quarta-feira, 10 de julho de 2013

O relatório da OCDE sobre Educação. A idade dos professores...

Num tempo em que muito se fala na aposentação de 6000 professores, uma das condições para que a mobilidade especial não atinja nenhum professor do quadro, é bom que nos debrucemos um pouco sobre a idade dos professores portugueses.
Há umas semanas atrás, quando participei na manifestação de professores realizada em Lisboa, um dos temas que mais foi focado na referida manifestação teve que ver com o facto de se terem visto poucos professores com menos de 50 anos. Muitos referiram-se à falta que os professores mais novos fizeram na referida manifestação... Houve quem dissesse que muitos desses colegas são contratados e que, portanto, estão tão desiludidos e conformados que já nem vão a manifestações; outros houve que se referiram ao problema do envelhecimento da classe docente portuguesa.
Agora que saiu o relatório da OCDE "Education at a Glance" com os dados mais recentes vindos a público (de 2011), resolvi, tal como fiz em relação ao relatório de há um ano atrás, dar uma vista de olhos à real dimensão etária da classe docente portuguesa comparativamente com a registada nos restantes países da OCDE.
Elaborei uma pequena tabela onde constam as percentagens de professores com menos e mais de 50 anos de idade em alguns dos países europeus. E o que é possível constatar talvez deixe surpreendida muito boa gente: Portugal era, em 2011, o país europeu com maior percentagem de professores com menos de 50 anos de idade (76,6%). E se fizermos uma análise mais fina aos dados da OCDE ficamos a saber que apenas a Coreia do Sul, o Brasil e a Indonésia apresentam um peso maior dos docentes com mais de 50 anos de idade.
Parece pois claro que a classe docente portuguesa não é assim tão envelhecida com muitos poderiam pensar, sendo que a grande maioria, quase 70%, tem uma idade entre os 30 e os 49 anos de idade. Por outro lado, se tivermos em conta a aposentação de mais de 6000 docentes só este ano lectivo, então a percentagem de professores com mais de 50 anos deve ter-se reduzido ainda mais...
Conclusões óbvias:
2. Apenas 8% dos docentes portugueses tinham, em 2011, menos de 30 anos de idade, situação que se compreende pela redução do número de professores contratados e pela limitação da entrada destes para os quadros. Em relação a este grupo etário veja-se a situação da Itália: em 2011, não havia nenhum professor italiano com menos de 30 anos de idade e mais de 40% tinham idade superior a 50 anos de idade, o que permite concluir que, provavelmente, Portugal irá seguir, nos próximos anos, o exemplo italiano: corte na contratação de professores, por forma a que os actuais professores com menos de 50 anos tomem, como diz o povo, conta do recado...
Fica, pois, claro que a ideia que muitos têm de que a classe docente portuguesa está envelhecida não corresponde à realidade. O MEC sabe que dos quase 100 mil professores do quadro, a grande maioria tem menos de 50 anos de idade, pelo que se percebe as razões que têm levado Nuno Crato a dizer que, nos próximos anos, o número de contratados e as admissões no quadro irão reduzir-se substancialmente. Bem ou mal, daqui a dez ou quinze anos estaremos numa situação semelhante à da Itália...

3 comentários:

Ana disse...

Importa-se de dizer qual o interesse de saber se a classe docente é mais ou menos jovem.
O que interessa é a competência e não a idade.

Anónimo disse...

Não acredito que em cada 10 professores, 8 tenham menos de 50 anos de idade. Não é isso que se vê nas salas de professores das nossas escolas.
Esses dados não podem estar corretos. O próprio Pedro diz que na manifestação se viram poucos professores jovens.
Os dados que apresenta sobre salários e horas letivas também são muito duvidosos.
Não acredite em tudo o que lê.

Pedro disse...

Ana,
é claro que a idade não é sinónimo de competência. Eu nunca escrevi isso.
Agora, é importante saber-se um pouco mais acerca da caracterização etária da classe docente, nem que seja para se saber se as perspectivas de haver colegas mais novos a entrarem nos quadros é ou não possível de se concretizar nos próximos anos.
E, sabendo-se que a larga maioria dos professores tinha, em 2011, menos de 50 anos de idade e, portanto, ainda estavam longe de se reformarem, as perspectivas de haver uma "renovação" da classe docente é, nas próximas duas décadas, muito reduzida.
Espero que tenha agora percebido a importância de sabermos se temos ou não uma classe docente mais ou menos envelhecida...

Caro anónimo, pode desconfiar dos números, mas constam do relatório. Apenas o chamo a atenção de que os dados se referem ao ano 2011.