Santana Castilho tem um problema. E custa-lhe viver com esse problema: o de não ter sido convidado por Passos Coelho para Ministro da Educação. Por isso, desde que este Governo tomou posse que Santana Castilho tem aproveitado todas as oportunidades que lhe surgem (na crónica habitual do Público, nas conferências para as quais é convidado, nas aparições na SIC Notícias, entre outras) para criticar Nuno Crato. Agora, quando a crítica construtiva passa a ódio de estimação, as meias-verdades, os erros, as omissões e os equívocos começam a multiplicar-se.
A última crónica de Santana Castilho no Público, da última quarta-feira, é disso exemplo. A raiva que Santana Castilho nutre por Crato é de tal ordem que o autor não deve ter feito a revisão da sua crónica e os equívocos são evidentes. A crónica socorre-se da última publicação "Education at a Glance" da OCDE para arrasar com a política de Nuno Crato. Mas, vamos aos principais equívocos:
Equívoco 1 - Santana Castilho dá a entender que o facto das escolas terem perdido parte da sua autonomia na tomada de decisões foi culpa de Nuno Crato. Errado. O relatório mostra que entre 2007 e 2011, ou seja, durante os governos de José Sócrates a autonomia das escolas passou de um peso de 43% para 27% no total das decisões tomadas. Ora, como sabemos, no período em análise, tivemos duas Ministras da Educação, Lurdes Rodrigues e Isabel Alçada, senhoras responsáveis por essa perda de autonomia. Mas, mais importante do que esta constatação, que Santana omite, seria o de avaliar até que ponto é que o aumento da autonomia significa melhor escola. Esta relação causa-efeito está por provar em Portugal, quando sabemos das injustiças e imoralidades que foram cometidas quando as escolas passaram a poder contratar os seus professores através das ofertas de escolas e reconduções. Por outro lado, de que forma é que podemos ter exames nacionais se, por acaso, se decidir pela possibilidade das escolas poderem escolher os programas das disciplinas ou a sua carga horária com livre arbítrio. Volto a afirmar: entre um centralismo burocrático e lento e uma autonomia parcial e injusta, prefiro a primeira opção...

Equívoco 3 - Santana Castilho volta a confundir os leitores do Público quando se socorre dos dados do relatório da OCDE para afirmar que se prevê um aumento dos alunos até 2015. E diz esta barbaridade: "Nas projecções que estabelece para 2015 (gráfico C1.3) consta um decréscimo de alunos (dois por cento) na faixa etária dos cinco aos 14 anos, largamente compensado com o acréscimo (10 por cento ou mais) para a classe dos 15 aos 19 anos". A expressão "largamente compensado" é de um descaramento toral... Ora, Santana Castilho deveria saber que a redução de 2% nos quase 1200000 alunos do ensino básico corresponde a uma perda de cerca de 24000 alunos, o que praticamente compensa o optimista aumento de 10% previsto para os cerca de 270000 alunos que temos no ensino secundário! Ora, se tivermos em conta que a OCDE também aponta uma redução nos alunos entre os 20 e 29 anos a acrescentar aos cortes na educação e formação de adultos, não será descabido prever uma efectiva redução do número de alunos para 2015 e anos seguintes. Ainda para mais quando a natalidade tenderá a não aumentar, assim como a imigração, ao passo que a emigração poderá continuar a subir.
Equívoco 4 - O aumento da escolaridade obrigatório até aos 18 anos é, muitas vezes, confundido (e Santana Castilho insiste nessa confusão) com o aumento da escolaridade obrigatório até ao 12º ano de escolaridade. A primeira é verdade; a segunda não o é... Ora, Santana Castilho dá a entender que todos aqueles que estão agora no ensino básico irão continuar os estudos até ao final do 12º ano de escolaridade, o que, certamente, não se concretizará. Basta recordar os alunos que chegam ao 9º ano escolaridade com duas ou três retenções e que optam por não prosseguir estudos, preferindo entrar logo no mercado de trabalho. Outra omissão protagonizada por Santana Castilho na lógica de confundir e baralhar...

Equívoco 6 - Santana Castilho afirma que no final do mandato de Nuno Crato teremos alunos menos autónomos e felizes. Não sei com que bases é que sustenta este seu prognóstico, mas o reforço dos exames nacionais e o aumento da disciplina e da exigência na escola não me parece que venha a ser mau para os alunos. Quanto muito, talvez Santana Castilho se quisesse referir a professores menos autónomos e menos felizes: quanto à felicidade docente, talvez tivesse razão, mas o Ministério da Educação não existe para provocar felicidade nos professores, mas sim para formar e educar jovens...
Com este tipo de artigos, Santana Castilho entra numa autêntica espiral de manifesto anti-Crato e ao socorrer-se das meias-verdades, das omissões e das confusões, começa a perder o discernimento e a credibilidade, situação semelhante à ocorrida nalguns dos mais conhecidos blogues de educação da blogosfera. É pena...
Fica aqui o artigo de Santana Castilho e as afirmações duvidosas a vermelho!