sábado, 7 de setembro de 2013

Clara contradição! Não faz sentido financiar o ensino privado quando o número de alunos até diminui...

Os últimos dias foram pródigos em notícias sobre a Educação. 
Nuno Crato deu uma entrevista ao Correio da Manhã onde, entre muitas outras coisas, reafirmou a intenção de acabar com o sistema nacional de colocação de professores, de forma a permitir que sejam as próprias escolas, de acordo com os seus critérios, a contratarem os professores. 
Ao mesmo tempo, o MEC divulgou um estudo onde prevê que entre 2011 e 2017, o número de alunos diminua em cerca de 40 mil, sobretudo por via da quebra da natalidade e do aumento da emigração. 
Finalmente, a notícia bombástica dos últimos dias: o novo Estatuto do Ensino Particular e Cooperativo, aprovado em Conselho de Ministros, abre as portas ao cheque-ensino e prevê que o Estado passe a financiar directamente as famílias, por forma a que estas optem entre a escola privada e a escola pública, numa lógica de promoção da liberdade de escolha.
Primeiro facto. Todos sabemos que o MEC, a mando da troika, tem tido em vista a racionalização dos recursos humanos e materiais. Por outras palavras, diminuição de despesas. Por isso, continuou a política da agregação de escolas e de encerramento de escolas do 1º ciclo, não acabou com os contratos de associação com os privados e reduziu ao máximo a necessidade de contratar professores. Com esta política, as poupanças, nos últimos dois anos, foram de muitos milhões de euros. Até aqui nenhuma novidade. Como escrevi aqui muitas vezes, era inevitável que os cortes atingissem a Escola Pública, desde que a qualidade do ensino ministrado não fosse prejudicada. Foi a lógica do "fazer mais com menos"...
Segundo facto. Como também aqui escrevi muitas vezes, desde o ano 2000 que Portugal tem registado um número cada vez menor de nascimentos (de 120 mil nascimentos no ano 2000 passámos para menos de 90 mil em 2012). As consequências desta quebra demográfica são já bem evidentes nas nossas escolas, sobretudo nas das regiões do Interior. Esta situação tem sido acentuada, infelizmente, pela quebra da imigração e o aumento da emigração. Se a isto juntarmos o aumento do número médio de alunos por turma, torna-se evidente que o número de professores necessários ao sistema público de Educação é cada vez menor. Alguma novidade? Para mim, não... 
Temos assim o factor economicista e o factor demográfico a justificarem o porquê da Escola Pública ter vindo a registar um recuo no número de professores ao serviço, nomeadamente ao nível dos docentes contratados (chegaram a ser mais de 35 mil há menos de 10 anos e agora não devem chegar aos 10 mil, muitos deles com horários inferiores a 8 horas lectivas e com a duração de poucos meses).
Mas, vamos ao terceiro facto que entra em contradição com o que atrás descrevi. O Governo resolveu, sem grande debate público, levar avante a sua intenção de incentivar a liberdade de escolha às famílias, permitindo que, futuramente, o Estado possa financiar directamente as famílias que optem por colocar os seus filhos nos colégios privados. Não ponho em causa a legitimidade do Governo para legislar neste sentido, pois era algo que estava no seu programa de Governo. O que já não compreendo, nem aceito, são as razões que, aparentemente, estão por detrás desta decisão. E explico porquê...
Num tempo em que cada vez há menos alunos e onde muitas das escolas públicas começam a ficar subaproveitadas (sobretudo as das regiões do Interior, mas também muitas do Litoral - veja-se o que se passa nas Caldas da Rainha) e quando sabemos dos milhões que se gastaram (e que ainda se estão a gastar) no programa de requalificação da Parque Escolar, não faz qualquer sentido ir-se no sentido do aprofundamento dos contratos de associação com os privados. Não tem lógica! E não vale a pena ao Governo vir com a fundamentação ideológica, na medida em que num período de austeridade como aquilo que vivemos (e que ainda está longe de estar ultrapassado), esta pseudo-intenção de, como diz Nuno Crato, "fomentar a concorrência entre as escolas públicas e as escolas privadas para bem dos alunos" apenas terá as seguintes consequências:
- o subaproveitamento de muitas escolas públicas;
- o aumento das despesas com os colégios privados;
- o aumento da estratificação sócio-económicas entre escolas;
- a incapacidade da escola poder servir como motor de ascensão social das famílias.
Estes são apenas alguns dos resultados que poderão advir da possibilidade do Estado financiar directamente as famílias na escolha do tipo de estabelecimento (público ou privado) que querem para os seus filhos, com a agravante de que a igualdade de oportunidades nem sequer está garantida, pois os privados apenas estarão interessados em investir em cidades de média e grande dimensão, pelo que, uma vez mais, as gentes do Interior e dos meios rurais serão desprezadas e apenas terão a Escola Pública como opção. E, mesmo nas regiões onde as escolhas pública e privada coexistam (sobretudo nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto) o mais certo é que esta medida apenas venha beneficiar as famílias mais favorecidas, dado que aos colégios privados não lhes interessam ter alunos provenientes de famílias com menos posses ou problemáticas. E já nem falo dos alunos com necessidades educativas especiais que, na maior parte das vezes, apenas têm na Escola Pública a única opção de escolha.
Daqui resulta que, quanto a mim, não existem razões suficientemente válidas que justifiquem a intenção do Governo em financiar, desta forma, o ensino particular. Não temos falta de escolas públicas, nem temos alunos a mais que expliquem a necessidade de se recorrer aos privados. Ainda para mais depois de Portugal ter estado tantos anos a fazer asneiras com as PPP`s. Ora, isto não é mais do que uma PPP, mas agora com a Educação. Desta forma, o Governo não se irá livrar da fama de que apenas avançou com esta medida para agradar aos privados (como o grupo GPS) ou à própria Igreja. E, sabendo-se que nos últimos dois anos encerraram, por falta de alunos, largas dezenas de colégios privados, fica a clara ideia de que, mais do que o interesse público, o que o Governo está a querer defender são os interesses de alguns grupos económicos...

