sábado, 15 de junho de 2013

Sentimento de dever cumprido...

Depois de ter participado na manifestação realizada em Lisboa (com 600 Kms de viagem pelo meio), o que se sente ao chegar a casa é o sentimento de dever cumprido. 
O sentimento de ter demonstrado o meu descontentamento e desacordo com uma medida que considero ilegal, injusta e desnecessária: a mobilidade especial. Claro que há outras questões que não me agradam (a agregação de escolas, o aumento do horário de trabalho para as 40 horas, o aumento do número médio de alunos por turma, etc.), mas que, tendo em conta os tempos difíceis que o país vive, até posso compreender, porque constituindo medidas que dificultam a manutenção da mesma qualidade de ensino, desde que realizadas com ponderação e bom-senso, não colocam em causa o sucesso dos alunos e muito menos destroem a Escola Pública.
Mas, não posso concordar com a mera hipótese de que um qualquer professor do quadro seja considerado como "descartável" e possa ser mandado para um regime que, ao fim de um ano, lhe abre as portas para o desemprego. 
Já aqui expliquei que, actualmente temos cerca de 100 mil professores do quadro, o que para cerca de milhão e meio de alunos dá qualquer coisa como um rácio de 70 professores/1000 alunos (abaixo do rácio 74,5 professores/1000 alunos de média da OCDE registado no último relatório "Education at a Glance"). 
É que também não podemos fugir à realidade! Com o contínuo processo de êxodo rural e concentração populacional nas cidades, é de esperar que na próxima década encerrem dezenas de escolas que (ainda) existem em muitas das vilas deste país. Depois do encerramento de milhares de escolas do 1º ciclo, é de prever que a próxima vaga de escolas a encerrar sejam as que se localizam nas sedes de muitos dos concelhos do Portugal profundo que, de ano para ano, vêem o seu número de jovens diminuir a um ritmo alucinante. Muitas vilas de Trás-os-Montes, da Beira Alta, da Beira Baixa e do Alentejo têm vindo a registar uma redução tão grande do seu número de alunos (muitas dessas escolas já nem turmas do secundário conseguem abrir) que o mais certo é que acabem por, no espaço de uma década, encerrar, obrigando os alunos a terem de se deslocar para as cidades mais próximas para conseguirem frequentar a escola. Consequentemente, muitos dos professores afectos a essas escolas começam a ter o seu lugar em risco, mas a solução não passa pela mobilidade especial. Passa sim pela mobilidade geográfica, tendo sempre como base a graduação profissional (afinal de contas o critério menos injusto para a colocação de docentes).
É importante lutar contra a mobilidade especial. Cada um luta da forma que considera mais correcta, mais eficaz e mais justa. Eu escolhi a participação nesta manifestação como a minha principal forma de protesto. Se mais manifestações houvesse, lá estaria novamente... Foi a primeira vez que fui a uma manifestação de professores em Lisboa. Custou, mas valeu a pena. Pelo menos, por uma questão de consciência e de cidadania. 
Veremos os próximos capítulos deste "braço de ferro" que parece não ter fim. Mas terá? Veremos qual... 

11 comentários:

Farto da escumalha política disse...

