sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Sobre o ranking das escolas (parte 1)

Depois de ter lido muito daquilo que se escreveu nos principais jornais do país sobre os rankings das escolas secundárias de 2012, chamou-me a atenção o trabalho apresentado pelo Expresso. Desde logo, fiquei admirado com uma das frases constante na chamada de capa: "Antiguidade dos professores também é decisiva nas notas". Depois de ler isto, resolvi analisar com maior cuidado o suplemento do Expresso para tentar perceber com que bases é que esta afirmação era sustentada. Numa das passagens do trabalho jornalístico é dada a palavra a uma investigadora, de seu nome Maria Manuel Vieira, onde afirma que "os dados indicam a importância decisiva da experiência profissional dos professores na qualidade dos desempenhos dos alunos". De concreto, mais nada... Fala de dados, mas não os revela!
Pois bem, resta saber se experiência é aqui qualificada como maior número de anos de serviço ou se experiência tem que ver com a qualidade (e não quantidade) profissional dos docentes. E, para mim, qualidade profissional pouco tem que ver com os anos de serviço que se tem. Isto porque um professor com 25 ou 30 anos de serviço não tem de ser, forçosamente e de forma imediata, um profissional mais competente e qualificado do que um seu colega com 10 ou 15 anos de serviço. Isto parece-me claro. 
Ora, a ideia que a investigadora e o Expresso tentam passar é a de que professores com mais anos de serviço (por isso falam em antiguidade) podem potenciar nos alunos melhores resultados nos exames nacionais. Esta é uma teoria cujos fundamentos são, quanto a mim, muito frágeis! Será assim tão evidente que um colega com 25 anos de serviço apresenta melhores competências para leccionar a turmas do ensino secundário e preparar melhor os alunos do que aquele que apenas tem 10 anos de serviço. Tenho muitas dúvidas...
O Expresso apresenta no seu suplemento um novo indicador que tenta provar esta sua teoria: a percentagem de professores do quadro de cada uma das escolas. Ora, este indicador é manifestamente insuficiente para se ter certezas, até porque muitas vezes até são professores do quadro com poucos anos de serviço aqueles que dão aulas ao secundário, enquanto que colegas com 30 anos de serviço preferem, muitas vezes, ter turmas do 3ºciclo. Por outro lado, temos casos de professores contratados com 10 ou 15 anos de serviço que leccionam ao secundário com muitos bons resultados. Enfim, cada caso é um caso, pelo que a reflexão deverá ser feita no interior de cada escola.
Só para se ter uma pequena ideia da subjectividade da teoria da antiguidade dos professores proporcionar melhores resultados nos exames resolvi pesquisar no suplemento do Expresso as situações da escola onde lecciono e da escola do país com maior percentagem de professores do quadro. A lógica do Expresso cai pela base: a minha escola, com pouco mais de 2/3 de professores do quadro obteve melhores resultados do que a escola onde quase todos os professores são do quadro (ver quadro). Por outro lado, das quase 500 escolas secundárias que tiveram mais de 100 exames, a escola onde dou aulas consegue estar à frente de largas dezenas de escolas cujo corpo docente apresenta uma maior percentagem de professores do quadro, o que prova que a teoria do Expresso é muito frágil. Assim, continuo a pensar que o que mais determina a posição das escolas no ranking é o contexto social em que se insere a escola, bem como a qualidade (não a antiguidade) do seu corpo docente.
Aliás, nesta questão da experiência não me admiro nada que a teoria de Laffer (aplicada aos impostos e que agora é tão falada) se possa aplicar. Recordo que a teoria de Laffer defende que a partir de uma determinada taxa de imposto a receita arrecadada pelo Estado passa a ser menor do que conseguida com uma taxa inferior. Parece-me que algo de parecido acontece com os professores: a partir de uma determinada altura (25/30 anos de serviço) a muita experiência que se possa ter não determina que a qualidade e sucesso do ensino sejam melhores do que a proporcionada por um colega com 10 ou 15 anos de serviço. Mas, claro, cada caso é uma caso!
Enfim, continuo a pensar que há uma multiplicidade de factores que determinam os resultados obtidos pelas escolas nestes rankings: o contexto sócio-económico em que se inserem as escolas (este é para mim o mais importante), a qualidade do corpo docente, o acompanhamento e apoio prestados ou não pelas famílias e até a qualidade da gestão de cada escola, entre outros.
Voltarei ao assunto...    

12 comentários:

Tiago Fiadeiro disse...

Pedro, os rankings que todos os anos são publicados raramente trazem novidades. As escolas com melhores resultados são sempre as mesmas e as do fim das listas são sempre as de zonas rurais ou de zonas urbanas problemáticas. Depois, no meio da lista é que podemos ter algumas subidas ou descidas dependentes de uma variedade de factores.
Concordo consigo quando diz que a antiguidade dos professores não quer dizer que proporcione logo melhores resultados nos exames. Há exemplos para todos os gostos.
A qualidade docente não se decreta pela idade dos professores.

