quinta-feira, 15 de novembro de 2007

A lógica dos CEF`s e as verdades que a opinião pública desconhece...

A carta aberta que o professor de Ciências Físico-Químicas Domingos Cardoso endereçou a Cavaco Silva a propósito da "tortura" por que passa cada vez que tem aulas com uma turma do CEF (Curso de Educação e Formação) pode não representar a totalidade do universo dos alunos que se encontram matriculados neste tipo de cursos (que, convenhamos, de educativos têm muito pouco!), mas não deverá estar muito longe da realidade de muitas escolas deste país. É que há ainda quem não saiba (porventura até o próprio Presidente da República) que muitos destes cursos apenas existem para evitar que muitos alunos multipliquem o seu rol de retenções e/ou abandonem a escola. Esta foi, em grande medida, a forma arranjada para tornear a desgraça das estatísticas da Educação no 3º ciclo...
Nunca leccionei a turmas do CEF, mas ouvindo os meus colegas lá da escola que têm turmas do CEF, parece que com a maioria destes alunos não se consegue trabalhar, apenas ocupar tempo. Como diz um colega meu, "é o mesmo que tentar fazer omoletes sem ovos!!!"
Muito haveria para dizer sobre os cursos CEF. Mas, bastará uma leitura atenta da carta aberta de Domingos Cardoso para saber um pouco sobre a forma como (não) funcionam muitas das turmas CEF deste país!!! Boa leitura (caso isso seja possível)...

4 comentários:

Teresa Pombo Pereira disse...

Pedro e leitores:
recebi essa carta numa corrente de email e atrevi-me a escrever ao colega. Embora esteja em parte de acordo e também conheça situações complicadas de gestão da indisciplina, parece-me que o não procurar soluções quando currículos tradicionais e modos de ensino tradicionais respondem às necessidade de alunos não será a melhor resposta. Há alunos a quem, por circunstâncias diversas, uma escola formatada não consegue formar, envolver, preparar para a vida. Os Cef's, sem cair em facilitismos podem oferecer alternativas válidas. tenho acreditado nisso. Mostrei ao colega DC o trabalho que os meus alunos estão a fazer e ele teve a amabilidade de comentar. Encontra-se em
http://oitavoc.wordpress.com/

Somos uma país negativo. Seria bom que nos agarrássemos ás coisas boas para variar. tenho alguma experiência de CEF'S onde assisti à recuperação e pessoal de alunos que, noutras circunstâncias, seriam casos perdidos.

E... perdoem o meu optimismo. Juro que não estou "c/o governo" ;-) bem pelo contrário!

Pedro disse...

Cara Teresa, concordo contigo quando dizes que "não procurar soluções quando currículos tradicionais e modos de ensino tradicionais respondem às necessidade de alunos não será a melhor resposta" e quando afirmas que "os Cef's, sem cair em facilitismos podem oferecer alternativas válidas".
Mas, também penso que, tal como estão implementados em muitas escolas deste país, os CEF`s, envoltos em mecanismos de reduzido rigor e exigência, são vistos por muitos alunos como um mero "passar do tempo" para terminar o 9º ano. Aliás, por alguma razão é que a taxa de retenções nos CEF`s e nos profissionais é tão baixa... E seria interessante analisar os percursos profisssionais destes jovens...
Para os alunos que têm da Escola uma imagem negativa e que pouco se interessam pelo estudo, terão de existir percursos de estudo alternativos, baseados em estratégias mais práticas, mas nunca assentes em facilitismos. Os pais têm, sem dúvida, um papel decisivo a desempenhar. A bem ou a mal... Siga-se o exemplo do Reino Unido: pais alheados da Escola sofrem na pele (ou no bolso) essa sua opção de desinteresse pela vida escolar dos seus filhos.
PS - Parabéns pelo excelente trabalho que tens desenvolvido com o teu 8ºC...

Teresa Pombo Pereira disse...

Pedro, obrigada.
No fundo, o que eu sempre senti desde que iniciei os Cefs em 1999 é que algumas das suas características precisavam de estar presentes em todas as turmas. Ou seja, haver um espaço verdadeiro incluído no horário dos profs para reunir semanalmente e trabalhar verdadeiramente projectos e estratégias transversais, ter alguma abertura no currículo que permitisse aos professores diversificar estratégias para ir de encontros às necessidades e ritmos individuais dos alunos. A verdade é que a maior parte do tempo, no currículo dito normal os profs passam a maior parte do tempo preocupados com o cumprir do programa e o exame do final a "dar matéria" e a avaliar conteúdos que podem não ser adquiridos ou a desenvolver competências que falham porque faltam outras de base. Ou porque falta a motivação.
Eu não sei se o que faço com os alunos no CEF é mais fácil. É diferente. Aliás, até posso começar com o mais fácil mas aí será para não derrubar à partida a auto-estima destes alunos que, depois de muitos anos de insucesso já se convenceram de que não são capazes.
Um abraço.

Anónimo disse...

Infelizmente, não são só nos CEF que esta má educação e estes comportamentos existem.Seria preciso repensar toda a escola para que muitas coisas melhorem.Mas este é um caso de um professor que teve a coragem de revelar o que outros pensam mas não dizem.Bom fim de semana.