual crónica do Público, Santana Castilho apelidou Nuno Crato de "tirano" e escreveu o que muitos professores teriam vontade de dizer na cara do Ministro da Educação. Palavras duras, mas acertadas...

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Ainda os exames nacionais...

O jornal Público de hoje apresenta uma pequena notícia sobre os exames nacionais, abordando algumas das causas que justificam os parcos resultados alcançados pelos alunos do ensino secundário à generalidade das disciplinas com exames nacionais.
São apresentadas como principais causas os programas muito extensos, a falta de formação inicial dos professores e as turmas extensas. E é uma investigadora do Instituto Superior Técnico que indica estes factores. Esquece-se a investigadora que existem outras causas tão ou mais importantes do que as apresentadas...
A que mais me incomoda é a de que os professores não têm formação suficiente e de que este é um dos factores que contribuiu para os maus resultados dos alunos. Estará a brincar ou quê??? Então os professores, devidamente formados em Universidades e, muitos deles com pós-graduações e mestrados, pagos do seu bolso, não têm competência para leccionar no secundário??? Poderá havê-los, mas os Directores das escolas é que escolhem os docentes que leccional ao secundário!!! E então o que dizer dos que dão aulas ao 1º ciclo, formados em ESE`s de credibilidade duvidosa? Outras causas ignoradas pela professora universitária deveriam ser estudadas, tais como a falta de pré-requisitos de muitos alunos que chegam ao secundário com bases pouco sólidas (dado facilitismo patente no ensino básico) ou a insuficiente carga horária de muitas disciplinas (não é o programa que é extenso, mas sim o número de horas de algumas disciplinas que são escassas). Há ainda que destacar o elevado número de disciplinas que os alunos têm ao longo do seu percurso escolar, espartilhando o conhecimento, o que dificulta a consolidação de conhecimentos.
O que a Associação devia dizer é que os exames deviam valer metade da nota final e se deviam pautar pela exigência e rigor, em vez de enveredar pela conversa do facilitismo. Com associações de professores deste nível, estamos conversados!!!
Já agora, seria interessante que se ouvissem os alunos sobre a matéria. É que, regra geral, aqueles que têm más notas são os primeiros a afirmar que não estudaram o suficiente para o exame. E, os bons alunos até costumam dizer que o exame foi demasiado fácil e que esperavam um exame mais exigente. Uma das principais causas não estará na falta de estudo de muitos alunos que chegam ao secundário sem saber interpretar um texto ou um gráfico???

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Mais uma vez, o descalabro nos exames nacionais...

Se na 1ª fase os resultados foram insatisfatórios, sobretudo às disciplinas nucleares, agora na 2ª fase (realizados pelos alunos com negativa ou que pretenderam melhoria) não se esperavam boas novas. Bem pelo contrário...
Perspectivando o próximo ano lectivo não se esperam boas notícias. Da facto, com o aumento do número médio de alunos por turma e com a confusão que a agregação de escolas pode provocar (para além do facto de em dezenas de escolas as aulas decorrerem em contentores, devido às obras da Parque Escolar) não acredito que os resultados sejam melhores do que os deste ano. Depois, há que não esquecer que as novas regras de distribuição de serviço docente levam a que cada professor tenha um maior número de turmas e de alunos a seu cargo, o que, logicamente, só prejudica o seu desempenho profissional, com óbvias consequências ao nível do sucesso escolar dos alunos. 
Mas, o que mais me incomoda (há já vários anos) é o facto dos exames serem, regra geral, de reduzida exigência. Como professor de Geografia só posso falar do exame de Geografia A e este, posso dizê-lo à vontade, é um exame que já há muitos anos é elaborado de forma pouco séria e roçando a mediocridade. Digo isto porque no exame surgem 20 questões de escolha múltipla (que representam metade da cotação total do exame) em que o aluno não necessita de justificar a sua opção de resposta. Ora, esta metodolgia é extremamente injusta e nada rigorosa quando se pretende apurar se o aluno sabia a resposta correcta ou se respondeu "ao calhas". Um exame que se quer sério e rigoroso não pode apresentar questões de escolha múltipla sem incluir o respectivo pedido de justificação da opção assinalada. Já há vários anos que escrevo isto aqui no blogue. Infelizmente, a Associação de Professores de Geografia parece que não age em conformidade e o GAVE continua a insistir neste tipo de exame. Mesmo assim, a média nacional à disciplina ronda, todos os anos, uns míseros 11 valores.
Ora, Nuno Crato afirmou que, durante o seu "consulado" os exames nacionais passariam a ser mais rigorosos, mas quanto ao de Geografia A, ainda não foi este ano que se vislumbraram mudanças. Se para o próximo os exames passarem a ser de maior exigência e com as dificuldades que se esperam no decorrer do ano lectivo (turmas com mais de 26 alunos e professores cheios de turmas a seu cargo; mau ambiente nas escolas fruto das injustiças provocadas pela distribuição de serviço entre docentes com componente lectiva e os que tiverem "horário zero"; aulas em contentores em muitas escolas, etc.) espera-se um autêntico desastre ao nível dos resultados dos exames nacionais.
Cá estaremos para ver o que foi (ou não foi) feito durante este ano lectivo...