segunda-feira, 26 de setembro de 2005

A primeira aula de substituição

Hoje tive aquela que foi, em sete anos de serviço, a minha primeira aula de substituição. Fui substituir um colega de Educação Tecnológica que se encontra de baixa médica e cujo horário está, suponho eu, ainda em fase de colocação cíclica.
Na escola onde lecciono existe para cada bloco de aulas uma lista onde consta o nome de um conjunto de professores que têm a chamada componente não lectiva. Quando um docente comunica com antecedência que vai faltar a um determinado bloco de aulas, o professor que o vai substituir fica a saber no dia anterior a substituição que terá que fazer. Quando a falta não é comunicada antecipadamente os professores da referida lista têm que estar preparados para a hipótese de terem que substituir um colega.
No meu caso, desde sexta-feira que já sabia que hoje teria que substituir o colega de Educação Tecnológica na turma do 7º E às 12 horas. Assim, tive que preparar em casa o material a levar para a aula, visto que a escola não possui, pelo menos por enquanto, material próprio para este tipo de aulas. Na reunião de professores tinham-nos dito que a função neste tipo de aulas seria a de "entreter" os miúdos com actividades à nossa escolha. Tenho que admitir que é uma tarefa que não me agrada nada! Assim, resolvi levar para a aula um conjunto de actividades, entre as quais alguns quebra-cabeças e o tão na moda sudoku. Levei ainda um planisfério, para o caso de ter que dar alguma matéria da minha disciplina.
Expliquei aos miúdos o teor deste tipo de aula e lá estivemos quase todo o bloco de 90 minutos à volta com os quebra-cabeças e o sudoku. Devido ao interesse demonstrado pelos alunos, praticamente não dei matéria de Geografia. Claro que cada turma é uma turma, mas não é tarefa fácil motivar os alunos para actividades para as quais não estão a contar... A ver vamos como decorrerá a próxima substituição que me "calhar" em sorte.

sábado, 24 de setembro de 2005

Alunos "amestrados"...

No artigo anterior referi-me à impressão positiva que tive relativamente aos alunos da escola onde me encontro a leccionar. Afirmei então que os alunos parecem estar bem "amestrados" a partir do primeiro ano em que chegam a este estabelecimento de ensino. Ora, em alguns comentários deixados neste blogue em relação ao referido artigo alguns colegas parecem ter ficado surpreendidos com o significado de "amestrados"...
Assim, vou tentar ser mais claro. O que se passa é que numa escola com cerca de 125 anos de história e onde o quadro docente é, na sua maioria, estável (com mais de 80% dos professores a pertencerem ao quadro desta escola) fiquei com a ideia de que os alunos, a partir do momento em que começam a frequentar esta escola, começam a adquirir hábitos e a cumprir regras básicas para o normal funcionamento da vida escolar, ao contrário do sucedido noutras escolas por onde tenho andado nos últimos anos.
De facto, é importante que os alunos, quando chegam a uma escola pela primeira vez (neste caso no 7º ano) comecem a perceber que a escola é intransigente no que concerne ao cumprimento de determinadas normas comportamentais: proibição de fumar na escola, respeito pelo material escolar, ausência de furos ou chamados "feriados", cumprimento de actividades lectivas no caso de expulsão da sala de aula... Enfim, ao contrário do que acontece noutras escolas, e apesar de ter oito turmas e mais de duzentos alunos, parece-me que esta é uma escola onde (quase) todos (Conselho Executivo, docentes, funcionários e encarregados de educação) se esforçam para que os alunos percebem que na escola a educação e o respeito pelo próximo são valores intocáveis. Claro que há excepções e sempre haverá alunos que gostam de "desafiar" o professor, mas, por enquanto a impressão que tenho desta escola é muito positiva. Espero que continue a pensar assim no final do ano lectivo...

terça-feira, 20 de setembro de 2005

Finalmente. As aulas já começaram...

