sábado, 29 de outubro de 2005

Trabalho da escola em casa...

Isto de ser professor de Geografia de oito turmas que pertencem a quatro níveis diferentes (do 3º ciclo e ensino secundário) obriga a muito trabalho da escola a ter de ser realizado em casa. Tenho em cima da minha secretária mais de duzentos testes por corrigir, muitos dos quais com cinco e seis páginas de respostas dos alunos...
Com tempo de chuva e na impossibilidade de na escola ter um lugar sossegado para trabalhar nos tempos de componente não lectiva lá vou aproveitando este fim-de-semana para corrigir testes. E ainda há quem diga que os professores não levam muito trabalho para casa. Acredito que alguns não...

quinta-feira, 27 de outubro de 2005

A greve não é solução

Pela primeira vez, nos últimos anos, os principais sindicatos portugueses da educação resolveram marcar, de forma unânime, uma greve geral de professores e educadores para o próximo dia 18 de Novembro, uma sexta-feira, como não poderia deixar de ser...
Ora, a questão que coloco é a seguinte: será que a melhor resposta para se demonstrar descontentamento pelo trabalho desenvolvido pela actual equipa ministerial é, precisamente, não trabalhar durante um dia? Definitivamente, não sou apologista deste tipo de acções contestatárias...
Tenho a plena convicção de que este Governo responsabiliza os professores pelo enorme insucesso escolar que predomina em Portugal. Vai daí, "acusando" a classe docente de laxismo, irresponsabilidade e inércia, o actual Ministério da Educação, tem vindo a apostar na aplicação de uma série de medidas que visam aumentar o número de horas de trabalho dos professores e educadores nas escolas, ao mesmo tempo que limita um conjunto de direitos até aqui considerados como invioláveis pela classe docente. Quanto às medidas que, efectivamente, poderiam combater o insucesso escolar pouco ou nada se tem visto. Os programas curriculares continuam os mesmos, as cargas horárias dos alunos em vez de diminuírem parecem aumentar, o número de alunos por turma continua elevado... Isto já para não falar da desmotivação que grassa pela classe docente.
Mas, poder-me-ão perguntar: qual a solução? Pois bem, tenho para mim a ideia muito clara que a convocação de uma greve geral da educação apenas terá como consequência imediata a descredibilização da classe docente, com a maioria da opinião pública a contestar esta greve ao trabalho. Por outro lado, este parece-me ser um Governo que não se deixa "afectar" por greves. Veja-se o que se passou com as greves na Justiça (desde juízes a funcionários judiciais), alvo de contestação pela opinião pública em geral...
Continuo a pensar que a existência de uma Ordem dos Professores, impulsionadora da elevação da exigência e da credibilidade na nossa classe profissional, poderia ser um ponto de partida importante para que a sociedade civil tivesse uma opinião mais favorável relativamente à classe docente. Por outro lado, uma Ordem dos Professores credível seria vista de uma outra forma pelo Governo, ao invés do que acontece agora, em que os sindicatos, afectos a partidos políticos, deixam de ser levados a sério...
Em suma, greves ao trabalho para reivindicar melhores condições de trabalho não me parece ser o caminho a desbravar. Credibilidade e exigência são factores-chave que ainda faltam a uma parte significativa da nossa classe profissional...

