sábado, 23 de dezembro de 2006

Por um 2007 mais educativo...

Prestes a despedimo-nos do ano 2006, há que ser optimista e esperar que o próximo ano seja efectivamente dado a concretizações positivas na área da Educação. Depois de um 2006 deveras conturbado e que originou um descrédito ainda maior na imagem dos professores, com consequências gravosas ao nível da relação professores-alunos e até professores-pais, espero que o novo ano seja aquele em que a Educação possa vir a ser a prioridade das prioridades, tanto em termos de política da tutela, como ao nível das preocupações da sociedade civil.
A Educação está a viver momentos conturbados, com mudanças, cujos resultados ainda estão por apurar. Uma coisa é certa: a redução da exigência e do rigor poderão dar bons resultados a curto prazo ao nível estatístico, mas serão um poço de problemas a médio e longo prazo.
É tempo de retemperar forças para mais um período de aulas que aí vem. Há que organizar mais três meses de trabalho e preparar aulas para que o sucesso escolar possa ser uma realidade. Por agora, os resultados obtidos pelas seis das sete turmas às quais lecciono Geografia foram uma desgraça e o que vale é que as notas à disciplina de Geografia até foram das melhores. Praticamente, metade dos alunos teve 3 ou mais níveis inferiores a três. A turma do 11º ano portou-se, como esperava, bastante bem, com uma média de 13 valores a Geografia.
Que 2007 seja o ano da viragem na área da Educação. É que termos uma situação pior do que a que actualmente se vive na área da Educação é praticamente impossível...
Umas boas festas a todos os que frequentam este blogue!!!

quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

Desafio - Quem descobre o erro?

Público de ontem, quarta-feira, dia 20 de Dezembro de 2006. Reportagem aprofundada nas páginas 2 e 3 deste conceituado jornal sobre o problema do encerramento de fábricas que afecta o nosso país. Ao ler o artigo da jornalista Maria Albuquerque deparo-me com um engano (não acredito que tenha sido uma simples gralha!), que considero grave, num conceito de Geografia que ensino aos meus alunos do 8º ano e que aprofundo aos do 10º ano. Quando aparece este tipo de erro científico nas fichas de avaliação dos meus alunos é costumo dar-lhes um "sermão" no bom sentido, a fim de que não voltem a cair no mesmo erro. É um conceito geográfico básico e que, cada vez mais se utiliza no nosso dia-a-dia...
Aqui deixo a parte do texto assinado pela jornalista. Será que alguém vai descobrir o erro???
Quem não descobrir logo à primeira vez que ler o texto necessita urgentemente de umas lições de Geografia...

sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

Relato de uma experiência gratificante

No domingo passado comemoraram-se os 58 anos da proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos. A escola onde lecciono foi contactada pelo estabelecimento prisional da cidade para que envidasse os esforços necessários no sentido de promover junto da população prisional uma palestra que focasse a importância do cumprimento dos direitos humanos . Eu, na qualidade de professor de Geografia, e um outro colega que lecciona a disciplina de História, fomos informados pelo Conselho Executivo da nossa escola do pedido feito pela Directora do estabelecimento prisional e, logo de seguida, colocámo-nos à inteira disposição para dinamizar a tal palestra.
Hoje lá fomos à prisão da cidade e a experiência revelou-se bastante interessante. Diante de um público de quase trinta reclusos, a maioria deles já na casa dos cinquenta e tal anos, realizámos uma pequena palestra, através da apresentação de diapositivos em Power Point, sobre a evolução histórica dos direitos humanos e a forma como em muitos países do mundo ainda não são aceites e, muito menos, cumpridos. Muito se falou sobre uma situação que cada vez é mais comum na sociedade actual: só quando nos vemos privados de um direito é que lhe damos valor!!!
A Escola tem de se abrir cada vez mais à comunidade em que está inserida, pelo que é importante que este tipo de actividades se realizem. Neste particular, destaco as que dizem respeito às famílias dos alunos que frequentam a escola. É necessário que as famílias se envolvam na vida escolar dos filhos e uma forma de concretizar tal anseio talvez passe pela realização de palestras especialmente dirigidas aos pais e avós... Urge fomentar uma "escola de pais".

sábado, 9 de dezembro de 2006

Um sistema de ensino que agrava as desigualdades sociais...

Segundo um estudo realizado pelo Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do ISCTE, o sistema de ensino em Portugal discrimina os alunos por escolas, por turmas e por vias de ensino, agravando os processos de desigualdade social. Nada que aqueles que estão mesmo por dentro do sistema educacional português não saibam. Refiro-me sobretudo aos professores que todos os dias têm de lidar com dezenas de alunos diferentes, em turmas díspares, e que facilmente se apercebem de como as desigualdades entre turmas da mesma escola podem condicionar o desempenho e sucesso dos alunos...
Mas, os problemas da Educação em Portugal não se resumem ao agravamento das desigualdades sociais... Muitos daqueles que, em Lisboa, estão nos seus gabinetes ministeriais à frente de um computador a tomar decisões sobre o nosso sistema de ensino não fazem a mínima ideia do que é ser, ao longo de um ano lectivo, professor de 200 ou mais alunos, nem sonham da capacidade que um bom docente tem de ter para, ao longo dos noventa minutos de cada aula (e são várias por dia), conseguir suscitar o interesse de quase trinta jovens com personalidades completamente diferentes umas das outras! Aqueles que são professores por gosto sabem do que falo!!!
Tenho a certeza de que, quando tivermos um(a) Ministro(a) da Educação que tenha passado alguns anos da sua vida a ensinar alguns milhares de alunos do nosso país (serão suficientes uns dez anos de serviço!), certamente que aí, desaparecerão muitos dos vícios em que o nosso sistema de ensino está envolto, a começar pela excessiva descredibilização e relativização do papel de professor!

terça-feira, 28 de novembro de 2006

As vantagens das aulas de substituição...

A verdade é que, enquanto que as actividades de substituição continuam, na generalidade das escolas, a estarem longe de atingir os seus objectivos, pois, muitas vezes, não passam de autênticos tempos de ocupação dos tempos livres dos alunos com TPC`s, trabalho de estudo ou de preparação de testes (que só alguns alunos aproveitam!), já a definição das "verdadeiras" aulas de substituição para os casos dos professores que sabem com antecedência que irão faltar parece-me ter sido uma boa medida implementada pela actual equipa ministerial da Educação.
Ora, hoje fui leccionar a disciplina de SIG (Sistemas de Informação Geográfica) à turma do 12º ano do curso tecnológico de Ordenamento do Território e Ambiente, em substituição de uma colega minha que sabia com antecedência que teria que faltar hoje. Recebi no Conselho Executivo o plano da aula e falei com a colega para ficar elucidado sobre a matéria a leccionar, sendo que os alunos já sabiam que iriam ter uma normal aula de SIG, com a única diferença de que seria outro professor a leccioná-la... Ou seja, todos os intervenientes cumpriram com as suas obrigações: o Conselho Executivo, os professores substituído e substituto e os alunos da turma que trabalharam normalmente durante a aula. Deste modo, o facto da professora da turma ter tido que faltar em nada prejudicou os alunos, pelo que o sistema instituído funcionou em benefício daqueles para quem a Escola se destina...
Assim, o problema reside nas aulas cujos docentes não sabem com antecedência que terão que faltar ou que, sabendo-o não querem ter o trabalho de preparar e deixar o plano da aula aos professores substitutos!!!

sexta-feira, 24 de novembro de 2006

E agora? O que se seguirá???

Depois do Ministério da Educação ter visto aprovado em Conselho de Ministros o novo Estatuto da Carreira Docente e, partindo do princípio de que este importante documento não incorpora nenhuma inconstitucionalidade, estou com curiosidade em ver qual o rumo que a equipa da Ministra Maria de Lurdes Rodrigues vai seguir na luta contra o insucesso escolar!
Todos sabemos que sem um sistema de Educação rigoroso, exigente e de sucesso não podemos almejar a que Portugal entre no pelotão da frente dos países da UE. Este Governo deu mostras que querer reformar por completo a área da Educação. No entanto, resolveu "investir" na alteração do mais que caduco e desajustado Estatuto da Carreira Docente, esquecendo-se (pelo menos até agora) que muito mais há a fazer para que a Escola seja, de facto, e aos olhos dos alunos (afinal é para eles que se destina a Escola) um local de trabalho, onde deve imperar a exigência e o esforço, ao mesmo tempo que a falta de empenho e a inércia devem ser punidas. Para que tal seja uma realidade urge tomar algumas medidas, tais como:
1. Alterar o currículo escolar, diminuindo o número de disciplinas por ano de escolaridade, por forma a que nenhuma disciplina tenha menos que dois blocos semanais de aulas;
2. Reformar, por completo, os programas das disciplinas, por forma a que não haja sobreposição dos mesmos conteúdos programáticos em disciplinas diferentes;
3. Modificar as regras de avaliação dos alunos, insistindo no reforço dos exames nacionais, a fim de que não se banalize a simplificação de processos e se puna convenientemente o facilitismo e o laxismo;
4. Responsabilizar, de forma activa e, se necessário coercivamente, os pais e encarregados de educação pela actuação dos seus educandos no seu local de trabalho (a Escola), punindo exemplarmente quem não está na Escola para trabalhar e gratificando (com o reforço das bolsas de estudo e dos abonos de família) aqueles que se esforçam e se empenham.
O que se seguirá, então???

