Estão prestes a acabar os dez anos de Presidência da República sampaísta, pelo que interessará fazer uma sintética análise sobre a prestação de Sampaio nos assuntos da educação...
Convirá relembrar que Sampaio, ao longo destes dez anos, conviveu com quatro Primeiros-Ministros e diversas equipas responsáveis pela pasta da Educação. Ora, sem se dar conta, a intervenção em tom coloquial e emocional (mais uma vez para não fugir à rotina) que Sampaio proferiu hoje no Liceu Pedro Nunes resume muito bem a forma como o quase ex-Presidente se envolveu nas questões da educação: conversa, conversa e mais conversa...
De facto, quando Sampaio afirma que não se tem conseguido lutar convenientemente contra essa catástrofe social que é o abandono escolar ou quando se refere aos professores como um dos intervenientes na área da educação que precisa de ser devidamente reconhecido é uma crítica do tamanho do mundo que Sampaio faz a si própria. É que, nos últimos dez anos, Sampaio não mexeu uma palha no sentido de "puxar as orelhas" a qualquer um dos detentores da pasta da Educação, com o intuito de reformar de forma séria e positiva todo o sistema educativo, desde o currículo escolar até à avaliação de discentes e docentes, passando por muitos outros aspectos, no âmbito de um consenso que se quer rigoroso entre todos os intervenientes: alunos, pais, professores, comunidades locais e Estado...
Aliás, a última proposta de Sampaio reflecte bem a forma como dez anos foram insuficientes para que este conhecesse a realidade do sistema de ensino português: vir afirmar que é urgente que os alunos portugueses dominam (repare-se no seguinte preciosismo!) pelo menos duas línguas estrangeiras, quando os resultados a Língua Portuguesa e a Matemática são o que conhecemos e, actualmente, temos situações de alunos (os do 7º ano, por exemplo) que têm catorze áreas curriculares por semana, mais as aulas de apoio, as aulas de recuperação e a frequência de clubes escolares é deveras de bradar aos céus...
Hoje os portugueses puderam assistir ao último discurso emocionado (qual menino piegas) de um Presidente que, também, na área da Educação não vai deixar saudades. É que se é para fazer discursos (ainda por cima deturpados da realidade) que o mais alto magistrado da Nação serve então estamos muito mal...
Um último apontamento para a recente visita de Sócrates à Finlândia: o jornal Público escrevia hoje que Sócrates perguntou a um elemento da direcção de uma escola de Helsínquia se os alunos tinham aulas suplementares para rever as matérias mais difíceis, ao que o interlocutor lhe respondeu que não era necessário porque em cada sala de aula estavam dois professores, o titular da turma e um para apoiar os alunos com dificuldades... Ou seja, na Finlândia não se poupa nos recursos humanos. Já agora se perguntasse o mesmo ao seu homólogo inglês este diria-lhe que no Reino Unido existe uma bolsa de professores apenas para fazerem substituições quando algum docente tem que faltar...
Hoje fico-me por aqui já que o objectivo deste artigo era o de avaliar a prestação de Sampaio na área da Educação e a nota que lhe dou é bem negativa. Não chega falar! É preciso intervir e agir, nem que seja chamando a atenção para os erros cometidos e os seus responsáveis. Ora, Sampaio nunca o fez e refugiou-se sempre em generalidades. É pena...
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