sexta-feira, 21 de outubro de 2005

Por uma Ordem dos Professores credível e eficaz

Escrevi há uns tempos atrás que sou totalmente a favor da constituição de uma Ordem dos Professores, por forma a unir os docentes e servir de estímulo ao regresso da credibilidade à nossa classe profissional.
Agora que vivemos um período em que os sindicatos dos professores resolveram unir-se de forma a protestarem contra algumas das medidas que este Governo tem vindo a implementar, penso ser o momento ideal para aqui apresentar o meu pensamento acerca do estado actual em que se encontra a classe docente.
Ora, um dos principais problemas que afecta a classe dos professores é a sua divisão e segmentação ao nível dos diferentes níveis de ensino existentes. Todos sabemos (embora custe a aceitar a muita gente) que ser educador de infância ou professor do 1º ciclo não é o mesmo que ser professor do 3º ciclo ou do ensino secundário, mas isso não é razão para que uns se queiram reformar antes que outros... Não importa aqui reflectir sobre qual o grau de importância social de cada um destes níveis de ensino, mas tendo âmbitos de intervenção e exigência diferentes, a verdade é que aglutinar docentes com diferentes formas de "ver" o ensino num mesmo sindicato só leva a que as divisões se agudizem. Por isso, mais do que termos diversos sindicatos (uns controlados por docentes do 1º ciclo, como a FENPROF e a FNE, e outros mais afectos aos professores do ensino secundário, como o SNPL), seria mais equilibrado termos apenas uma Ordem de Professores que, de forma democrática, fosse a voz de todos os professores, independentemente, do nível de ensino leccionado.
Finalmente, a terceira razão prende-se com a legitimidade e capacidade de influência junto das entidades governamentais. Uma Ordem dos Professores que fosse exigente para com os seus associados, como acontece nas outras Ordens profissionais, faria com que a generalidade da opinião pública portuguesa tivesse um maior respeito pelos professores, visto que, a própria Ordem teria a incumbência de avaliar a prestação dos docentes, para além de orientar a sua formação contínua. Ao contrário do que se passa actualmente onde para se ser professor basta ter uma licenciatura em ensino com média suficiente e onde a formação contínua apenas serve para que sindicatos ganhem dinheiro com cursos que de científico nada têm, uma Ordem dos Professores elevaria o nível de exigência dentro da própria classe docente, trazendo de novo a credibilidade necessária e a real capacidade de intervenção junto do Governo.

terça-feira, 18 de outubro de 2005

O problema das substituições...

Ontem estava na sala dos professores na ocupação dos meus noventa minutos de "componente não lectiva", enquanto esperava que me pudessem chamar para ir substituir algum colega que tivesse que faltar, quando um colega (daqueles já em fim de carreira) entrou na referida sala "esbaforido" e nervoso, insurgindo-se com o que lhe tinha acontecido...
Como não fui chamado durante aqueles noventa minutos para fazer qualquer substituição, fiquei na sala dos professores a elaborar no meu computador portátil (sim, porque não existe nenhum computador na dita sala!) um teste para o 10º G, pelo que não pude evitar de tomar conhecimento da revolta que tomava conta do colega.
Então não é que o professor, já dos seus cinquenta ou sessenta e tal anos de idade, e portanto, com várias horas de redução e uma componente não lectiva alargada, foi chamado no primeiro bloco de aulas e substituir um colega de Educação Física, não lhe tendo sido facultada nenhuma sala de aula, a não ser o Ginásio da escola? Pois é, o colega queixava-se de que teve de estar durante noventa minutos a tomar conta de uma turma no Ginásio, enquanto outras turmas iam tendo, no mesmo recinto, as suas aulas de Educação Física. Acredito que não deve ter sido fácil... Sem espaço conveniente para trabalhar com os miúdos, sem recursos ou actividades disponíveis e com um professor já em final de carreira, não teria sido melhor que, em vez da dita substituição, tivesse havido lugar ao chamado "feriado"?
Já o aqui referi que concordo com o regime de substituição de aulas, mas os Conselhos Executivos devem precaver situações anómalas, de forma a evitar episódios como o que aqui retratei. Com uma planificação adequada, salas de aula apropriadas e disponibilidade de recursos e material diversos é possível fazer das aulas de substituição verdadeiros tempos de utilidade e não apenas de "entretenimento"...

quarta-feira, 12 de outubro de 2005

Se todas as aulas pudessem ser assim...

