quarta-feira, 5 de junho de 2013

A entrevista de Crato à TVI: pontos positivos e negativos numa abordagem que se quer esclarecedora...

A entrevista de Nuno Crato à TVI24, apesar de não ter tido grande divulgação prévia, rapidamente foi divulgada  e  comentada,  sobretudo  por professores.  Provavelmente, muitos dos que se deram ao trabalho de a comentarem nem sequer a viram e deixaram-se levar pelo que se foi escrevendo na blogosfera e nos jornais de hoje...

Crato afirmou que esta greve não beneficia os professores (o que deixa entender que o MEC não vai recuar em nada) e teoricamente prejudica os alunos (porque se o MEC não determinasse os serviços mínimos os alunos seriam prejudicados por não poderem fazer os exames nas datas previstas). É uma visão racional  sobre as consequências desta greve que, do ponto de vista prático, não está longe da verdade... Crato afirmou ainda  que a greve foi marcada para a época de exames porque os sindicatos assim o quiseram e não porque o MEC a isso os tenha obrigado.

Foram muitos os que perspectivaram que nos exames do 4º ano iria haver muitas falhas e problemas. Crato explicou que, nestes exames, tudo correu bem. Por isso é que muitos dos que criticaram as provas do 4º ano, nomeadamente a Fenprof e alguns bloggers da nossa praça, quiseram criar alarmismo. Depois da realização dos exames ficaram calados porque os seus alarmismos não se confirmaram...

Nuno Crato afirmou que tudo está a ser feito para que nenhum professor do quadro vá para a mobilidade especial e explicou que foram criados mecanismos (conhecidos agora através do despacho de Organização do Ano Lectivo - OAL) para assegurar que todos os docentes do quadro tenham serviço nas escolas. Neste tema cometeu o seu maior erro ao longo de toda a entrevista (ao minuto 18.50s) quando revelou desprezo pelo facto de um professor do quadro, que não tenha horário na sua escola de provimento, poder vir a ter que dar aulas a mais de 200 Kms de distância para "fugir" à mobilidade especial. Deu o exemplo do Alentejo quando, provavelmente, as situações mais dramáticas poderão ocorrer no Norte (mais montanhoso e onde as distâncias-tempo entre os lugares são maiores). A resposta dada ao entrevistador "preferia que um professor ficasse sem trabalhar?" não deveria ser a resposta a dar para uma situação de mobilidade geográfica que pode significar mais de 200 Kms de distância entre a área de residência e o local de trabalho dos professores. O ponto mais negativo, a meu ver, de toda a entrevista...
Ao minuto 21 Crato esclareceu que as aposentações previstas (6000 pedidos de reformas) constituem um dos factores que mais contribuirá para que nenhum professor do quadro vá para o desemprego. Também me parece que ninguém do quadro irá para a mobilidade especial. E, já hoje, no Parlamento, Crato afirmou que o MEC está disponível para, na negociação, passar isso para o papel... Quero ver o que dirão os sindicatos e os habituais bloggers da desgraça se em Setembro se confirmar que nenhum docente do quadro foi para a mobilidade especial. Ou, como foi dos exames do 4º ano, não dirão nada???

Nuno Crato foi muito claro ao referir que se toda a Função Pública passa a ter 40 horas de trabalho semanal, não faria sentido que os professores não fossem sujeitos à lei geral. Contudo, referiu que a componente lectiva dos professores se mantém nas 22 horas (1100 minutos), pelo que este aumento de 35 para 40 horas será mais um reconhecimento no papel daquilo que já é uma realidade e não tanto uma mudança ao nível do aumento do número de turmas que os professores terão. E, neste ponto, é importante referir que apesar das horas de direcção de turma passarem para a componente não lectiva, não se confirma aquilo que os sindicatos e muitos comentadores anti-Crato da blogosfera disseram que iria ocorrer: um aumento das 22 para as 24 horas de componente lectiva... E, convém não esquecer que pelo novo despacho da OAL cada professor poderá ter 100 minutos da sua componente lectiva destinada ao apoio às aprendizagens dos alunos.  

A este nível, Nuno Crato afirmou claramente que não há professores do quadro a mais. Quanto muito, alguns poderão estar mal distribuídos pelo país... Mas, também não induziu em erro os colegas contratados, referindo que as contratações serão muito limitadas... É algo com que teremos de contar nos próximos anos. Prefiro a frontalidade do que a lógica do faz-de-conta... 

Há quem lhe chame cortes a eito, mas Nuno Crato explicou bem como muitos dos recursos financeiros foram desperdiçados antes deste governo chegar ao poder. Falou das turmas EFA com 14 alunos, mas também se poderia ter referido a outros desperdícios que ocorreram durante os governos socráticos (as Novas Oportunidades, os Magalhães, a Parque Escolar, etc.). Também explicou que aumentar o limite máximo de alunos por turma não quer dizer que todas as turmas tenham de ter o limite máximo de alunos e, em relação, a este assunto até deu a conhecer o caso de Espanha (onde o limite máximo de alunos permitido por turma até ultrapassa os 30...)

Sobre a nova geração de professores (minuto 43):
Foi um tema que Nuno Crato trouxe à conversa e que era escusado ter feito. Os professores mais velhos não devem ter gostado de ouvir Crato dizer que espera que a nova geração de professores venha a conseguir melhores resultados do que a anterior geração. Criticou a forma como muitos professores foram preparados aquando da sua formação superior, numa lógica de divisão da classe que, neste momento, não interessa que seja fomentada. Um dos pontos negativos da entrevista...

