sábado, 15 de setembro de 2012

A Fenprof quer respostas? Aqui tem as minhas...

Ontem, o Rossio de Viseu foi, uma vez mais, local de animação sindicalista com a Fenprof a animar os transeuntes com frases feitas e músicas de intervenção (foi bom ouvir Zeca Afonso!). Ao passar, uma das sindicalistas chegou-se perto de mim e, muito educadamente, saudou-me e entregou-me um panfleto (este aqui ao lado). Reparei que muitos dos que passavam e recebiam os ditos panfletos os colocavam no lixo sem sequer os lerem.
Fui para umas das esplanadas alí existentes e, enquanto o meu filhote se distraía com as pombas, dei-me ao trabalho de ler o panfleto de fio a pavio.
Pois bem, resolvi gastar 15 minutos do meu tempo a responder às questões que a Fenprof coloca no panfleto. Aqui vão as questões da Fenprof e as minhas respostas: 
- Haverá alguém de bom senso que acredite que para um professor é o mesmo trabalhar com poucos ou com muitos alunos na sala de aula? Não, não é a mesma coisa. Mas, se em Portugal se aumentou o limite máximo de alunos por turma para 30 alunos, convém não esquecer que a actual média é de 20 alunos/turma. E, já agora recorde-se que em Espanha o limite máximo passou para 36 alunos. E, contextualizemos a situação: a troika obriga-nos a cortes e uma das formas encontradas para cortar nas despesas é o de aumentar o limite máximo de alunos...
- Será que, para os alunos, é o mesmo trabalhar só com disciplinas consideradas essenciais – como gosta de dizer Nuno Crato – ou terem outras disciplinas que lhes alarguem a formação e abram horizontes para um futuro cada vez mais incerto? Flagrante!!! Esta questão é enganadora. Dá a ideia de que agora passa a haver só disciplinas essenciais, o que é falso. Houve sim uma alteração curricular, com ganhos de horas para a Geografia, História e outras disciplinas e perda de horas para as disciplinas de cariz artístico. São opções, que podem ser criticadas ou não, mas não se verificou o fim das disciplinas mais práticas (como a Fenprof dá a entender).
- É defensável que se volte a apostar numa escola que privilegie as elites precisamente quando a escolaridade obrigatória passa a ser de 12 anos? Questão que faz lembrar a luta de classes (inspiração comunista?). A escola de agora não privilegia as elites. Bem pelo contrário, a escola pública continua a receber todo o tipo de alunos e alarga as alternativas e opções de escolha quanto às vias de ensino possíveis (não obriga nenhum aluno a ir para um CEF ou um profissional).
- Deve defender-se que a uns (poucos) se estenda a passadeira para obterem formações mais qualificadas, enquanto a outros (a maioria) se empurra para percursos socialmente desvalorizados, apenas pensando em acentuar e legitimar as diferenças sociais que os alunos transportam para as escolas? Mais uma questão enganadora. O Governo tem como objectivo que 50% dos alunos do secundário enveredam por uma via profissionalizante, indo de encontro às necessidades laborais do país. Mas, esse objectivo não passa disso mesmo, de um objectivo, o que não implica que os alunos sejam obrigados a escolher a via profissionalizante. Aliás, continua a haver a possibilidade destes alunos prosseguirem estudos no ensino superior.
- Alguém de bom senso comprenderá que em vez de escolas entendidas como espaços humanizados, em que todos tenham condições para se conhecerem e cooperarem no sentido do sucesso escolar de todos os alunos, se tenha optado por criar o que é conhecido já por mega-agrupamentos que encaixotam mais de 3 mil alunos e centenas de professores que chegam ao final do ano sem saberem o nome uns dos outros? Mais uma questão que tem a intenção de enganar os menos bem informados. A forma como a questão é formulada dá a entender que as agregações de escola levaram a que tenhamos três ou quatro mil alunos encafoados num mesmo edifício, o que é falso. A maioria das agregações de escola fizeram-se a nível organizacional (e não ao nível dos edifícios), pelo que as escolas continuam a funcionar nos seus espaços próprios, mas agora dotadas de apenas um corpo dirigente. Poderá haver casos em que esta situação correu mal (acredito), mas na maioria dos casos não passou de algo meramente organizacional. O mesmo se passou com os hospitais, os centros de saúde ou os tribunais. Mais uma vez, esta mudança tem em vista cortar nas despesas, procurando a eficiência, sem prejudicar o sucesso escolar.
- Como pode uma escola que se quer apontada ao futuro, desempregar tantos milhares de professores como aconteceu agora? Mais uma questão enganadora. Sabemos dos cortes e da necessidade de reduzir o número de professores contratados (exigência da troika). Por outro lado, o que se poderá criticar é o facto das medidas de austeridade na educação terem levado a um elevado número de "horários zero", provocando enormes injustiças (professores com dez turmas, enquanto que outros não têm qualquer componente lectiva e arriscam um ano de "descanso"), mas a verdade é que o Ministro já veio assegurar que nenhum professor do quadro irá para a mobilidade especial (curioso que ninguém fala nisto!). Quanto aos professores contratados, a situação do país obriga a que se contratem apenas os estritamente necessários. A crítica que eu faria é a que diz respeito às ofertas de escola, essas sim, de justiça e igualdade de oportunidades entre docentes mais que duvidosas.
Enfim, gastei 15 minutos a responder às perguntas da Fenprof (a maioria enganadoras), mas há quem prefira dizer mal de tudo o que vem deste Governo, desinformando e até caluniando. Mas, cada um tem os seus pontos de vista. Urge debater, sem pensamento únicos, nem visões deturpadas ou enganadoras da realidade que vivemos...

10 comentários:

Unknown disse...