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

Retrato de uma semana de trabalho

2ª feira - Entrada ao serviço às 8.30H e saída às 20H. Pelo meio dei aulas ao 11º E, ao 8º C e ao 7º A, tive uma reunião com os alunos do 11º E para preparar a entrevista que eles iriam fazer ao Presidente da Câmara Municipal, corrigi trabalhos dos alunos e tive o Conselho de Turma do 8º C. Pausas apenas nos intervalos, para almoçar, ler os jornais e tomar cafés. Total de horas de trabalho: 10 horas!
3ª feira - Entrada ao serviço às 10.15H e saída às 19.15H. Pelo meio dei aulas ao 7º C e ao 8º D, tive o serviço destinado à dinamização do Jornal da Escola, preparei aulas, fiz a acta da reunião do 8º C e tive o Conselho de Turma do 11º E. Pausas apenas nos intervalos, para almoçar, ler os jornais e tomar cafés. Total de horas de trabalho: 8 horas!
4ª feira - Entrada ao serviço às 10.15H e saída às 20H. Pelo meio dei aulas ao 8º B e ao 11º E, preparei aulas, fiz testes de avaliação e tive o Conselho de Turma do 7º B. Pausas apenas nos intervalos, para almoçar, ler os jornais e tomar cafés. Total de horas de trabalho: 8 horas!
5ª feira - Entrada ao serviço às 8.30H e saída às 20H. Pelo meio dei aulas ao 8º D e ao 11º E, preparei aulas, avaliei fichas de trabalho dos alunos do 8º ano e tive o Conselho de Turma do 8º D. Pausas apenas nos intervalos, para almoçar, ler os jornais e tomar cafés. Total de horas de trabalho: 10 horas!
6ª feira - Entrada ao serviço às 14.15H e saída às 20H. Pelo meio dei aulas ao 7º B e ao 8º C e tive o Conselho Disciplinar relativo a um aluno do 7º C. Pausas apenas para os intervalos, ler os jornais e tomar cafés. Total de horas de trabalho: 5 horas!
Conclusão: feitas as contas passei mais de 48 horas na escola, tendo 41 delas sido de trabalho exclusivamente escolar, acrescentando ainda 10 horas de viagens entre Viseu e Lamego, num total de 700 Km que fiz durante toda a semana!!! Ah, e todas as noites, em casa, ainda passei uma boa meia-hora a preparar as aulas do dia seguinte!!!

terça-feira, 14 de novembro de 2006

Os primeiros testes...

É tempo de reuniões intercalares. Pelo meio lá se vão corrigindo e entregando os primeiros testes deste ano lectivo. As primeiras impressões vão de encontro ao que esperava. As avaliações obtidas pelos alunos do 8º ano são aquelas onde o número de negativas é mais preocupante, o que se compreende pelo facto da matéria do clima ser, regra geral, difícil de perceber pelos alunos. As notas do 7º ano também não são lá muito famosas, mas a matéria das escalas costuma dar nisso mesmo. Bons mesmo foram os resultados da turma do 11º ano, mas outra coisa não esperava. Por outro lado, a estratégia do blogue deles tem funcionado muito bem...
Seguem as percentagens de negativas obtidas a Geografia:
7ºA - 30%; 7ºB - 31%; 7º C - 36%; 8ºB - 52%; 8ºC - 35%; 8ºD - 56%; 11ºE - 15%
A ver vamos os resultados no segundo teste, mas espero que o "puxão de orelhas" dado às turmas do 3º ciclo sirva para qualquer coisa...

terça-feira, 7 de novembro de 2006

Com exemplos destes...

Hoje, ao chegar a casa, fui descansar um pouco para o sofá da sala e sintonizei a televisão na SIC-Notícias (um dos melhores canais da televisão portuguesa). Assisti, então, ao debate na Assembleia da República sobre a apresentação do Orçamento de Estado para 2007. Ora, mais uma vez, a discussão parlamentar foi dominada pela galhofa, maldizer, desconversa, ruído, enfim, por uma constante falta de civismo por parte dos políticos que nos representam e se servem do Parlamento para mandarem "bocas" e "indirectas" uns aos outros, fazendo pouco do cargo de imensa responsabilidade que detêm. O que mais me choca é o facto destes parlamentares saberem que são vistos e ouvidos pela opinião pública e comportarem-se da forma como o fazem.
Hoje, pela primeira vez, vi-me obrigado a expulsar um aluno da minha sala de aula e a "enviá-lo" para o GOA (Gabinete de Ocupação de Alunos) da escola. Como diria um amigo meu: "são os sinais deste tempo dominado pelo regabofe". Resta-me dizer que a mãe do aluno disse à Directora de Turma que não sabe como "segurar" o filho!!!

quinta-feira, 2 de novembro de 2006

Ainda os exames nacionais...

Nos ultimos dias, a SIC tem apresentado uma série de reportagens sobre algumas das escolas que mais destacaram (pela positiva ou pela negativa) ao nível dos resultados obtidos pelos seus alunos nos exames do 12º ano. Baseando-se na análise dos resultados dos alunos, alguns deles com a evolução verificada nos últimos seis anos, a SIC confundiu ranking de exames com ranking de escolas... Digo isto porque a realidade que está por trás de cada escola tem sido, em muitas das reportagens emitidas, simplesmente esquecida!
Ainda ontem, a SIC transmitiu no Jornal da Noite uma reportagem onde tentava justificar os excelentes resultados obtidos nos exames nacionais pelos alunos do 12º ano do Colégio São João de Brito. Foram dadas a conhecer as instalações da escola, a forma como as aulas funcionam, a biblioteca e os laboratórios e até se entrevistaram professores, alunos e pais. Todos falaram na forma exemplar como as aulas são leccionadas. Apenas um senão: a SIC "esqueceu-se" de referir que para frequentar o Colégio São João de Brito, os pais têm de dispender mais de 400 euros por mês, sem falar nas actividades extra-curriculares. Pois bem, não acredito que algum jovem das classes baixa ou média-baixa seja aluno deste colégio. Ou seja, nenhum aluno anda naquele colégio contrariado. Todos estão lá para aprender...
O mesmo não se passa no ensino público! Os professores do ensino público sabem muito bem que a maioria dos alunos que originam problemas nas suas aulas, contribuindo em muito para o insucesso escolar, provêm das classes sociais mais baixas. Sabendo nós que sem ovos não se fazem omoletes, não podemos ignorar as desigualdades existentes entre muitas das escolas públicas e privadas deste país em termos de comunidade discente...

quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Para que servem os resultados dos exames?

Há quem defenda que os resultados dos exames servem para avaliar apenas os alunos: afinal é esse o seu objectivo fundamental. Há ainda aqueles que fazem realçar as desigualdades entre escolas públicas e privadas, a fim de provar até que ponto é que o facilitismo pode imperar em muitas das escolas privadas do nosso país, enquanto que noutras emerge o factor financeiro como suporte basilar das elevadas médias obtidas. Há ainda quem comungue da ideia de que, mais do que avaliar alunos, este rankings devem servir como suporte de caracterização dos professores e das escolas.
Ora, um dos aspectos que mais me interessa analisar cada vez que são divulgados os resultados dos exames (desde 2001) são as enormes discrepâncias com que algumas escolas e disciplinas se destacam comparando as avaliações internas com as avaliações obtidas nos exames. Como lecciono Geografia e já leccionei IDES tenho curiosidade em ver as avaliações destas duas disciplinas. Este ano encontrei várias escolas onde os alunos levam uma média de 16 valores de nota interna e chegam ao exame e conseguem apenas 8 valores!!! Ora, aqui está uma das situações que no meu entender deve ser alvo de análise profunda por parte da tutela, a fim de perceber as razões de tais disparidades.
De resto, concordo, no geral, com a Ministra: mais do que avaliar escolas, os exames devem servir para avaliar alunos. No entanto, também podem servir para avaliar a prestação e o desempenho de alguns professores...

sexta-feira, 20 de outubro de 2006

O rescaldo da greve...

