segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Sobre a notícia de que a redução da componente lectiva vai acabar

Na última sexta-feira o principal tema de conversa na sala de professores da minha escola teve que ver com a notícia que vinha na capa do Diário Económico.
O jornal escrevia "Governo vai acabar com horários reduzidos dos professores". Ainda antes das 8.30H, ao chegar à sala de professores, ouviram-se vozes de indignação e raiva, sobretudo dos colegas mais velhos, em relação a esta notícia. Foi o principal tema de conversa ao longo de todo o dia...
Ora, como já anteriormente escrevi sobre o assunto, convém esclarecer o que penso sobre a possibilidade, necessidade e utilidade ou não de se acabar com as reduções da componente lectiva. Isto para não me virem acusar de defender as propostas do FMI...
Antes de mais, não acredito que a redução da componente lectiva acabe para os colegas que dela já usufruem. Por outro lado, penso que o que vai acontecer é uma alteração da actual legislação em vigor que afectará os que ainda poderiam vir a usufruir dela no futuro. Por outras palavras, julgo que a redução da componente lectiva continuará a existir, embora com um máximo de 2 ou 4 tempos, e apenas para os colegas que ainda não têm qualquer redução da sua componente lectiva. Os que dela já usufruem continuarão a usufruir. Mas, isto é o que penso que vai acontecer.
Aqueles que afirmam que não deve existir na lei qualquer redução da componente lectiva para professores (exemplo do antigo Ministro da Educação Couto dos Santos) não sabem o que é leccionar.
Agora, quero esclarecer que assim como discordo da ideia de se acabar com a redução da componente lectiva, também discordo que a diferença salarial entre um colega com 10 anos de serviço e outro com 35 anos de serviço seja tão elevada como a que temos actualmente: pode chegar aos 800 euros! Chamo a isto uma dupla-compensação com a qual discordo totalmente. Se há 15 anos atrás, quando comecei a leccionar, discordava da enorme diferença salarial existente entre um colega do 1º escalão e um do 10º escalão, o mesmo penso agora e, de certeza, que pensarei de igual forma daqui a 15 anos. E abordo a questão salarial porque a considero relevante quando se discute o direito à redução da componente lectiva. Por isso, vou esclarecer de vez o que penso sobre o que fazer com esta dupla-compensação.
A minha proposta seria a seguinte: a diferença salarial na classe docente deveria ser no máximo de 200/250 euros, visto que a função profissional de um colega em início de carreira e outro em fim de carreira é a mesma. Ambos leccionam: é a sua tarefa principal. Poderiam existir complementos salariais para quem tivesse cargos acrescidos, como já existem para quem está em cargos de direcção. Daí que defenda uma diminuição drástica da desigualdade salarial actualmente em vigor.
Resumindo:
- discordo que se acabe com a redução da componente lectiva;
- defendo que a desigualdade salarial para a mesma função profissional deve ser muito inferior à que existe actualmente;
- aceito que haja a possibilidade de "trocar" a redução da componente lectiva por um acréscimo salarial.

14 comentários:

PonteaFerregudo disse...

Por acaso, estou de acordo.

Nos tempos atuais, quando chego ao final de quarta-feira (tenho 12 horas letivas em cima), sinto-me já bastante cansado, o que não me acontecia há quatro ou cinco anos.

Será que por estar a voar para os 50 anos? Creio que sim.

A questão salarial, para mim, passa-me ao lado. Estou no quarto escalão, com 23 anos de serviço, e recebe, líquidos, pouco mais de 1400 euros. Estou cagando (perdão pela palavra) quanto a mais 50 ou 100 euros. Vivo bem com o salário de hoje, como viverei com 1200 euros, por isso nunca fiz greves por razões salariais, dado o país em que vivemos.

Agora, para cortar 1 000 000 na Educação, vai ter de ser à bruta em várias áreas do setor. Vê lá se tu não estás à bica.

PonteaFerregudo disse...

Perdão: 1 000 000 000. E pelos outros erros...

Anónimo disse...

Acabar com a redução da componente letiva daria origem a um autêntico levantamento popular por parte dos professores.
Eles apenas nos querem assustar mas serão os mais novos a levarem com as conseuqências dos cortes em cima.
Mexam-se e protestem. Dia 26 têm uma boa oportunidade.

Anónimo disse...

Mas sabem que as reduções eram feitas a partir dos 40 anos, certo?

não sei precisar mas é recente -2002 ou 2005 coisa assim- que foram retiradas e dadas a partir dos 50 anos, certo?

quando lemos parece que não sabem isso....

Anónimo disse...

os tempos são 24 e muitos têm 25, 26, 27 sem outras retribuições....

Anónimo disse...

