quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

O ensino profissional e a diferença entre a quantidade e a qualidade...

A Ministra da Educação resolveu iniciar o ano 2009 exaltando os benefícios do ensino profissional, qual desfraldar de auto-elogios à sua política educativa... Afirma a Ministra que o ensino profissional responde aos «anseios» de alunos e às «necessidades» do país. Ora, vejamos é quais são esses anseios e essas necessidades???
Se entendermos a conclusão rápida e facilitada do ensino secundário como o principal anseio dos alunos dos cursos profissionais, dou inteira razão à Ministra. Quanto às necessidades do país, se estas se resumirem à mera obtenção de qualificações profissionais para melhorar as estatísticas da educação, então não tenhamos dúvidas que a Ministra sabe o que diz...
Neste 2º período de aulas já tive duas aulas com a minha turma do ensino profissional e o "ran-ran" continua na mesma. Trabalho não é mesmo com eles. Em dezoito alunos que estão a tirar o curso de Técnico de Turismo Ambiental e Rural, se houver um que daqui a três anos vá trabalhar nesta área, será uma grande novidade para mim... Se a aula é teórica queixam-se que não gostam de escrever. Se a aula é prática queixam-se que não percebem nada do que pesquisam. Se lhes trago notícias para comentar, mapas para analisar ou gráficos para elaborar, dizem que estão muito cansados. Nada os satisfaz. Há pouco passaram por mim no recreio e estavam todos contentes. Perguntei-lhes qual a razão de tal felicidade e disseram-me me a professora de Ambiente lhes tinha dado "furo". Questionados sobre se iriam aproveitar os 90 minutos para adiantar algum trabalho ou estudar, responderam-me que "nem pensar, vamos é para o bar da escola conversar e jogar"... Enfim, a ignorância é tanta que me incomoda seriamente que possa passar para a opinião pública a ideia de que estes cursos são um sucesso.
Senhora Ministra, quantidade não é sinónimo de qualidade. Mais valia termos menos alunos no ensino profissional, mas este ser, na sua generalidade sério, credível e exigente, do que termos a situação que temos: um crescente número de alunos sem qualquer tipo de capacidade e até vontade (de trabalhar) neste tipo de cursos...
Adenda: o Público desta segunda-feira analisa com algum detalhe o "faísco" que é, em Portugal, o ensino profissional. A ler...

5 comentários:

(Pa)Ciência disse...

É que é isto mesmo!
Concordo plenamente.
De resto, nos tempos que correm, acho que não trabalham os dos CEFs, não trabalham os do profissional e tb já não trabalham os outros do "prosseguimento de estudos"... a avaliar pelas minhas turmas deste ano, só mesmo eu é que me esforço e infelizmente não vejo frutos nenhuns de tanto trabalho... e muito dele em casa e nas tais horas em que a outra diz que vamos encher shoppings!
Beijocas e um Bom Ano;)

Anónimo disse...

Não poderia estar mais de acordo!!!Eu ainda tenho turmas de curso tecnológico e passa-se exactamente o mesmo, então os de 10ºano são de levar as mãos à cabeça!!!! Acho que finalmente estamos a apanhar no ensino secundário a geração que já fez todo o percurso escolar na era do facilitismo, habituados a passar sem fazer nada!!!!!! O nível de ignorância é gritante, hoje uma aluna afirmou em voz alta na turma:"Então se a quantidade de DNA passa para 1/4 do que era, é porque aumenta!!!" Sinceramente não há pachorra!

IC disse...

Com a avaliação dos professores na boca de toda a comunicação social, desviam-se as atenções de outras coisas graves que esta ministra apregoa como muito boas. O modelo da ADD não está só a prejudicar o tempo dos professores para se dedicarem ao trabalho com os alunos; está também a tapar os olhos ao país.
Um abraço

Anónimo disse...

Completamente de acordo mas é o sistema..e contra o sistema é dificil lutar.Abraço

Bárbara Quaresma disse...

Estamos a criar um ensino de facilitismo, o que é grave, na minha opinião. A ministra só se interessa com os números, não se preocupa com o que realmente é importante: a qualidade do ensino!