terça-feira, 22 de novembro de 2005

No meio de tanta desilusão ganhou a Ministra da Educação... Mas, não a Educação!

O debate que ontem teve lugar no programa "Prós e contras" sobre o actual estado da educação em Portugal, dominado pela contestação que os sindicatos da educação têm manifestado contra as medidas emanadas da tutela, saldou-se, na minha opinião, numa profunda desilusão...
Desilusão, porquê? Primeiro há que evidenciar a "qualidade" dos intervenientes no mesmo: o que foram fazer ao debate uma professora aposentada e um teórico da educação, que pouco sabem da realidade e do que efectivamente se passa nas escolas portuguesas? Depois, é deveras confrangedora a forma politiqueira e desfasada da realidade como os representantes dos sindicatos da FENPROF e da FNE dão a conhecer os problemas vividos pelos professores no contexto actual das alterações legislativas levadas a efeito pelo Ministério da Educação. E, o que dizer do representante dos encarregados de educação? Aliás, o senhor Albino Almeida é o representante de quantos encarregados de educação do País? É bom que se saiba, porque a realidade a este nível apenas demonstra que os pais, regra geral, alheiam-se completamente da vida escolar dos seus educandos, pelo que seria bom que se percebesse que legitimidade tem o senhor Albino Almeida para falar do ensino em Portugal...
No final das mais de duas horas de debate de pouca qualidade e de reduzido esclarecimento público, fiquei com a ideia de que foi a Ministra Maria de Lurdes Rodrigues quem melhor conseguiu fazer passar a sua mensagem, coadjuvado pelo anterior Ministro David Justivo, demonstrando muito bem que as actuais alterações no sistema de educação apenas poderão não estar a dar resultado em muitas das escolas por culpa dos próprios Conselhos Executivos e Pedagógicos dessas escolas. Aliás, notou-se bem que a Ministra da Educação foi para este debate com a lição bem estudada, enquanto que os senhores sindicalistas apenas apontaram "armas" para a conversa do costume: a capacidade de organizar greves e a retirada dos direitos laborais...
Mais uma vez perdeu-se uma boa oportunidade para elucidar a opinião pública portuguesa do que realmente se passa nas nossas escolas, com destaque para a falta de capacidade e de empenho que grassa por muitas escolas, embora tivesse ficado bem patente o défice de conhecimento efectivo que a actual equipa ministerial e os senhores sindicalistas parecem ter do que verdadeiramente é ensinar nas escolas portuguesas. E, quanto a outras questões pertinentes, como o regime de concursos, a avaliação, a indisciplina e os currículos, nada ou quase nada se discutiu...

8 comentários:

Anónimo disse...

Peço desculpa pela opinião contrária (aliás muito alargada a muita gente), mas o que o conhecido e prestigiado "teórico da educação" foi fazer foi tocar questões de fundo. De facto esteve desfazado no debate.

Anónimo disse...

Concordo com a IC. O único que valeu a pena ouvir foi mesmo o "teórico da educação", que por acaso tive o prazer de ter como professor. Sabe mesmo do que fala. Se a Srª ministra lhe desse ouvidos as coisas melhoravam concerteza.
Comcordo com o Miguel quanto ao representante dos Enc Educ.Ninguém diria que já foi professor. Agora é contra eles. Será que quando os filhos deixarem de estudar, ou de necessitar de Enc.de Educ., volta a ser professor???

saltapocinhas disse...

ao contrário de ti, gostei bastante do debate. Os debates não servem para resolver problemas, quando muito para os equacionar. Por isso esteve lá muito bem o Nóvoa. Nas intervenções dele só tenho pena que tenha falado tão pouco... O tempo "estragado" por aquele senhor da associação de pais é que foi uma pena!

Anónimo disse...

Apenas indispensável acrescentar:
Ler António Nóvoa antes de fazer qualquer comentário...ajuda...

Pedro disse...

