Desde que o relatório do FMI foi dado a conhecer que a grande maioria da blogosfera educativa se tem resumido a apresentar os erros, falhas e omissões que as propostas do FMI comportam (e estas não são poucas, nomeadamente ao nível da actualização dos dados, já depois dos cortes aplicados no último ano lectivo).
Contudo, o debate peca por escasso, dado que o debate sério e útil deve ter em conta dois pressupostos: por um lado, interessa desconstruir as propostas das quais discordamos, enunciando as suas desvantagens, injustiças ou erros, mas também (e mais importante), há que avançar com propostas alternativas que permitam a redução da despesa com a Educação (necessidade que todas as instâncias internacionais consideram inevitável), sem que isso implique diminuir a qualidade do ensino ministrado. De outra formas ficamos a falar só entre nós, professores, e esquecemo-nos que a opinião pública fica com enormes dúvidas sobre se há ou não gastos a mais na Educação...
Contudo, o debate peca por escasso, dado que o debate sério e útil deve ter em conta dois pressupostos: por um lado, interessa desconstruir as propostas das quais discordamos, enunciando as suas desvantagens, injustiças ou erros, mas também (e mais importante), há que avançar com propostas alternativas que permitam a redução da despesa com a Educação (necessidade que todas as instâncias internacionais consideram inevitável), sem que isso implique diminuir a qualidade do ensino ministrado. De outra formas ficamos a falar só entre nós, professores, e esquecemo-nos que a opinião pública fica com enormes dúvidas sobre se há ou não gastos a mais na Educação...
Escrevo isto porque a imagem que vai passando para a opinião pública não ligada à educação é a de que, efectivamente, há professores a mais no sistema público de educação. Basta analisar o gráfico que a revista Visão coloca esta semana em grande destaque para perceber que a ideia que as pessoas vão tendo é a de que talvez haja docentes a mais. Claro que não são dezenas de milhares de professores a mais, como é referido no relatório do FMI, mas talvez não seja descabido dizer que as benesses e regalias concedidas ao longo de tantas décadas à classe docente deu nisto: o rácio alunos/professor no ensino básico mais baixo dos países da OCDE.
Um dos factores responsáveis por este rácio é, para além do facto da maioria dos professores que leccionam nos 2º e 3º ciclo do ensino básico terem direito a 4 ou 6 horas de redução da componente lectiva (resultado da elevada idade média dos docentes deste nível de ensino) a enorme dispersão curricular a que o 3º ciclo do ensino básico está sujeito. Há, pois, aqui matéria suficiente que pode e deve ser alvo de alterações.
Seria bom que todos aqueles que estão envolvidos na educação não imitassem o PS e se comprometessem com propostas concretas alternativas em relação às ideias que tanto criticam. Vou dar apenas alguns exemplos daquilo que considero que se pode fazer no sector da Educação (no pressuposto que é feito a médio e longo prazo e não de um dia para o outro) com vista a reduzir as despesas com a Educação, sem prejudicar o ensino ministrado.
Hoje avanço com uma proposta de que já falei várias vezes: avançar para uma verdadeira reforma do currículo escolar, que implique que, sobretudo no 3º ciclo do ensino básico, não existam disciplinas que tenham menos de dois blocos semanais. Claro que algumas disciplinas poderiam ver reduzido um tempo, por ciclo de ensino, na sua carga horária semanal, mas os efeitos dessa redução, em termos da diminuição do número de horários docentes, seriam mínimos.
Combater a dispersão curricular é uma necessidade mais que urgente, pois quem é professor sabe muito bem das dificuldades que existem quando tem aulas com uma determinada turma apenas uma vez por semana. Assim, mais vale que, por exemplo no 3º ciclo do ensino básico, uma dada disciplina apenas exista em dois anos de escolaridade, com mais horas em cada um deles, do que continue a existir nos três anos do 3º ciclo, mas com apenas um bloco semanal por ano de escolaridade. Esta medida teria óbvias vantagens para alunos e professores: os alunos teriam um acompanhamento mais regular com a disciplina, o que fomenta o sucesso escolar, enquanto que para os docentes daria a oportunidade destes terem as mesmas horas lectivas, com menos turmas e menos alunos, o que também possibilita o sucesso no ensino.