Ontem decidi utilizar o projector data-show na aula do 10º G, por forma a mostrar à turma alguns diapositivos, por mim elaborados em PowerPoint, relacionados com algumas das conclusões dos Censos da População de 2001.
Assim, os alunos puderam perceber de que forma é que os recenseamentos do INE são realizados e qual a sua utilidade para Governo, autarquias e outros organismos. Falámos sobre a evolução da população portuguesa e a sua desigual distribuição no território nacional, debatendo sobre os problemas que o actual estado da demografia portuguesa poderão acarretar num futuro próximo. A análise de alguns mapas e gráficos através do projector data-show revelou-se essencial para captar o interesse dos alunos e para uma melhor compreensão da matéria leccionada.
Pena é que muitas escolas não proporcionem a dinamização de aulas deste tipo. Aliás, já leccionei em escolas onde não é possível utilizar o projector data-show, por falta de condições das salas de aula ou até mesmo pelo facto de a escola não possuir o aparelho.
No entanto, muito mais poderia ser feito pelas entidades responsáveis na matéria para que as aulas pudessem ser de um melhor aproveitamento: por exemplo, a existência de Internet sem fios em cada sala de aula, mesmo que a escola não possuísse um número suficiente de computadores, poderia ser um auxílio precioso para os docentes que têm computador portátil. Na escola onde lecciono penso que existem três projectores data-show (já não é mau!), mas o facto de não haver Internet sem fios nas salas de aula inviabiliza outras potencialidades que poderiam ser melhor aproveitadas em benefício dos alunos.
Bem sei que nos últimos anos a situação a este nível tem vindo a melhorar, mas será que custa assim tanto, em termos monetários, munir as escolas (pelo menos as secundárias) com Internet sem fios?

domingo, 9 de outubro de 2005

Aulas diferentes...

No início do ano lectivo fiz uma proposta aos alunos do 10º G. Como teríamos 3 blocos de 90 minutos ao longo de cada semana de aulas, seria interessante que uma parte de um desses blocos (fez-se uma previsão inicial de 30 minutos) fosse dinamizada pelos próprios alunos, com a apresentação à turma das principais notícias da semana relacionadas com a disciplina de Geografia, à qual se seguiria o debate e confronto de opiniões no seio da própria turma. Os alunos acharam a ideia interessante, pelo que ficou combinado que em cada semana um grupo de dois alunos (respeitando a ordem alfabética da turma) teria a seu cargo a dinamização da aula, apresentando, à sua escolha, algumas das notícias que estão na ordem do dia.
Na passada sexta-feira teve lugar a segunda sessão deste tipo de aulas em que os alunos têm um papel mais interventivo do que habitualmente acontece. Ora, a verdade é que os 30 minutos previstos foram insuficientes para o debate de ideias que se seguiu à apresentação das notícias pelos alunos, pelo que esta actividade teve que ser alargada a quase todo o bloco de 90 minutos. Discutiram-se dois assuntos principais: o alargamento da idade da reforma para os funcionários públicos e a proposta de referendo sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez. Foi deveras interessante e estimulante assistir à forma séria e descomprometida como os alunos colocaram dúvidas, deram a sua opinião e discutiram diferentes pontos de vista, evidenciando um empenho e respeito tais que no final da aula todos estávamos satisfeitos. Foi, sobretudo, gratificante perceber que, quando os alunos se sentem motivados, eles próprios se esforçam por estar a par da actualidade e do mundo que os rodeia, por forma a darem a conhecer a sua perspectiva sobre os assuntos que estão na ordem do dia...
Seria bom que em todas as aulas pudesse haver uma maior participação por parte dos alunos, mas, como sempre, há turmas e turmas! Com este 10ºG tem vindo a ser possível levar a cabo aulas diferentes, onde todos saem a ganhar...