Pois é, a escola já voltou ao "frenesim" do costume, com alunos a percorrerem apressadamente os numerosos corredores deste estabelecimento. É que leccionar numa escola com cerca de 125 anos de história implica que "regressemos" aos velhos tempos das escolas com corredores enormes, salas com estrados para o professor, soalhos de madeira; enfim, nada que se pareça com as escolas mais modernas.
No entanto, a modernidade de uma escola não se vê só pelo seu estilo arquitectónico. A forma de trabalhar e o acesso às novas tecnologias são factores essenciais para que a "arte" de bem leccionar seja possível. Ora, neste âmbito a presente escola até que superou as minhas expectativas: o facto de haver internet sem fios em grande parte do edifício escolar é uma mais-valia para trabalhar nas chamadas "horas não lectivas". Por outro lado, os alunos parecem estar bem "amestrados", desde que entram pela primeira vez nesta escola, de forma a cumprirem regras básicas para que o trabalho decorra da melhor forma.
Como se costuma dizer: entrei com o pé direito...

quarta-feira, 14 de setembro de 2005

O problema dos números

Segundo o mais recente estudo vindo a público sobre o estado da educação nos países da OCDE, Portugal apresenta, como seria de esperar, alguns problemas ao nível da frequência e do sucesso escolar dos nossos alunos. No entanto, os números do referido estudo dão também conta que os professores portugueses são dos que menos tempo passam na escola.
Ora, resolvi tentar fazer uma pequena abordagem aos números constantes no estudo da OCDE, comparando-os com o tempo que, normalmente, todos os anos costumo passar na escola...
Vejamos então: no relatório intitulado "Education at a Glance 2005" é referido que os professores portugueses do 3.º ciclo passam 766 horas por ano nas escolas (menos 426 horas que a média dos colegas do mesmo nível de ensino da OCDE) e os do secundário 696, isto é, menos 432 horas.
No meu caso particular, e referindo-me apenas ao ano lectivo que passou (quando ainda não estavam em vigor as actuais regras de aumento da componente não lectiva), fiz as contas que se seguem. Só em aulas, passei na escola uma média de 22 horas por semana, o que equivale a um total anual de 660 horas, tendo em conta que o ano lectivo 2004/2005 teve, devido aos problemas iniciais, apenas 30 semanas de aulas. Depois há que acrescentar uma média de "só" 5 horas semanais em reuniões, o que perfaz mais 150 horas anuais. Se a isto somarmos mais uma média de somente 2 horas semanais (60 anuais) correspondentes a horas de furo no horário aproveitadas para correcção de testes, marcação de faltas e restante trabalho de Direcção de Turma, dá um total de 870 horas anuais apenas em tempo de aulas. Finalmente, há que não esquecer os dias que tive que ir à escola, já depois das aulas terem terminado, nos meses de Junho e Julho, para trabalhar nas provas globais, exames nacionais, matrículas, finalização do PCT e outras burocracias, num total de cerca de 120 horas (8 horas x 15 dias). Assim, fazendo as contas por baixo, no ano transacto devo ter passado na escola, pelo menos 990 horas, o que está longe das 766 que o estudo da OCDE refere...
Claro que por causa de uns (que pouco trabalham na escola e que já têm reduções e outros benefícios) "pagam" os outros, geralmente, os professores mais novos. Deve ser o meu caso. Ora, tendo em conta que este ano vou ter 8 turmas (quase 200 alunos) e outros tantos conselhos de turma todos os meses, mais as horas correspondentes à componente não lectiva que a escola institui, devo chegar às 1100 horas anuais. Ou seja, estou perto dos melhores números da OCDE...
Ah, já agora, e sabendo que não são horas passadas na escola, só quero acrescentar 2 horas diárias passadas ao volante, o que dá um total de quase 400 horas anuais. Pois é, os números também enganam...