Um prévio agradecimento aos comentários anteriores. E, um esclarecimento devido...
O artigo que aqui produzi, mais do que criticar o Prof. António Nóvoa, teve como principal objectivo chamar a atenção para a incoerência que foi promover um debate sobre Educação, sem que houvesse a preocupação de convidar um professor no activo que pudesse dar a conhecer a realidade da função docente.
Bem sei que o Prof. António Nóvoa é um profundo conhecedor da história comparada da educação, mas, será que o Professor já alguma vez tentou leccionar uma aula de, digamos, História durante 90 minutos a uma turma de 30 alunos de uma região deprimida de Portugal? E, será que tentou ir substituir um colega de Educação Tecnológica, motivando os alunos para o sudoku ou a dinamização de um debate à escolha deles, quando lidamos com alunos conrariados e revoltados com a Escola que temos?
Teorizar é mais fácil do que colocar em práctica aquilo que idealizamos, não é? Ou estarei errado?
Já agora, a teoria é a base de qualquer prática, mas como pode alguém teorizar sobre algo que desconhece na prática? O método científico é capaz de ajudar na resposta a esta questão...

Anónimo disse...

http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/investigacao/brilhoescola.pdf
---------------------------------- São 31 páginas um pouco compactas mas perfeitamente imprescindíveis para quem tem da Escola uma visão não miserabilista.
A não perder, até porque vindo de quem vem representa uma viragem.

Anónimo disse...

Absolutamente de acordo. transcrevo carta que enviei por mail para a apresentadora do Prós e contras:
Dra. Fátima Ferreira

Sou professora há 26 anos e, com grande expectativa, assisti ao último Prós e Contras de 21 de Novembro (programa que costumo ver e penso ser de grande interesse público).
Deste, que me dizia respeito, não gostei. Fiquei profundamente desiludida por não ter sido convidado nenhum professor no activo para integrar o grupo dos participantes na mesa de debate. Penso que foi um erro muito grande e uma enorme desconsideração para com os professores.
Deste lapso lamentável resultou que as principais questões não foram respondidas, pela simples razão de que os representantes sindicais também já não são professores há muito tempo e estão mais preocupados com o seu orgulho ferido (pela falta de atenção que têm merecido do ministério) do que em defender os professores ou os alunos.
Duas questões insistentemente levantadas não foram respondidas: "Por que eram apenas 7% das escolas a garantir aulas de substituição?" e: "por que estão os professores tão descontentes com a obrigação de substituir colegas que faltam?". A resposta às duas questões é só uma: nos 7% das escolas que já tinham aulas de substituição, estas eram dadas por professores do Quadro de Zona Pedagógica com horário incompleto, ou por professores com horário zero, o que significa que as aulas de substituição faziam parte do seu horário lectivo de 22 horas e, como tal, eram pagas. Nem todas as escolas tinham este tipo de professores e essas aulas não podiam ser atribuídas a professores com horário completo por não haver ordem de pagamento. Daí serem apenas 7 % das escolas. A sra. Ministra da Educação sabia a resposta, ou deveria saber, a esta 1ª pergunta. Mas, obviamente, não deu este esclarecimento, pois não lhe convinha.
O que agora se passa, pela medida imposta pela sra. Ministra é que as aulas de substituição são dados por professores com horário completo que, além