Depois de dois dias dominados por uma considerável adesão à greve decretada pela plataforma sindical de professores (apesar de não entrar na guerra dos números!) é tempo de fazer uma curta reflexão sobre os reais proveitos da estratégia levada a cabo pelos sindicatos:
1. Não coloco em causa a decisão de se recorrer à greve para tentar pressionar a tutela a mudar o rumo que escolheu para a criação de um novo Estatuto da Carreira Docente (ECD). Foram dois dias como poderiam ser cinco: os sindicatos apenas convocam a greve e aderem os professores que bem entenderem!!!
2. A adesão à greve parece-me ter sido bastante considerável se tivermos em conta que estamos num tempo de "vacas magras" e que perder um ou dois dias de salário já se nota bem ao fim do mês.
3. A greve permitiu à tutela a poupança de mais de 10 milhões de euros, pelo que o Ministro das Finanças deve estar bem satisfeito com a situação.
4. Tal como previ, a quarta versão (pós-greve) de alteração ao ECD apresentado pelo Governo não traz grandes novidades, nem tão pouco vai ao encontro dos principais anseios dos sindicatos. Bem pelo contrário, a forma ofensiva como a tutela sujeita a não aplicação da lei dos supranumerários aos professores com "horário zero" à condição dos sindicatos se silenciarem apenas prova que a greve apenas serviu para "esticar a corda" entre os intervenientes no processo negocial.
5. A "bola" está agora do lado dos sindicatos, mas parece-me que, com este clima de "cortar à faca" instalado entre o Ministério da Educação e os sindicatos, será a proposta da tutela a vingar, até porque as recentes declarações do Presidente da República indiciam uma crítica à decisão de convocar uma greve em pleno período negocial.
Para não ser acusado de apenas criticar e não avançar com alternativas, apenas direi que a solução para esta situação já vem tarde. Digo isto porque certamente que toda esta situação teria tido uma evolução diferente caso os sindicatos de professores tivessem uma imagem de credibilidade, rigor e exigência junto da opinião pública e da tutela. Ora, com sindicatos que, durante décadas, não se renovaram e deram a imagem de nunca se terem preocupado com os deveres profissionais, mas sim e apenas com os direitos e privilégios de uma classe demasiada afectada pela inércia, os resultados dificilmente poderiam ser diferentes daqueles que temos... E, note-se que sempre afirmei que com estes sindicatos não iríamos muito longe!

segunda-feira, 16 de outubro de 2006

As razões que me levam a não aderir à greve

1. Os sindicatos da Educação nunca lutaram por alterar o actual sistema de avaliação de desempenho dos professores, o que lhes retira toda a credibilidade quando dizem defender uma avaliação rigorosa e exigente;
2. Só agora os sindicatos se unem num único propósito, depois de durante anos terem adoptado a estratégia de dividir para reinar, quase sempre em proveito próprio;
3. Este tipo de estratégia não terá quaisquer efeitos na acção da tutela, até porque a maioria da opinião pública está com o Governo e "contra" os sindicatos;
4. Defendo uma alteração completa do actual Estatuto da Carreira Docente e, embora não me reveja totalmente na proposta governamental (sobretudo em relação às cotas e à divisão da profissão em duas carreiras), sou apologista da elevação dos critérios de avaliação de todos os intervenientes na Escola Pública (alunos, professores, tutela e pais);
5. Tenho opinião própria, dando-a a conhecer aqui no meu "cantinho".

segunda-feira, 9 de outubro de 2006

A voz aos alunos

O actual estado da Educação em Portugal está envolto num clima de extrema ambiguidade: por um lado, temos a tutela que, de forma assídua e decidida tem apostado na implementação de um conjunto de medidas que visam alterar, por completo, a situação de insucesso e desconforto a que se chegou; por outro lado, temos uma classe docente amordaçada a uma imagem de total desprestígio e que é vista, aos olhos da opinião pública em geral, como detentora de privilégios que são negados aos demais trabalhadores do sector privado. Temos ainda uma minoria de pais que se fazem representar nas escolas de forma bastante activa, mas que se mostram incapazes para arrastarem consigo aqueles pais que, na prática, mais interessava que fossem à escola saber da postura dos seus filhos (reporto-me aos encarregados de educação dos alunos com piores avaliações). Finalmente, e no meio desta confusão toda, falta falar daqueles para os quais todas estas discussões deveriam dar resultados: os alunos...
Ora, ao contrário do que muita gente pensa, há na actual juventude portuguesa, sobretudo daqueles que têm idades entre os 15 e os 18 anos, uma parte significativa de rapazes e raparigas que sentem falta de se fazerem ouvir e exprimirem as suas opiniões. Já alguém questionou os alunos sobre o que pensam acerca da (falta) de pertinência de muitos dos actuais currículos, ou a propósito das vantagens decorrentes da introdução das actividades de substituição, ou ainda da forma como o ensino está organizado? Poderão os alunos dar a sua opinião sobre a forma como os professores devem ser avaliados? E sobre os chamados TPS`s? O que dizem eles?
Pois bem, deixo aqui os comentários feitos pelos alunos de uma turma minha do ensino secundário a propósito do actual estado da Educação e que, através da dinamização de um blogue deles, pretendem fazer ouvir a sua voz. É que esta não tem de ser uma geração (à) rasca!!!

terça-feira, 3 de outubro de 2006

Inovar para aprender...

Num mundo crescentemente globalizado, a manipulação das mais recentes tecnologias de informação e comunicação reveste-se de uma importância fulcral para que a sala de aula possa ser verdadeiramente um local "apetecível" para os alunos. A Internet é, sem dúvida, um dos meios mais decisivos para que os alunos tenham a oportunidade de aprender de forma mais activa, tornando-se cidadãos com capacidade de intervenção num mundo em que o que é actual rapidamente se torna parte do passado. É que ensinar não é só transmitir conhecimentos, mas antes e, sobretudo, tornar jovens em indivíduos com plena capacidade de intervenção na comunidade em que se inserem.
É neste contexto que me congratulo com a atitude evidenciada pela grande maioria dos alunos do 11º E que responderam da melhor forma ao desafio que lhes coloquei: o blogue NA AULA DE GEOGRAFIA está em "velocidade de cruzeiro" e os comentários feitos ao primeiro tema trazido pelos alunos demonstram isso mesmo.
Um outro recurso que se revela de pertinente utilização nas aulas de Geografia é o que diz respeito à manipulação das imagens de satélite que muitos sítios da Internet colocam à disposição de todos através de acesso livre. Reporto-me, por exemplo, às imagens de satélite de excelente qualidade do GOOGLE EARTH quando se dá no 7º ano a matéria das representações cartográficas do planeta Terra ou as que provêm do Instituto de Meteorologia quando no 8º ano se desenvolvem as questões relacionados com o clima.
É, pois, essencial que o Ministério da Educação e as escolas invistam cada vez mais na aquisição de material audiovisual e de tecnologia moderna (Internet sem fios, computadores, projectores, etc.) para que o processo de ensino-apredizagem seja muito mais activo e potenciador de elevados níveis de sucesso...

terça-feira, 26 de setembro de 2006

A blogosfera nas aulas de Geografia

O aparecimento da blogosfera há uns anos atrás revelou-se como um importante instrumento de cada um, sem estar dependente das vontades das editoras ou jornais, poder manifestar a sua opinião sobre os assuntos mais diversos. A minha adesão a esta nova forma de comunicação ocorreu há pouco mais de um ano, com a criação do INTIMISTA. No início, a nova experiência quase que se transformou num vício, com a rotina de escrever dois a três artigos por dia, para além da leitura de muitos outros blogues "amigos", mas rapidamente entrei numa onda de escrita mais moderada...
Há um ano atrás resolvi criar o blogue NA SALA DE AULA dedicado exclusivamente aos assuntos da educação: matérias sobre a vida de professor, comentários às novidades provenientes do Ministério da Educação, relatos de aulas, entre outros temas, são dados aqui a conhecer, na procura do debate livre e sério de ideias.
No início deste ano lectivo confrontei a minha turma do 11º E com a possibilidade de se criar um blogue da aula de Geografia, onde todas as semanas um grupo de dois alunos deveria suscitar um assunto da actualidade para debater com os seus demais colegas. Aliás, esta estratégia de debater temas diversos já no ano anterior (no então 1oºG) foi posta em prática, mas apenas circunscrita à sala de aula. A reacção dos alunos foi bastante positiva, pelo que no blogue NA AULA DE GEOGRAFIA passarão a constar artigos escritos e comentados pelos alunos e todos aqueles que queiram aderir. Espero que com bons resultados...
Penso que é com este tipo de estratégias activas que poderemos tornar as aulas de Geografia e de outras disciplinas mais interessantes para alunos e professores. Convido todos a darem lá uma espreitadela...

quinta-feira, 21 de setembro de 2006

As primeiras aulas e a importância de motivar os alunos...