Combater a dispersão curricular é uma necessidade mais que urgente, pois quem é professor sabe muito bem das dificuldades que existem quando tem aulas com uma determinada turma apenas uma vez por semana. Assim, mais vale que, por exemplo no 3º ciclo do ensino básico, uma dada disciplina apenas exista em dois anos de escolaridade, com mais horas em cada um deles, do que continue a existir nos três anos do 3º ciclo, mas com apenas um bloco semanal por ano de escolaridade. Esta medida teria óbvias vantagens para alunos e professores: os alunos teriam um acompanhamento mais regular com a disciplina, o que fomenta o sucesso escolar, enquanto que para os docentes daria a oportunidade destes terem as mesmas horas lectivas, com menos turmas e menos alunos, o que também possibilita o sucesso no ensino.
Um exemplo concreto. Na escola onde lecciono, a disciplina de Geografia tem no 3º ciclo do ensino básico uma carga horária semanal de 8 tempos distribuídos da seguinte forma: 3 tempos no 7º ano; 2 tempos no 8º ano e 3 tempos no 9º ano. Ora, esta distribuição dos tempos obriga a que um professor de Geografia que só tenha ensino básico, sem direção de turma, tenha de ter cerca de 10 turmas para ter o horário completo. Ora, se a disciplina de Geografia tivesse 4 tempos no 8º ano e outros 4 tempos no 9º ano (acabando-se com a Geografia no 7º ano), a carga horária semanal da disciplina mantinha-se intacta no 3º ciclo do ensino básico (os mesmos 8 tempos), os alunos teriam um contacto mais assíduo e regular com os conteúdos leccionados e os professores teriam menos turmas a seu cargo, sem que isso implicasse uma grande redução do número de docentes necessários ao sistema de ensino. A matéria seria leccionada na mesma, mas em vez da disciplina ser trienal, passaria a bienal, sem comprometer o sucesso escolar. Por outro lado, deixaríamos de ter Conselhos de Turma com dez ou mais professores reunidos para vinte e tal alunos...
A medida poderia ter óbvias vantagens para um conjunto alargado de disciplinas: Geografia, História, Ciências Naturais, Ciências Físico-Químicas, Inglês, Francês, entre outras, sem que isso implicasse que o horário dos alunos tivesse de ser alargado. Aliás, esta proposta já existiu há cerca de 10 anos atrás. Lembro-me que Geografia só existia nos 7º e 9º anos, mas com mais horas em cada um desses anos de escolaridade.
A medida poderia ter óbvias vantagens para um conjunto alargado de disciplinas: Geografia, História, Ciências Naturais, Ciências Físico-Químicas, Inglês, Francês, entre outras, sem que isso implicasse que o horário dos alunos tivesse de ser alargado. Aliás, esta proposta já existiu há cerca de 10 anos atrás. Lembro-me que Geografia só existia nos 7º e 9º anos, mas com mais horas em cada um desses anos de escolaridade.
Esta é daquelas medidas que poderia implicar menos gastos (poderia dar lugar à contratação de menos professores, mas num número muito ligeiro quando comparado com os milhares de que tanto se fala), ao mesmo tempo que proporcionaria o desenvolvimento de um melhor ensino.
Haverá argumentos que contrariem, de forma séria, esta proposta de alteração da matriz curricular das disciplinas no ensino básico? Recorde-se que estas propostas têm de ser dadas a conhecer à troika no final de Fevereiro e que começarão a ser aplicadas já no próximo ano lectivo. Que ninguém faça como o PS (que assobia para o lado e não dá alternativas) e avancemos com propostas concretas. Num próximo artigo, darei a minha opinião sobre o que alterar ou não nos horários dos professores e nos tempos das aulas.
