segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Post para esclarecer o Paulo Guinote

Ontem iniciei um debate interessante com o Guinote sobre a questão demográfica apontada por Nuno Crato na entrevista que este concedeu ao semanário Sol. Afirmava Crato que a redução da população escolar era uma das justificações para as alterações ocorridas na educação e até avançava com dados numéricos: menos 200000 alunos (14%). Ora, Crato ficou-se pela verdade que lhe convinha, omitindo os anos a que se referiu para fazer esta comparação. Nada de muito grave, quando o entrevistador não tenta ser mais curioso e não tenta aprofundar os dados numéricos apresentados pelo Ministro.
Ora, na minha boa fé tentei esclarecer o Paulo Guinote que o Ministro até poderia ter razão e que, portanto, não tinha muito sentido esta crítica avançada pelo Guinote no seu blogue. Ele bem sabe que é lido todos os dias por milhares de professores e que, portanto, tem ou deve ter algum cuidado quando escreve um post. Induzir em erro milhares de leitores não é coisa bonita que se faça...
Ora, depois do debate com Guinote e não conseguindo a sua adesão à minha perspectiva dos números dei-me ao trabalho de pesquisar um pouco sobre o assunto e fui aos dados do GEPE tentar saber então qual o número de alunos matriculados que temos vindo a ter nos últimos anos.
Pois bem, apresento o quadro que se segue, cuja evolução reflete os dados públicos mais recentes sobre o tema.
Pois bem, em 1997/98 havia 1934438 alunos matriculados. Em 2007/08 havia menos 131619 alunos inscritos. Mas em 2007/08 já tinhamos aqui contabilizados os "alunos faz de conta" das Novas Oportunidades. Portanto, vamos pegar no número de alunos no ano anterior à criação desta farsa, ou seja, 2005.
1997/98 = 1934438 alunos
2005/06 = 1754636 alunos
Diferença = 179802 alunos (próximo dos 200 mil alunos)
Não quero ser dado como defensor de Nuno Crato. Bem pelo contrário. Quando tenho que criticar Crato faço-o, mas quando penso que o devo elogiar (tem acontecido poucas vezes) também o faço. Não quero é ser dado a radicalismo; prefiro o realismo.
Aliás, se tivermos atenção aos dados do quadro anterior, há outra questão que suscita algum interesse. Repare-se que entre 1997/98 e 2007/08 o número de alunos diminuiu em cerca de 130000, mas o número de professores aumentou de 168249 para 175919. Ou seja, durante os anos em análise (a maioria de governos PS) o número de docentes aumentou em quase 8000.
Agora começamos a ter as consequências disto tudo: o aumento sucessivo do número de professores do quadro com horário-zero e dos professores, também do quadro, com carga lectiva incompleta. Ao mesmo tempo e com o aumento das reformas antecipadas, aumenta o peso dos colegas contratados. Objectivo: poupar dinheiro na educação. Era isto que Nuno Crato deveria ter a coragem de dizer, mas não diz. Ainda por cima, temos que levar com os erros que governos anteriores fizeram quando abriram vagas para quadros de determinados grupos disciplinares em vários QZP´s  que sabiam não ter capacidade de absorver... 
Ora, sabendo-se da diminuição da natalidade e com o recente aumento explosivo da emigração (a acrescentar às mudanças implementadas por Crato, com anuência da troika) não nos espera nada de bom para os próximos anos. Tentar fugir a esta realidade é não querer ver as coisas como elas (infelizmente) são...

Adenda:
No seu blogue, o Paulo Guinote responde ao meu post e afirma não compreender o facto de não apresentar dados sobre o número de alunos para além do ano lectivo 2007/08. A justificação é simples: porque estes dados são inflacionados pelo número de "alunos" que foram para o programa "Novas Oportunidades". Ora, com tantas centenas de milhares de pessoas que frequentaram esta programa é normal que o número de alunos tenha aumentado. Ora, sabendo-se o que este Governo fez com as Novas Oportunidades, importa não incluir este tipo de alunos na análise que se faz na questão demográfica.
Assim, vou dar-lhe a conhecer os dados só do ensino público, a partir das estatísitcas do GEPE presentes em:
http://www.gepe.min-edu.pt/np4/?newsId=672&fileName=EEF2011.pdf
http://w3.gepe.min-edu.pt/series/xls/A_0_1_1.xls
Aqui vão dos dados do número de alunos matriculados no ensino público:
Ano 1995 - 1775960 alunos
Ano 2000 - 1588177 alunos
Ano 2005 - 1471074 alunos
Ano 2011 - 1447924 alunos
Agora é só fazer-se as subtrações que se entender para perceber que o número de alunos tem vindo, de facto, a diminuir sucessivamente, ao contrário do que o Paulo sugeriu quando falou numa diminuição de 0,5% entre 2000 e 2010 ou até de um ligeiro aumento entre 2005 e 2010.
Pode ser que agora o Paulo compreenda a lógica da diminuição de alunos (que tenderá a agudizar-se com a baixa da natalidade e o aumento da emigração) ou será que vai arranjar outra argumentação???

