terça-feira, 11 de setembro de 2012

A entrevista de Nuno Crato à TVI

Vi a entrevista de Nuno Crato à TVI e, sinceramente, pareceu-me que o Ministro tentou demonstrar até que ponto se pode tentar não prejudicar o sistema educativo, ou mesmo melhorá-lo, apesar de se ter que avançar com cortes na Educação (como sabemos, provocados pelos constragimentos financeiros que o país atravessa). Sintetizo a entrevista em duas palavras: realismo e exigência...
Vamos aos pontos essenciais da entrevista:
Tema 1: o desemprego entre a classe docente. Crato esclareceu que, apesar de todas as mudanças ocorridas em termos da adopção de novas regras na organização do novo ano lectivo, não se verificou a hecatombe anunciada pelos sindicatos. Não houve uma redução de 25000 docentes contratados, mas sim de cerca de 5000 comparando com o ano anterior. Não referiu que estas mudanças tinham a "mão" da troika, mas poderia tê-lo feito, visto que todos sabemos que o memorando assinado pelo PS tinha incluído uma forte redução nas despesas com a educação. E talvez tenha sido demasiado forte (eu diria que foi frontal e directo) quando afirmou que o Ministério não pode contratar todos os candidatos a professores. É verdade que há milhares de candidatos a professores (falou em 40000), mas também há alguns milhares que são professores com horário completo há mais de dez anos. Para estes referiu-se mais tarde a propósito da possibilidade de vinculação, mas também poderia ter criticado os seus antecessores (os governos de Sócrates nada fizeram em relação a estes docentes!), coisa que não o fez. Ficou-lhe bem...
Tema 2: a redução do número de professores necessários. Crato chamou a atenção de que não temos professores a mais. Disse que na entrevista ao Sol não o tinha dito e isso é verdade. Por outro lado, afirmou que conta com todos os professores do quadro, o que inviabiliza o risco da mobilidade especial para os colegas de horário zero. Mas, os que o criticam fazem "orelhas moucas" a esta questão. Referiu que nos últimos três anos houve uma quebra de 200000 alunos (14%). Os dados publicados apenas vão até 2010/11, mas consultando os dados do GEPE ficamos a saber que entre 2008/09 e 2010/11 a descida foi de quase 83000 alunos. Crato terá os dados do ano lectivo 2011/12 que, certamente, continuam a apresentar uma redução no número de alunos, muito por via do "apagão" verificado no programa das "Novas Oportunidades", pelo que poderá não estar longe da verdade. Contudo, Crato não explicou a verdade toda, dando a entender que a redução de alunos se verificou nos jovens, omitindo que grande parte dessa redução se verificou nos adultos (das Novas Oportunidades e do Recorrente). Contudo, dada a quebra na natalidade, o aumento da emigração e as alterações provocadas nas Novas Oportunidades, parece-me claro que o número de alunos será uma certeza nos próximos anos. Só não vê isso quem não quer.
Tema 3: as contratações de professores no futuro. Crato não enganou ninguém e foi bastante claro. Dada a reduação do número de alunos e as alterações na distribuição de serviço docente, as contratações nos próximos anos serão escassas. "Apenas serão contratados os professores estritamente necessário". Em tempos de crise quem não concorda com isto?
