terça-feira, 23 de julho de 2013

Concursos de professores. Afinal, o que queriam? Milagres?

Ontem ficaram-se a conhecer os resultados da primeira parte dos concursos dos professores. Como se esperava, poucos foram os docentes que conseguiram mudar de escola ou passar de um QZP para um agrupamento. Não ocorreram novidades! Todos sabíamos que nesta primeira parte do concurso, as hipóteses de mobilidade seriam reduzidas. Contudo, dado que alguns (foram pouco mais de mil) poderiam melhorar a sua situação, justificava-se, por completo, a realização deste concurso, ao contrário do que alguns tanto insistiram...
No entanto, os títulos que hoje surgem nas capas dos jornais dão a entender que o que ocorreu não era expectável de ocorrer. O Público chega a apelidar Crato de desonesto por ter enganado os professores com este concurso. Os próprios sindicatos parecem ter ficado surpreendidos com o facto de apenas três colegas contratados terem conseguido um lugar nos quadros do MEC. Ora, talvez seja bom recordar que desde que este concurso se iniciou que Crato tem vindo a dizer que o objectivo principal é promover a mobilidade interna, por forma a  que nenhum colega dos quadros fique em situação de mobilidade especial. Crato nunca afirmou que este concurso iria servir para colocar mais colegas contratados afectos a uma escola. Para isso realizou-se há uns meses atrás o concurso extraordinário...
Eu sei que o que escrevo não é do agrado de muitos, mas temos de lidar com a realidade e precisamos de nos adaptar aos tempos que vivemos. Todos sabemos que a austeridade veio para ficar durante muitos anos e que no sector da Educação era previsível que uma de duas situações ocorresse: ou a quebra abrupta do número de professores contratados ou, em alternativa, a ida de professores do quadro para a mobilidade especial (despedimento encapotado) substituídos por colegas contratados, numa lógica de recurso a mão-de-obra mais barata. Sempre aqui combati a segunda hipótese, pelo que achei que o mais provável de ocorrer seria a ideia do MEC de reduzir ao máximo as contratações e apostar na mobilidade geográfica (daí a redefinição da área dos QZP`s), por forma a que os professores do quadro fossem suficientes para as necessidades do sistema. E o que os resultados de ontem vieram confirmar foi isso mesmo: a entrada para os quadros do MEC de apenas três colegas e o reduzido número de professores afectos a um QZP a conseguirem entrar para os quadros de uma escola. 
Na prática, os quase 12000 professores que continuam afectos a um QZP irão preencher muitas das necessidades não permanentes do sistema. Em relação aos professores efectivos em lugar de escola, espera-se que Nuno Crato cumpra com a sua palavra e que nenhum destes professores esteja no próximo ano lectivo em situação de DACL. E, já agora, espera-se que ocorra algo que nos últimos anos lectivos não tem sido feito em muitas escolas: que as horas lectivas de cada disciplina sejam igualmente distribuídas pelos docentes dessa mesma disciplina, por forma a que não tenhamos professores da mesma área disciplinar e da mesma escola com cargas lectivas diferenciadas: uns com o horário preenchido de turmas e outros sem horas lectivas e com ocupações ligadas a apoios, coadjuvações, biblioteca, etc. 
Assim, o que se passou com esta primeira fase dos concursos só pode ter deixado perplexos aqueles que são idealistas (os sindicatos) ou os que andam muito distraídos. Agora, numa segunda fase teremos a situação que realmente interessa ver bem resolvida: os colegas em situação de DACL devem, rapidamente, deixar de o ser, no sentido de colmatarem as necessidades das suas escolas  ou dos seus QZP`s. Quanto aos milhares de colegas contratados, só lhes posso desejar boa sorte para as necessidades transitórias que ao longo do ano lectivo sempre vão surgindo, em vez de os tentar iludir, como fizeram aqueles que permitiram que durante muitos anos tivéssemos (como ainda temos!) cursos do ensino superior ligados à formação de professores.
Volto a relembrar as palavras de Nuno Crato proferidas em 8 de Junho último e retiradas da notícia anterior: "A maior mobilidade dos professores do quadro entre escolas irá levar a uma redução de contratações adicionais". É isto que está a ocorrer. Algo que já se esperava e que, portanto, não constitui novidade. Claro que o ideal era termos mais professores nos quadros e haver mais contratações de colegas, mas num tempo de risco de bancarrota (sim, ainda não nos livrámos do risco de falência em que o anterior Governo deixou o país) já nos podemos dar por satisfeitos por termos todos os colegas dos quadros (de escola e de QZP) a darem aulas e a serem úteis aos nossos alunos. É isto que interessa que aconteça... É que, nas actuais condições, se nos próximos quatro anos não houver ninguém em DACL e em risco de mobilidade especial, já nos podemos dar por contentes!!! 

