segunda-feira, 17 de setembro de 2012

As manifestações de sábado

O último sábado foi palco de um conjunto de manifestações realizadas um pouco por todo o país intituladas "Que se lixe a troika, queremos as nossas vidas" e que tiveram o seu embrião nas redes sociais. Importa reflectir um pouco sobre as motivações e o alcance destas manifestações.
1. A expressão que deu o mote às manifestações não me pareceu a melhor. Dá a entender que os seus patrocinadores querem o FMI, o BCE e a UE fora de Portugal, mas sem nunca referir o que fazer com o dinheiro que estas organizações já emprestaram a Portugal (os quase 90 mil milhões de euros já chegaram quase na sua totalidade). O que defendem estas pessoas? Devolvemos o dinheiro emprestado para não termos cá a troika? Não devolvemos, mas também não pagamos o que nos emprestaram? Rasgamos o memorando da troika e saímos do euro? Muito se fala sobre os problemas, mas de soluções quase nada...
2. Apesar de, implicitamente, a expressão utilizada nas manifestações não referir o Governo fiquei com a ideia de que muitos dos que se manifestavam o faziam contra o Governo, o que sugere que as motivações que estiveram por trás destas manifestações vão muito para além das inicialmente propagandeadas...
3. As manifestações tiveram, na generalidade das cidades onde se realizaram, uma forte adesão por parte das pessoas, com destaque para Lisboa, Porto, Coimbra e Aveiro. Há que respeitar essa situação e constatar que, de facto, há muita gente desiludida com o actual estado de coisas e que, não tendo outra forma de manifestar o seu mal-estar (caso houvesse agora eleições, certamente que Passos Coelho as perdia), se manifesta através deste tipo de acções;
4. Ao contrário das manifestações organizadas por partidos (caso do PCP) ou por sindicatos (CGTP à cabeça), esta forma de manifestação liberta as pessoas das ideologias ligadas a partidos ou sindicatos, pelo que motiva a que qualquer pessoa cuja vida foi afectada pelas medidas de austeridade (e não há ninguém que não tivesse sido afectado pela austeridade!) se sinta impulsionado a entrar neste tipo de manifestações que se dizem apartidárias e sem interesses ideológicos.
5. É importante que quem não foi à manifestação e que o poder político (sobretudo Passos Coelho) respeitem este tipo de acção e compreendam a diversidade de motivações que levam a que tante gente tenha ido, pela primeira vez, a uma manifestação: desde o reformado que teve um corte na sua reforma até ao professor contratado que não ficou colocado; desde o jovem que está a recibos verdes ao taxista que tem menos clientes; desde o puro militante do PCP ou do BE sempre pronto para manifestações até ao militante do PSD ou CDS que ficou sem os dois subsídios; desde os jovens que gostam desde tipo de manifestações ao pai de família preocupado com o futuro dos seus filhos. Enfim, cada um tem as suas motivações e elas são muito diversas...
6. Estas manifestações podem ter várias consequências. Desde logo, obrigar o Governo a explicar-se melhor quanto ao alcance e objectivos das medidas de austeridade a tomar (a da TSU parece-me importante voltar a explicá-la), apesar de acreditar que o povo não quer explicações, mas sim que não haja mais medidas de austeridade, situação que não acredito que aconteça, pois ainda estamos muito longe da nossa independência financeira. Por outro lado, já estou como Selassie: qualquer outra medida de austeridade, que para ter verdadeira dimensão precisa de também ser aplicada à classe média, levará sempre a protestos. Mas, para além de uma melhor explicação, penso que é importante levar a sério a discriminação e modelação das medidas, como Passos Coelho referiu na entrevista à RTP1, e saber explicar muito bem essa modelação para que as pessoas percebam, de uma vez por todas (claro que as que não querem perceber nunca irão perceber!) que as medidas não têm igual aplicabilidade para todos e que, portanto, os que possuem menores rendimentos são realmente protegidos...
Numa frase: penso que estas manifestações devem ser respeitadas e que as motivações de muitos dos que nelas participaram devem ser compreendidas, mas que tal situação não deve levar o Governo a desistir, mas sim a explicar-se melhor e a fazer todos os esforços por modelar a aplicação das medidas de austeridade que, quer queiramos, quer não, estão para ficar mais alguns anos!
1. O semanário Expresso refere, na sua página online, que em Viseu estiveram presentes na manifestação entre 15000 e 20000 pessoas. Posso assegurar-vos que, certamente, não estiveram mais de mil pessoas na manifestação (alguns continuarão a pensar que Viseu ainda é o cavaquistão). 
2. O que se passou em frente à Assembleia da República na noite de sábado demonstrou duas coisas: a procura de violência por parte de alguns vândalos da noite lisboeta e o sangue frio dos agentes policiais que fizeram o seu serviço de forma irrepreensível.  

8 comentários:

Anónimo disse...

Umbrião?!

Pedro disse...

Embrião!!!

Anónimo disse...

Ah bom!

Gorgi disse...

Pois eu penso que não temos alternativa. Se o governo cai ficamos como a Grécia e num buraco sem fundo. Se rasgamos o acordo com a troika deixamos de ter financiamento e o país fica bloqueado. Colocar no governo o PS seria dar um prémio aos que levaram o país à falência. Não vejo como sair disto a não ser pagar e calar.

Júlio disse...

Mas onde estiveram estas milhares de pessoas quando o PS levou o país à falência? Agora manifestam-se contra os cortes, mas se os cortes fossem para o vizinho do lado já não se manifestavam. A diferença é que agora os cortes tocam a quase todos e não apenas a alguns.
Agora até falam em novas eleições? Para por lá outra vez os socialistas que deram cabo disto tudo?
Mas é curioso que as sondagens até dão empate entre o PSD e o PS. Quer dizer que até há muita gente que compreende estas medidas. Queriam que estas pessoas se manifestassem a favor das medidas? Querem uma guerra civil ou quê?
O português tipico queixa-se de tudo e mostra que é de uma ignorãncia impressionante. Miséria de povo que não se governa nem se deixa governar

Anónimo disse...

O que me diz da notícia de hoje do DN? Professores em mais de 10 escolas? Ou não lê o DN? Vá diga lá.

Pedro disse...

Caro anónimo(?), de facto, o DN não é jornal que costume ler, mas vou ver se amanhã arranjo tempo para escrever um post sobre essa notícia e, já agora, sobre a que vem no site do Público:

http://www.publico.pt/Educa%C3%A7%C3%A3o/professores-sem-componente-lectiva-fora-da-mobilidade-social-1563570

Agnelo Figueiredo disse...

A malta que aderiu às manif foi o grande "povo de esquerda", com os respetivos partidos na sombra. Basta ver como tudo estava organizado. Microfones, altifalantes,... num caso até palco houve! E depois vimos o Louçã e o semisucessor de braço dado a descer os Aliados...
Só a cobertura televisiva que estava mais que preparada para a efeméride!

Não esquecer que numa situação de total desgaste do governo, o PS não vai além de um empate.