23 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns pela excelente análise sobre a vergonha do financiamento aos privados. Interesses de grupos económicos aos quais não são alheios os partidos do centrão.
Desta vez, o dr Pedro pensou com a cabeça e não com a cor do partido.
Fique bem.
maria do norte

Anónimo disse...

Muito bom o seu post, mas só há uma coisa que não percebo. Como (apesar de não concordar com grande parte das coisas que o Pedro escreve) o acho uma pessoa minimamente culta, porque é que está tão surpreendido e indignado com esta medida do seu PSD, quando ela está plenamente de acordo com as ideologias da direita ultra-liberal, que vê em qualquer sector de actividade uma oportunidade de obter lucro, tentando também reduzir o sector público ao mínimo, e com uma qualidade muito duvidosa?
Há aqui uma clara contradição: se o Pedro concorda com a ideologia do seu PSD (que de social democrata só tem o nome) só pode concordar com esta medida. E se discorda da mesma, manda a coerência que se desvincule do PSD, pois claramente não segue a sua ideologia.

Luis Moreira disse...

A realidade . boas escolas privadas cheias de alunos ricos; boas escolas públicas cheias de alunos remediados; más escolas públicas cheias de alunos pobres.Todos podem optar menos os pobres.

Pedro disse...

Cara Maria do Norte
Pode ter a certeza que aquilo que escrevo se baseia na opinião individual que tenho sobre os diversos assuntos e não por meras conveniências político-partidárias. Por isso é que neste blogue nunca tive problemas em elogiar este Governo quando achei que o deveria fazer, assim como o critico quando acho que o devo fazer.

Caro anónimo
Vou-lhe ser franco. Estou surpreendido e indignado com esta medida porque, apesar de saber que o programa de Governo do PSD a previa, a verdade é que também previa que apenas em casos de carência de oferta pública é que o Estado deveria financiar o privado.
Por outro lado, a ideologia da social-democracia é bem diferente da ultra-liberal e se analisar com atenção o programa de Governo este defende a Educação como "serviço público universal". E é isso que eu defendo...
E tome atenção ao que lhe digo: os dirigentes dos partidos passam; os partidos ficam. Não sou como alguns que mudam de partido como mudam de camisa...
Só mais uma questão: nos princípios do PSD defende-se a iniciativa privada, mas não o financiamento dessa iniciativa privada. Na Educação, a prioridade do Estado deve ser a da defesa da Escola Pública na promoção de um serviço público de qualidade. Por isso critico esta medida do Governo que mais não parece do que tomada para beneficiar os privados e não as famílias... Espero tê-lo elucidado.

Ana disse...