16 comentários:

Anónimo disse...

A sua última frase é demonstrativa do seu conformismo. Em vez de lutar pelos direitos da sua classe você conforma-se com a situação atual.
Os resultados de ontem foram uma completa desgraça e apenas provam que Nuno Crato não se preocupa com os professores, com os alunos ou com o ensino, mas sim com a redução das despesas. É uma autêntica desilusão.

Luís Morgado disse...

"Quanto aos milhares de colegas contratados, só lhes posso desejar boa sorte para as necessidades transitórias que ao longo do ano lectivo sempre vão surgindo, em vez de os tentar iludir, como fizeram aqueles que permitiram que durante muitos anos tivéssemos (como ainda temos!) cursos do ensino superior ligados à formação de professores."
Pelo que sei o Pedro é colega de Geografia e como tal relembro que a maioria dos cursos do ensino superior que existem na área de formação de professores são preenchidos por alunos que vêm no ensino secundário dos cursos de Línguas e Humanidades. Esse curso no ensino secundário tem no seu currículo a disciplina de Geografia A que o colega dá na sua escola e como tal pergunto, se acabarmos com os cursos de formação de professores no ensino superior também devemos acabar com esse curso de Línguas e Humanidades no secundário e aí eu quero ver se o colega terá horas para o seu horário. A não ser que seja daqueles colegas que está efetivo num agrupamento e que seja o mais graduado e como tal está a borrifar-se para os que não terão componente letiva. Deixe de demagogias baratas. Não se meta em assuntos que não domina. Deve continuar a fazer as suas análises em relação ao nível do ensino secundário e deixe o ensino superior para quem lá dá aulas.

Anónimo disse...

Pedro,
também não compreendo a surpresa de muitos. O seu raciocínio é, mais uma vez, lúcido e sem ilusões, tendo em conta a situação do país.
No meu grupo disciplinar ainda há três horários a distribuir porque há colegas que não vão ter turmas atribuídas uma vez que estão à espera da aposentação. Espero que esses horários sejam atribuídos de forma justa e sem cunhas. E que tenhamos todos um horário equilibrado. Neste ano letivo que terminou foram uns a trabalhar a sério e outros a receber o ordenado completo apenas com uma ou duas turmas atribuídas.

Boas férias e boa sorte.

MJ

Gorgi disse...

Parecia mesmo que havia gente à procura de um milagre.
E também concordo que se em Setembro não houver ninguém em DACL já podemos ficar muito satisfeitos.

Anónimo disse...

Os colegas com menos turmas não estão certamente satisfeitos - isso coloca-os no limiar da mobilidade... Até parece que estão a ser privilegiados do sistema... Tenho muito respeito por esses colegas. Além disso, são as regras de elaboração de horários - só pode haver um horário incompleto

Pedro disse...

Caro anónimo (o primeiro),
há quem lhe chame conformismo. Eu prefiro chamar realismo.
É que no estado em que o país está não nos podemos dar ao luxo de sermos idealistas, sob pena de ficarmos desiludidos. Por isso é que não fiquei surpreendido com os resultados do concurso. E continuo a dizer que se até ao final do ano não houver ninguém em DACL já vai ser muito bom...

Caro Luís Morgado,
discordo da sua posição. As Humanidades não têm só como saída a formação de professores. Por isso, o encerramento de alguns cursos de formação de professores não teria que levar ao fim das Humanidades.
Dou-lhe apenas um exemplo. Existem no país 20 cursos de formação de professores do 1º ciclo. Ora, com mais de 20 mil candidatos desta área sem colocação fará algum sentido continuarmos a ter 20 cursos de formação de docentes do 1º ciclo? Penso que não...
Quanto às análises, cada um faz as análises que bem entender, seja ou não da sua área, desde que fundamentadas...

Cara MJ,
estamos de acordo. É bom que haja justiça e equidade na distribuição de horários...
Boas férias também para si.

Gorgi,
pensamos o mesmo.