A primeira semana de aulas está a chegar ao fim, sendo já possível fazer um pequeno balanço de como é que os alunos estão a reagir a mais um novo ano lectivo. No meu caso particular, tenho que distinguir as três turmas às quais estou a dar continuidade desde o ano lectivo passado das outras quatro turmas que me passaram a conhecer, enquanto professor, pela primeira vez.
A forma como conseguimos ou não captar o interesse dos alunos e despertar a sua curiosidade para as matérias que abordamos ao longo de nove meses de aulas é condição fundamental para que o ano lectivo decorra de forma positiva, com óbvias consequências em termos do sucesso escolar.
Assim, a primeira aula de contacto com os alunos reveste-se de uma extrema importância. Agostinho da Silva dizia que é essencial que professor e alunos, em contexto de aula, se debrucem sobre os problemas do quotidiano, em vez de termos uma situação de mera transmissão de conhecimentos. Tendo esta ideia como primado basilar das minhas aulas, aproveitei a recente passagem do furacão Gordon pelos Açores para, na primeira aula de Geografia, fazer ver aos meus novos alunos a importância desta disciplina para o nosso dia-a-dia, debatendo com eles as causas e consequências de tal situação atmosférica, assim como as acções de prevenção que foram tomadas. Mostrei-lhes imagens de satélite da passagem do furacão e trocámos impressões sobre a sua possível relação com as alterações climáticas provocadas pelo Homem. Enfim, logo na primeira aula debruçámo-nos sobre a actualidade e pareceu-me que a estratégia obteve resultados positivos...
A motivação é, cada vez mais, condição essencial para que os alunos tenham interesse pelas aulas e obtenham resultados satisfatórios. Não é tarefa fácil, mas, no final de mais um dia de trabalho, recompensa...

terça-feira, 19 de setembro de 2006

A prestação da Ministra no Prós e Contras

Ontem estive a assistir ao programa da RTP Prós e Contras até à 1 hora da manhã, onde se debateu, com a presença da Ministra Maria de Lurdes Rodrigues, o actual estado da Educação.
Depois de mais de duas horas de intervenções por parte da Ministra, dos representantes das escolas, dos sindicatos, dos pais e dos alunos fiquei com a clara convicção que a posição firme e rigorosa da Ministra em termos de política educativa e laboral saiu duplamente reforçada. Por um lado, a Ministra preparou-se devidamente e foi para o debate com o claro sentido de defender, a todo o custo, as suas ideias, tendo sido apoiada pela maior parte dos representantes das escolas presentes no programa (quase todos Presidentes dos Conselhos Executivos). Por outro lado, os professores, pais e alunos que intervieram não tiveram a coragem (ou capacidade?) de colocar as questões mais pertinentes à Ministra. Como resultado, tivemos um programa em que no palco quase todos os intervenientes comungaram das mesmas opiniões, sendo que apenas o ex-Secretário de Estado da Educação tentou contrariar o excesso de confiança da tutela em relação às medidas que têm vindo a ser aplicadas.
Do lado dos professores presentes no programa, há que dizer que o representante da Fenprof bem tentou alertar a Ministra para algumas injustiças vigentes na proposta ministerial do ECD, nomeadamente em relação às limitações impostas para a subida na carreira, mas não conseguiu. A moderadora do programa não ajudou e, final, tudo ficou na mesma... Pior ainda foi quando, quase no final, alguns professores da plateia apuparam, sem o mínimo de educação, a prestação de um dos seus colegas no palco!!! A prestação dos alunos foi secundarizada e nem sequer se abordou o tema dos desajustados currículos que existem no ensino básico.
Não há dúvidas que a Ministra está, de novo, numa maré de boa imagem junto da opinião pública, enquanto que aos professores resta ter paciência, pois o tempo necessário para credibilizar a nossa classe será longo. Os sindicatos precisam de uma reforma, sendo imprescindível a criação de uma Ordem com uma acção exigente e rigorosa junto dos docentes.

sexta-feira, 15 de setembro de 2006

Altos e baixos...

Para a maioria dos alunos portugueses hoje é o primeiro dia efectivo de aulas, com a apresentação mútua de professores, alunos e encarregados de educação. Depois de na quarta-feira a Ministra da Educação ter concedido uma entrevista ao DN, hoje foi a vez do Secretário de Estado Valter Lemos ter ido ao Fórum TSF responder às questões dos pais e professores.
Das duas "aparições" em público resulta uma conclusão óbvia: esta equipa ministerial está mais que firme nas acções que tem vindo a tomar e nada (ou quase nada) parece suficiente para que mudem de ideias!!!
Assumamos que, neste início de ano, tivemos situações que correram bem e outras que se têm revelado problemáticas.
Aspectos positivos: as actividades de enriquecimento curricular no 1º ciclo, apesar da confusão sentida em muitas escolas, por via da falta de espaço e de recursos; o encerramento de escolas do 1º ciclo com reduzido número de alunos, apesar de algumas situações continuarem a ser duvidosas; a aposta nos cursos profissionais e nos CEF.
Aspectos negativos: o excesso de carga horária para os alunos com a implementação das actividades de substituição na sala de aula (atenção que não estou a falar das aulas de substituição efectiva por um professor da mesma disciplina); a situação de instabilidade vivida com milhares de professores dos quadros com horário zero; a estratégia levada a cabo por sindicatos e tutela no conflito travado a propósito da reformulação do ECD (com os sindicatos a terem de levar com as consequências da sua própria falta de credibilidade que foram construindo ao longo de muitos anos e com um Ministério da Educação que avança agora com rebuçados "envenenados" relacionados com prémios e aumentos salariais).
Muitos outros aspectos poderiam ter sido aqui referenciados, mas penso que estes foram suficientes, na certeza de que este será um ano lectivo cheio de mudanças, umas positivas, outras negativas para professores, pais e alunos.

terça-feira, 12 de setembro de 2006

Perplexidades em início de ano lectivo...

O ano lectivo 2006/2007 começou formalmente no passado dia 11 de Setembro. No entanto, a maioria das escolas apenas irão receber os alunos no final desta semana, o que se compreende pelo facto de haver muito trabalho de planificação do ano lectivo a efectuar antes das aulas começarem a sério. Os Departamentos têm que reunir para definirem estratégias e planificarem conteúdos, ao mesmo tempo que também os Conselhos de Turma devem reunir-se para que os professores conheçam minimamente os seus alunos e apontem rumos de actuação. Enfim, vida de professor não é só a de estar na sala de aula com os alunos. Há pois muito trabalho preparatório...
Apesar deste início de ano lectivo estar a decorrer de forma muito mais calma do que em relação a anos anteriores, há três assuntos pertinentes e pouco esclarecedores que merecem referência:
1. Muito se falou na passada semana no pacto da justiça assinado entre o PS e o PSD. Então e em relação às políticas de educação não seria conveniente também termos um acordo, sob pena de, quando o PSD voltar ao poder daqui a uns anos, termos novas experiências e mudanças nesta área, com as consequências que se conhecem ao nível do insucesso escolar?
2. O processo de colocação de professores deste ano decorreu, à luz do que a opinião pública em geral vai dizendo, de forma irrepreensível. Mas, será que alguém vai ser responsabilizado pelo facto da lista de graduação não ter sido respeitada em muitos grupos disciplinares, fazendo com que docentes melhor classificados tenham visto colegas seus com menor graduação passar-lhes à frente, pelo facto de nem todas as vagas disponíveis terem sido postas a concurso ao mesmo tempo?
3. A notícia caiu que nem uma bomba: "Professores portugueses no topo dos vencimentos da OCDE". E quais foram os critérios utilizados para realizar este estudo? O escalão mais alto da carreira e o PIB/per capita. Pois, mas se utilizarmos a média salarial de todos os 180 000 docentes portugueses e o nível de vida/per capita dos países da OCDE, os resultados serão muito diferentes...
Nota - Os sindicatos de professores uniram-se, pela primeira vez, para fazerem frente à proposta do Governo para o novo Estatuto da Carreira Docente. Falam muito nos direitos e ameaçam com manifestações e greves... Agora já é tarde. Tiveram anos e anos para se credibilizarem e agora resolvem juntar-se num último esforço. Não lhes irá servir de nada. E por causa dos "maus" professores (alguns dos sindicatos já nem leccionam há anos) todos "pagam" pela mesma bitola...

terça-feira, 5 de setembro de 2006

De regresso à escola

Estamos em Setembro, mês em que se inicia mais um ano de trabalho para professores e alunos. Ao contrário do que seria de esperar, parece que, uma vez mais, o início do ano lectivo não está a ser tranquilo. Bem pelo contrário! O processo de colocação dos professores esteve (e está) envolto numa maré de contestações e, fala-se até de injustiças, com docentes contratados "melhor" colocados que os seus colegas efectivos, isto já para não falar dos complicados embróglios que afectaram os docentes de Português-Francês. A isto há que acrescentar a inflexibilidade que a tutela demonstra nas negociações para a reformulação do Estatuto da Carreira Docente: a teimosia demonstrada na imposição de quotas em matéria de avaliação do desempenho docente, com consequências na (não) progressão na carreira evidencia, a olhos vistos, as preocupações puramente economicistas do Ministério da Educação. Mais valia dizer a verdade...
Na escola, estamos em tempo de reuniões de departamento, conselhos de turma, execução das planificações, apresentação de projectos, enfim, todo o trabalho que o início de um ano lectivo normal implica. Infelizmente, nem todos os professores têm a motivação suficiente para entrar com garra neste início de trabalho, por via dos problemas familiares a que esta profissão, muitas vezes, está sujeita. Não é o meu caso, mas conheço alguns casos em que, marido e esposa, têm de se despedir ao domingo para apenas se verem na sexta-feira seguinte, pelo facto de leccionarem bem longe de casa...
Um bom início de ano lectivo para todos é o que vos desejo...

