Depois de dois dias dominados por uma considerável adesão à greve decretada pela plataforma sindical de professores (apesar de não entrar na guerra dos números!) é tempo de fazer uma curta reflexão sobre os reais proveitos da estratégia levada a cabo pelos sindicatos:
1. Não coloco em causa a decisão de se recorrer à greve para tentar pressionar a tutela a mudar o rumo que escolheu para a criação de um novo Estatuto da Carreira Docente (ECD). Foram dois dias como poderiam ser cinco: os sindicatos apenas convocam a greve e aderem os professores que bem entenderem!!!
2. A adesão à greve parece-me ter sido bastante considerável se tivermos em conta que estamos num tempo de "vacas magras" e que perder um ou dois dias de salário já se nota bem ao fim do mês.
3. A greve permitiu à tutela a poupança de mais de 10 milhões de euros, pelo que o Ministro das Finanças deve estar bem satisfeito com a situação.
4. Tal como previ, a quarta versão (pós-greve) de alteração ao ECD apresentado pelo Governo não traz grandes novidades, nem tão pouco vai ao encontro dos principais anseios dos sindicatos. Bem pelo contrário, a forma ofensiva como a tutela sujeita a não aplicação da lei dos supranumerários aos professores com "horário zero" à condição dos sindicatos se silenciarem apenas prova que a greve apenas serviu para "esticar a corda" entre os intervenientes no processo negocial.
5. A "bola" está agora do lado dos sindicatos, mas parece-me que, com este clima de "cortar à faca" instalado entre o Ministério da Educação e os sindicatos, será a proposta da tutela a vingar, até porque as recentes declarações do Presidente da República indiciam uma crítica à decisão de convocar uma greve em pleno período negocial.
Para não ser acusado de apenas criticar e não avançar com alternativas, apenas direi que a solução para esta situação já vem tarde. Digo isto porque certamente que toda esta situação teria tido uma evolução diferente caso os sindicatos de professores tivessem uma imagem de credibilidade, rigor e exigência junto da opinião pública e da tutela. Ora, com sindicatos que, durante décadas, não se renovaram e deram a imagem de nunca se terem preocupado com os deveres profissionais, mas sim e apenas com os direitos e privilégios de uma classe demasiada afectada pela inércia, os resultados dificilmente poderiam ser diferentes daqueles que temos... E, note-se que sempre afirmei que com estes sindicatos não iríamos muito longe!
10 comentários:
Caro Miguel permita que lhe diga com toda a frontalidade que o seu desconhecimento da história do sindicalismo docente o deixa com carências de análise muito profundas. Recomendo-lhe algumas leituras nesse sentido, já que só através desse meio, ou de conversas com pessoas bem informadas pode suprir tal situação.
"...Mas sim e apenas com os direitos e privilégios de uma classe demasiada afectada pela inércia..."
Pelo muito que se tem feito AO LONGO DOS ANOS sinto-me ofendida!!!! Não sei se escreve isto só para provocar ou se é mesmo sentido!
Mas tem estado em que planeta?!!!!!!!!!!!!!!!!!
Olá..
Parece que as alterações após greve..não foram muitas ou nenhumas.
A grande alteração que houve foi nos cofres do estado...que ganharam 10 milhoes de euros. Formidável!
Eu quando ouvi a noticia no Telejornal e li no Diário...fiquei parva.
fica bem
Caros Henrique e "Amigona", longe de mim pensar que os sindicatos não tiveram, num período histórico particular, um papel relevante para a instauração da democracia, do direito ao trabalho e da igualdade entre sexos no nosso país. É claro que, ainda hoje, constituem importantes parceiros na defesa dos direitos de muitas das nossas classes profissionais.
Agora, não posso deixar de dizer aquilo que penso sobre o estado a que chegou o sindicalismo na área da Educação.
Desde a década de 1980 que os sindicatos de professores têm vindo a conseguir da parte da tutela a anuência a uma série de regalias que muitas outras classes profissionais não têm direito: subidas automáticas na carreira, diminuição da carga horária em função da idade, sem perda de vencimento, acesso à reforma com 30 anos de serviço (no 1º ciclo)... Por outro lado, a exigência para com os profissionais docentes nunca foi uma preocupação dos sindicatos, situação bem evidente com o silêncio que demonstraram durante anos em relação à avaliação do desempenho docente.
Ora bem, agora o feitiço virou-se contra o feiticeiro e, por causa do desleixo e imobilismo de uns, responsáveis em parte pela falta de credibilidade de toda uma classe profissional, pagamos todos...
Bravo Miguel:
É de homem a sua posição de NÂO FAZER GREVE.
Demonstra bem a sua satisfação por todos os benefícios e sentido de justiça que este governo e esta ministra mostra pelos professores.
Revele o contentamento de todos aqueles que comem à mesa do orçamento e gravitam na órbita dos "boys socialistas"
É um previlegiado...
Faz-me lembrar aquele pai orgulhoso de seu filho que no dia de juramento de bandeira dizia para o compadre e padrinho do mancebo:
--Repare bem no meu filho, como vai garboso na marcha... é o único que leva o passo certo.
Caro Miguel
Faço suas as minhas palavras.
É verdade tudo aquilo que escreve, só que muita "gente" não dá o braço a torcer...
Apesar da chuva, desejo bom domingo.
Fique bem.
O Maçariko coloca o debate sobre a greve numa questão demasiado simplista: quem fez greve está do lado dos sindicatos e quem não fez está do lado do Governo...
Esquece-se que o livre arbítrio é algo que está na condição humana!!! Bem melhor seria se tivesse vindo aqui esgrimir argumentos sérios sobre a pertinência de convocar uma greve de dois dias e os proveitos que a mesma teve em prol da classe docente...
Fico à espera...
Ó maria deves tar apaixonada pelo miguel só assim se entende tanta compreensão!!!!!!!!!!!
Olha... anonymous
Não conheço nem estou apaixonada pelo Miguel.
Apenas faço o comentário convicta
na minha maneira de ser e pensar.
E quanto à compreensão cada um tem a que tem. Ok?
Fica bem.
Conheci e/ou conheço alguns sindicalistas de Coimbra e Viseu e também da Guarda, num passado mais ou menos recente! São fenomenais... conhecem bem as escolas, não ficam nos gabinetes e sempre me pareceram preocupados com o ensino em si, com a escola e os alunos... e não apenas com as "nossas regalias"!
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