Tema 4: as trapalhadas nos concursos, com casos de possíveis "amiguismos" e cunhas. Crato referiu que nos casos em que isso aconteceu, cabe ao professor prejudicado reclamar. Ora, pareceu-me que a sua resposta foi demasiado simplista e até algo ofensiva para os docentes prejudicados. Omitiu que muitas destas injustiças se devem ao excesso de autonomia que foi dada às escolas, tanto ao nível das reconduções, como das ofertas de escolas, para além de que a burocracia, nestes últimos casos, são uma vergonha. Deveria ter dito que têm ocorrido casos, no mínimo estranhos, que merecem investigação e punição. A incompetência não pode morrer solteira e todos os anos ocorrem irresponsabilidades sem culpados. O mesmo acontece com os concursos nacionais. Ora, estas situações não podem ocorrer e têm de ser solucionados, com responsbilização dos culpados...
Tema 5: o número de alunos por turma. Neste ponto só não ficou esclarecido quem tem a visão curta das coisas. Crato explicou-se bem (afinal é matemático!), tendo demonstrado que o limite máxico de alunos passou para 30, mas que a média até está nos 20 alunos. Abordou a questão das assimetrias regionais e a lógica da rentabilização dos recursos, em tempo de crise, para provar que esta alteração não é assim tão gravosa como se quis passar. Veja-se o caso de Espanha que alterou para um máximo de 36 alunos por turma.
Tema 6: a vinculação extraordinária de professores. Crato esfriou aqueles que já estavam com grandes expectativas em relação a este ponto (por incúria da FNE) e deu a entender que esta vinculação será excepcional e que apenas se aplicará a casos estritamente necessários. E, claro, tudo será resolvido aquando do concurso geral de professores.
Tema 7: o sucesso escolar. Crato esboçou um grande sorriso quando se deixou de falar em professores e se passou a falar de alunos. Pareceu ficar aliviado, mas não lhe ficou muito bem... Mas acredito que foi um alívio sentido e não propositado, até porque a questão das contratações de docentes deve estar mais do lado do seu colega Gaspar (apesar de ser Crato a dar a cara), mas também acredito no Ministro quando este afirmou que aceitou o convite de Passos Coelho para este cargo pensando nos alunos e no que poderia fazer com vista a melhorar os índices do sucesso escolar. Desmultiplou-se em explicações acerca das metas curriculares, da avaliação externa mais frequente, do aumento da exigência, da aposta em mais apoios e do reforço da autoridade do professor, por forma a que o sucesso escolar não se atinja através do facilitismo. Aqui não há novidade: é o enterro do eduquês...
Tema 8: os ensinos vocacional e profissional. Crato focou um aspecto importante que tem sido omitido: este tipo de ensino não é obrigatório, ao contrário do que muita gente fez crer. Explicou-se bem, enunciando as vantagens dos alunos com maiores dificuldades em terem uma via alternativa no final do 2º ciclo que lhes permita o contacto com três profissões.
Tema 9: o ensino superior. Não resvalou e apelou à responsabilização dos alunos (aquando da escoha de um curso superior) e das próprias instituições (a propósito do financiamento e do reforço da empregabilidade).
Em termos gerais, e adoptando a antiga técnica de Marcelo Rebelo de Sousa, daria 16 valores à prestação de Nuno Crato. As suas falhas prendem-se com a omissão de alguns dados mais concretos (sobretudo os respeitantes à redução do número de alunos), a incapacidade para assumir as trapalhadas que houve em relação aos "horários zero" e aos concursos e o facto de não ter assegurado que os responsáveis pelos erros que têm ocorrido nas contratações de professores seriam devidamente responsabilizados. Os pontos fortes prendem-se com o realismo da situação que vivemos e a preocupação que teve em demonstrar que nos esperam tempos difíceis, mas que é importante que a exigência na escola seja recuperada depois dos desastres ocorridos durante a vigência da política do eduquês...     