Estou admirada consigo e com este excelente post.
Finalmente o Pedro começa a ver que este Nuno Crato é um autêntico sanguessuga da Escola Pública. Mas mais vale tarde do que nunca, não é?

Anónimo disse...

Então caro Pedro agora que lhe começam a arder as barbas, a "laranja" já amarga! Até aqui eram só hossanas e aleluias! Ou como diz o brasileiro - Pimenta no rabinho do outro é frescura!
Vê no que dão o seguidismo e o facciosismo?! Calma,pode ser que não seja nada!Cumprimentos.
A.Ferreira - Aveiro

Anónimo disse...

Então, segundo o Pedro, "nos princípios do PSD defende-se a iniciativa privada, mas não o financiamento dessa iniciativa privada". Bem, ou o Pedro é ingénuo ou simplesmente não quer dar o braço a torcer.
A iniciativa privada tem como objectivo único o lucro (por oposição ao que o estado oferece, que pretende apenas servir a população, mesmo que dê prejuízo). Como o Pedro sabe bem (mau era que não soubesse), a iniciativa privada está na esmagadora maioria nas mãos das pessoas com mais dinheiro, que também constituem a grande base de apoio dos partidos de direita, nos quais se inclui o seu PSD. Sendo assim, faz todo o sentido que o seu querido partido arranje uma maneira mais ou menos camuflada de financiar essa mesma iniciativa privada, seja em que sector for, para lhe permitir um lucro cada vez maior. Basta alegar que esta lei fomenta a liberdade de escolha, permitindo a todos, ricos ou pobres, escolherem as melhores escolas, para ter um pretexto para isso.
Percebeu, ou é preciso fazer um desenho?

Maria disse...

Excelente post Pedro. Seria bom que aqueles que defendem o cheque-escola conseguissem rebater estes argumentos. É que não se percebe como é que com menos alunos e com escolas públicas melhor equipadas se opta por gastar mais dinheiro com os colégios privados. A não ser que seja mesmo a preocupação de beneficiar e privilegiar o ensino particular.
Se o cheque-escola avançar será mesmo o fim da Escola Pública.
Mais uma vez parabéns pelo post.

Pedro disse...

Resposta aos comentários da Ana, do A. Ferreira (Aveiro) e ao último anónimo(?)

Nunca foram só "hossanas e aleluias" que eu tive para com este Governo. Se tivessem lido com atenção aquilo que vou escrevendo por aqui saberiam que tanto sou capaz de compreender algumas das medidas tomadas por este Governo (p. ex. a necessidade de aproveitar ao máximo os docentes do quadro - mobilidade geográfica), como sou capaz de criticar outras medidas (p. ex. a intenção de se avançar com a mobilidade especial ou a continuação da aposta nos contratos de associação).
Nunca aqui tive um discurso de puro seguidismo. Isso é falso...
Não gosto é de ter uma visão corporativista dos assuntos, nem tão pouco o discurso do simples "bota abaixo". Tento é ter uma visão realista das coisas...
Apenas mais uma questão dirigida ao último anónimo. A iniciativa privada tem como último fim o lucro. É verdade. Mas para ter lucro tem de prestar um bom serviço; caso contrário não poderá ter lucro. Veja-se o caso da saúde. Não discordo da iniciativa privada; do que discordo é do financiamento do Estado (através do dinheiro proveniente dos impostos dos contribuintes) concedido aos privados. Se os privados querem apostar na Educação que apostem, mas sem ser à custa do cheque-ensino. É esta a minha visão sobre este assunto.
Não é por ser professor do ensino público que critico esta medida, tal como não é por ter votado no PSD que vou deixar de criticar esta medida. Há quem tenha pensamento próprio...

Uma palavra para a Maria para lhe dizer que não acredito que o cheque-ensino leve, no futuro, ao fim da Escola Pública. Caso esta medida avance (ainda não sabemos se irá mesmo ser concretizada - veja-se o que aconteceu com a requalificação profissional) os seus resultados serão tão maus (maiores desigualdade entre as famílias, maiores gastos públicos, maiores injustiças no acesso à educação) que, mais tarde ou mais cedo, acabará por ser abandonada. Isto é o que eu penso que acontecerá...

Anónimo disse...