terça-feira, 22 de agosto de 2006

Preparativos para um novo ano lectivo

Até que enfim que chegou a hora dos professores poderem saber a escola para onde vão leccionar no próximo ano lectivo com tempo suficiente para prepararem as suas vidas, quer a nível familiar, como no âmbito profissional... Até este ano, as colocações só eram dadas a conhecer com dois ou três dias de antecedência, o que acarretava sérias dificuldades para muitos casais poderem organizar a sua vida pessoal. Mas, este ano verificaram-se melhorias nos concursos. Felizmente... A nível pessoal, já sei que nos próximos três anos lectivos ficarei na mesma escola onde estive este ano lectivo, o que me deixa contente por duas razões principais: por um lado, é a escola que fica mais perto de casa (65 Kms) e, por outro, gostei de ter lá leccionado este ano, tanto ao nível das condições materiais proporcionadas, como em termos humanos (confraternização entre colegas, ambiente discente e forma de trabalhar do Executivo)...
No entanto, a nível dos concursos, nem tudo foram rosas. De facto, temos ainda o caso de cerca de 8000 professores dos quadros que continuam sem saber para que escola vão trabalhar. É o caso da minha esposa que, apesar de pertencer ao QZP só em Setembro saberá para onde irá leccionar. Ora, como temos uma filha de 8 meses que iniciará o infantário no dia 4 de Setembro, não podemos ainda saber qual de nós ficará encarregue de a ir levar de manhã ao infantário e trazê-la à tarde para casa. Outras situações de carácter familiar estão ainda por resolver, por não sabermos para que escola é que ela irá dar aulas... Esta situação de desequilíbrio entre vagas a concurso e docentes efectivos com horário zero demonstra que ainda há muito por fazer no sentido de proporcionar um melhor início de ano lectivo para professores, pais e alunos.
Colegas meus de Português-Francês puseram-me ao corrente da situação vivida com os docentes deste grupo disciplinar. A ser verdade o que me contaram, não se percebe como se desaproveitam recursos humanos válidos e se contratam docentes que não seriam necessários se tudo tivesse decorrido de forma normal. E depois lá vem o défice orçamental...
Enfim, ainda há muito por fazer para que a colocação de professores seja um processo banal, sem complicações e propício a um começo de ano lectivo estável e eficaz.

terça-feira, 1 de agosto de 2006

O final de mais um ano lectivo

A partir de hoje encontro-me formalmente em período de férias depois de mais um ano lectivo de muito trabalho. Por isso, é tempo de fazer um pequeno balanço da forma como decorreu este ano, tanto a nível pessoal, como no que concerne às novidades que o Ministério da Educação introduziu.
Ora, parecem não haver dúvidas de que este foi, na pasta da Educação, um ano de rupturas, tanto em termos de prática governativa, como na forma de introdução de nova legislação. Desde logo, esta nova forma de fazer política ficou bem patente nas chamadas "aulas de substituição". Mudou-se a legislação, obrigando a que as escolas se "desenrascassem" no sentido de acabar com os conhecidos feriados às aulas. No entanto, se os alunos deixaram de ter furos, a verdade é que em muitas escolas não ocorreram as verdadeiras substituições de professores, mas sim a ocupação dos tempos livres dos alunos, sem que houvesse qualquer contributo para a melhoria do processo de ensino-aprendizagem. Depois, foi a proposta de alteração do estatuto da carreira docente que veio animar os ânimos, dado conteúdo nefasto da mesma em diversa matéria, a começar no que concerne ao regime de progressão na carreira. No final do ano lectivo, foi a trapalhada com a repetição de dois exames nacionais que veio inflamar o estado da Eduação em Portugal. Quanto a novidades positivas, apenas me lembro de duas: o encerramento de escolas do 1º ciclo em regiões isoladas e com poucos alunos e o novo regime de colocação de professores que, apesar de poder vir a prejudicar a vida de centenas ou milhares de famílias de docentes, poderá vir a servir de alavanca para a estabilidade do corpo docente nas escolas, com óbvias melhorias para a vida escolar dos alunos. De resto, a prática facilitista no ensino básico parece que está para ficar, com a possibilidade de fazer transitar alunos com oito negativas, apenas porque esses alunos já tiveram outras retenções no seu percurso escolar...
A nível pessoal, este foi o ano lectivo mais trabalhoso que tive até hoje. Oito turmas de quatro níveis diferentes, perfazendo quase duzentos alunos é dose!!! Depois, a preparação das aulas em casa em formato PowerPoint para projecção na sala de aula obrigou a muitas horas de trabalho em casa, para além da habitual realização de fichas de apoio e testes. Gostei sobretudo das aulas no secundário, onde os alunos dinamizaram as aulas 45 minutos por semana. Em Dezembro iniciei a tese de mestrado, esperando que a mesma esteja pronta ainda antes de 2007. E, não me posso esquecer que foi durante este ano lectivo que a minha filhota nasceu...
Enfim, este foi um ano cheio de trabalho, mas também bastante proveitoso. Venha de lá outro...

segunda-feira, 24 de julho de 2006

Aferir para ter sucesso? Não me parece...

A Ministra da Educação, em entrevista ao JN, afirma que "para prevenir o insucesso no fim do básico, precisamos de ter instrumentos de aferição e controlo da qualidade das aprendizagens no final do 1.º, 2.º e 3º ciclos". Ora, a questão que se deve colocar a esta proposta é muito simples: "Será que um aluno, ao saber que vai realizar uma prova que nada influi na sua avaliação, se empenha de forma adequada e exigível na realização da mesma?". Não me parece...
Por isso é que penso que a proposta da Ministra em avançar, no próximo ano lectivo, com provas de aferição no final do 1º e 2º ciclos apenas servirá para gastar recursos financeiros, não permitindo uma cabal análise da realidade do processo de ensino-aprendizagem em Portugal. Bem pelo contrário, as desigualdades entre as escolas de elite e as escolas mais desfavorecidas aumentarão, dado que os resultados dos alunos menos empenhados ainda serão bem piores de quando os mesmos prestam provas sabendo que as notas dessas provas poderão pesar na sua avaliação final.
Pois eu proponho duas medidas, porventura algo radicais: estender o nível de classificação de 0 a 20 ao ensino básico, acabando com a classificação inócua e injusta que vai de 0 a 5, e avançar para um sistema de provas globais (nacionais ou ao nível de escola) de cariz anual e a todas as disciplinas, tendo as mesmas um peso de 40% na classificação final. É que temos que levar os alunos a pensar que a Escola é para levar a sério!!! E as provas de aferição não os levam a pensar assim...

quinta-feira, 20 de julho de 2006

Défice de humildade...

A forma como a Ministra da Educação tem vindo a lidar com todo o processo relacionado com a repetição dos exames de Física e de Química do 12º ano revela, no mínimo, uma insensatez e falta de capacidade de auto-análise pelos erros de cálculo revelados pelos serviços do Ministério da Educação quando estes já sabiam antecipadamente das quatro razões que a Ministra considerou como justificativas para mandar repetir estes exames.
Apesar de tudo, não considero que as quatro justificações invocadas pela Ministra sejam inócuas; apenas penso que as mesmas já eram do conhecimento do seu Ministério, pelo que nunca poderão ser rejeitados erros de omissão, falta de ponderação e notória incapacidade de antecipação de problemas que se sabiam vir poder a existir...
Deste modo, justificar a aplicação de um regime de excepção com base em quatro circunstâncias que já eram conhecidas antes da realização do primeiro exame é razão mais do que óbvia para levar a opinião pública pensar que o princípio da igualdade não foi respeitado apenas porque os resultados dos exames de Física e Química na 1ª fase foram um descalabro. É que é essa a justificação que é dada pela despacho ministerial que valida uma segunda oportunidade concedida a alguns alunos... E, assim não vale!!!
Reconhecer o erro é uma atitude nobre em política. Pena é que também seja uma raridade!!!

quarta-feira, 12 de julho de 2006

Debate da Nação: o estado da Educação...

Teve hoje lugar na Assembleia da República mais um debate da Nação, cujos temas principais foram a Educação e a Ciência. O Primeiro-Ministro avançou com uma novidade e discorreu sobre algumas das principais medidas tomadas a cabo por este Governo na matéria versada.
Passemos então à análise da intervenção de José Sócrates.
Quanto à medida anunciada hoje de reforçar, nos próximos anos, as áreas da educação, da formação e da ciência com mais 1.300 milhões de euros em relação ao anterior quadro comunitário de apoio apenas se pode, por enquanto, afirmar que, mais do que a quantidade de financiamentos previstos interessa ponderar a sua forma de gestão e aplicação. Digo isto porque estaremos muito mal se os fundos comunitários continuarem a ser canalizados para encher os bolsos de formadores em acções de formação que deixam muito a desejar. Deste modo, prefiro não ter grandes expectativas...
Quanto às três medidas já implementadas e elogiadas por Sócrates no seu discurso no Debate da Nação diremos que:
- o reforço do ensino tecnológico e profissional nas escolas públicas, de necessidade premente, poderá ter bons resultados, desde que o mesmo não seja feito à custa da redução de exigência científica a ministrar, pelo que, também aqui há que esperar para avaliar os resultados de tal medida;
- as aulas de substituição foram, no último ano lectivo, um verdadeiro descalabro na maioria das escolas, na medida em que, na sua generalidade, funcionaram como autênticas aulas de ocupação de alunos, com notórias falhas ao nível do desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem, visto que as escolas não conseguiram arranjar mecanismos de substituição do professor em falta por outro docente da mesma disciplina, pelo que há que rever a aplicação desta medida;
- o concurso plurianual de colocação de professores, embora com objectivos desejáveis de diminuição da instabilidade do corpo docente das escolas, apenas poderá ser aferido, em termos de resultados, no segundo ano de aplicação, no sentido de apurar se os corpos dirigentes das escolas terão a preocupação ou não de manter os professores com as mesmas turmas do ano anterior.

quinta-feira, 6 de julho de 2006

Este ano calhou-me a fava...