das 22 horas lectivas, são obrigados a substituir colegas durante 2 ou mais horas por semana (dependendo das escolas). OU seja, estão a fazer serviço lectivo (o próprio nome – aulas – assim o indica), teimando a sra. Ministra em chamar-lhe serviço não lectivo. Daí o descontentamento dos professores: ao mesmo tempo que se lhes retira direitos, se lhes congela as progressões e se lhes levantam calúnias, exige-se-lhes que trabalhem mais horas e que esse trabalho vá para além do tipo de serviço para que foram contratados. Claro que, como a sra. Ministra afirmou, "tomar conta de crianças é um trabalho muito digno". Isso não está em causa. O que está em causa é que não foi essa a profissão que os professores escolheram, não foi esse o trabalho para o qual foram contratados! (Em televisão, não vemos jornalistas e apresentadores a substituírem os operadores de câmara - por muito digno que esse trabalho seja!!).
Mais, e isto também não foi dito por aqueles que fingiram estar a representar os professores neste programa. Esse acréscimo de horas de trabalho, faz diminuir o número de horas disponível para o trabalho individual (TI). Façam-se as contas. Das 13 horas de TI, na maioria das escolas, 4 horas foram atribuídas à componente não lectiva (substituição e projectos). Sobram 9. Dessas, pelo menos 4-5 horas, em média, são gastas para reuniões (lembre-se que, com a revisão curricular, se estabeleceram reuniões de conselho de turma regulares e frequentes e, actualmente, há professores com 7, 8, 9, 10 e mesmo 11 turmas). Junte-se a essas as reuniões de departamentos e de projectos e, para muitos professores, as de Conselho Pedagógico e de outros órgãos da escola. Na melhor das hipóteses, sobram 4 ou 5 horas para preparar aulas, incluindo elaboração de materiais (fichas de trabalho, acetatos, guiões de exploração do manual, de filme, etc., conforme a estratégia que se utilize); Nessas horas, há ainda que corrigir trabalhos dos alunos; elaborar e corrigir testes (um teste de Geografia nunca me leva menos de 3, 4 horas a fazer); reflectir sobre os resultados de trabalhos e testes e, consequentemente, definir estratégias de recuperação para alunos com maiores dificuldades ou preparar trabalho mais avançado para alunos que têm necessidade de ir mais além. Acresce ainda o trabalho de avaliação que exige calma e ponderação, não pode ser feito à pressa. No caso de professores que têm mais de 6 turmas (a larga maioria), eu pergunto e desafio a sra. Ministra e o sr. representante da CONFAP a responderem-me: "Esperam que façamos um trabalho sério e bem feito em 4 ou 5 horas?" Se esperam, das duas uma, ou não sabem o que é este trabalho ou são irresponsáveis. O que está a acontecer é que as aulas, devido ao menor tempo de preparação, perdem qualidade; os professores, com o esforço suplementar que lhes está a ser exigido, têm menos disponibilidade para reflectir sobre o seu trabalho, menos paciência para os alunos e menor capacidade de corresponder às suas necessidades; a avaliação perde a sua eficácia enquanto elemento orientador e motivador do trabalho dos alunos (avaliação formativa), dado que os professores têm muito menos tempo de trabalho individual e demoram mais a corrigir e entregar os trabalhos e testes de avaliação.
Isto cria frustração e grande revolta em quem verdadeiramente se preocupa com os alunos, pois quem sai mais prejudicado são eles, porque é neles, na sua aprendizagem e no seu sucesso que se vai reflectir a inevitável redução da qualidade das aulas dadas (sem ovos não se fazem omoletas!!).

