quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Sobre o ranking das escolas (parte 2)

Considero a publicação dos resultados obtidos pelos alunos nos exames nacionais (aquilo a que vulgarmente conhecemos como rankings das escolas) como uma importante ferramenta que deveria ser utilizada por cada uma das escolas a fim de que se saiba a que nível cada escola está no panorama nacional, a cada uma das disciplinas e na sua globalidade, bem como no sentido de avaliar a sua própria evolução ao longo dos anos. Contudo, em muitas das escolas por onde tenho passado, desde que os rankings são de divulgação pública, parece-me que este trabalho de análise profunda é descurado, seja aquando da divulgação dos resultados, seja quando se distribuem as turmas do secundário pelos professores da escola. Esta análise deveria ir muito para além do que é feito pelo Conselho Pedagógico e pelo Conselho Geral e ser muito mais afincada nos próprios departamentos curriculares e de subcoordenação de grupo disciplinar. 
Desde que tenho este blogue que dou aqui a minha opinião sobre a importância que os rankings podem ter com vista a melhorar os resultados dos alunos e das escolas. Em Novembro de 2007 escrevi que "há duas variantes que influenciam de forma decisiva as notas obtidas nos exames: por um lado, a qualidade da matéria-prima, ou seja, as capacidades demonstradas pelos alunos, e por outro, o desempenho docente e a capacidade dos professores para motivarem os seus discentes. Deste modo, penso que as escolas têm um papel importante a desempenhar no sentido de distribuírem da melhor forma o seu corpo docente pelos diferentes níveis de ensino.  Ou seja, talvez não seja assim tão indiferente as decisões que os Conselhos Executivos tomam na hora de escolherem os professores que nas suas escolas irão leccionar às turmas do ensino secundário." Passados cinco anos continuo a pensar o mesmo.
Todos os anos tenho divulgado os resultados dos exames nas escolas por onde tenho passado. Ora, se nos primeiros sete anos como professor andei a "saltitar" de escola em escola, tornando impossível a concretização de um trabalho duradouro nessas escolas, nos últimos oito anos apenas mudei de escola por uma única vez (isto para me aproximar da minha área de residência).
Nos últimos seis anos leccionei a disciplina de Geografia A ao 11º ano (ano de exame) por três vezes, tendo tido a vantagem de (re)encontrar alunos no 11º ano quando haviam sido meus alunos em anos anteriores (tanto no básico como no 10º ano). Ora, se houve medida positiva que Maria de Lurdes Rodrigues tomou no sentido de melhorar a escola pública foi a de tentar tornar o corpo docente das escolas mais estável, através da efectivação dos professores do quadro por quatro anos (para bem dos alunos, mas dificultando, muitas vezes, a aproximação mais rápida dos docentes às suas áreas de residência). Mas, o interesse maior é o dos alunos. Estamos cá por eles.
Ora, passados estes últimos seis anos, e já que em três desses anos "levei" alunos do 11º ano a exame, resolvi analisar os resultados obtidos pelos alunos no exame de Geografia A nas duas escolas por onde passei. Analisei os dados da DGDCI e elaborei uma pequena tabela com os dados mais relevantes.
Coincidência ou não, os melhores resultados obtidos no exame de Geografia A ocorreram quando leccionei a disciplina: em 2006/07, 2009/10 e 2010/11. Por outro lado, no ano lectivo 2011/12 alguns dos alunos que fizeram exame haviam sido meus alunos no 9º ano de escolaridade. O trabalho realizado pelos meus colegas em 2007/08 e 2011/12 também foi muito positivo e apenas em 2008/09, os resultados estiveram muito abaixo da média nacional (se bem me lembro quem leccionou Geografia nesse ano foi uma colega que estava ávida por ir para a reforma!).
Enfim, parece-me claro que a escolha dos professores que leccionam ao secundário, sobretudo em anos terminais que implicam a realização de exame, não deve ser banalizada. A escolha de um ou outro docente pode ser determinante para que os resultados possam ser bons ou menos bons.
Por outro lado, ainda há quem tenha a ideia (absurda quanto a mim!) que as turmas do secundário com exame devem ser entregues aos chamados "professores da casa" ou aos que têm mais anos de serviço. Como se a idade ou a experiência fosse sinónimo de maior competência... A este propósito, recordo quando pela primeira vez dei aulas a uma turma do secundário que tinha exame nacional nesse ano à minha disciplina. Foi no meu quarto ano de serviço, na Mêda, tinha então 24 anos e os resultados dos alunos, coincidência ou não, foram dos melhores do distrito e quase todos eles entraram para a faculdade para cursos que exigiam médias razoáveis.
Parece-me, pois, claro que as escolas deveriam analisar com muito mais profundidade os resultados obtidos pelos seus alunos nos exames nacionais, a cada uma das disciplinas, avaliando o que de melhor e pior aconteceu, as discrepâncias entre as classificações internas e os resultados nos exames, entre outras variáveis importantes. E será também importante que as escolas saibam analisar as razões que podem estar por detrás dos bons e maus resultados dos alunos. É que, continuo a pensar que nem tudo se deve ao aluno, assim como não deve ser descurada a forma como o professor ensina não aquando da análise dos resultados obtidos nos rankings.