Uma nova adenda (mais actualizada):
Na entrevista de Crato à TVI, o ministro deu-nos a conhecer um pouco mais sobre a redução de 200000 alunos. Disse que se referi aos últimos três anos. Pois bem, vamos novamente aos dados do GEPE e consultar as últimas publicações relativas aos três últimos anos lectivos:
Aqui estão os números do GEPE:
Ano 2008/091614596 alunos
Ano 2009/10 – 1581049 alunos
Ano 2010/11 – 1528197 alunos
Uma redução que se aproxima dos 87000 alunos, sendo certo que no ano lectivo 2011/12 ainda se assistiu a uma maior redução do número de alunos, dada a quase desactivação do programa “Novas Oportunidades”. Com os dados de 2011/12 não me admiro que a redução se aproxime dos 200000 alunos. Os dados de 2011/12 não estão publicados, pelo que não posso dar um número certo. Certo é que a tendência será para uma maior redução de alunos, devido a três factores: redução da natalidade, aumento da emigração e cortes no programa "Novas Oportunidades" e até nos EFA`s de adultos e recorrente.
Conclusão: a redução do número de alunos é óbvia. Direi que Nuno Crato omitiu propositadamente a parte do apagão das "Novas Oportunidades". Ficou-lhe mal, enquanto Ministro, mas a Judite de Sousa também não tentou esclarecer melhor esta questão...
Mas, também ficou mal ao Guinote ter tentado demonstrar o contrário: que nos últimos cinco anos até se verificou um ligeiro aumento do número de alunos. Estava a referir-se ao programa das "Novas Oportunidades", mas preferiu omitir essa parte. Ora, nos próximos anos a tendência será para que o número de alunos continue a baixar… Essa é a verdade que o Guinote tentou, desde o início, secundarizar...
Fico-me por aqui para que o Guinote não se exalte mais de tanto ser contrariado. Mal habituado, não???

4 comentários:

Paulo G. disse...

Eu poderia comentar com maior seriedade se não tivesse reparado o seguinte:

1) Agora a série acaba abruptamente em 2007/08, quando temos dados até 2011 e estamos a falar da preparação do ano de 2012/13.

2) Os dados usados são certamente, só de olhar daqui, os que acumulam os sectores público e privado. Não era disso que se falava...

Na Sala de Aula disse...

O Paulo não gostou dos anos apresentados na tabela, nem tão pouco do facto da tabela juntar o público com o privado.

Pois bem, vou então dar-lhe a conhecer os dados só do ensino público, a partir das estatísitcas do GEPE presentes em:

http://www.gepe.min-edu.pt/np4/?newsId=672&fileName=EEF2011.pdf

http://w3.gepe.min-edu.pt/series/xls/A_0_1_1.xls

Aqui vão dos dados do número de alunos matriculados no ensino público:

Ano 1995 - 1775960 alunos
Ano 2000 - 1588177 alunos
Ano 2005 - 1471074 alunos
Ano 2011 - 1447924 alunos

Agora é só fazer as subtrações que entender para perceber que o número de alunos tem vindo, de facto, a diminuir sucessivamente, ao contrário do que o Paulo sugeriu quando falou numa diminuição de 0,5% entre 2000 e 2010 ou até de um ligeiro aumento entre 2005 e 2010. E, por favor, não me venha com a conversa dos "pseudo-alunos" das Novas Oportunidades!!!

Pode ser que agora compreenda a lógica da diminuição de alunos (que tenderá a agudizar-se com a baixa da natalidade e o aumento da emigração) ou vai arranjar outra argumentação???

Agnelo Figueiredo disse...

Apreciei o seu debate com o Guinote.
Parabéns!
Ele reage muito mal perante qualquer correção que lhe seja feita e conta com um manancial de incondicionais para agredir quem se atreve a trazê-lo à racionalidade.
No fundo, não faz um bom serviço à causa da Educação e dos Professores.

Continue.

Na Sala de Aula disse...

Figueiredo,
não tem que dar os parabéns. E não creio que o Guinote preste um mau serviço à causa da Educação e dos Professores. Bem pelo contrário! Guinote é das pessoas que mais tem esclarecido a opinião pública e publicada sobre o que tem ocorrido nos últimos anos na educação. Por isso, e devido às suas aparições também tem alguma responsabilidade naquilo que diz e no que induz nas ideias de quem o lê e ouve.
Agora, como todos nós, também comete os seus erros (apontei-lhe um e o homem foi aos arames...). E, de facto, parece que detesta ser contrariado. Isso ficou provado.
Mas, não há dúvida que é importante que o Guinote continue a prestar o bom serviço que tem prestado aos professores, apesar de, por vezes, ser excessivo e de ver apenas como certo o seu (o dele) ponto de vista.