Outro assunto abordado no programa e mal esclarecido foi a questão das faltas dos professores. Obviamente que o absentismo no ensino privado é menor do que no ensino público! A razão é óbvia e passo a explicar: A indisciplina no ensino público atinge, em certas escolas e em algumas turmas, proporções que fazem com que muitos professores não consigam aguentar a pressão. Sei de professores e comigo própria já aconteceu (quando tinha menos experiência) que faltam por desconto no tempo de férias (doze dias por ano) nos dias em que têm as turmas mais difíceis e que, às vezes, se torna insuportável enfrentar. Sei de professores e comigo também aconteceu (quando tinha menos experiência) que, após certas ocorrências de indisciplina, ficam doentes e de outros que entram em depressão e, por isso, em ausência prolongada.
Não é por acaso que o estudo do ministério indica a doença e o gozo de dias de férias como as principais razões de falta dos professores.
Ora, no ensino privado, estas questões de indisciplina não se põem, porque os alunos mal comportados são expulsos e, além disso, o nível social das famílias é mais elevado, o que se reflecte na valorização da escola e na maior exigência em relação aos resultados escolares.
No ensino privado também não se coloca outra questão: o facto de haver professores a leccionar muito longe da sua residência – outro dos grandes motivos de ausência dos professores do ensino público. O ministério também pode confirmar pelas suas estatísticas que os professores que moram muito longe da escola (e são muito numerosos estes casos) são os que precisam de faltar mais vezes, até pela despesa que a deslocação até à escola implica (Por exemplo, para quem vem de Évora para Lisboa todos os dias, como uma colega colocada este ano na minha escola, na Póvoa de Santa Iria, vir trabalhar implica um gasto 7 ou 8 vezes superior à do subsídio de almoço que perde se tirar um dia de férias. Esta situação, pela qual só o ministério é responsável, é um incentivo claro ao absentismo destes professores, sobretudo tendo em conta que são mal pagos. Se um pessoa para trabalhar gasta muito mais do que se ficar em casa, é fortemente tentado a gozar um dia de férias! O que, aliás, é um direito de qualquer trabalhador português!).
Como é óbvio, a sra. Ministra sabe ou deveria saber tudo disto. Não esclareceu, porque não lhe interessava. Ela considera que ser ministra não é servir (ministério = serviço) é caluniar e denegrir os professores para, pensa ela, assim ter maior apoio da opinião pública. Esquece-se que os professores têm um contacto mais directo com os pais do que ela. Esquece-se que muitos professores, tal como eu, são pais e encarregados de educação e também não gostam de ver que muitos professores faltam tanto (apesar das boas razões que possam ter). O que se impõe não é castigar todos pelo pecado de alguns. É alterar a lei das faltas de modo a que os professores que recorrem frequentemente a atestados médicos tenham de comprovar que têm doença que justifique tal coisa e sejam convidados a exercer outras funções ou a escolher outra profissão que não colida com a sua saúde. O que se impõe, é que se eliminem as razões que criam a necessidade de faltar, como as colocações longe da residência e a indisciplina.
O que se impõe é que, tanto o ministério como os pais, exijam dos alunos comportamentos correctos na escola para que o desgaste dos professores (que são pessoas - sentem e sofrem) não seja tão grande.
Lanço o desafio de se fazer um debate público sobre este aspecto – a indisciplina, a indiferença de muitos pais para com a escola e para com o comportamento e aproveitamento dos seus filhos. Não tem sido devidamente considerado e é a verdadeira causa do insucesso da escola portuguesa – aluno que não ouve e não trabalha não aprende. Basta um aluno mal comportado numa turma para impedir todos os outros de aprenderem e para impedir o professor de dar mais atenção aos alunos com maiores dificuldades.
Muitos pais sofrem na pele o facto de os seus filhos serem constantemente prejudicados pelo mau comportamento de alguns colegas.
Era muito importante que a sra. Ministra, em vez de acusar os professores, reflectisse sobre isto, pois é aí que reside a causa do insucesso e de boa parte do absentismo dos professores (atente-se no que o professor António Nóvoa disse no seu programa sobre o sofrimento dos professores por causa da indisciplina).
Para terminar: não é com medidas como as que até agora foram tomadas que se vai elevar a posição de Portugal nos rankings internacionais. O resultado destas medidas, como atrás se demonstrou, terá o efeito precisamente oposto, devido à falta de tempo e à revolta dos bons professores.
É triste que uma pessoa que vem de fora, que pouco sabe sobre a realidade das escolas que, muito provavelmente, tem ressentimentos contra os professores (é a única explicação que consigo encontrar. Essa ou o facto de ela, talvez, ter sido professora do EB, ter sido incompetente e pensar, agora, que todos somos assim - isto são conjecturas minhas porque tenho necessidade de encontrar alguma razão lógica que justifique esta agressividade da sra. Ministra contra os professores), repito, é triste que essa pessoa, em tão poucos meses, tenha conseguido minar o gosto, o entusiasmo e a dedicação de largos anos de serviço de tantos bons professores e, ao mesmo tempo, com essas medidas, tenha dado motivos para que os professores que já eram menos dedicados, continuem assim ou ainda pior. É triste, principalmente por causa dos nossos filhos! (Talvez devesse passar a exigir-se aos membros do governo formação em psicologia!)
O sr. representante da CONFAP tem também responsabilidades - devia estar preocupado com os alunos e com as famílias. Mas parece mais interessado em agredir os professores (resta saber se, enquanto anda por todo o país empenhado nessa sua demanda, não descura os próprios filhos!).

Fica aqui a minha sugestão. Espero que a Dra. Fátima Ferreira tenha a coragem de promover esse debate, convidando também professores e alunos.

Obrigada pela atenção

Professora de Geografia do 3º ciclo do Ensino Básico, com 26 anos de bom e dedicado serviço.

Anónimo disse...

Desculpa Miguel não vi o debate na tv.
Mas pelo que li ninguem tem a noção da realidade da vida de um Professor.

tem sido assim...Mas penso que a nossa vida irá mudar um dia.
bjs