22 comentários:

Anónimo disse...

Quem é você? Que blogue é este? Amigo pessoal de Nuno Crato? Gaba-lhe o sorriso quando se fala de coisas «humanamente preocupantes»? Quando achamos que já vimos de tudo nesta vida...

Anónimo disse...

Como se nota que não foi devidamente informado:
http://publico.pt/Educa%C3%A7%C3%A3o/previsoes-da-ocde-contrariam-nuno-crato--1562526


Não tem de quê. Sempre ao dispor.

Pedro disse...

E você, anónimo, não tem nome?
Amigo pessoal? Que disparate...
E não lhe gabei o sorriso, não. Bem pelo contrário. Até referi que o gesto não lhe ficou bem. Não deturpe as minhas palavras...

Pedro disse...

Ao segundo anónimo:
A notícia fala de alunos entre os 15 e os 19 anos de idade. Crato referiu-se ao número total de alunos e não a um pequeno segmento. Não deturpe a informação. E não precisa de agradecer a explicação.

Anónimo disse...

Fantástico! Diz, no seu post, que só não ficou esclarecido quem tem vista curta (cito de cor porque não me apetece ler outra vez os dislates)relativamente ao número de alunos por turma ser em média de 20. Muito bem: o mínimo de alunos por turma é 26, o máximo 30. Esta média de 20 aparece como?! Diz que o ministro se explicou bem porque é de matemática...E o senhor deve ter percebido bem porque é de hermenêutica! Não faça favores. Ou faça-os em privado. Em público prestar vassalagem desta forma...vou ser suave e dizer que lhe fica mal. Há conceitos essenciais: honestidade intelectual, verticalidade...tudo que lhe é alheio

Pedro Osório

Anónimo disse...

Subscrevo inteiramente o seu post. Parabéns pela análise racional aos temas.

Alexandre disse...

Caríssimo,

Nem vou discutir o resumo da entrevista do Ministro nem os comentários que fez quanto ao sua atuação.

Sinceramente há algo mais importante que sobressai. O sucesso de qualquer organização está assente na motivação das pessoas na "linha da frente", sem isso, infelizmente, é para esquecer todas as estratégias que se delineia. Se não acredita, veja ao que o país chegou, pela terceira vez.

É aqui que o Ministro e os que antecederam erraram.

Os melhores cumprimentos,

Pedro disse...

Pedro,
A média é de 20 alunos/turma. A explicação parece-me ser muito simples de lhe apresentar.
Como sabemos ainda subsistem muitas escolas no país com um reduzido número de alunos e que necessitam de abrir turmas com menos de 26 alunos para funcionarem. Isso acontece sobretudo no 1º ciclo (dou-lhe o exemplo da minha esposa que tem uma turma de 10 alunos), mas também no secundário, nomeadamente ao nível das opções. O mesmo ocorre com o básico. Dou-lhe o meu exemplo: este ano vou ter seis turmas a meu cargo, num total de 122 alunos (ou seja, uma média de cerca de 20 alunos/turma). Portanto, apesar do mínimo definido ser de 26 alunos/turma, quem é professor sabe que a maioria das escolas pedem autorização às DRE`s para abrirem turmas com um número de alunos inferior a 26 alunos.
Esta situação deve-se, como disse Crato, às assimetrias regionais e à necessidade de rentabilização dos recursos. Portanto, não duvide que a média de alunos por turma andará à volta dos 20 ou 21 alunos.
Claro que há diferenças, tanto em termos da dicotomia dos meios onde as escolas se inserem (urbano ou rural), como dos níveis de ensino (básico ou secundário), mas é a realidade que temos...
Quanto à vassalagem, bastará que leia com atenção os posts que escrevo para perceber que apenas tento dar a minha opinião de forma simples: criticar quando acho que devo criticar e elogiar quando acho que é justo elogiar. Chama-se a isto imparcialidade e capacidade de ver as coisas para além da crítica fácil e mal-dizente!!!

Pedro disse...

Alexandre,
a necessidade de motivar aqueles que estão na linha da frente (os professores) não deve servir de desculpa para que se esconda a realidade das coisas. Ora, há que dizer as coisas como elas são: o país esteve à beira da bancarrota e agora estamos dependentes da troika. Portanto, os cortes são necessários...
Ao nível da educação, você lá terá a sua opinião e eu tenho a minha. A minha tenho-a apresentado aqui neste blogue: quando acho que devo elogiar, faço-o, tal como quando penso que devo criticar. Tento não ver só um dos lados da "barricada"...
Quanto a quem errou, concordo consigo que os antecessores de Crato erraram muito. Quanto a Crato, podemos agora dar palpites e opiniões, mas certezas só no fim do seu mandato...

Alexandre disse...

Pedro,

Se este Ministro tivesse vindo a público, claramente afirmar que os cortes que se têm feito e continuarão são apenas pelas condicionantes económicas, ótimo. Mas não! Anda sempre com paninhos quentes!