Duas coisas:
1- se o Pedro discorda assim tanto desta medida, então não percebo porque é tão fervoroso militante do PSD, pois isto é a ideologia típica do seu partido, quer o Pedro goste quer não.
2- quando diz que a iniciativa privada precisa de ter qualidade para ter lucro, isso não é obrigatoriamente assim. Falando deste sector da educação, bastam duas coisas para atrair mais clientes (e logo, ter mais lucro). Em primeiro lugar, basta dar boas ou excelentes notas a alunos medianos ou mesmo fracos, para satisfazer os pais que pagam bem por um ensino que esperam ser de qualidade. E para evitar que os exames nacionais ponham a nu isso mesmo, basta deixar os alunos copiarem, ou mesmo arranjar alguém que lhes dê as respostas, na certeza que nenhum aluno denunciará isso por razões óbvias, e que nenhuma inspecção saberá disso, e se quiser eu explico-lhe porquê.
E a cereja no topo do bolo são, por consequência, os excelentes resultados nos exames nacionais, a melhor forma de atrair clientes para essa empresa. E nada disso implica que seja uma escola de qualidade. Não quer dizer que não haja boas escolas privadas, é claro que há. Só que há muitas que, parecendo boas, não o são.

Pedro disse...

Caro anónimo (o último)

Não sou um fervoroso militante do PSD. Mas não escondo que votei neste Governo...
Por outro lado, o PSD não defende, na sua base programática, esta medida. Esta medida foi, sim, proposta pela actual direcção do PSD, no seu programa de Governo, e sempre discordei dela. O que o PSD defende, enquanto partido social-democrata, é sim a igualdade de oportunidades entre os cidadãos no acesso à Educação, o que na minha opinião não se irá conseguir com o cheque-ensino. Bem pelo contrário...
Em relação à sua segunda questão, a mesma cai pela base, na medida em que alunos medianos ou mesmo fracos não manteriam nos exames nacionais as "inflacionadas" notas internas. E não me acredito que esses colégios facultassem, nos exames nacionais, as respostas aos alunos apenas para que estes tivessem boas notas. Pelo que, de facto, para o privado, com ou sem cheque-ensino, só lhe interessa ter alunos das classes mais favorecidas.
Mas vamos ao que interessa neste assunto. Há várias razões que me levam a discordar do cheque-ensino. Coloquei algumas dessas razões no meu artigo. Uma delas é mesmo o facto do cheque-ensino aumentar as desigualdades entre os alunos no acesso à Educação, para além da falta de lógica de se subaproveitar as escolas públicas, num tempo onde o número de alunos até tende a diminuir.

Anónimo disse...

Caro Pedro
A partir do momento em que aplaude 99% de tudo o que o PSD faz, e critica ferozmente 99% do que é feito pela esquerda (seja ela o PS enquanto governo ou oposição e PCP ou BE enquanto oposição), não percebo como não é fervoroso. Então o que era preciso para ser???
Quanto a esta medida não estar na base programática do PSD, pode não estar de forma explícita, mas só por ingenuidade o Pedro pode acreditar que não é essa a sua real intenção. Então se o PSD (este, não o que se dizia social-democrata no tempo do Sá Carneiro, mas onde isso já vai) tem como missão favorecer o grande capital, como é que não iria aprovar uma medida destas? Se não o fizesse, os grandes capitalistas deste país tiravam-lhe o tapete. Ou acha que não?
Outra coisa: alunos medianos ou fracos não manteriam as notas internas nos exames nacionais? Só se esses exames fossem realizados fora do espaço físico dessas escolas privadas, e devidamente vigiados por professores de outras escolas. Se não quiser acreditar em fraudes em alguns colégios, não acredite, mas é ingénuo. Para muitas escolas privadas (não aqueles colégios famosos e prestigiados, que esses sim, têm qualidade) o ensino é apenas um negócio, e como tal, a única coisa que interessa é atrair clientes, e para atingir esse objectivo, qualquer estratégia serve, pois os fins justificam os meios. Se quiser um caso concreto, falo-lhe do famoso externato Ribadouro, para onde iam alunos muito fracos de outras escolas, e de repente, como por milagre, passavam a ter notas bem altas.
E pode ter a certeza que, para o privado, não interessa ter apenas alunos das classes mais favorecidas. Interessa é ter quem pague, porque o lucro é que manda! Ou o Pedro acha que, com o MEC a financiar os alunos que não têm dinheiro para o privado, alguma escola privada vai rejeitar essa fonte de rendimento só porque o dinheiro vem do estado, em vez de vir directamente dos pais dos alunos??? Dinheiro é dinheiro, venha ele de onde vier. Ou tem dúvidas disto?
Quanto à sua opinião sobre o cheque-ensino, aí estamos 100% de acordo. O que eu não compreendo é o seu espanto por o seu partido tomar esta posição...