segunda-feira, 12 de setembro de 2005

A semana do início de aulas

O DN apresenta hoje como tema de capa a abertura do novo ano lectivo. É uma reportagem que vale a pena ler para quem quer estar a par das novidades anunciadas por este Governo ao nível da educação.
Já todos sabemos da intenção corajosa de ter as escolas do 1º ciclo abertas até às 17.30H (apesar de apenas 33% delas o façam este ano), da medida que introduz o inglês nos 3º e 4º ano de escolaridade, do encerramento das escolas que têm poucos alunos no 1º ciclo, da implementação do regime de substituição de aulas e da generalização dos exames do 9º ano. Se há que elogiar algumas das medidas, outras continuam envoltas numa nebulosa, onde as dúvidas são mais que muitas.
Entretanto, os programas curriculares continuam intocáveis, o que faz com que tenhamos um 3º ciclo do ensino básico onde seja possível que os alunos tenham 15 áreas curriculares, mais o desporto escolar e os clubes em que se inscrevem. Resultado: temos disciplinas apenas com um bloco semanal de 90 minutos, onde, para se cumprir o programa curricular, temos que "andar" à velocidade da luz, isto já para não falar de alguns conteúdos completamente inócuos que têm de ser leccionados (pegue-se no programa curricular de Ciências Físico-Químicas do 7º ano de escolaridade para se perceber do que falo)... Poderia ainda falar do estatuto da carreira docente (que continua a precisar de reforma), dos procedimentos a nível disciplinar (que parecem "defender" os alunos indisciplinados), do desgaste do decreto 319/91 (que "banaliza" o estatuto dos alunos com necessidades educativas especiais) ou da vergonha que se assiste ao nível da formação contínua de professores, com acções de formação que de formação não têm nada; enfim, muito mais haveria para dizer...
Na minha escola e até sexta-feira é tempo de continuar com reuniões de departamento e dar início aos conselhos de turma, para melhor conhecer alunos e colegas, assim como uniformizar critérios de procedimento. No final da semana o trabalho começará a sério...

sábado, 10 de setembro de 2005

Diferentes entre iguais

Todos os anos, com o início de um novo ano lectivo, há um tema de conversa que costuma vir sempre à "baila" no meu grupo de amigos: o estatuto da carreira docente. E, isto porquê? Muito simples. É que uns de nós somos professores do 3º ciclo e ensino secundário, enquanto que outros são educadores de infância ou leccionam no 1º ou 2º ciclos do ensino básico.
Ora, a conversa que todos os anos é recorrente anda à volta do estatuto que rege as nossas carreiras. Enquanto que uns defendem a actual uniformização de direitos e deveres entre professores de diferentes ciclos de ensino, outros há (como eu) que são a favor que, tal como existe uma carreira específica de docente universitário, distinta da do docente do politécnico, também deveriam existir carreiras diferenciadas para professores que leccionam em ciclos distintos: ser educador de infância não é o mesmo que ser professor de alunos do 12º ano de escolaridade.
Aliás, sem querer ofender ninguém, penso que, em termos de exigência e de responsabilidade, um docente do ensino secundário está muito mais próximo do que se exige a um docente universitário do que aquilo que se pede a um educador de infância ou professor do 1º ciclo. Bem sei que este é um assunto delicado, mas não percebo o que levou, há quinze anos atrás, o Ministério da Educação de então a colocar no mesmo "saco" educadores e professores de níveis diferentes. Os enfermeiros também não se regem pelo estatuto dos médicos. Aliás, até têm sindicatos diferentes...
Não tendo nada contra os educadores de infância e os professores do 1º ciclo, até porque desempenham uma função primordial na formação das nossas crianças, penso que não faz sentido termos 12 anos de escolaridade mais o ensino pré-primário assentes numa única carreira profissional. O que é diferente deve ser distinguido e não encapotado...
Por isso, penso que se deveria criar um novo estatuto da carreira docente, que abarque apenas os docentes do 3º ciclo e do ensino secundário. Ficaríamos, desta forma, com um regime para os educadores de infância e docentes do 1º e 2º ciclos e um regime diferenciado para os professores do 3º ciclo e secundário. Assim, voltaríamos ao que sempre esteve instítuido (e bem, quanto a mim) até 1990, quando o então Ministro da Educação Roberto Carneiro optou pelo actual regime....
Entretanto, as nossas conversas de café sobre o estatuto da carreira docente lá irão continuar...

terça-feira, 6 de setembro de 2005

Duzentos alunos e mais algumas novidades!!!

