quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Separar os bons dos maus alunos. Sim ou não?

Pela primeira vez estou numa escola onde, enquanto director de turma, posso ter uma opinião melhor fundamentada sobre as vantagens de separar os alunos de acordo com as suas competências. Vem isto a propósito de uma notícia de capa do Jornal de Notícias de há uns dias atrás que dava conta de uma experiência deste género ocorrida numa escola de Matosinhos.
O projecto "Turma +" foi, há uns anos atrás, o grande impulsionador desta estratégia que visa incluir, numa turma rotativa, alunos provenientes de diferentes turmas e que são agregados na "Turma +" de acordo com as suas competências. Assim, reduz-se a heterogeneidade das turmas-base e agrupam-se alunos com características semelhantes, adaptando as estratégias de ensino às capacidades dos alunos.
Infelizmente, parece que esta estratégia educativa, depois de vários anos de expansão, começou a ser abandonada por algumas escolas. A isto acresce que a própria tutela não tem criado as condições necessárias para que algumas escolas vejam neste programa uma interessante forma de reduzir o seu insucesso escolar. É a lógica dos cortes a fazer das suas... Mas, há escolas que continuam a apostar neste programa!
A ideia que tenho é que tem ficado ao critério das próprias escolas a inclusão ou não desta estratégia nos seus programas educativos. É verdade que ainda estamos no início do ano lectivo, mas a ideia que tenho criado é que a "Turma +" pode constituir uma importante ferramenta com vista a melhorar os resultados dos alunos com maiores dificuldades, ao mesmo tempo que fomenta o espírito de descoberta e de procura de mais conhecimento por parte dos alunos com bons resultados. As disciplinas de Língua Portuguesa e de Matemática têm sido as grandes beneficiárias deste programa, dado o carácter especial que o próprio MEC lhes instituiu.
Parece-me óbvio que é na maior autonomia das escolas e na sua capacidade de criarem as suas próprias estratégias diferenciadoras e contextualizadas à realidade local que pode estar a diferença entre ter uma escola mais conformada e uma escola mais inovadora, que tenha na procura do sucesso (e o sucesso não tem que ver só com rankings) o seu principal objectivo. É que numa escola de um meio rural e pobre o sucesso alcançado pode-se medir pela redução das taxas de abandono escolar ou de retenções, enquanto que numa escola do meio urbano e com um contexto socio-económico médio-elevado, o sucesso já se pode medir pela média obtida nos exames face à média nacional...   
Cada turma é uma realidade única, mas se essa realidade for o menos heterogénea possível, certamente que o trabalho desenvolvido, tanto pelo professor, como pelos alunos, dará melhores frutos. É que a diferenciação pedagógica pode ser muito bonita no papel, mas terrivelmente difícil de se concretizar na sala de aula quando temos turmas heterogéneas...  

3 comentários:

Anónimo disse...

Pedro,

Concordo plenamente com este tipo de estratégia. Consegui fazer algo do género numa turma minha no ano letivo anterior, mas apenas porque havia uma colega DCE com muitas horas livres e apresentei a proposta na direção. Claro que os resultados dos alunos mais fracos começaram a melhorar e, no final do ano, só houve uma reprovação. Mas no contexto atual é quase impossível implementar este sistema.
Pode p.f. dizer-me a data do artigo? Apenas consigo ver que é um domingo...

Obrigada.

MJ

Pedro disse...

Viva MJ!
É verdade que no contexto actual torna-se difícil implementar esta estratégia. Mas é possível...
O artigo saiu no JN de 22 de Setembro. Vale a pena ler.

Anónimo disse...

separe-se o trigo do joio... de facto, só é cego quem não quer ver que este tipo de pedagogia é segregadora e desenvolve tudo, menos "as competências" dos meninos... Portugal sempre no seu melhor, colonialista e ignorante