quarta-feira, 5 de outubro de 2005

Dia Mundial do Professor

Pois é! Hoje, para além de ser o feriado comemorativo da Implantação da República em Portugal, é também o dia destinado a reflectir sobre o papel do professor neste mundo cada vez mais globalizado e menos idealista...
Se é ponto assente que a função de docente caiu, em Portugal e nas últimas duas décadas, numa degradação tal que a sociedade olha para os professores como a classe profissional que anda com a mala às costas, que se queixa por tudo e por nada e que no início de cada ano lectivo é enxovalhada e até alvo de risota, também é verdade que a culpa desta situação não pode ser imputada apenas aos que estiveram à frente do Ministério da Educação. Digo isto porque, em trinta anos de democracia, os professores não conseguiram unir-se em torno de uma Ordem profissional que defendesse os valores do rigor, da exigência e do respeito pela classe docente. Em vez disso, temos uma série de sindicatos, afectos a partidos de esquerda, que se aproveitam dos professores para fazerem política...
Pelo contrário, os professores, através dos sindicatos, preferem falar no combate que está a ser feito aos chamados direitos "adquiridos" (congelamento das carreiras, alargamento do horário de trabalho, existência de aulas de substituição), para além de destacarem a contínua instabilidade docente e outros problemas inerentes a esta profissão...
Assim, enquanto o Governo fala de ambição e de propostas para o futuro, os sindicatos apostam nos queixumes habituais. Sampaio bem tenta pôr água na fervura, mas a fuga para a frente não é solução. Só com uma classe docente que, em vez de ser alvo de chacota nas conversas de café, volte a ser vista como uma peça chave para o desenvolvimento de Portugal, é que poderemos, de facto, ter razões para comemorar o Dia Mundial do Professor. Exigência, profissionalismo e rigor são factores basilares para que pais e alunos vejam o professor como alguém decisivo na formação e instrução da juventude portuguesa...

sábado, 1 de outubro de 2005

Duas semanas produtivas...

Com duas semanas de aulas cumpridas parece-me já ser possível ter uma opinião minimamente plausível sobre a escola onde lecciono e os alunos a quem dou aulas de Geografia.
Sobre a nova escola, já aqui tinha dito anteriormente que, em termos gerais, esta é do meu agrado: as instalações, apesar de já serem centenárias, parecem-me em condições para que o trabalho decorra de forma positiva; os materiais (computadores, internet, projector data-show, etc.) colocados à disposição dos professores, embora insuficientes para mais de 100 docentes, constituem bons auxiliares para as aulas de Geografia; a maioria das salas de aula oferecem boas condições de ensino (gosto particularmente das que têm o estrado para o professor); existe parque de estacionamento para professores...
No entanto, também são visíveis diversos aspectos menos positivos: a sala dos professores é pequena, não havendo sequer um bar para os docentes (temos que nos deslocar ao bar dos alunos); a internet sem fios apenas existe em alguns (ainda poucos) locais da escola; nos horários dos professores não há "direito" a dias livres; o material de apoio a fotocopiar é sujeito a algum "controlo", havendo a indicação de alguns limites. Mas, em oito anos de serviço, esta é a melhor escola por onde já passei...
Ao nível dos alunos, tendo eu oito turmas e mais de 200 discentes, sem contar com aqueles a quem tenho que ir dar aulas de substituição, a ideia geral com que fiquei nestas duas semanas de aulas é que, à excepção de duas turmas (uma do 8º ano e outra do 9º ano, onde a maioria dos alunos parecem andar contrariados na escola), as restantes seis parecem evidenciar capacidades suficientes para que possa ser exercido um bom trabalho ao longo do ano. Destaco, sobretudo, a turma do 10º ano, onde tem havido um relativo empenho dos alunos pela matéria de Geografia, pelo que em vez de seguir apenas o programa, tenho realizado com os alunos diversas sessões de debate e discussão sobre muitos dos temas da actualidade.
Aliás, uma das mais-valias da Geografia é precisamente o facto de se recorrer de assuntos actuais para que os alunos assimilem mais facilmente a matéria a leccionar: só esta semana conversámos e debatemos os temas da UE, da demografia em Portugal e das alterações climáticas, com o recurso a notícias e reportagens de jornais nacionais.