Ao meu oitavo ano de serviço, eis que, pela primeira vez, sou chamado a leccionar Geografia a oito turmas de quatro níveis diferentes. Algum dia haveria de calhar, tal tem sido a tendência, nos últimos anos, para a diminuição da carga horária da disciplina que lecciono.
Não é que me esteja a queixar, pois, pelo menos não serei Director de Turma, nem terei que leccionar nenhuma área curricular não disciplinar (que alívio!), mas tenho a convicção de que este não será uma ano lectivo facilitado, ainda para mais quando me encontro a frequentar um curso de mestrado. Mas, enfim, quem corre por gosto não se cansa. Espero eu...
Assim, na reunião de departamento de hoje, apesar de ainda não ter recebido o meu horário, fiquei a saber que terei que leccionar Geografia a turmas dos 7º, 8º, 9º e 10º anos de escolaridade, o que perfaz um total que quase duas centenas de alunos. Vai ser bonito para "fixar" o nome de tantos alunos! Lá para o final do terceiro período espero saber o nome de todos...
Quanto ao resto da reunião, acho que não houve nada de novo: planificações, critérios de avaliação, critérios de correcção de testes, apresentação de propostas para o plano anual de actividades... Enfim, a burocracia do costume.
Ah, já me esquecia! Afinal, sempre há novidades. A escola tem um GOA (Gabinete de Ocupação de Alunos), para onde estes se dirigem quando são expulsos da sala de aula, o que acho muito bem, para além de que não vão existir os chamados "feriados" para os alunos, pois esta escola já funciona em regime de subsituição de professores, quando os docentes faltam. A ver vamos como funciona esta medida...
Quanto ao resto, o Ministério da Educação obrigou a que todas as escolas tivessem estipulado 35 horas no horário dos professores, sendo que na minha escola ficou assente que terei 24 horas de componente lectiva, 7 de trabalho individual e 4 destinadas a reuniões. Será que esta nova medida tem como objectivo que os professores não levem trabalho para casa??? Se sim, não me acredito que seja desta que chego a casa e me "desligo" da vida da escola.
Pois é, afinal sempre houve novidades...

sábado, 3 de setembro de 2005

Novidades nas regras de colocação de professores...

José Sócrates decidiu-se por anunciar no comício da "rentrée" política do PS, no Porto, que no próximo ano lectivo as regras de colocação de professores irão sofrer alterações, com a possibilidade das colocações terem um prazo de validade de três ou quatro anos consoante o ciclo de ensino.
Apesar de não compreender o timing e o local escolhidos para fazer tal anúncio (talvez o Conselho de Ministros ou a Assembleia da República fossem o local apropriado para dar a conhecer aos portugueses esta notícia), sou da opinião que esta poderá ser uma medida importante no sentido de tornar o corpo docente mais estável ao nível das escolas.
No entanto, não convém deitar foguetes antes da festa, até porque os resultados desta medida dependem em muito da forma como tal alteração vai ser efectivada. Será que a nova medida apenas se vai aplicar aos quadros de escola ou também aos quadros de zona? Se é bom para as escolas terem os mesmos professores durante três ou quatro anos, no caso destes serem de longe haverá benefícios para o processo de ensino-aprendizagem com professores descontentes com a sua colocação? Haverá horários e vagas permanentes para todas as escolas ou será que vamos continuar a ter horários zero com este tipo de alteração? Enfim, a ideia e os objectivos desta medida são de louvar, mas ainda é cedo para grandes euforias...
Como fez S. Tomé, o melhor é ver para crer...

quinta-feira, 1 de setembro de 2005

Depois das férias, um novo ano lectivo...

Pois é! As famigeradas listas de colocação de professores lá saíram com um dia de antecedência relativamente ao último anúncio (o que não é nada de extraordinário) e a angústia e revolta retornaram ao estado de espírito de milhares de famílias, umas devido ao anúncio de uma não colocação, outras devido à obrigação da separação do casal, outras porque o horário que lhes calhou em "sorte" não dá para as despesas... Enfim, o costume!
Eu cá não me posso queixar muito e já fico "contente" por, no próximo ano lectivo, ir leccionar para uma escola que fica a menos de uma hora de caminho de casa. Vai ser um ano complicado, com a obrigação de fazer todos os dias 140 Kms, ter de almoçar fora de casa, compatibilizar o trabalho da escola com a frequência de um curso de mestrado, mas, como diz o povo (e muito bem!) "quem corre por gosto não se cansa".
Hoje foi o dia de apresentação na escola e amanhã é hora de começar a conhecer mais de 100 colegas e o horário que me será atribuído. Terei turmas do 3º ciclo ou do secundário? Serei Director de Turma? Será que vou leccionar Estudo Acompanhado ou Área de Projecto? As perguntas do costume...
Entretanto, os sindicatos, depois de terem estado fechados para férias, aproveitam-se, agora, dos problemas e frustrações de milhares de professores e candidatos a professores deste País, para começarem com a estratégia habitual: fazerem barulho, anunciarem greves, realizarem manifestações, etc. Aos milhares de desempregados agora anunciados resta-lhes fazerem pela vida...