Caro anónimo (o último),
também tenho muito respeito pelos colegas menos graduados e que correm o risco de apenas terem 6 horas lectivas e, portanto, à beira da mobilidade. Mas, coloque-se na posição de estar numa escola com apenas dois professores da sua disciplina. O seu colega tem horário completo (22 horas lectivas) e você fica lá com 6 horas lectivas. Penso que seria de inteira justiça que, ficando ambos na mesma escola, as 28 horas fossem divididas pelos dois, por forma a evitar que um fique com muitas turmas e o outro com apenas uma ou duas turmas. Esta situação deveria ser ponderada pelas escolas, por forma a impedir injustiças...

Anónimo disse...

Anónimo das 11.50,

O anfitrião do blog já lhe respondeu e bem. Eu também tenho pena desses colegas, mas é de toda a justiça, já que estão a receber o ordenado por completo que "se reparta o mar pelas aldeias." Com certeza que o grupo ficará muito mais equilibrado. Se é essa a regra de elaboração de horários, devia ser repensada.

MJ

Ana disse...

Aconselho-o a ler o artigo de opinião do Paulo Guinote hoje no Público para perceber porque razão é que este concurso foi uma autêntica farsa e um mero gasto de dinheiros públicos.
E em relação aos contratados o MEC pareceu estar simplesmente a gozar com estes colegas iludindo-os com um concurso para o qual já se sabia que as colocações seriam mínimas. Imagine-se, apenas três! Isto é mesmo gozar connosco.

Anónimo disse...

Eu ficava satisfeito se tivessem colocado a concurso as vagas reais, em vez de as guardarem para colocarem lá os QZP's. Sou QE longe de casa e não cometi nenhum crime para (uma vez mais) ser impedido de me aproximar da minha terra, ao mesmo tempo que vejo colegas menos graduados ficarem em escolas para onde concorri. E depois querem professores motivados para a profissão... Eu, por mim, enquanto me continuarem a impedir de ir para onde há lugar, não faço mais do que o estritamente necessário!

Pedro disse...

Cara Ana,
li o artigo do Paulo Guinote e discordo, em absoluto, da ideia de que este concurso não se deveria ter realizado. É que a validade do concurso não se "mede" pelo facto de haver muitos ou poucos professores a mudarem de escola. Bastaria que um colega conseguisse mudar de escola para que a existência do concurso se justificasse.
E claro que não foi uma farsa. Tendo em conta os pressupostos do concurso era mais do que óbvio que não haveria novas vinculações (afinal até houve três) e que as mudanças em termos de mobilidade não seriam abundantes.
Os mais de mil colegas que conseguiram melhorar a sua situação merecem mais respeito, pelo que o concurso fez, na minha opinião, todo o sentido!

Caro anónimo (das 10:13:00 PM),
nos tempos que correm (de austeridade, de crise e a tentarmos sair da bancarrota) e com tantos QZP`s sem escola e tantos QA`s e QE`s em risco de irem para DACL, quem tem escola e horário, mesmo que longe de casa, pode dar-se por contente.
Eu também ficaria mais agradado se nenhum colega menos graduado do que eu fosse para uma escola da minha preferência. O problema é que o MEC e as escolas "jogam" sempre por baixo na hora de indicarem as suas necessidades e depois temos as injustiças de que fala na 2ª fase do concurso. São as contingências da forma como estes concursos são elaborados.

Anónimo disse...

O Pedro só fala assim porque é QZP e por isso vai ser um dos beneficiados por esta situação vergonhosa e que se arrasta há anos.
E se eu me devo dar por satisfeito por ter um horário, então o que devem fazer os colegas menos graduados que ficam em lugares mais apetecíveis? Atiram foguetes e apanham as canas?
Não sei se já pensou para pensar um pouco nas consequências de tudo isto, mas eu estou nesta situação desde 2004 e isso tem implicado um enorme desgaste físico, além de muito dinheiro gasto em combustível, alimentação e revisões do carro. E ao fim de todos estes anos (e sem ver luz ao fundo do túnel) fazendo as contas, o prejuízo já vai nuns largos milhares de euros, que eu podia usar de forma bem mais útil.
Se houver colegas do quadro a ficarem sem lugar, eu não vou ter pena. Pode ser que assim, no próximo concurso, já não seja preciso guardar as vagas reais para eles, em vez de as colocarem no concurso interno.
Estou a ser egoísta? Talvez, mas... Se eu não pensar em mim, quem pensará?
Acho curioso quando algumas pessoas falam em estabilidade. Eu pergunto: qual a vantagem da estabilidade de uma situação negativa??? Preferia mil vezes não saber se continuava na mesma escola, mas sabendo de antemão que seria sempre uma escola perto de casa! Há alguém que discorde?