Maria disse...

Mas você tem algum problema contra os professores mais velhos? Primeiro diz que só se querem reformar. Agora vem dizer que não é por causa dos docentes com mais antiguidade que os alunos têm melhores notas nos exames. Afinal qual é o seu problema?

Anónimo disse...

O problema dele é que é p@rvo!

Anónimo disse...

sempre a mesma questão - se o aluno é bom, o mérito é seu e do seu pai; se o aluno é mau, a culpa é do professor. nova versão - se és novo na carreira e os alunos são pouco dados às letras, a culpa é dos profs de carreira; se tens a minha idade, a culpa da má orientação é de todos os outros professores abaixo de mim na graduação profissional. Que idade tens, jovem? agora já sabes a minha opinião. aproveita para descansar, que hoje é sábado e depois de amanhã já tens de ir aturar os jovens meninos e os velhotes senis.

Pedro disse...

Cara Helena, penso que não atingiu o âmago do meu ponto de vista. Deve ter sido mera distração sua.
Vou tentar esclarecê-la melhor.
Quando critico a chamada de capa do Expresso, faço-o no sentido que que discordo da ideia de que a antiguidade dos professores conduz, de forma quase automática, a melhores resultados dos alunos nos exames. Penso que não há estudos credíveis que levem a tal conclusão.
A ideia que tenho é de que cada caso é um caso, pelo que não vale a pena enveredarmos por generalizações do género "os que têm mais anos de serviço, ensinam melhor!".
A nível docente, a qualidade do ensino pode-se medir por muitas variáveis, mas não pelo número de anos de serviço. Esta é a minha opinião.
Já agora, não concordo consigo quando diz que quando o aluno é bom, o mérito é seu ou do pai. É que os alunos sabem distinguir os bons dos maus professores. E eles não nos distinguem pela idade, mas sim pelo esforço, rigor e competência no trabalho.
Quanto à minha idade? 36 anos. Já agora, digo-lhe que vou no 15º ano de serviço à escola pública, alguns deles com alunos que "levei" a exame e que, coincidência ou não, tiveram excelentes resultados.
Já agora, a sua "boca" dos jovens meninos e dos velhos senis é muito infeliz. É que a idade não mede a competência profissional. Há jovens professores bons e maus, assim como há professores com 30 e mais anos de serviço competentes e incompetentes. Como diz o outro, "há de tudo"...

Nan disse...

Tem 36 anos e 15 de serviço. Desejo-lhe que, dentro de 15 anos, quando tiver 51 e 30 de serviço e estiver cansado, desmotivado, ansioso por poder reformar-se enquanto ainda tiver alguma saúde para poder chegar a conhecer os seus netos, um catraio com 15 anos de serviço diga de si o mesmo que você agora diz dos seus colegas mais velhos.

Pedro disse...

51 anos de idade e ansioso por me reformar? Você pensa que sou algum preguiçoso ou quê?
Com essa idade, espero ainda não pensar em reformas ou pensa que nessa altura continuaremos a ter o "regabofe" que foram os últimos 15 anos de governação e que conduziram à pré-falência da Segurança Social.
Com a esperança média de vida a aumentar temos de estar preparados para nos reformarmos apenas depois dos 65 anos de idade (no mínimo). Até lá, os últimos anos de trabalho não terão que ser como agora (este ano tenho seis turmas de três níveis e com mais de 120 alunos), mas também não terão que ser a passagem à aposentação. Há muitas funções em que um professor pode ser útil (não é só dar aulas) e é nisso que se tem de pensar. Agora, termos professores cheios de vontade de irem para a reforma aos cinquenta e poucos anos de idade, quando temos tantos desempregados e a quase insustentabilidade da Segurança Social é que não faz sentido algum...
Se você espera chegar aos 51 anos de idade cheia de pressa para ir para a reforma é porque está na profissão errada. Só pode...
E quanto aos "catraios" que têm 15 anos de serviço, é bom que saiba que muitos desses "catraios" são dos que, nas nossas escolas, mais trabalham e menos se queixam, mesmo sabendo que não terão direito às benesses daqueles que agora estão nos escalões superiores da carreira docente e que se queixam tanto, apesar de saberem que ainda terão direito á reforma, coisa que os tais "catraios" nem sabem se terão direito a ela e em que moldes... Enfim, como diz o povo "de mal agradecidos está o inferno cheio"...

Nan disse...