Leitor atento disse...

Tens razão. As contradições são mais que evidentes. Se, como diz o governo, continua a haver professores a mais (o que é mentira) e depois da mobilidade especial ter sido considerada como ilegal pelos juízes, não faz sentido estar-se a incentivar a ida de alunos do público para o privado. Ainda por cima com o Estado a financiar os colégios privados. É contraditório.
Muito bom texto.

Anónimo disse...

Quem o viu e quem o vê!
Agora já acredita que este governo quer é destruir a escola pública?

Pedro disse...

Caro anónimo(?) das 10:15 AM

Desde já agradeço-lhe o debate suscitado. Quanto às suas questões, volto-lhe a dizer que não me considero um fervoroso adepto do PSD. Aliás, nem do PSD, nem do Benfica, para ver que fanatismo não é comigo.
Então se ler o que tenho escrito desde que Nuno Crato é Ministro da Educação, vai reparar que tanto o elogio como o critico. Não há fanatismo nenhum da minha parte...
Mas vamos ao que interessa. O PSD não tem, nem nunca teve como intenção favorecer o capital. Isso é a conversa da esquerda ortodoxa. O objectivo do PSD, daquele que defendo, é o do desenvolvimento de Portugal. E repare que se o PSD defendesse o capital a todo o custo não teria cortado nas rendas fixas da EDP, nem teria renegociado os contratos com as concessionárias das auto-estradas (contratos estes assinados pelo PS). Também não teria terminado com as obras públicas faraónicas como o TGV ou o aeroporto, tanto do interesse do capital da construção civil. Portanto, não vejo o PSD como o grande defensor do capital.
Já em relação à possibilidade do cheque-ensino é algo que sempre critiquei e parece-me uma teimosia de Nuno Crato. É verdade que Crato sempre defendeu o cheque-ensino (mesmo antes de ser Ministro), mas nunca pensei que em tempo de austeridade continuasse a pensar assim. Por isso critico esta medida deste Governo, mas não é isso que me faz pensar que Sócrates teria sido melhor alternativa a Passos Coelho... E repare no silêncio do Seguro em relação a esta matéria!!!
De resto, concordo consigo que algo de muito estranho se passará no Ribadouro (tb conheço esse caso), mas parece-me que esta medida, a avançar, não irá ter grandes resultados, dado o facto dos dinheiros públicos não conseguirem cobrir as reais despesas do privado... E, quando não há dinheiro, não há vícios...

Um desafio que deixo ao último anónimo: quando encontrar uma contradição entre algo que eu tenha escrito antes e aquilo que escrevo agora, avise-me que eu agradeço-lhe. Penso que não irá encontrar...

Anónimo disse...

Caro Pedro
OK, aceito o que disse sobre as questões que levantei relativamente ao PSD e ao capital, mas não concordo muito.
Concordo é que o Sócrates não é alternativa ao Passos Coelho, pois são ambos péssimos! E quanto ao Seguro, nem comento, porque ainda consegue ser pior (se é que isso é possível!). A única coisa que pode mesmo fazer é ficar calado, pois, mesmo não sendo o ideal (longe disso), pelo menos não diz disparates!
Já agora, acrescento que, para nós professores, tão mau ou pior do que o cheque-ensino é a possibilidade já referida pelo Crato de acabar com os concursos nacionais de professores, deixando isso ao critério das escolas. É evidente que há casos de professores colocados de forma central que são manifestamente incompetentes (nomeadamente por serem desequilibrados mentalmente) e por isso seria um enorme alívio para as escolas poderem livrar-se deles. O problema é que isto serão casos isolados, e na prática o que vai acontecer é que as cunhas vão tornar-se a norma, e para além de isso não favorecer a qualidade, estou em crer que, para mantermos o lugar, teremos de passar a ser uns escravos dos directores, e ainda andar constantemente a dar-lhes graxa, o que é algo que a mim me custa imenso, pois não faz parte do meu feitio.

Anónimo disse...

"se o PSD defendesse o capital a todo o custo não teria cortado nas rendas fixas da EDP, nem teria renegociado os contratos com as concessionárias das auto-estradas (contratos estes assinados pelo PS). Também não teria terminado com as obras públicas faraónicas como o TGV ou o aeroporto, tanto do interesse do capital da construção civil. Portanto, não vejo o PSD como o grande defensor do capital."