O colega coloca o dedo na ferida. A redução letiva é justa, mas já o ganharem mais é uma injustiça.
Esta deve ser a única profissão em Portugal onde a desigualdade salarial baseada na idade para a mesma função profissional é tão grande que até pode chegar a quase dois salários minimos.
O meu delegado de grupo dá aula de Biologia como eu, tem menos turmas e ganha muito mais do que eu. Qual a lógica disto?
Com que autoridade e justiça se pode concordar com uma situação em que um colega com 5 anos de serviço e 8 turmas ganha quase menos 1000 euros do que um seu colega com menos turmas só porque este é mais velho e está quase na reforma.
Onde está o mérito ou as funções acrescidas que justificam tão grande desigualdade salarial?
Isto não acontece com militares, juizes, médicos, enfermeiros ou outras profissões pois estes vão tendo outras funções à medida que sobem na carreira. Com os professores a função é a mesma ao longo de toda a carreira.
Só é pena que apenas os mais novos falem nisto, enquanto que os sindicatos e os colegas mais velhos assobiam para o lado.
Nuno Simões - Espinho
O colega coloca o dedo na ferida. A redução letiva é justa, mas já o ganharem mais é uma injustiça.
Esta deve ser a única profissão em Portugal onde a desigualdade salarial baseada na idade para a mesma função profissional é tão grande que até pode chegar a quase dois salários minimos.
O meu delegado de grupo dá aula de Biologia como eu, tem menos turmas e ganha muito mais do que eu. Qual a lógica disto?
Com que autoridade e justiça se pode concordar com uma situação em que um colega com 5 anos de serviço e 8 turmas ganha quase menos 1000 euros do que um seu colega com menos turmas só porque este é mais velho e está quase na reforma.
Onde está o mérito ou as funções acrescidas que justificam tão grande desigualdade salarial?
Isto não acontece com militares, juizes, médicos, enfermeiros ou outras profissões pois estes vão tendo outras funções à medida que sobem na carreira. Com os professores a função é a mesma ao longo de toda a carreira.
Só é pena que apenas os mais novos falem nisto, enquanto que os sindicatos e os colegas mais velhos assobiam para o lado.

Nuno Simões - Espinho

Anónimo disse...

Essa conversa da dupla-compensação não tem lógica nenhuma. A subida de escalão por antiguidade existe em todas as profissões.

Ana disse...

Há uns tempos atrás você defendia o fim da redução da componente lectiva. Agora já é contra. Mudam-se os ventos...

Pedro disse...

Ao 2º anónimo:
Sim, os tempos são agora 24, dado estes serem de 45 minutos cada. Contudo, 2 desses tempos costumam ser para apoio, pelo que aulas propriamente ditas costumam totalizar 22 tempos semanais.

Ao Nuno Simões:
Presumo que é professor há poucos anos, pelo que lhe deve causar mau-estar ter colegas a fazer precisamente o mesmo que o Nuno e a ganharem quase o dobro do que o Nuno ganha. Quando comecei a dar aulas também não percebi a lógica de haver uma tão grande desigualdade salarial com base na idade para tarefas iguais.
Não precisa de escrever a mesma coisa duas vezes que eu percebo à primeira. ;)
Volte sempre

Ao último anónimo:
A subida na carreira por antiguidade costuma estar relacionada, na maior parte das profissões, com a indicação de novas funções profissionais, situação que não se aplica à nossa profissão.

À Ana:
Se ler bem o que escrevo vai ver que nunca fui a favor do fim da redução da componente lectiva.

Gorgi disse...

Essa de trocar a redução da componente lectiva por um complemento salarial nem está mal pensada.
Agora até me dava jeito e até eu trocava os 2 tempos a menos que tenho por uns 50 euros. O pior , mas melhor para o Governo, é que o número de contratados necessários iria diminuir.
Olha que já ouvi dizer que querem passar a componente lectiva para 25 tempos de 60 minutos cada! SE assim for o descalabro vai ser total.

Prometeu disse...

Gorgi, é o que consta.

Os horários dos miúdos vão ser uma alegria.

Por outro lado, a esperança média de vida dos professores vai cair brutalmente. O autor, de Geografia, calculará isso melhor do que eu.

Se já hoje os colegas de TIC, por exemplo, têm 12 ou mais turmas, o mesmo irá acontecer com a História, a Geografia, o Francês, o Inglês, isto é, com a maioria das disciplinas nos 2.º e 3.º ciclos, com a agravante de isso corresponder a uma carrada de níveis.

Por outro lado, a história de preparar aulas e materiais será uma miragem.

Mas, não tenhamos dúvidas, é isso que Crato, perdão Gaspar vai fazer.

Pedro disse...

Gorgi e Prometeu,
Portugal é useiro e vezeiro no "diz que disse" e nos boatos.
É verdade que o FMI propõe o aumento do horário de trabalho da Função Pública, indo de encontro à situação que existe no sector privado.
Mas, que eu saiba ainda ninguém no Governo propôs o aumento da carga lectiva para os professores. Caso alguém o faça, nomeadamente Nuno Crato, há que combater essa proposta, mas com argumentos válidos e não com críticas fáceis e sem fundamento.
É verdade que caso essa ideia fosse avante, seria mau para a qualidade do ensino ministrado nas nossas escolas e, portanto, mau não só para os professores como para os alunos.
Por isso, é urgente participar no debate público sobre a reforma do Estado Social, não só criticando, mas também avançando com propostas alternativas.
Por isso é que já escrevi várias vezes que o aumento do horário de trabalho docente é uma medida que não deve estar dissociada das mudanças a efectivar no currículo escolar: nenhuma disciplina deveria ter menos de dois blocos semanais.
Caso a proposta do aumento das 22 horas lectivas para as 25 horas avance, serei dos primeiros a criticar a proposta e a desconstruir os seus malefícios, avançando com alternativas mais certeiras.
O pior é quando os que deveriam apresentar alternativas (como os partidos da oposição) preferem fazer como a avestruz, à espera de eleições...

Anónimo disse...

Se fosse você a estar no fim da carreira já não falava assim dos salários. E também gostaria de se poder reformar antes dos 65.

Anónimo disse...

Olha, agora já está preocupado com os colegas mais velhos!