quinta-feira, 20 de junho de 2013

Ainda a greve aos exames e as posições extremadas de alguns...

O Público de hoje deu a conhecer duas perspectivas diferentes sobre a greve ocorrida na passada segunda-feira. De um lado, um escritor que discorda da decisão tomada pelos sindicatos de marcarem uma greve num dia de exame nacional do ensino secundário, com óbvios prejuízos para os alunos, mas também para a imagem pública da classe docente. Do outro lado, um professor defensor desta greve aos exames e que, indirectamente, chega a apelidar de irresponsáveis os docentes que tornaram possível que 76% dos alunos fizessem o exame de Português.
Bastará a leitura destes dois manifestos (apenas publico os principais excertos) para se perceber que as posições estão muito extremadas. Eu bem sei que apenas uma das opiniões em confronto é que é de um professor e que a outra é de um escritor (apesar de ser filho de professores), mas a diferença de postura de ambos parece-me evidente. Vale a pena ler...
Enquanto que um fala de direitos e deveres, como as faces de uma mesma moeda, o outro apenas parece lembrar-se dos direitos (e só os dos professores). Enquanto que um critica os sindicatos e "iliba" os professores, o outro divide a classe, apontando o dedo aos que não aderiram à greve e chegando a insinuar que estes foram irresponsáveis e têm vergonha do que fizeram. Enquanto que um critica os erros do passado (por exemplo as reformas de professores aos 52 anos de idade) que ajudaram à falência do pais, o outro prefere a lógica da intolerância (acusando a "tibieza" dos que não fizeram greve)...
Enfim, um parece-me ter uma visão imparcial e racional desta questão, enquanto que o outro parece deixar-se levar por uma posição radical, pouco tolerante e notoriamente extremada. Obviamente que são posições individuais, mas a identificar-me com alguma, é fácil perceber com qual me identifico...
Ora, é um pouco deste ambiente quase claustrofóbico que, nas últimas semanas, tem dominado a classe docente deste país. Uma divisão de posições que é notória na blogosfera, nos jornais, nas escolas e nas conversas entre professores. Um mal-estar que parte, em grande medida, da falta de tolerância que alguns colegas nossos manifestam em relação aos professores que, desde o início deste confronto, assumiram não se rever nas greves aos exames e às reuniões de avaliação. 
É um direito que assiste aos professores! Cada um é apologista das formas de protesto que bem entender: podem ser estas greves (aos exames e às avaliações), como outras greves ou até boicotes, mas também podem ser manifestações de âmbito nacional, regional ou local, vigílias, concentrações, artigos de opinião, recurso aos tribunais... E também me parece pouco sensato que se diga que quem não fez greve não tem autoridade moral para se queixar desta ou daquele medida governamental. Era o que faltava!!!
É evidente que não há nenhum professor que concorde com a mobilidade especial (a grande razão desta luta), mas também é verdade que muitas das coisas que se dizem, por exemplo sobre a privatização da Escola Pública, não passam, pelo menos nesta altura, de meras suposições e alarmismos. É que não nos devemos esquecer que somos uma democracia e que temos uma Constituição que ainda serve para alguma coisa. Continuo a acreditar que, no final, a mobilidade especial será dada como inconstitucional e que nenhum professor do quadro será despedido...

7 comentários:

Anónimo disse...

Olá Pedro!
Mais uma semana de muitas peripécias e com o mal-estar a continuar instalado.
Estive a ler os dois artigos do Público que aqui colocaste e fiquei indignada com a forma como o professor grevista se dirigiu aos colegas que permitiram que muitos milhares de alunos fizessem exame. Até onde chega a intolerância e o ódio!
Cada vez fico mais convencida que estas greves apenas tiveram duas consequências: a má imagem com que muita gente ficou de nós e uma maior divisão da nossa classe.
Continua assim. Firme nas tuas ideias e respeitador das opiniões dos outros.

Uma colega tua

Ana disse...

Olha que comparação!
Um escritor desconhecido a quem o Estado não lhe tira no ordenado nem o coloca a vender livros longe de casa e o coitado do professor que tem sido roubado e desprezado pelos sucessivos governos. Claro que o professor tem de se indignar e até foi muito mansinho no que disse.
Se esse escritor de meia tigela fosse professor já não falava de barriga cheia.

Pedro disse...

É verdade colega. Se há coisa que a greve conseguiu alcançar foi a clara divisão da classe docente.

Ana,
cada um tem a sua opinião. Claro que seria mais correcto que o Público colocasse em confronto opiniões diferentes de dois professores. Não sei a razão para terem escolhido um escritor e um professor. Mas, ao trazer estas duas opiniões, apenas quis relevar o facto do professor pró-greve ter apresentado, no seu manifesto, uma postura que, na minha opinião, é extremamente radical, intolerante e até de alguma falta de democraticidade e de respeito pelos professores que optaram por não fazer greve.

Farto dos políticos disse...

Essa divisão de que falam é uma discussão inútil. A verdadeira divisão vai acontecer dentro de não muito tempo, entre os que vão ter emprego e os que vão para o desemprego.
E o mais curioso é que (a julgar pelo que vejo na minha escola, e pelo que leio em alguns sítios) os mais dispostos a lutar até são aqueles que parecem ter mais estabilidade, lutando mais por ideais ou contra coisas como o fim da redução do horário para os directores de turma. Já aqueles que não têm tantas garantias, ou são burros, ou já desistiram, ou têm medo, ou então não sei o que vai naquelas cabeças...
Talvez se arrependam daqui por uns meses, mas será demasiado tarde.

Catarina disse...

Na minha escola, ao contrário, esta greve tem gerado um clima de união como há vários anos não tínhamos. E olhe que há quem faça greve e quem não faça.

Grevista com muito gosto disse...

Você disse que discordava desta greve porque prejudicava os alunos. Gostava de saber qual a sua opinião sobre a greve geral da próxima quinta-feira. Já vai fazer greve ou agora arranja outra desculpa para a não fazer?
E pode ter a certeza que a greve às avaliações da próxima semana vai continuar a ser um sucesso apesar de haver gente como você que não se mexe uma palha para contestar esta política destrutiva do Crato.

Pedro disse...

"Os mais dispostos a lutar até são aqueles que parecem ter mais estabilidade"?
Não sei se isto é verdade! Cada caso é um caso e cada um luta e protesta da forma que considera mais justa, eficaz e pertinente. Pelo que vejo no dia-a-dia, os mais dispostos a fazerem greve nem são os que estão mais estáveis, mas precisamente os que pensam que o seu lugar mais está em risco.
E parece-me que muitos daqueles que têm o seu lugar assegurado nem estão interessados nesta luta...

Catarina,
se na sua escola há união, apesar de haver quem faz e quem não faz greve, então isso só prova que é uma escola onde há respeito pelas opções de cada um.
Ora, há escolas onde isso não acontece e onde quem não faz greve até chega a ser insultado por colegas que discordam que não se faça greve...

Ao último anónimo direi-lhe algo muito simples. Dado que discordo que, nas circunstâncias actuais o governo deva demitir-se (iria originar um novo resgate junto da troika, por falta de financiamento externo) e visto que esta greve tem como objectivo a demissão do governo, então pode deduzir facilmente o que penso desta greve...
E se você pensa que quem participou na manifestação de sábado não mexeu uma palha para contestar esta política, então estamos conversados sobre o respeito que você tem por quem foi à manifestação...