Em que planeta é que você vive??? O secretário de estado que tentou cortar essas rendas fixas foi afastado (estava claramente a ser incómodo), o contrato das Scuts foi renegociado, é verdade, mas com o estado a pagar agora mais do que antes, e quanto às obras faraónicas, foram acabadas apenas e só por falta de liquidez.
E você ainda diz que o PSD não protege o capital a todo o custo??? Deve estar a gozar connosco, só pode!

Pedro disse...

Caro anónimo (o último)

Não gostaria de estar aqui a mudar o tema deste artigo que se relaciona com o cheque-ensino, mas é bom que tenhamos memória.
Não foi um governo PSD o grande responsável pelas PPP´s que tanto contribuíram para o aumento da nossa dívida pública, com compromissos de largas centenas de milhões de euros para as próximas décadas. Nem foi um governo PSD que nacionalizou um banco falido e cheio de dívidas. Também não foi um governo PSD que estabeleceu rendas fixas para a EDP.
Claro que também não vou dizer que o PSD não tem culpas na forma como o país chegou ao estado a que chegou, mas também não sou daqueles que coloca PSD e PS no mesmo saco. Tenhamos memória!!!
Já quanto ao tema que aqui nos trouxe, não tenho problemas nenhuns em criticar este governo PSD por querer beneficiar os colégios privados (um grande objectivo do CDS). Mas também me incomoda tanto silêncio por parte do PS sobre esta matéria... E não, não estou a gozar com ninguém!

Anónimo disse...

Pedro, só para que entenda uma coisa, de uma vez por todas: ao criticar assim o PSD, não estou a desculpabilizar o PS. Bem pelo contrário: disse e reafirmo que a governação do PS foi péssima para o país. O problema é que (como prova este cheque-ensino e outras barbaridades igualmente graves) o PSD não tem feito nada melhor! E é pena que o Pedro não entenda isso. No entanto, quando a sua qualidade de vida se começar a degradar claramente, tanto na sua profissão, como em aspectos fundamentais como a saúde ou a justiça, talvez um dia perceba que não há (na prática) diferenças relevantes entre PS e PSD.
Já agora, só mais uma coisa: o que acha de o nosso 1º ministro (acompanhado do ministro da educação) ter dito ontem, numa visita a uma escola, algo como "desta vez o ano lectivo vai poder começar com normalidade", quando há escolas que ainda nem sequer têm as turmas todas aprovadas e falta colocar muitos professores e as aulas estão mesmo a começar? Não acha que isto é (entre outras coisas) um insulto à nossa classe?

Pedro disse...

Caro anónimo, respeito quem pensa que o PSD e o PS fizeram o mesmo ao país cada vez que nos tiveram a governar. Respeito, mas discordo. Mas também não digo que o PSD fez tudo de forma correcta (bem pelo contrário) ou que o PS fez tudo mal...
O que me parece é que os últimos (quase) 40 anos de democracia têm demonstrado que o PSD tem governado, grosso modo, melhor o país do que o PS. Em termos gerais, direi que o PSD tem uma perspectiva sobretudo de desenvolvimento económico do país, enquanto que o PS se preocupa mais em, digamos, agradar ao povo (aumentando as despesas, nem que seja com PPP`s, com as consequências que bem conhecemos em termos de défice e de dívida). Mas cada um tem a sua opinião!
Aliás, esta (saber se o PSD e PS são ou não iguais) é uma discussão do género futebolístico em que cada um fica com a sua. Não leva a lado nenhum...
Por isso, centremos-nos no que interessa: o sector da Educação. E aqui há muito por debater. Pelo menos no cheque-ensino pensamos de forma igual. Já é bom...
Quanto ao início do ano lectivo: é a (a)normalidade dos anos anteriores. Neste aspectos não houve grandes novidades...

Anónimo disse...

Amigo Pedro, até concordo com as diferenças que aponta entre PS e PSD. No entanto, graças a medidas como esta do cheque-ensino (e muitas outras que não vale a pena referir aqui) penso que é óbvio que os governos PSD também são ruinosos para o país. A pergunta que lhe faço é: o Pedro quer algo de bom para o nosso país, ou quer apenas um mal menor, ficando contente apenas por achar que o PS faria ainda pior??? É que, vistas as coisas assim, parece que só há 2 partidos. Além disso, uma pessoa também pode (e deve) abster-se caso não se reveja em nenhum dos partidos, como é o meu caso.
Isto para dizer que, como o vejo tão descontente com medidas como o cheque-ensino, não percebo como continua militante e/ou simpatizante do PSD. Parece-me um pouco incoerente...

