Ontem dei-me ao trabalho de fazer uma pequena pesquisa sobre alguns dados relacionados com o desenrolar do processo de ensino-aprendizagem que tenho vindo a desenvolver desde que dou aulas, já lá vão dez anos.
Fui consultar os dez livros do professor que tenho guardados e retirei de lá dois dados interessantes: a evolução do número de alunos a quem leccionei Geografia no ensino básico e a evolução do número de níveis negativos atribuídos neste ciclo de ensino. Dêem uma vista de olhos aos dois quadros...
Em relação ao número de alunos que tive é notório um aumento significativo de há cinco anos para cá. Com a redução da carga lectiva de Geografia no ensino básico torna-se evidente a necessidade de ter mais turmas de Geografia para preencher o horário do professor. Por outro lado, basta num determinado ano lectivo não ter nenhuma turma do ensino secundário para que o número de alunos inflacione até às duas centenas.
Em relação aos níveis negativos atribuídos verifica-se que, grosso modo, a tendência é para a sua redução, mais significativa nos últimos quatro anos, a rondar uma média inferior aos 20%. É curioso notar que o ano em que dei mais negativas foi precisamente um dos anos em que menos alunos tive (apenas 55), o que permite indicar que não tem de haver uma ligação directa entre sucesso educativo e o número de alunos a quem se dá aulas. Penso que o principal factor responsável pela melhoria das notas estará no funcionamento de cada escola (sobretudo em termos pedagógicos), apesar de que a redução do número de alunos poderá contribuir para um elevamento do sucesso... Por outro lado, não podemos ser ingénuos e escamotear o facto de que, hoje em dia, com as actuais directrizes (formais, mas sobretudo as informais) emanadas do Ministério da Educação começa a ser muito mais complicado atribuir níveis negativos aos alunos, até porque de há uns anos para cá têm-se vindo a privilegiar a aquisição de competências (do saber, mas também do saber-fazer e do saber-ser) e não tanto a aquisição de conhecimentos, o que permite que um aluno, apesar de poder ter nos conhecimentos uma média a rondar os 35% possa, não se comportando mal, obter uma média final de quase 50%, o que lhe permite chegar facilmente à positiva...
Enfim, convém de vez em quando reflectirmos sobre aquilo que temos feito...
7 comentários:
Olá.
Já fiz o mesmo teste e cheguei às mesmas conclusões... Tenho privilegiado muito as atitudes e valores.
Bom fim de semana.
Fica bem
Eu vou escandalizar, mas comigo foi sempre assim:
Nunca me considerei só professora, mas educadora também, sempre me preocupei com os valores, mas a minha disciplina - Matemática - não é uma disciplina de Moral ou Ética. Quanto a certas atitudes que são definidas como contando para a avaliação, sempre desobedeci a isso. Fomentei as atitudes e elas reflectem-se naturalmente nas aprendizagens. Mas, chegados os momentos de avaliação sumativa - classificação -, se não se reflectiram suficientemente para que um aluno adquirisse os conhecimentos mínimos essenciais e o desempenho na disciplina minimamente necessário, a nota era negativa, não eram as atitudes que a iam fazer subir.
Aliás, algumas vezes perguntei em conselhos de turma, quando vinham os argumentos das atitudes para dar nota positiva ao aluno cujos conhecimentos andavam nos 30%-35%, que instrumentos usavam os colegas para avaliar certas atitudes: Como estavam tão seguros de avaliar por exemplo o interesse ou a autonomia a ponto de modificarem a avaliação objectiva, que era negativa?
Bem, eu sempre fui desobediente em várias coisas. Mas, se calhar, empreendi mais o desenvolvimento de atitudes (não se calhar, tenho consciência de que empreendi e muito), apesar de no final elas não serem decisivas, do que empreendiam muitos professores que tanto evocam atitudes para subir notas.
P.S.
Também nunca penalizaria um aluno na nota por causa de algum mau comportamento ou por ter tido algum processo disciplinar. A sanção tem o seu lugar, mas não na nota da disciplina.
Concordo inteiramente com a IC. Quem sabe do que fala, não tem papas na língua. Muito bem!!!
Concordo que a avaliação é um todo como tratam as ciências da educação. Avaliar não é só verificar se o aluno corresponde nuns testes mas também se corresponde como cidadão duma sociedade para a qual tem que se integrar.Não podemos criar monstros capazes de e para atingir os seus fins não olharem a meios.A educação é um todo.Concordo também com este olhar sobre o que se vai passando ao longo destes últimos anos.
Olha, dessa não me lembrei eu... fiz as médias deste ano, mas ainda não me dei ao trabalho de fazer a comparação com os anos anteriores...
Beijos
Muito interessante os vossos comentários.
Já agora consultem:
http://sol.sapo.pt/blogs/xptopbl/default.aspx
Atentamente, Alex. S.
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