Pedro, quando tomei conhecimento do seu blog pensei que o escrevia com ideias para uma escola melhor, depois deste artigo (Não quero defender a FENPROF) fico com a ideia que o que deseja para a escola é pior que Crato. Turmas de 20 alunos? Turmas de 34 alunos para melhor sucesso? A maioria das salas não permite mais de 24! Ficam 10 de pé? É seu desejo que o seu filho, que hoje se distrai com pombas, vá para um CEF ou Profissional? Como pode defender que a escola será melhor com menos professores? Será que os professores estão todos errados, com excepção do Sr e mais os poucos defensores das políticas PSD/CDS?

Alexandre disse...

Pedro,

De facto, fez uma boa análise do panfleto.
O sindicato apenas está a fazer o seu papel (calma,..o papel que a maioria dos seus sindicalizados deseja).

Mas vamos ser um pouco mais claros, eu também posso olhar para as perguntas e dar-lhe um peso mais negativo, da sua opinião. Aliás, o Pedro também sabe que é grave o que tem sido feito (em geral, claro), no entanto, compreende que as dificuldades económicas assim o determine.

O que ficou aqui exposto (no panfleto) foi apenas as opções deste Ministro (e dos outros que por lá passaram), por outro lado, a minha crítica apenas se centra na alternativa a este caminho que estamos a levar. Aqui e, como já havia referido num post anterior, a capacidade de criar, definir e motivar para outras formas de contrariar os nossos atuais problemas é que é grave não existirem. Mas sinceramente, há alternativas bem válidas, no entanto, implicaria mexer com muita "coisa feia" e isso não convém.

Os melhores cumprimentos,

Pedro disse...

Caro Prof de Alunos,
não defendo uma escola pior que a do Nuno Crato. Apenas compreendo algumas (não todas, que fique bem claro!!!) das medidas que Crato tem tomado.
A questão do número de alunos por turma? Já afirmei várias vezes que a média que temos é de 20 alunos/turma. Claro que há disparidades. Não as nego. Sei que em muitas zonas urbanas existem muitas turmas com o limite máximo de alunos. Eu próprio já tive, em Vila Verde (Braga), uma turma com 33 alunos e não foi fácil. Contudo, vivemos tempos difíceis e compreendo que o limite tenha passado para 30 alunos. Em Espanha foi para 36!!! Mas, isso não quer dizer que a maioria das turmas tenha 30 alunos. Volto a dizer: a média é de 20 alunos/turma. Cabe às escolas saber gerir os horários dos professores para evitar injustiças no seio do mesmo grupo disciplinar.
Questiona-me se defendo que a escola será melhor com menos professores? Não é uma questão de defender, mas acredito que, com uma melhor gestão escolar, é possível não colocar em causa o sucesso dos alunos, apesar do aumento dos sacrifícios para nós, professores.
O ideal seria ter mais professores, mais escolas, mais médicos, mais hospitais, mais tribunais, mais juízes, mais polícias, etc., mas vivemos tempos difíceis (não estamos ainda livres da bancarrota!!!), pelo que compreendo a necessidade de se fazerem cortes no Estado (educação, saúde, justiça) sem colocar em causa o serviço público.
Volte sempre

Pedro disse...

Alexandre,
concordo, em termos gerais, consigo. Alternativas? Claro que há alternativas, mas já estou como o Selassie (do FMI): "qualquer alternativa iria redundar em protesto".
Ninguém gosta que lhe mexam nos chamados "direitos adquiridos" (que na verdade de eternamente adquiridos têm muito pouco).
Volte sempre

Alexandre disse...

Pedro,

Eu adoro esse tipo de redundâncias,.."qualquer alternativa iria redundar em protesto". É o mesmo que dizer que, primeiro não há alternativa às medidas tomadas, e segundo que não vale a pena protestar porque pasme-se, não há alternativas!

Um último dado, desde o 25 de abril de 1974 tivemos três crises (contando com esta) e nas duas últimas a "receita" foi???? E agora que receita querem dar???? Há qualquer coisa de errado aqui!

Penso que, compreendendo a situação económica do país, devemos pensar no futuro de Portugal com outra visão (sem deixar de cumprir com o pagamento das nossas dívidas, claro).

É o que eu penso.
E mais uma vez lhe digo, só uma pessoa com uma visão e conhecedor do país e das suas "gentes" conseguirá resultados, sempre mas sempre pelo exemplo que demonstrar.

Os melhores cumprimentos,

Anónimo disse...

É relamente fantástico!

Nem tenho palavras...

Agnelo Figueiredo disse...

Boa análise.
Os tipos da FENPROF foram e são os grandes coveiros da classe docente.
Começaram a enterrá-los quando exigiram o ECD e, com isso, proletarizaram os professores.
Como tenho saudades do tempo em que não estava sujeito a um Estatuto...

Anónimo disse...

Você tem algum problema contra os sindicatos? Deve ser daqueles que nunca vai a uma reunião sindical lá na sua escola?
Olhe agradeça aos sindicatos ainda ter alguns direitos, caso contrário já lhe tinham retirado ainda mais direitos do que aqueles que já lhe tiraram.

Anónimo disse...

Como é que você consegue ser assim?!!!!!!!!!!?

Gorgi disse...

Impecável! Também sou daqueles que voltei costas aos sindicatos. É que só quem realmente está nas escolas sabe que os sindicatos fazem sempre pior do que a realidade e muitos desses sindicalistas já nem sabem o que é dar aulas.
Gostaria de ver o lider da Fenprof responder aos seus pontos de vista. É que há mesmo perguntas enganadoras. Na minha familia havia pessoas que pensavam que todas as turmas tinham passado para 30 alunos. Isto por causa do que ouviam os sindicatos dizer.
Mas também pouca gente liga a esses folhetos.