sexta-feira, 3 de abril de 2015

Dizem que na Finlândia se vai acabar com a Matemática, a História e a Geografia...

A notícia passou um pouco despercebida à opinião pública e à própria comunidade educativa. Não se falou muito do assunto. Os telejornais não lhe deram grande relevo e na comunicação social escrita apenas a revista Sábado lhe deu algum destaque. Contudo, o título da notícia também é enganador: "Acabou-se a Matemática e a História nas escolas finlandesas" escreveu a Sábado. Mas, não é bem assim...
O que se passa é que a Finlândia quer pôr em prática aquilo a que nós por cá chamamos de interdisciplinariedade. Só que, por cá, essa interdisciplinariedade não passa, muitas vezes, de teoria e apenas é aplicada nos papéis quando no início do ano elaboramos as planificações e fica assente que será nos trabalhos de grupo e nas visitas de estudo que a interdisciplinariedade será concretizada. Por outro lado, sabemos que, muitas vezes, num mesmo ano de escolaridade os alunos ouvem falar dos mesmos temas em duas, três ou até mais disciplinas. Dou apenas o exemplo das alterações climáticas, tema abordado na Geografia, nas Ciências Naturais e nas Línguas Estrangeiras.
Claro que assumir o fim de disciplinas nucleares como a Matemática, a História ou a Geografia para apostar em disciplinas mais generalistas e transversais parece algo disparatado. Dar, baralhar ou trocar disciplinas pouco importa. Saber que a disciplina tem este ou aquele nome não é relevante. Importante é, sim, assumir a aposta num currículo que não seja repetitivo, teórico, demasiado extenso e, muitas vezes, inócuo como aquele que vigora no nosso país, por exemplo, para o 3º ciclo do ensino básico. Enquanto continuarmos a ter cerca de dez disciplinas (a que há que acrescentar as aulas de apoio, as salas de estudo, as tutorias, etc.) para alunos de 13 anos, onde a matéria é, pura e simplesmente, debitada a correr porque o currículo tem que ser todo dado até ao 9º ano e há que preparar os alunos para os exames, então bem que podemos ficar surpreendidos com o facto de em Portugal a taxa de alunos que já tiveram pelo menos uma retenção ser superior a 30%, enquanto que na Finlândia essa taxa não chega aos 5%. Não me incomoda nada que na Finlândia a disciplina de Geografia seja chamada de "Ciências da Terra", "Ciências Histórico-Geográficas", "O País e o Mundo", "A Natureza e o Homem"...
O que também sei é que quando se chega ao topo, o difícil é manter essa posição, tal como sei que quando se parte de muito baixo, qualquer ascensão é de relevo. Digo isto a propósito do estudo que compara Portugal e Finlândia nos relatórios do PISA de 2003 e 2012: enquanto que Portugal reduziu a percentagem de alunos com maus resultados e aumentou os de bons resultados, na Finlândia ocorreu o inverso. Será que os finlandeses, por verem os seus resultados piorarem (claro que de um "Muito Bom" para um "Bom") ficaram assustados e resolveram apostar na interdisciplinariedade pura e dura? Se sim, não vejo mal algum. Sempre é melhor do que fazer como por cá se faz: o "faz de conta"...  

1 comentário:

Anónimo disse...

Sinceramente... quando por cá temos génios que dizem à boca cheia que não vale a pena este ou aquele conteúdo, de qualquer disciplina, porque temos o computador!!!!Mais vale acabar com isto de vez!