Nos últimos três dias a expressão que mais vezes tenho ouvido dos meus colegas lá da escola foi esta: "Este ano calhou-te a fava...". E, logo a mim que ando cheio de trabalho, com a tese de mestrado em atraso e envolto em muitas outras peripécias que agora não interessam ao caso. E o que é isto da fava? Pois bem, trata-se da instauração de pedidos de revisão de notas...
A verdade é que, fui visado, e logo duas vezes, ao nível de recursos interpostos por Encarregados de Educação tendentes a alterar a classificação obtida pelos seus educandos à minha disciplina. Claro que não poderei falar dos casos em concreto, até porque se encontram ainda em fase de resolução, pelo que se tratam de situações confidenciais, mas sempre poderei reflectir um pouco sobre a forma como este tipo de situações, sempre aborrecidas, são resolvidas.
Pois bem, considero a actual legislação que rege este tipo de casos como, grosso modo, equilibrada e visando proteger os alunos de situações injustas que lhes possam acontecer em termos da atribuição dos níveis de avaliação. No entanto, penso que o modo como o pedido de revisão de nota é efectuado não devia ser tão arbitrário, ao ponto de termos casos de Encarregados de Educação que, simplesmente, pedem a revisão da nota sem conseguirem fundamentar de forma concreta a sua pretensão. Será que tem lógica uma mãe pedir a revisão de nota do seu filho, quando a mesma nunca se interessou por saber quais os critérios de avaliação vigentes na disciplina em causa? E, não nos esqueçamos que o Director de Turma os pode facultar ao Encarregado de Educação se este os solicitar...
Digo isto porque, para além dos dois pedidos de revisão que tive em mãos, ainda participei num pedido de revisão de nota doutra disciplina. E nesse pedido de revisão aquilo que ouvi da participação da Encarregada de Educação do aluno sobre a professora visada é de bradar aos céus: ou a professora não percebe nada da sua profissão ou a mãe da aluna inventa muito... Não seria melhor existir uma minuta própria para o efeito, a ser preenchida de forma conveniente para evitar considerações que, muitas vezes, só servem para extremar posições entre pais e professores?

sexta-feira, 30 de junho de 2006

O que fazer com o processo de colocação de professores?

Numa recente entrevista concedida à revista Visão, a Ministra da Educação, referindo-se ao actual processo de colocação de professores utilizou os adjectivos "absurdo" e "irracional" para qualificar tal processo, tendo defendido a ideia de conceder uma maior autonomia às escolas, sobretudo às mais "difíceis" para que estas possam vir a escolher, remunerar e compensar os docentes que considerarem mais qualificados.
Não desfazendo as boas intenções da Ministra, nem rejeitando por completo a hipótese de acabar com os concursos nacionais, que, muitas vezes, levam a situações absurdas de escolas com uma quadro docente espartilhado, já para não falar de famílias divididas e índices de motivação laboral muito reduzidos, penso que a possibilidade de serem as escolas a contratarem os seus professores poderia trazer muitos benefícios em termos de maior estabilidade do corpo docente e de aumento do sucesso escolar. Mas, com que custos?
Não sejamos ingénuos! O fim dos concursos nacionais e a aposta nos concursos a nível de escola levariam a situações mais gravosas do que aquelas que existiam no tempo dos mini-concursos. Por um lado, todo o processo de recrutamento docente ficaria mais burocrático, ao mesmo tempo que se correria o risco de tornar a colocação de docentes mais sujeita a situações de imparcialidade. Por outro lado, com o número de agrupamentos de escolas que existe, a candidatura de centenas de professores a uma escola teria elevados custos aos níveis monetário, processual e temporal.

sexta-feira, 23 de junho de 2006

Complicadex e desleixadex!!!

Depois de tido a primeira de quatro reuniões de avaliação de turmas dos 7º e 8º anos de escolaridade fico com a ideia de que a burocracia na Educação não pára de aumentar. De facto, em 8 anos de serviço (bem sei que, para alguns, ainda sou novato nestas andanças da Educação!) tenho notado que a papelada que se tem de preencher a cada momento de avaliação, sobretudo nas turmas do 3º ciclo (quando comparados com as do secundário), é cada vez em maior número. Isto já para não falar nos procedimentos que têm de ser tomados por um conselho de turma quando este considera que um aluno já com, pelo menos, uma retenção no seu percurso escolar deve ser retido (até já parece que é proibido dizer a palavra "reprovar"): veja-se o caso da justificação da retenção de um aluno com base na avaliação de uma série de parâmetros, através de cruzes, que vão desde a assiduidade do aluno até à sua capacidade para se evidenciar de forma notória nalguma actividade... Quem é professor sabe do que falo!!! Enfim, tudo está previsto para facilitar as progressões e complicar as retenções dos alunos...
A verdade é que estou de rastos depois da reunião de avaliação de hoje. Começou às 9H. e só terminou depois das 14H. Pelo meio assisti a discussões entre professores, formas de pressão exercida a colegas para subirem a proposta de nível atribuída, desconhecimento das formalidades a tomar por alguns dos intervenientes; enfim, uma série de peripécias que demonstram a falta de profissionalismo e seriedade de alguns docentes, o que a juntar à incrível dose de burocracia que acompanha estas reuniões, resulta numa maior propensão para transitar os alunos de ano. Imagine-se que há colegas que chegam a defender, em plena reunião, a transição de alunos para que a reunião decorra de forma mais rápida para, assim, poderem ir mais cedo para as suas casas, apenas porque são de longe! Andamos a brincar ou quê? Por isso é que defendo uma avaliação séria e rigorosa do desempenho do trabalho docente...
Bem vistas as coisas, a Ministra da Educação até tem razão num aspecto: há que ser rigoroso na avaliação dos professores. Mas, convinha que a Ministra não se esquecesse de trazer para a sua pasta o plano Simplex. É que, com tanta papelada e burocracias extremas o professor mais parece uma funcionário administrativo e não tanto um profissional da educação...

sábado, 17 de junho de 2006

O fim das aulas e as propostas de avaliação... Sucesso escolar ou não???

As aulas terminaram ontem, dia 16 de Junho, na escola onde lecciono para as turmas do 7º, 8º, 10º e 11º anos, pois já uma semana antes tinham finalizado para as do 9º e 12º anos, devido à época de exames nacionais.
Agora, é tempo de reflectir sobre as propostas de avaliação a apresentar nos conselhos de turma (alguns já se realizaram). Em relação às minhas 8 turmas, não me posso queixar dos níveis que tenho para apresentar. Vejamos a percentagem de níveis negativos a Geografia por turma:
- 7º B: em 24 alunos proponho 8 níveis inferiores a três (33%)
- 7º C: em 27 alunos proponho 4 níveis inferiores a três (15%)
- 8º A: em 26 alunos proponho 9 níveis inferiores a três (35%)
- 8º E: em 20 alunos proponho 1 nível inferior a três (5%)
- 9º A: em 19 alunos proponho 1 nível inferior a três (5%)
- 9º B: em 26 alunos proponho 3 níveis inferiores a três (12%)
- 9º C: em 19 alunos proponho 2 níveis inferiores a três (11%)
- 10º G: em 23 alunos proponho 2 níveis inferiores a dez valores (9%)
Em termos gerais, o panorama da disciplina de Geografia às 8 turmas que lecciono é, pois, de 16,4% de níveis negativos (30 em 184), o que penso ser razoável...
Será que este tipo de percentagem se enquadra nos parâmetros definidos pelo Ministério da Educação no que concerne ao sucesso escolar? Não sei. Apenas sei que tento ser o mais competente, rigoroso e justo na forma de exercer a minha profissão, pelo que não serão as directrizes emanadas pela tutela que farão com que seja condescendente na hora de avaliar os meus alunos...

quinta-feira, 15 de junho de 2006

Afinal, o que se ganhou com a greve?