Não conheço organização de sucesso que realize mudanças de fundo na sua orgânica de funcionamento sem discutir com quem trabalha diariamente nesses locais. Ele e todos os outros têm feito?

Não serve de desculpa!!!!
Uma coisa não tem relação com a outra.
Pedro fazer o mais fácil todos fazem, ser diferente e criar outros caminhos, isso não é para todos.
Não quero com isto dizer que eu não cortava, até porque se pensasse o contrário corriam-me logo de lá!!!!!
Agora em vez de mandar emigrar, que tal um esforço por criar parcerias com outros países para receber professores do quadro (uma bolsa de professores, tipo Erasmus), por exemplo, que estivessem dispostos a trabalhar noutro país (naturalmente naqueles que precisam de docentes), possibilitando uma atualização de conhecimentos, estratégias e experiências de trabalho que quando regressassem pudessem servir o interesse da comunidade educativa. Não seriam milhares, mas sempre mostrava outra capacidade de gerir os interesses de todos. É só um exemplo mas haveriam mais.

Essa da "barricada" passou-me completamente ao lado.

Por fim, fala de erros. Errar faz parte da vida, no entanto, este Ministro fez claramente uma opção, sobrevalorizar determinadas áreas em relação a outras, e isso sim considero um erro que nos vai custar muito caro no futuro. Mas não culpo apenas ele mas praticamente todos os países da Europa e outros mais. Uma sociedade vive da sua diversidade. Tenho pena que esta escola reprime a criatividade das crianças e penaliza a sua liberdade de escolha.
Já leu o "Choque do Futuro" do Alvim Toffler? Ele tem uma frase muito peculiar e que resume muito do que penso: "The illiterate of the 21st Century will not be those who cannot read or write, but those who cannot learn, unlearn and relearn".

Os melhores cumprimentos,

Pedro disse...

Alexandre,
estou de acordo com muito do que diz. Apenas uma ressalva: penso que é possível fazer um equilíbrio entre os cortes (já assumidos por Crato) e a melhoria do sucesso e exigência escolares (objectivo também assumido por Crato).
A forma de se chegar a esse equilíbrio não é unânime, nem única. Existem alternativas. O Alexandre enunciou uma interessante.
O Ministro fez opções, umas passíveis de serem criticadas, outras de serem elogiadas.
Quanto a discutir com os que estão nas escolas??? Nesse ponto tenho uma ideia muito firme: aqueles que dizem representar os professores não estão nas escolas e muitos nem dão aulas há dezenas de anos. Já estou cansado de tanto ouvir falar o Nogueira!!!
E não considero que Crato ande com paninhos quentes. Ontem, até foi bastante frontal e assumiu que o país não tem condições para contratar professores para além dos estritamente necessários.
De resto, podemos ter diferentes pontos de vista, mas há quem no nosso meio só admita um ponto de vista e fique com urticária de ouvir outras perspectivas das coisas...
Os melhores cumprimentos e volte sempre...

Alexandre disse...

Pedro,

Falar com os professores. Do ato de ensinar é com os professores.
Deixe os sindicatos tratarem apenas das condições laborais. Ponto. Era isso que faria.

Passou mais de um ano para assumir isso.
É muito tempo.

Os melhores cumprimentos,

Agnelo Figueiredo disse...

Penso que a sua análise é correta e marcada pela racionalidade.
Tendo a concordar com a globalidade.
Uma nota para lhe dizer que as escolas não têm excesso de autonomia.
Em matéria de contratações e gestão de pessoal deveriam ter muito mais, como forma de estabilizar o corpo docente e otimizar recursos.
Sem prejuízo da transparência, como é óbvio.

Luísa disse...

Pedro costumo vir aqui ler-te mas sem comentar. Mas o debate que suscitaste merece os meus parabéns. Continua assim e vai-te a eles.

Anónimo disse...

