terça-feira, 8 de janeiro de 2013

As vantagens da concentração curricular

No último artigo dei conta do número de professores por cada 1000 alunos que consta do relatório da OCDE "Education at a Glance". O indicador revelou-se como surpreendente para muitos dos que aqui costumam vir dar uma vista de olhos. Alguns não se acreditaram (e pelos vistos continuam a não acreditar) que Portugal possa ter no ensino público uma média de 112 professores por cada 1000 alunos. Chamei a atenção que um dos factores responsáveis por este rácio professor/1000 alunos (o maior dos países da OCDE) é a enorme dispersão curricular que existe no nosso sistema educativo, nomeadamente no 3º ciclo do ensino básico.
A situação torna-se mais grave nas disciplinas com bloco ou bloco e meio semanal e, sobretudo, quando o docente não tem cargos como o de Director de Turma ou outros e quando não tem redução da componente lectiva. Nestes casos, há muitos professores que chegam a ter 10 turmas (quase 300 alunos) para poderem ter o horário completo.
O quadro que agora apresento tem o rácio professores/alunos por nível de ensino. Ora, fica bem patente que a situação mais compliacada ocorre nos 7º, 8º e 9º anos de escolaridade, onde a enorme dispersão curricular origina algo que muitas acreditavam não ser possível: uma média que não chega aos 8 alunos por professor. Muitos poderão questionar-se: "Como é isso possível quando temos tantos professores com mais de 150 alunos?". A razão é muito simples de perceber: enquanto continuarmos a ter tantas disciplinas nestes anos de escolaridade (chega a haver conselhos de turma com mais de 12 professores, que podem chegar aos 15 quando têm a presença dos professores do ensino especial e dos apoios!), o número de docentes afectos a estes anos de escolaridade é tão elevado, comparado com o que se passa nos outros países da OCDE, que a média dará pouco mais de sete alunos por professor. Quem lecciona ao 3º ciclo compreende a gravidade desta situação...
- por um lado, cada professor teria a seu cargo um menor número de turmas e, consequentemente, menos alunos, dado que deixaria de haver disciplinas com um bloco semanal, pelo que, certamente, facilitaria todo o seu trabalho lectivo;
- por outro lado, os alunos poderiam ter um melhor sucesso escolar, dado que teriam menos disciplinas por ano de escolaridade e estariam em contacto, pelo menos, duas vezes por semana com cada uma das disciplinas, situação que facilitaria o processo de aprendizagem dos alunos, visto que um contacto mais frequente dos alunos com as matérias facilita a sua compreensão.
Assim, considero que uma revisão do currículo dos 7º, 8º e 9º anos de escolaridade constitui uma das medidas mais importantes para que o 3º ciclo do ensino básico deixe de apresentar um tão elevado peso de retenções de alunos.
Isto não quer dizer que se deve acabar com algumas disciplinas. A carga lectiva global das disciplinas até se pode manter. O que deve mudar é a sua distribuição ao longo dos anos. Concentrar as matérias a leccionar em 2 anos de escolaridade, em vez de nos actuais 3 anos de escolaridade do 3º ciclo, só trará vantagens para professores e alunos. Uma situação muito semelhante à que já ocorre em muitas disciplinas dos cursos de ensino regular do secundário...
Só mais uma curiosidade: segundo o relatório da OCDE temos o segundo rácio mais baixo alunos/professor no ensino primário (cerca de 11 alunos por cada professor do 1º ciclo), enquanto que no ensino secundário Portugal está próximo da média dos países da OCDE (cerca de 15 alunos por cada docente do secundário).

5 comentários:

Anónimo disse...

E a concentração do currículo em poucas disciplinas não irá levar à redução do número de professores?

Pedro, o Duffus disse...

Claro que sim!

E, desejavelmente, um dos primeiros a ir deveria ser aqui o sabichão.

Rui Ratão disse...

O sucesso escolar e blá, blá, blá, blá...

Eu só sei que li no «Público» de há duas ou três semanas que, nuns estudos quaisquer - não fixei o nome -, a matemática, português e ciências, os alunos portugueses tinham sido aqueles que mais tinham evoluído, comparativamente à participação anterior.

O mais caricato é que tinham suplantado os alemães, a quem nós fomos pedir batatinhas com o «dual». Ah, e o Crato quer que eu e os demais empresários custeemos o estágio dessa gente.

Sim, que eu estava mesmo para pagar a sujeitos como o último que cá tive, de um profissional, que se metia com as clientes, até ao dia em que chamou «puta» a uma.

Por último, deves ter orgasmos a pensar em números e estatísticas. Se sabes o mínimo da matéria, tens conhecimento de que os números, as estatísticas, são facilmente martelados para apontarem o caminho que queremos.

Por mim, com mais ou menos profes, eu quero é que os meus filhos e netos tenham um ensino melhor do que eu tive. E não me parece que com mais alunos nas turmas e menos professores nas escolas isso seja possível. Aliás, não é, que os casos dos meus filhos não mentem.

Pedro disse...

Rui,
Isso quer dizer que os bons resultados registados nesses estudos são o resultado das medidas aplicadas pela tão criticada Maria de Lurdes Rodrigues?
É verdade que os números permitem múltiplas interpretações. Mas, sem eles também não podemos comparar nada...
Quanto ao ensino profissional, ouço muita gente dizer que foi um disparate terem acabado com as escolas industriais e comerciais deste país no pós 25 de Abril.
Claro que o ideal era termos turmas de 20 alunos. É verdade. Mas, também não deixa de ser verdade que a média de alunos por turma é, em Portugal, precisamente de 20 (dentro da média dos países da OCDE). Outra vez, os números...

Anónimo disse...

Então não diz nada sobre o que o FMI propõe?