Pedro, as pessoas que você conhece são apenas uma ínfima parte. Não generalize. Há professores jovens incompetentes e professores menos jovens incompetentes. Há professores mais velhos que não se queixam e professores jovens que não param de se queixar.Quanto ao resto, espere até ter 50 anos para saber como se vai sentir na altura - eu já tive 36 anos (por sinal, nesse ano tive um horário terrível, com 28 horas, 7 turmas, duas das quais de Unidades Capitalizáveis, tendo leccionado nesse ano todas as 21 unidades do programa, e tinha uma filha com 2 anos e outra recém nascida, com trissomia 21, a exigir muitos cuidados... mas adiante) e garanto-lhe que ninguém sabe como se vai sentir 15 ou 20 anos depois. E ainda mais, se cada vez são precisos menos professores (e trabalhadores em geral) se cada vez se reformarem mais tarde, haverá certamente gerações inteiras que nunca poderão chegar a trabalhar por não haver trabalho para elas. O que sugere?

Pedro disse...

Nan, está enganada.
Eu não generalizo. Se ler bem o que escrevi no primeiro comentário (em resposta à Helena) afirmei o seguinte:
"A ideia que tenho é de que cada caso é um caso, pelo que não vale a pena enveredarmos por generalizações do género "os que têm mais anos de serviço ensinam melhor!".
Portanto, pode crer que acredito na lógica de que cada caso é um caso. Há competentes e incompetentes em todas as profissões, em todas as idades, em todos os estatutos sociais...
Aí parece que pensamos da mesma maneira. Ainda bem...
Quanto à ideia de que quando tiver 50 anos estarei mais cansado, pode ser verdade, mas isso é inevitável. Acontece em todas as profissões ou quase todas...
Quanto à ideia de virem ou não a exitirem gerações inteiras que nunca poderão trabalhar, discordo. O que poderá ocorrer é, no caso vertente da profissão docente, haver um determinado período de anos em que o número de professores que se reformam não irá corresponder ao número de professores que entrem para o sistema. Agora, o que sabemos é que não poderemos continuar a ter situações de gente que se reforma antes da idade da reforma, dado que assim assistiremos à falência da Segurança Social.
O Estado não tem de ser um garante de emprego, apenas com o objectivo de diminuir o desemprego. Não é o Estado que cria emprego; é sim a iniciativa privada.
E olhe dou-lhe o exemplo de duas actividades que irão necessitar de muita mão-de-obra: tudo o que diz respeito a serviços relacionados com a terceira idade, seja em termos da prestação de serviços médicos, sociais, apoio domiciliário, etc., mas também tudo o que diz respeito à agricultura (por forma a tornar Portugal auto-sustentável a nível alimentar). Mas há outras actividades em que temos grandes potencialidades: turismo, ambiente, silvicultura, etc.

Nan disse...

«E olhe dou-lhe o exemplo de duas actividades que irão necessitar de muita mão-de-obra: tudo o que diz respeito a serviços relacionados com a terceira idade, seja em termos da prestação de serviços médicos, sociais, apoio domiciliário, etc.,» A sério? Acha então que vamos ser um país de velhos ricos? Tornar «Portugal auto-sustentável a nível alimentar»? Desisto. Você vive noutro planeta.

Pedro disse...

Curioso: um post sobre o ranking das escolas vem dar a uma conversa totalmente diferente. Mas, as conversas são como as cerejas, já diz o povo...
A Nan desiste, mas eu não desisto de si. Ainda tenho fé em que possa ser mais susceptível se querer compreender opiniões diferentes da sua.
Pergunta a Nan se vamos ser um país de "velhos ricos". Pois bem, eu explico-lhe. Não sei qual é a sua área disciplinar, mas eu sou de Geografia pelo que este é um tema em que estou à vontade. Portanto, pode ter a certeza que vamos ser um país de "velhos". Agora, para as novas profissões que vão ser necessárias (e já o são necessárias) não interessa se esses "velhos" serão ricos, remediados os pobres. Todos irão precisar de serviços médicos especializados, de apoio social, de espaços de lazer, entre outros, pelo que urge formar profissionais que "tratem" desta população. Um exemplo: tal como a pediatria é importante, também a geriatria vai ser decisiva, assim como os cuidados continuados, o serviço social a idosos, etc. Percebeu? E também lhe posso dizer que cada vez mais somos um país em que muitos idosos de muitos países nórdicos escolhem Portugal para passar a sua velhice. Portanto, teremos um duplo-envelhecimento, dos nacionais e dos imigrantes.
Quanto à nossa auto-sustentabilidade alimentar, é bom que seja mais optimista. É que em muitos produtos agrícolas já apresentamos uma taxa de auto-aprovisionamento superior a 100% (suficiente para as nossas necessidades e até para exportar). É bom que saiba que temos todas as condições para sermos auto-suficientes a nível agrícola. Muitos estudos confirmam-no. Portanto, deixe de ser derrotista e não desista. Ok?

Gorgi disse...

Tanta discussão por aqui? Sejam amigos e respeitem a opinião de cada um.
Quanto aos exames, tenho a mesma opinião há muitos anos. Não trazem novidades nenhumas, pelo que de pouco servem.