Anónimo disse...

Caro anónimo das 12:51:00 AM,

de facto tem a sua razão. Conheço muitos casos como o seu. Colegas meus efetivos desde 2004 (com 20 anos de serviço) a muitos quilómetros de casa e, na escola onde leciono sobram sempre, em todos os grupos, à exceção de EV e ET, 3 ou 4 horários para QZP ( com 10 ou 15 anos de serviço) ou DCE . Penso que o MEC devia arranjar forma de repor esta injustiça.

No entanto, não me parece que o Pedro fale assim por ser QZP, mas sim pela precariedade e situação económica do país...


MJ

Anónimo disse...

Pedro,

fora de tópico:
Ontem fiquei completamente boquiaberta com a forma como Mário Nogueira se referiu ao ministro Nuno Crato por causa da tal prova que vai ser discutida. Então afirmou que o ministro é um incompetente?! Foi na TVI. Uma pessoa que representa os professores devia medir bem as palavras. De certeza que não é pago pelo MEC, mas se o fôr, ou pertencer a um quadro de escola, eu, no lugar de Crato movia-lhe um processo disciplinar. Está tudo louco? Tem de haver decoro e respeito institucional. Anda realmente tudo doido!Não sei mesmo onde vamos parar...

MJ

Pedro disse...

Caro anónimo das 12.51.00 AM,
desengane-se porque eu não vou ser um desses beneficiados, visto que não sou QZP. Sempre critiquei o tipo de situação que o anónimo relata (colegas menos graduados que na 2ª fase do concurso ficam mais perto de casa do que os mais graduados), mas essa é uma contingência de termos este tipo de concursos.. As vagas postas a concurso nunca são certas e são calculadas por baixo.
Mas volto a dizer-lhe que prefiro estar longe de casa e ter uma maior estabilidade por estar afecto a uma escola do que estar em QZP sem saber se terei ou não escola.
E olhe que a alternativa de que se fala (concursos de âmbito escolar em vez de serem à escala nacional) não me parece nada melhor...

Cara MJ,
escreveu muito bem: a precariedade do país. Não tivéssemos que sair da situação de bancarrota em que os socialistas deixaram o país e talvez não tivéssemos tamanha austeridade para enfrentar...
E quanto às declarações do Nogueira, cada vez mais me convenço que esse senhor representa mais o PCP do que a classe docente.

Anónimo disse...

Parabéns pela sua honestidade e pela visão que revela da realidade do nosso país, que, creia-me, é muito mais grave do que certamente imagina.
Fico estarrecido por existirem alguns (muitos) professores, que apesar da sua formação ser acima da média, vivem totalmente desligados da realidade portuguesa.
Parece que nem sequer sabem fazer contas, algo que faz parte das suas competências e funções.
Pretendem ignorar que Portugal está insolvente e quando ocorre uma situação de insolvência/falência, deixam de ser cumpridos todos e quaisquer compromissos, embora se questione o actual Governo por não ter a coragem de estender a atitude que tem tido a todos os diversos tipos de interesses, como é o caso dos beneficiários das PPP e outras anormalidades, como rendas excessivas.
Termino, felicitando-o pelos seus textos que já leio há uns anos e incentivo-o a continuar com tal postura, fazendo análises sérias e realistas, contrariando a versão da corporação dos professores, que ainda julgam que Portugal é um pais rico e que se pode dar ao luxo de contratar só para criar emprego.
Uma boa tarde do
Observador - Viseu

Anónimo disse...

Pedro,

não sei se representa o PCP ou não porque da política tento manter-me afastada o mais que posso, mas, representando o que quer que/quem seja, está a fazê-lo de uma forma muito má e enterra cada vez mais os professores.
Observador- Viseu: É isso mesmo. E sim, honestidade é algo raro nos tempos que correm e isso foi também o que me levou a chegar até este blog. Lendo comentários do Pedro em mais conhecidos e tendo apreciado os seus comentários, segui o seu perfil e venho aqui muitas vezes, saindo sempre mais esclarecida e certa de quem pauta a sua vida pela honestidade, profissionalismo, entre outros valores, protege-se com um armadura mais eficaz contra os escolhos deste mundo...

MJ

MJ