Depois da greve convocada pela Fenprof e mais alguns sindicatos menos conhecidos e da manifestação que se lhe seguiu em Lisboa, fica a questão: qual o contributo da greve para a resolução dos problemas mais prementes da Educação???
Sejamos frontais. A greve de quarta-feira teve na opinião pública em geral uma reacção negativa e crítica, por duas razões principais: por um lado, a falta de bom-senso na escolha do dia para a greve (na véspera de um feriado) e, por outro lado, o desconhecimento público da proposta de alteração do ECD veiculada (se existir...) pelos sindicatos que foram a favor da greve. Também não nos podemos esquecer que, como sempre, os números apresentados pela tutela e pela Fenprof quanto à adesão de greve divergem em muito: de menos de 30% a mais de 80%. O mais certo é que uns e outros estejam errados... A comunicação social reservou para o final dos serviços noticiosos a reportagem sobre a manifestação de professores em Lisboa e o que se viu (pelo menos na SIC) não foi muito dignificante para a classe docente: desde professores que mais pareciam saídos de um filme de terror (falo de uma senhora que toda a gente deve ter visto e que parecia uma viúva vistosa) até docentes empunhando cartazes em que a figura da Ministra da Educação aparece travestida de drácula, tudo se viu, menos a preocupação de informar convenientemente a opinião pública sobre as mudanças propostas pela tutela e as contra-propostas (caso existam) defendidas pelos sindicatos.
Enfim, penso que esta greve em nada contribuiu para que possamos levar a efeito a concretização das medidas essenciais para a dignificação da nossa classe profissional. Todos os comentadores foram unânimes ao afirmar que a Fenprof apenas poderá ser ouvida e tida em conta de forma séria se deixar de actuar como se actuava há trinta anos atrás. Os tempos são outros, pelo que o sindicalismo não pode continuar a ser confundido com corporativismos dependentes de directrizes partidárias. Até o Presidente da República deu a entender que, efectivamente, a opinião pública está, na sua maioria, com a Ministra...
Esperemos que as negociações com a tutela decorram de forma séria e atenta, por forma a que aos pontos mais duvidosos da proposta ministerial (a categoria de professor titular, as exigências para a progressão na carreira e a forma de avaliação de desempenho do professor) sejam feitas contra-propostas credíveis, mas não menos exigentes...

sábado, 10 de junho de 2006

A proposta do novo estatuto da carreira docente - IV

Uma questão que tem suscitado da parte dos sindicatos de professores alguma contestação é a que diz respeito à proposta ministerial relacionada com o regime de faltas. A situação actual é, como sabemos, injusta em relação à maioria dos trabalhadores portugueses, para além de que não defende aqueles docentes que não costumam faltar, já que na actual lei não existe qualquer tipo de diferenciação entre docentes que faltam muito e os que são assíduos, o que incentiva, muitas vezes, a que se banalize o acto de faltar. É pois necessário implementar regras mais sérias neste aspecto...
A proposta ministerial, no seu artigo 47º, aplica a assiduidade como uma das condições para se progredir na carreira: "a atribuição da menção qualitativa igual ou superior a Bom fica, dependente do cumprimento de, pelo menos, 97% do serviço lectivo que ao docente tiver sido distribuído no ano escolar", excluindo-se daqui as faltas dados em situações de licença de maternidade e paternidade, doença prolongada e obrigações legais. Este combate ao absentismo é, porventura, demasiado exigente, na medida em que as faltas dadas ao abrigo de consultas médicas do próprio ou de descendentes, bem como de acções de formação não aparecem previstas na lei, pelo que, na prática, muitos docentes não conseguirão cumprir os 97% de aulas exigidas... Uma coisa é certa: a assiduidade irá aumentar e o número de faltas dadas ao abrigo do artigo 102º (desconto no período de férias) irá diminuir drasticamente. A Ministra dirá: "para grandes males, grandes remédios". Apesar de concordar com o espírito da lei, penso que fixar um valor mínimo de 3% para as situações de ausência às aulas, seja para os professores que vivem na localidade onde dão aulas, como para os que são de longe, seja para aqueles que têm filhos, como para os que não têm, é esticar demasiado a corda... Lá se irão perder pelo caminho mais uma série de menções de Bom!!!
Quanto aos cinco dias que deverão antecipar o pedido de autorização ao CE para faltar ao abrigo do artigo 102º, considero esta uma medida positiva, desde que tal exigência seja acompanhada da possibilidade do docente que irá fazer a substituição do colega de ser avisado com antecedência da referida substituição para assim poder preparar convenientemente a aula de substituição, situação que agora não acontece em muitas escolas e configura no professor substituto a obrigação de se desenrascar em cima da hora... Quanto ao plano da aula a apresentar pelo professor faltoso definido no artigo 94º, penso que tal deveria obrigar a que a substituição fosse efectuada por um colega da mesma área disciplinar...
Finalmente, quanto ao prémio de desempenho definido no artigo 63º, considero que tal proposta de incentivo ao bom desempenho profissional é positivo, mas apresenta uma incongruência que passa pelo facto de o mesmo estar sujeito a uma quota imposta pelo Ministério, o que na prática irá impedir muitos docentes de conseguirem alcançar tal menção...
Enfim, esperemos agora para ver como decorrem as negociações entre o Ministério da Educação e os sindicatos de professores, embora se saiba que a greve decretada por um dos sindicatos constitui um mau sinal. Nem que seja pelo simples facto de que a greve deve ser tida como um dos últimos recursos de luta a apresentar e não como uma forma de pressão no início de uma negociação...

segunda-feira, 5 de junho de 2006

A proposta do novo estatuto da carreira docente - III

Prosseguindo com a análise da proposta do ME para o novo Estatuto da Carreira Docente, centremo-nos em dois dos pontos mais controversos da referida proposta ministerial: a progressão na carreira e a avaliação do desempenho individual do professor.
O artigo 38º da proposta do ME indica que a progressão na carreira docente "depende da permanência de seis anos no escalão imediatamente anterior, computados como tempo de serviço efectivo em funções docentes, com avaliação do desempenho de, pelo menos, de Bom, e ainda da frequência, com aproveitamento, de módulos de formação contínua equivalentes, no mínimo, a 25 horas anuais, durante aquele período". Poderia concordar inteiramente com este ponto caso não viesse a existir a política de quotas que se prevê para a atribuição de menções de Bom, o que a ser verdade irá alterar a expectativa de muitos docentes em poderem progredir na carreira.
No entanto, a verdadeira armadilha surge quando aparecem as condições para se poder chegar à categoria de professor titular. Por um lado, não se dá a conhecer o número de vagas postas a concurso anualmente para aqueles que se queiram candidatar a professor titular; por outro lado, a fixação de dezoito anos de carreira como condição mínima para se poder almejar a ser professor titular faz pensar que muitos docentes, face às restrições impostas para a subida de escalão ficarão "presos" ao terceiro escalão, com sérias dificuldades de progredir na carreira. A lógica de prestar provas perante um júri regional, tal como vem descrito no artigo 39º, com a presença de professores universitários dá a imagem de alguma subserviência do ensino não universitário perante o universitário...
Mas, é no que respeita ao processo de avaliação do desempenho dos professores que encontramos algumas das questões mais pertinentes. Ponto assente é o de que urge alterar por completo o actual processo de avaliação do trabalho docente... Mas, ao menos que fosse para elevar de forma credível o nível de exigência do mesmo e não para aumentar os processos burocráticos, como vem referenciado no artigo 45º da proposta ministerial com o preenchimento de fichas e mais fichas... Atente-se depois ao artigo 46º, onde se prevê como items de avaliação, entre muitos outros aspectos, os resultados escolares dos alunos, as taxas de abandono escolar e a apreciação realizada pelos pais dos alunos em relação à actividade lectiva (é o que vem na proposta) dos docentes. Ora, como é que se pode colocar no mesmo saco de avaliação as realidades de escolas díspares, com condições diferentes e "públicos" diversos? É que não é nada fácil leccionar e ter bons resultados numa escola de um meio social problemático, onde impera o desemprego e a falta de prespectivas na população estudantil!!! Quanto à intervenção dos pais, penso que a mesma poderia ser ponderada, mas apenas para os pais que demonstram interesse pela vida escolar dos seus filhos e que não esquecem que, também eles, devem contribuir para a formação cultural dos mesmos. É que não podemos só falar em direitos dos pais e esquecer os deveres que lhes são devidos e exigidos... Mas, teria que haver muito cuidado naquilo que se perguntaria aos pais, a fim de que os docentes não fiquem reféns das opiniões dos pais... No mesmo artigo define-se que a observação de três aulas do docente deve ser feita pelo coordenador de departamento curricular, pelo que deixo a questão: quem observa as aulas do coordenador de departamento curricular???
No póximo artigo continuarei com a análise da proposta ministerial. Aceitam-se contributos...

quinta-feira, 1 de junho de 2006

A proposta do novo estatuto da carreira docente - II

Em conformidade com o que referi no artigo anterior continuo com a análise à proposta do ME para o novo ECD. Em relação às duas categorias de docentes que a proposta veicula (professor e professor titular), como vem no artigo 34º, embora a intenção ministerial possa ser a de melhorar a organização e metodologias de trabalho a desenvolver por cada um dos departamentos da escola e outros órgãos da escola, não tenhamos dúvidas que a mesma poderá, infelizmente, aumentar as desigualdades e conflitos entre docentes, até porque falamos de "funções diferenciadas pela sua natureza, âmbito, grau de responsabilidade e nível remuneratório". Digo conflitos porque, na minha modesta opinião, a idade, nesta profissão, não constitui um factor exacto de maior empenho, capacidade ou responsabilidade. Bem sei que não fica nada bem, no politicamente correcto deste país, termos alguém de 30 anos com um cargo "superior" ao de um seu colega de trabalho de 50 anos de idade, mas, por exemplo, quem me diz que um professor com dez anos de serviço, mas com um curso de mestrado em organização escolar, não poderá desempenhar melhor o cargo de coordenador de departamento do que um docente com 25 anos de carreira, contrariado, sem vontade de ocupar o dito cargo e que não investiu nada na melhoria da sua formação académica?
A minha proposta seria a de fomentar a democracia na escola. Todos os docentes de cada departamento teriam uma palavra a dizer sobre a melhor pessoa a indicar para ocupar o cargo de coordenador de departamento, baseando-se tal escolha não na idade, mas sim na competência, tomando-se a mesma estratégia para todos os outros cargos da escola...
Outra questão pertinente que ressalta da proposta do ME é a do artigo 36º, no seu número 2. Quem se der ao trabalho de ler todas as competências que o ME remete para a profissão docente, certamente não estranhará que o que o ME quer é que o professor seja muito mais do que um formador: há que ser orientador, psicólogo, animador, confidente, organizador de papelada, gestor, e professor claro, enfim, temos que ser homens e mulheres dos sete instrumentos... São mais de vinte deveres que o ME nos impõe a cumprir!!!