Haverá argumentos que contrariem, de forma séria, esta proposta de alteração da matriz curricular das disciplinas no ensino básico? Recorde-se que estas propostas têm de ser dadas a conhecer à troika no final de Fevereiro e que começarão a ser aplicadas já no próximo ano lectivo. Que ninguém faça como o PS (que assobia para o lado e não dá alternativas) e avancemos com propostas concretas. Num próximo artigo, darei a minha opinião sobre o que alterar ou não nos horários dos professores e nos tempos das aulas.
10 comentários:
Isso seria muito bonito no papel, mas o que fazer com os manuais desatualizados dos alunos? E os programas das disciplinas não teriam de ser alterados?
Até se pode fazer uma revisão curricular mas não de um ano para o outro. É uma coisa que leva tempo. E a última feita no ano passado revelou-se uma catástrofe para alguns grupos disciplinares, como o de EVT e de Português.
Já há muito tempo que digo o mesmo.
Por isso é que há mais retenções no 3º ciclo. E se virmos bem é no 3º ciclo que os professores têm mais turmas e mais alunos.
Era importante que houvesse menos disciplinas por ano no 3º ciclo.
As vantagens seriam muitas para os alunos e professores. Com menos disciplinas é mais fazer atingir o sucesso e com menos turmas é mais fácil ensinar.
Este Governo só vai mudar a matris curricular se isso significar o fim de algumas disciplinas e a redução do número de professores.
Abra os olhos e perceba que a prioridade deles não é o sucesso da educação mas sim reduzir o número de professores.
Ou ainda acredita no Pai Natal?
Cara Ana, a revisão curricular é uma necessidade urgente, sobretudo para o 3º ciclo onde ainda há muitas disciplinas com apenas um bloco semanal. A proposta pode ser bonita no papel, mas pode-se concretizar na prática. Concordo que tem de se fazer de forma faseada.
Caro Vasco, inteiramente de acordo. E a revisão curricular não tem de obrigar ao fim de disciplinas.
Caro anónimo(?), é verdade que a prioridade, neste momento de crise, é a redução da despesa. Mas, essa redução não tem de, forçosamente, significar um aumento do insucesso escolar. Tudo depende da dose com que é feita...
O Crato muda a matriz curricular se daí resultar a redução das disciplinas e do número de professores.
É que a prioridade deste governo é apenas uma: diminuir as despesas com os salários dos professores. Ao reduzir o número de horas de algumas disciplinas e ao aumentar os tempos das aulas para os 60 minutos o número de professores vai diminuir substancialmente. É isto que o Crato quer fazer a mando do FMI.
Protestar é urgente. Sábado temos que ir todos a Lisboa.
Concordo com a tua ideia. Infelizmente, não me parece qye seja isso que vá ocorrer.
A haver uma reforma curricular ela incidirá no corte de disciplinas e das suas cargas horárias, com o objectivo de recrutar menos professores.
Parece cada vez mais evidente que o objetivo deste Governo não é melhorar o ensino, mas sim reduzir as despesas.
Estou desiludida. Sábado temos que nos manifestar.
Esqueci-me de te dizer. Hoje nevou em Lamego!
Luisa, não digo que não tenhas razão no que afirmas. Mas, continuo a pensar que é possível fazer cortes sensatos que não prejudiquem a qualidade do ensino. Depende de onde se vai cortar e com que intensidade.
Vi na televisão o Montemuro coberto de neve. Espectáculo!
Penso que a reforma curricular é a medida mais decisiva para melhorar o sucesso escolar. Como se pode querer que os alunos aprendam bem com mais de 10 disciplinas por semana, mais todas as actividades extra-curriculares que hoje os jovens têm?
Mais uma: Educação Física obrigatória até aos 12º ano com um mínimo de 180min semanais.
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