sábado, 31 de agosto de 2013

As listas de colocação: a visão de conjunto e as situações individuais de cada um...

Seria demasiado simplista escrever que, afinal, só continuam a verificar-se pouco mais de 2 mil colegas com horário-zero e que ainda há cerca de 6 mil horários por preencher... Isto apesar da ânsia do catastrofismo e da maledicência de muitos que escreveram semanas a fio que deste concurso iriam resultar largos milhares de colegas sem horário...
Seria demasiado simplista escrever que a decisão do Governo de adaptar as áreas dos QZP`s às novas exigências do sistema de Educação foram decisivas para aproximar as necessidades das escolas aos docentes disponíveis em cada uma das zonas pedagógicas... Claro que muitos prefeririam que as áreas dos QZP`s não tivessem evoluído, mas se as vias de comunicação evoluíram (com a redução das distâncias-tempo) era inevitável que também os QZP`s fossem repensados, por forma a racionalizar os recursos humanos existentes...
Também seria demasiado simplista escrever que, afinal, ainda haverá muitos horários que serão preenchidos por colegas contratados, embora em número muito inferior aos candidatos a um lugar numa escola... Claro que há quem pensasse que o número de colegas contratados iria continuar a ser elevado, mas a aproximação do rácio professores/1000 alunos da média da OCDE traria como inevitável a redução do número de contratações... 
Mas o melhor mesmo será ser realista e factual!

1. Cada um de nós tenderá a olhar para os resultados deste concurso de acordo com o que este lhe reservou. Houve quem com menos graduação tivesse ficado perto de casa porque concorreu na 1º prioridade (por não ter escola ou horário) e, portanto, ficou bastante satisfeito, tal como houve colegas que, com maior graduação, ficaram (ou continuaram a ficar) longe da sua área de residência porque concorreram na 2ª prioridade e viram colegas menos graduados a passarem-lhes à frente por concorrerem na 1ª prioridade. Cada um terá a sua visão do concurso, sobretudo com base no que lhe "calhou" em sorte... São as injustiças inevitáveis deste tipo de concurso que sempre existiram e, pelos vistos, continuarão a existir...

2. A quebra da natalidade e a continuação de uma política de austeridade não irão cessar tão cedo, pelo que muitos serão ainda os professores que não sabem se a colocação que obtiveram agora se irá manter por quatro anos ou se até lá ainda terão de regressar à sua escola de provimento ou entrar num novo concurso transitório. A palavra "certeza" deixou de estar no vocabulário de muitos professores... Muitas escolas do Interior estão a atravessar um período de enorme redução do seu número de alunos, enquanto que o Litoral continua a "engordar" do ponto de vista populacional, pelo que estabilidade é algo que dificilmente entrará no rol de palavras usadas pela classe docente... 

3. Apesar de ainda existirem horários que virão a ser ocupados por colegas contratados e outros que surgirão ao longo do ano, por via das necessidades transitórias (licenças de maternidade, gravidezes de risco, baixas médicas, etc.) a situação da maioria dos colegas contratados (dizem que são mais de 40 mil os que concorrem a contratação) estava há muito tempo mais do que anunciada. Desde que a troika entrou em Portugal que se sabia que era intenção da troika e deste Governo racionalizar ao máximo o funcionalismo público. Com cerca de 100 mil professores do quadro e uma redução drástica no número de alunos (por via da quebra da natalidade e do fim das Novas Oportunidades), para além de um conjunto de medidas de contenção entretanto tomadas, já se esperava que o número de colegas contratados diminuísse. Seria algo desejável? Claro que não! Mas seria algo expectável? Certamente que sim...

E não nos esqueçamos da boa notícia que tivemos do Tribunal Constitucional (TC). Tal como se previa e aqui sempre defendi, a lei da mobilidade especial, encapotada numa espécie de despedimento sem justa causa, foi dada como inconstitucional, o que constitui uma boa notícia para os professores e a prova de que a última greve realizada (nos termos em que ocorreu) não se justificou, dado que o bom senso já previa que a decisão do TC fosse a que foi tomada...
Resta-me desejar a todos votos de um bom ano lectivo. Para aqueles que ficaram mais longe de casa (sobretudo para aqueles que saíram prejudicados por terem sido "ultrapassados" por colegas que concorreram na 1º prioridade) resta-me apelar à sua resistência. Aos contratados (sobretudo aos que já levam 10, 15, 20 ou mais anos de serviço) desejo-lhes boa sorte para os horários que forem surgindo ao longo do ano e a esperança de que daqui a quatro anos, com as aposentações entretanto ocorridas, possam ver melhorada a sua situação.
Entretanto, esperemos que se deixe de falar tanto em questões de âmbito laboral e que voltemos a concentrar esforços no que realmente deverá estar na base das preocupações de qualquer professor: os nossos alunos e o desejável sucesso educativo. 

5 comentários:

LL disse...

Um post de grande lucidez, como, de resto, já vem sendo hábito.

Anónimo disse...

Pedro,
Bom ano letivo para si também.
Espero que tenha ficado colocado. Sorte dos alunos que o terão como professor. O meu filhote bem que precisava de uma ajudinha a Geografia 11.º ano :-)No 10.º foi a disciplina em que obteve pior classificação :-(
Não, não é uma cunha... LOL
Excelente post.
MJ

Anónimo disse...

Pois é Pedro, estes concursos tiveram de tudo. Colegas satisfeitos, colegas desgostos, colegas ansiosos e que continuam à espera e muitos que não irão conseguir voltar a ter horário. Tu lá continuas com a tua visão das coisas. Dizes que és realista mas, por vezes, também é importante que sejamos idealistas e nada conformados.
Este ano já não vamos ficar na mesma escola. Foi bom trabalhar contigo, mas continuarei a vir aqui fazer-te umas visitas.
Espero que tenhas uma bom ano letivo. E não, não te vou dizer quem sou.

Uma antiga colega tua

Anónimo disse...

Não vejo aqui lucidez nenhuma, mas apenas um texto que demonstra uma visão economicista da Escola Pública. Até parece que os professores e alunos não passam de números.
A luta é possível e urgente. Há quem não desista das suas convicções.
Uma Escola Pública melhor é possível.

Pedro disse...

Apenas quero deixar claro ao último anónimo(?) que aquilo que escrevo baseia-se numa visão pragmática e realista do período difícil que Portugal atravessa.
Claro que esta visão realista tenta compatibilizar a racionalização e um melhor aproveitamento dos recursos disponíveis na Educação com a manutenção ou até melhoria dos resultados obtidos nesta área. É uma espécie de tentar juntar o útil (evitar o desperdício de recursos) com o agradável (obtenção de bons resultados na Educação).
Claro que o ideal seria termos menos alunos por turma (no máximo 25 alunos), escolas de média dimensão (que não ultrapassassem os 1000 alunos) e mais professores disponíveis no sistema não apenas para darem aulas, mas também para os apoios, as tutorias e outras actividades.
Mas, uma coisa é o que se quer ter e outra coisa é aquilo que se consegue ter...
Respeito quem pensa de forma diferente e luta pelas suas convicções. E penso que mesmo com menos recursos é possível continuarmos a ter uma boa Escola Pública!