Crato explicou que a autonomia tem vindo a ser concedida, de forma gradual, às escolas, dando o exemplo concreto das cargas horárias que as escolas podem definir, tendo em conta as circunstâncias de cada uma delas. Não avançou muito sobre os novos contratos que o MEC pretende assinar com as escolas. É pena...

Concluindo, penso que foi uma entrevista esclarecedora e frontal, numa lógica de informar e de, como diz o povo, colocar tudo em pratos limpos. Claro que para os anti-Crato, desta entrevista só saíram mentiras, disparates, prepotência e tudo o que é de negativo. Há quem não tenha visto nela qualquer ponto positivo. Mas, esses são os do costume: os que só sabem ver as coisas para um lado... 

10 comentários:

Anónimo disse...

Sobre a autonomia das escolas...
... é fantástico o poder que irá ser dado ao director! Poder esse que passa por escolher os amigos todos, da mesma cor política, que mais se rebaixam, etc...

- é a volta do lambe cuzismo!

Sobre as 22 horas...

No artigo que você referiu - Artigo 8.º - Componente lectiva dos docentes - é isso que lá está, vamos a ver o que acontece neste sentido no próximo ano lectivo...

Porque:

22 x 60 = 1320 minutos! uma hora são 1320 minutos e não 1100

Ou seja, para as 22 horas reais, sobram 220 minutos

Isto é, para as 22 horas ainda faltam 4,4 aulas de 50 minutos

Desta forma,
- 22 horas = 26,4 aulas de 50 minutos
ou
- 22 horas = 29,333... aulas de 45 minutos!

São estas as contas feitas pelos sindicatos, e não foram feitas só porque lhes apeteceu, é isto que estão a preparar para o privado, e é certo e sabido que mais cedo ou mais tarde...


Anónimo disse...

Realmente com esta tua análise chego à conclusão de que tens muito tempo disponível. Só podes estar colocado bem perto de casa. Se perdesses 2 horas e meia em viagens, como eu, quando chegasses a casa querias era descanso. Para ti devia ser mais cinco horas na componente letiva.

Pedro disse...

Para o 1º anónimo(?):
O nº 1 do art. 8º é muito claro quando refere que "a componente letiva a constar no horário semanal de cada docente é de 22 horas
semanais (1100 minutos)".
Portanto, não percebo a lógica de vir com o "papão" dos 1320 minutos quando a lei é muito explícita quando menciona os 1100 minutos.
Estes 1100 minutos dão 24 tempos no caso de tempos de 45 minutos. Com os 100 minutos para apoio, cada professor terá 22 tempos de aulas...
As suas contas não fazem sentido e apenas têm como consequência provocar nos professores medo e confusão...

Para o 2º anónimo(?),
Não tenho muito tempo disponível. Aliás, escrevo apenas um post por semana, o que não é nada de especial. Há quem escreva às dezenas de posts por dia (caso de alguns dos bloggers mais conhecidos e de certeza que não é por escreverem muito que não descansam ou que prejudicam os alunos)... Quanto às horas de viagem, não te desejo mal nenhum!

Agnelo Figueiredo disse...

A questão dos 200 Km é dramática mas inevitável.
Não se podem inventar lugares...

Será, talvez, a altura de equacionar mudanças de residência, sei lá.

Se pode ser duro? Pode sim.

Anónimo disse...

São as contas acima, o fim do 79º e a mobilidade o motivo de todos os protestos!

Espero que não seja a ti que calhe nenhuma das espécies de mobilidade do crato... sinceramente que não, não se deseja a ninguém!

No entanto, não me resigno e uso todas as formas de luta ao meu alcance, se a proposta é a greve...

17 DE JUNHO - TODOS EM GREVE!

Pedro disse...

Caro Agnelo,
a mobilidade geográfica é compreensível, mas com bom-senso. A resposta de Crato à questão dos 200 kms não foi, na minha opinião, a melhor. É que as situações mais dramáticas nem irão ocorrer no Alentejo plano, mas sim no Norte montanhoso...

Caro anónimo(?),
o fim do art. 79º parece-me mais uma daquelas jogadas dos sindicatos para assustar os docentes e conseguir a sua adesão à greve. Não há sinais de que o art. 79º terá um fim anunciado. As contas apresentadas pelo primeiro anónimo também não me parecem correctas e já expliquei as razões. A mobilidade geográfica parece-me inevitável, desde que feita com sensatez. E a mobilidade especial parece que não vai afectar ninguém.
A greve até pode ser admissível como protesto pelas mudanças operadas na Educação, mas não, na minha opinião, aos exames...
Mas, respeito quem tem opinião diferente.

Anónimo disse...

Pedro,

muito bem a sua análise.
Greves aos exames e CT é lamentável.

hoje o Camilo Lourenço foi, às 15 horas, à RTP Informação e respondeu à Alberta F. sobre a situação do país de uma forma EXCELENTE. Sem papas na língua.
Adorei.

Cumprimentos.

MJ

Gorgi disse...

É assim mesmo. Há que saber analisar os pontos positivos e negativos da entrevista com algum discernimento, coisa que vai escasseando cada vez mais na discussão destes assuntos.
Também me parece que o Ministro esteve bastante à vontade na entrevista e com a intenção de esclarecer as pessoas.
Abraço

Anónimo disse...

Pedro e Agnelo (desculpem este à vontade...)por que é que não se oferecem para a mobilidade geográfica?!
Não estará na hora de mudarem de residência?! 200Km?! Não, podem ser 300 ou 400 Km! E podem ainda constituir-se como exemplo prático das boas políticas deste (des)governo!

Anónimo disse...

Faço minhas as palavras do anónimo acima!

Sejam o «exemplo prático das boas políticas deste (des)governo!»