Caros colegas

Gosto de trabalhar na sala de aula com os alunos, mas estou saturado das conversas na sala de professores (onde raramente entro) e em reuniões (onde vou porque sou obrigado). Em vez se falar sobre temas académicos ou estruturantes, a conversa reduziu-se a uma lamúria constante.

No tempo de António Guterres, quando os salários eram aumentados anualmente, reduzida a permanência nos escalões, uma avaliação com 2 ou 3 páginas de autoelogios, as acções de formação resumidas a uma declaração a dizer que o docente se inscreveu mas não foi realizada e se comprou em saldo anos de serviço, somente ouvia falar de futebol, sapatos e roupas.
Quando nos atascámos no pântano, passou-se apenas a falar mal da ministra e do governo e se alguém discordava da demagogia fácil então era catalogado de “amigo do/a ministro/a”.

Surpreende-me (ou talvez não) o tipo de comentários de colegas e educadores da geração dos meus filhos. Fico triste com a falta de honestidade intelectual e ausência de memória de um passado não muito distante em muitos desses comentários, para além da facilidade em descair para a ofensa pessoal em vez de rebater ideias.

João

Romeu Gerardo disse...

Apenas um pequeno comentário relativamente a análise do seu tema 9. Afirma que não resvalou? Tem a noção que existem diversos cursos nos quais apenas 10% das vagas de 2012/13 foram preenchidas e estão situados em instituições superiores num raio de menos de 10km? Tem a noção de que o Estado e como óbvio o contribuinte português vai continuar a financiar cursos com baixa empregabilidade? Tem a noção que o Estado não cortou, nem vai cortar, o financiamento de cursos para via ensino? São apenas alguns pontos que lhe chamo à atenção, por isso, tenha cuidado e não seja hipócrita perante fatos reais e que revelam da sua parte lacunas de conhecimento extremamente graves.

Anónimo disse...

Vamos lançar a bomba atómica...

A verdadeira bomba atómica, para mostrar verdadeiramente a nossa indignação, é aquilo que vou expor de seguida e que há anos ando a dizer aos sindicatos (aquela treta que nos representa!!!

1º - ignorar a benesse da isenção parcial de horário que só serve para que ainda trabalhemos mais (muitíssimo mais) em casa do que aquilo que deveriamos e com os nossos recursos (computadores, internet, fotocopiadora, resmas de folhas, esferográficas,...) e fazer todo o nosso horário na escola, com os recursos que esta nos disponibiliza e nas condições em que o faz (a maioria destas não tem salas de trabalho devidamente equipadas nem com espaço suficiente!)
Isto, como é óbvio, em horário completo na escola, entrando às oito e trinta e saindo às cinco da tarde e sem levar uma única folha para casa!

2º - como em qualquer outra profissão, o empregado trabalha com os materiais e equipamentos fornecidos pelo patrão, façamos o mesmo - usemos somente os computadores do estado, as resmas de folhas do estado, as impressoras, e respectivos tinteiros, do estado, requisitemos, inclusivamente, as esferográficas do estado - não se esqueçam de preencher zelosa e criteriosamente as respectivas requisições.

3º - sempre que não houver condições não se faz e pronto, mas devemos SEMPRE ter a intenção de o fazer, eles propõem e nós fazemos, SEMPRE... quando conseguirmos...!

É esta a verdadeira bomba atómica e não outra, é isto que tento dizer aos sindicatos há anos, mas nem eles, nem a maioria dos nossos colegas têm disposição para esta ideia.

Imaginem só,
- o dinheiro a mais que o estado irá gastar em materiais;

- o serviço todo entupido, encalacrado, atrasado e impossível de fazer dentro dos prazos;

- as reuniões intercalares e de avaliação feitas só dentro do horário referido acima e respectivas consequencias;

- as pautas de avaliação do 1º período a sairem só no final do segundo/início do terceiro;

- os encarregados de educação a quererem, no final de um ano lectivo, saber da situação do seu educando e esta não ser possível de transmitir antes do início do ano lectivo seguinte (no meio disto tudo há as férias a que temos direito - marcadas da forma mais díspare possível por cada um de nós);

- imaginem toda a situação de caos vivida de norte a sul do país nas nossas escolas, sendo que no entanto, não mais estariamos a fazer que cumprir na íntegra, de forma zelosa, todos os nossos deveres!