segunda-feira, 29 de maio de 2006

A proposta do novo estatuto da carreira docente

Aí está a proposta do Ministério da Educação (ME) para a reformulação do Estatuto da Carreira Docente (ECD). Este e os próximos artigos que aqui deixarei servirão para apresentar a minha opinião sobre as principais alterações que a proposta do ME enuncia. Como não pertenço a nenhum sindicato de professores e, portanto, não me subjugo às considerações que estes possam vir a defender, penso ser meu dever de professor deixar aqui expressa a minha opinião sobre a presente proposta.
O artigo 22º da proposta enuncia os requisitos gerais e específicos para a docência, de entre os quais aparece como grande novidade a obrigação do candidato, depois de frequentar a instituição de ensino superior que lhe concede a qualificação profissional, realizar uma prova nacional de avaliação de conhecimentos e competências, assente numa prova escrita e numa entrevista, a determinar em futura portaria.
Ora, não tendo nada contra a realização pelo candidato a docente da referida prova nacional, uma vez que a mesma irá determinar, porventura, uma elevação do nível de exigência dos futuros professores, não é menos verdade que a mesma determina um acto de desresponsabilização ou, pelo menos, de desconfiança perante o papel das instituições de ensino superior na formação de docentes. De facto, se se quer que os futuros professores façam uma prova extra-licenciatura, então há que assumir que o problema poderá estar, sobretudo, na falta de confiança que o ME demonstra pelo desempenho e capacidade das universidades e das ESE`s em formar docentes. Assim, não seria melhor, para além da referida prova, assumir uma política séria e rigorosa de avaliação do desempenho das universidades e das ESE`s na formação dos seus alunos? É que, com o financiamento destas instituições a ser determinado pelo número de alunos que têm, o normal será que as mesmas queiram "fabricar" licenciados a todo e qualquer custo...

quinta-feira, 25 de maio de 2006

As reformas "passo a passo" de Sócrates

José Sócrates foi ao Debate Nacional sobre Educação (que de nacional teve muito pouco) afirmar que é contra a ideia de se avançar com uma nova reforma global da Educação, dizendo-se adepto daquilo a que ele próprio apelida de reformas "passo a passo". Ora, se tivermos em conta que Sócrates considera como "globalmente positivos" os resultados alcançados pelo sector da Educação nos últimos 20 anos, então não nos poderemos admirar com tal postura...
Como tenho uma ideia negativa sobre o rumo que a nossa Educação tem vindo a dar nas últimas duas décadas, sou obrigado a pensar de forma distinta do nosso Primeiro-Ministro. Por um lado, considero que a Escola tem sido cada vez mais um lugar de crescente facilitismo, com perda de responsabilidade e de firmeza por parte dos seus intervenientes. Por outro lado, continua-se a insistir na teoria de que a Escola tem de tratar de todos os males da sociedade, para além de continuarmos a termos um currículo nacional descontextualizado das realidades locais e demasiado extenso. Já em relação à forma como a classe docente tem vindo a ser desprestigiada e ignorada na forma de fazer a Educação nem vale a pena dizer nada...
Doutra forma, continuaremos a seguir pela estratégia do facilitismo e da redução do nível de exigência dos nossos alunos, formando futuros adultos com um elevado grau de iliteracia e pouco dados à cidadania e civismo...

sábado, 20 de maio de 2006

Geração "copy paste"...

Só faltava esta para evidenciar a falta de capacidade auto-crítica e de esforço que a actual geração de adolescentes apresenta. Pelos vistos, já não chegava a demonstração de exagero consumista de telemóveis e outros adereços ou a táctica de "copy paste" na execução de trabalhos que caracteriza os jovens estudantes do básico e secundário para provar até que ponto é que, em termos gerais, os adolescentes portugueses rumam no sentido da falta de ambições... Digo isto porque esta geração, que muitos apelidam de "geração morangos", é tão fortemente influenciável que chegámos ao ponto de se ter inventado, a nível quase nacional, uma epidemia de comichões...
Ontem, sexta-feira, na escola onde lecciono não se falou noutra coisa: desde manhã que muitos alunos se queixavam de pseudo-comichões, tendo alguns sido encaminhados para fora das aulas, com a clara evidência de que tudo não passava de invenção, proveniente da série de culto destes jovens...
Ora, é por estas e por outras que, cada vez mais me convenço que, sem rigor e exigência na Escola, já que dos pais não se pode esperar muito mais do que aquilo que já temos (proteccionismo exacerbado e satisfação das vontades dos meninas e meninos), continuaremos a produzir jovens que são seguidores na "arte" de plagiar, uma miséria na capacidade escrita, um desastre nas contas de cabeça e uns autênticos esbanjadores dos (muitas vezes reduzidos) recursos financeiros dos pais...
E depois ainda temos que aturar as teorias de pensadores utópicos como Daniel Sampaio!!!

sexta-feira, 12 de maio de 2006

Aproxima-se mais uma época "quente" de exames

Parece que já se torna uma rotina: os sindicatos da educação já vieram avisar quem de direito que a ameaça de greve aos exames deverá ser para levar a sério. Desta vez, a justificação para tal atitude prende-se com o teor da proposta do Ministério da Educação relativamente ao novo Estatuto da Carreira Docente (ECD), que os sindicatos supõem estar recheado de más notícias: maior carga lectiva, maior exigência na progressão na carreira, mudança do regime de faltas, etc.
Penso que a estratégia da greve, a ser efectivada pelos sindicatos, apenas terá uma consequência: a continuação do desgaste da imagem que a classe docente tem junto da opinião pública. Aliás, a Ministra da Educação sabe muito bem que terá do seu lado a generalidade das famílias portuguesas caso se avance para uma greve aos exames dos estudantes que pretendem entrar para o ensino superior. Por isso, não é de admirar se a proposta do novo ECD chegar para discussão pouco tempo antes de se iniciarem os exames.
Enquanto as dezenas de milhares de professores não tiverem uma organização que os represente de forma séria e credível continuaremos a assistir à situação que temos: o Ministério da Educação decide a seu belo prazer, sem ligar ao que os sindicatos dizem defender, sendo que muitas das mudanças levadas a cabo nos últimos anos na área da Educação não têm conseguido alterar a situação de insucesso escolar que continuamos a ter no nosso país.

sábado, 6 de maio de 2006

Leccionar ou fazer passar o tempo???

Depois de há uns meses atrás a Ministra da Educação ter vindo à praça pública afirmar que as aulas de substituição deveriam ser utilizadas para os professores distraírem os alunos, por forma a evitar que estes fossem para o recreio ou para fora da escola fazer o que lhes bem apetecesse, eis que a Ministra parece ter evoluído na matéria e vem falar agora em leccionar durante as ditas aulas de substituição.
Assim, parece que a equipa ministerial da Educação já se começou a aperceber que quem escolhe ser professor não é com a intenção de adquirir competências que visem tomar conta de jovens como se de uma ama-seca se tratasse... A função do professor é leccionar e não fazer jogos que visem ocupar os tempos livres dos alunos!
Deste modo, não me repugnam nada as instruções dadas pelo Ministério da Educação de que, sempre que possível e se saiba com antecedência de que vai faltar, o professor deve deixar no Conselho Executivo o plano da aula que iria desenvolver. A questão é saber se o referido plano será concretizado. Ora, quem é docente sabe muito bem da incapacidade das escolas em terem, a todos os blocos lectivos, um professor da mesma área disciplinar pronto a substituir um seu colega, resultando daí a impossibilidade de concretizar as intenções do Ministério.
Então, em que ficamos? Deixo três pistas:
1. Quando um professor sabe que vai faltar deveria avisar a escola com antecedência e esta deveria ver da possibilidade de ser um colega da mesma disciplina a leccionar à turma penalizada;
2. No caso de tal ser impossível deveria ser dada prioridade a um colega doutra disciplina que fosse professor da turma em questão, havendo a possibilidade do docente desenvolver a aula com actividades formativas e/ou avaliativas da sua disciplina;
3. Finalmente, se as situações atrás descritas fossem impossíveis de concretizar a escola deveria ter um espaço próprio com educadores e profissionais especialistas no desenvolvimento de actividades de entretenimento para ocupar os tempos livres dos alunos, aliás, como acontece noutros países europeus (caso da França).