9 comentários:

Anónimo disse...

Você diverte-me (devidamente hifenizado)!

Luísa disse...

Seria bom que mais professores fizessem este tipo de análise. Suspeito que até algumas escolas não façam nada a não ser verificar os rankings que são publicados nos jornais. Pelo menos nas escolas por onde tenho passado nunca vi nenhum estudo feito de forma séria que tivesse sido dado a conhecer aos docentes, pais e até aos alunos.

uma leitora umbiguista disse...

Tanta presunção! Então para você os alunos só tiveram boas notas porque o professor era excelente. Brilhante conclusão!
Já colocou a hipotese dos alunos terem capacidades e de você ter calhado com bons alunos.
Já colocou a hipotese dos alunos terem tido acesso a explicações.
Já colocou a hipotese dos alunos terem tido bons professores no 9ºano.
Você deve pensar que é o melhor prof de Geografia à superficie da Terra.

Pedro disse...

Depois de um dia cheio de aulas, convém alertar a leitora umbiguista (suponho que leitora assídua da educação do umbigo do Paulo Guinote) para alguns erros de interpretação de que parece padecer.
Note que eu nunca afirmei que o professor é a única variável determinante no sucesso ou insucesso dos alunos nos exames nacionais.
Reproduzo o que escrevi neste post e que já havia escrito em 2007:"há duas variantes que influenciam de forma decisiva as notas obtidas nos exames: por um lado, a qualidade da matéria-prima, ou seja, as capacidades demonstradas pelos alunos, e por outro, o desempenho docente e a capacidade dos professores para motivarem os seus discentes". Esta frase responde perfeitamente às hipóteses que coloca.
Portanto, escusa de me acusar de coisas que não disse. E pode ter a certeza que não me considero o melhor professor de Geografia. Mas considero-me um professor competente. Há algum problema nisso?

Anónimo disse...

E este ano como é que vão ser os resultados a Geografia lá na escola? A média vai chegar aos 10 valores ou nem sequer isso?
Um colega

Anónimo disse...

Você é mesmo fantástico!

Ricardo disse...

Bem se vê, por estes comentários, o nível que vai pelas salas de aula do país.
Também por aqui se percebe por que razão nenhum sistema de avaliação de desempenho serve à classe docente.
Só tenho pena que os meus filhos tenham de lidar com professores assim.

Lurdes disse...

Também penso o mesmo. Tudo depende da qualidade dos alunos e da qualidade de quem ensina. E claro que a qualidade dos alunos depende muito do estrato social a que pertencem os pais. Por isso é que muitas das privadas conseguem excelentes resultados nos rankings.

Paulo Dias disse...

Então explica-me lá como é que, há um par de anos, os alunos que levei a exame ficaram em 11.º lugar no «ranking» e, nos últimos três, estão sempre nos últimos duzentos.

Devo ter sido eu que, com a velhice, fiquei pior.

LOL

P.S. Como é evidente, os profes. não são todos iguais.