É aqui que nos tornamos intocáveis

CUMPRIR ZELOSA E ESCRUPULOSAMENTE AS NOSSAS FUNÇÕES SENDO QUE EM PRIMEIRO LUGAR VEM A QUALIDADE DO NOSSO TRABALHO COM OS NOSSOS ALUNOS.

Fazemos tudo o que nos pedem, no local de trabalho, durante o horário que nos pagam, com as condições disponíveis, e elevando ao máximo a qualidade do nosso desempenho com os alunos.

Podem-nos exigir mais que isto?

Não, não podem!

É esta a única e possível bomba atómica que podemos, e que nos resta usar - O ZELO

Um abraço e divulguem o mais possível esta ideia

Anónimo disse...

Caro Anónimo 11:27:00 p.m

Concordo com 90% da sua sugestão. Mas não esqueça os restantes 10%: terá que trabalhar presencialmente na escola as mesmas horas durante as interrupções lectivas, tendo apenas direito à (eventual) tolerância de ponto na tarde do dia 24 de Dezembro e lá estará a cumprir as 35 horas semanais dos dias 26, 27, 28, 29, 30 e 31 desse mês. O mesmo no Carnaval, Páscoa e meses de Julho e Agosto, conforme as suas marcações de férias.

João

Pedro disse...

João,
agradeço-lhe as palavras e a forma educada e séria como expôs as suas ideias. Volte sempre...

Romeu,
o exemplo que deu (cursos iguais numa mesma região) foi dado pelo próprio Ministro e concordo consigo. Há que fazer algo em relação a estas situações. E penso que está a ser feito...
Claro que Crato se refugiou na questão da autonomia universitária e da própria responsabilização dos alunos (estes e as suas famílias têm de procurar conhecer o grau de empregabilidade dos cursos quando os escolhem). Quanto aos cursos via ensino e similares, Crato referiu que haveria cortes para cursos pouco procurados.
Já agora, os pontos que me indicou foram apresentados por mim de forma que não julgo hipócrita. Essa "bicada" das lacunas de conhecimento extremamente graves também não as compreendo...

Romeu Gerardo disse...

Meu Caro,

Não compreende pois não está dentro do assunto referido, faz-me lembrar um aluno que defende a sua tese e opina sobre assuntos que não tem conhecimento, logo o resultado é asneira. Nuno Crato nesse ponto comete o erro crasso de afirmar que vai continuar com o financiamento de cursos que nas últimas décadas tem contribuído para os níveis de desemprego e desvalorização da carreira docente. Se afirma que não resvalou é sinal que deve viver certamente num outro mundo.
Eu compreendo as suas boas intenções, aliás gosto da sua frontalidade perante assuntos que muitas pessoas só criticam e neste blogue vemos por vezes o contrário, o que é extremamente de salutar.

Anónimo disse...

...E diz o Sr que é professor...irra!!! Olea...desculpe...mas aqui de onde me vejo, e no agrupamento onde trabalho, tudo parece tão diferente....
Não concordo com a maioria das suas posições, mas pronto... Não tenho de concordar! Elas são suas...não é?

Isabel

Anónimo disse...

A propósito de trabalhar todos os dias exceptuando férias, fins-de-semana e feriados:

É esse o objectivo, não nos pagam também esses dias?

Para a coisa ser feita com legitimidade da nossa parte e para não (mais uma vez) voltar a opinião pública contra nós, é assim que deve ser, mas, acredite, uma bomba destas posta em prática, de forma séria, em todo o país, levaria
- ao recuo de muitas das imbecís medidas que vêm sendo tomadas há décadas em relação à educação
- devolveria o respeito pela nossa classe
- permitir-nos-ia negociar, a sério, e sem necessidade da nulidade que são hoje os sindicatos em Portugal

Um abraço