Pedro disse...

Caro anónimo, vou responder à sua questão...
Tenho para mim que quando votamos num partido não quer dizer que nos identifiquemos com tudo o que é defendido por esse partido. Só mesmo os fanáticos partidários têm essa visão seguidista dos partidos.
Quem votou PSD nas últimas eleições não quer dizer que tivesse concordado com todo o programa eleitoral defendido pelo partido. Aliás, a maior parte das pessoas nem sequer olha para o programa eleitoral. O mais usual até é votarem no líder do partido (candidato a Primeiro-Ministro) e não no partido. Algo parecido com o que acontece com as eleições autárquicas. Vota-se na pessoa em quem se tem mais confiança...
Claro que o ideal não é votar no "menos mau", embora muitas pessoas tenham essa visão das coisas. Mas também lhe digo que não é meu feitio votar em branco. Só em casos muito extremos... E se tiver de votar no mesmo mau, faço-o...
Apesar de estar descontente com o facto do PSD querer avançar com o cheque-ensino (apesar de ter muitas dúvidas que a medida se concretize) há que ter uma visão global da governação. E, neste aspecto, parece-me que este Governo tem estado a fazer, embora por vezes com falhas, aquilo que é necessário: preparar Portugal para a fase pós-troika. É verdade que deveria ter havido mais bom-senso na dose da austeridade, mas tenhamos memória: o país entrou em bancarrota (não vou voltar a dizer por culpa de quem) e era necessário mudar de rumo. Foi o que aconteceu...
Penso que não há incoerência. Há sim pragmatismo...

Anónimo disse...

Lamento, mas quem vota sempre na mesma cor não vota na pessoa.

Lamento, mas relativamente à nacionalização do BPN o PSD teria feito exatamente a mesmíssima coisa. Não fossem os "donos" do buraco gente ligada e enraízada no PSD. Por algum motivo o processo está encalhado, e irá certamente caducar.

Lamento, mas se o PSD não governou mais anos nos ultimos 40 foi certamente porque não fez nada para que isso acontecesse. Aliás, só está neste momento a governar por usar um meio pouco legitimo e que, numa democracia que se quer adulta, não deveria ser permitido. Coligações devem ser feitas antes das eleições, jamais depois. Quem vota, ou a grande maioria, não vota na coligação. Continuando, este governo só governa, porque o povo (cada vez menos votantes) decidiram (bem ou mal) mal na minha opinião (há, felizmente, muitas mais opções de voto) penalizar o partido que governou anteriormente. Este governo não governa por o ter merecido, governa porque neste rectângulo, há os que votam sempre nos mesmos (fanáticos) e os que mudam de cor (embora as diferenças atuais sejam poucas) do PS para o PSD. É cíclico.

Lamento, mas as PPP's são estratégia politica de ambas as cores partidárias. Aliás, quem introduziu essa forma de betonagem de obra atirando os custos para o futuro até foi um governo PSD. Não sejamos ingénuos, bastará olhar para os cargos ocupados nas direções das empresas diretamente interessadas nessa contratação negocial, para verificarmos que ambos os partidos têm intereses comuns. Relativamente às rendas, nomeadamente elétricas, é verdade, o PS foi o grande culpado, mas ainda não vi este PSD a tomar nenhuma posição contrária. Por que esperam? Ou será que há outros interesses que desconhecemos?

Lamento, mas nas três bancarrotas (quatro se contarmos com o 2º resgate que aí vem ) o PSD esteve directamente envolvido. Talvez na primeira, o PCP fosse o mais culpado. Mas na AD o PSD foi o responsavel pelo resgate, e nesta última ao votar contra um plano de governo que seria identico ao plano da troika, preferiu que esse plano fosse dirigido por gente que não conhece sequer onde começa e acaba portugal.

Portanto, LAMENTO, mas a narrativa (sim é um bom adjetivo) ou retórica, que tenta atirar aos outros não colhe. E não colhe porque a história eterniza-se no tempo. Podemos não a ter vivido mas há formas ilimitadas de a consultar e tirar as próprias conclusões.