Antes de mais, deixe-me dizer-lhe que usar a palavra "ignóbil" para classificar uma acção da autoria do seu PSD só lhe fica bem, embora me pareça que os seus colegas militantes laranjas não vão achar o mesmo, sobretudo se o fizer nas reuniões da concelhia de Viseu. Mas isso é problema seu, não meu. Eu podia dizer que o Pedro começa a abrir a pestana, mas digo antes que o Pedro começa a indignar-se um pouco apenas porque vê que estas medidas o podem afectar directamente.
Quanto à realidade de que o Pedro fala, do possível, ou mesmo provável, fecho de várias escolas em vilas do Portugal profundo, aguardo ansiosamente por isso. É que eu sou um QE desterrado numa escola do distrito da Guarda, e devido à injusta e repugnante lei que dá primazia aos QZP, desrespeitando a lista de graduação, há anos que não consigo regressar ao litoral. E sendo assim, a única hipótese de deixar o interior, do qual estou farto, é a minha escola fechar. Tem vindo a perder alunos de forma gradual, por isso pode ser que me saia o euromilhões como àqueles que tiveram a sorte de as suas escolas fecharem e passaram à frente de todos os outros, ficando bem pertinho de casa, em sítios onde há um mínimo de qualidade de vida.
Finalmente, ainda sobre a sua (e infelizmente de muitos mais) decisão de fazer greve, continuo a dizer que é completamente incompreensível, pois na prática está a contribuir para que as medidas draconianas sejam implementadas. O Pedro revolta-se imenso contra elas (tanto que usou a palavra "ignóbil"), mas ainda não percebeu que a única forma de vergar ditadores como estes é tomando medidas de força? Andar aos gritos de bandeirinha na mão durante uma tarde só produz uma reacção de condescendência do tipo "deixemos lá aqueles palermas andarem por ali a desfilar, que isso nem cócegas nos faz".
Finalmente, como sei que o Pedro lê publicações de referência como o Público, e apesar de saber que o Pedro é um homem de convicções (na maioria erradas, mas é), a respeito da grave de amanhã, recomendo-lhe que leia o editorial da edição de hoje. Está lá, claro como água, porque é que é imprescindível fazer greve (a não ser que não se importe de perder o emprego num futuro não muito distante). E o Público até é tendencialmente de direita, por isso acho que devia ler e reflectir um pouco sobre o que lá vem. E já que falo na edição de hoje, se a tiver comprado ou puder ler, recomendo-lhe também o artigo de opinião de Miguel Mota chamado "tentar esquecer o passado", no qual fica explicado, também de forma clara, porque é que o PS actual é uma vergonha, o que é óbvio (sei que isto o pode incentivar a lê-lo). O problema, para si, é que o mesmo artigo mostra que o PSD também é, tal como eu acho. Leia e depois diga-me algo.

Pedro disse...

Ah! Afinal és tu, primaço!
Agora já nos podemos tratar por tu. Só não percebo porque é que andaste com tantos rodeios! Mas, vamos lá debater então esta questão...
Sim, apelido esta mobilidade especial de ignóbil, que foi inventada pelo PS e reinventada pelo PSD. É que mais do que militante do PSD sou professor e antes de ser professor sou cidadão, com opinião livre e consciente!!! Não tenho problemas em criticar o meu partido...
Quanto à tua situação pessoal, compreendo-a e também concordo que a graduação deveria ser o principal critério a ter em conta nos concursos.
Quanto à manifestação e à greve, tu criticas quem "anda de bandeirinha na mão" (olha que eu não andei!), desvalorizando a manifestação (embora ontem e hoje não se tivesse falado noutra coisa e os jornais a tivessem considerado um sucesso) e sobrevalorizas a greve, como se fosse a única hipótese de obrigar o Governo a recuar. Ora, eu discordo disso. Tanto a manifestação como a greve são formas de luta numa democracia. Respeito a tua decisão; espero que respeites a minha e que não entre no jogo daqueles que apelidam de "fura greves" aqueles que discordam desta (reforço, desta) greve.
Contudo, continuo a pensar que, depois da greve de amanhã (com sucesso ou não), a luta irá continuar. Com novas manifestações, com mais greves ou com o recurso ao Tribunal Constitucional, o importante é respeitarmos a decisão de cada um. Penso que tens de ser mais tolerante com os teus colegas que não pensam como tu. Há quem discorde da hipótese de prejudicar os alunos em exame e tens de saber respeitar isso...
Finalmente, quanto ao editorial do Público, não te esqueças que o mesmo refere no final que com a greve de amanhã "o que estará em causa é a credibilidade política do ministro e o poder dos sindicatos". Pois eu acho que isso descredibiliza a greve, pois o que deveria estar em causa era a defesa da Escola Pública e não um conflito entre o Governo e os sindicatos. Mas, respeito a tua opção. Por outro lado, no Público não diz que o que está em causa na greve é ou não a manutenção do emprego. Se fosse assim tão simples, a greve teria uma adesão de 100%. Aliás, todas as greves teriam sempre 100% de adesão.
Continuo a pensar que há outros direitos a respeitar (o direito dos alunos a fazerem exame) e outras formas de luta alternativas. É o que eu penso...
Um abraço primaço e vê lá se agora te passas a identificar!

Farto da escumalha política disse...

Antes de mais, lamento informar que não sou o seu primaço (nem sei quem é esse tal primaço). Sou um professor que há uns anos foi seu colega e por isso o conhece razoavelmente.
Os alunos têm o direito de fazer exame, sem dúvida. E nós, professores, temos o direito à dignidade profissional, que está seriamente posta em causa com todas estas medidas. Por isso, se o MEC não liga aos apelos à razoabilidade, feitos de forma calma e civilizada, é preciso usar outros meios. Isto é como no futebol: se usamos sempre a mesma táctica e perdemos sempre, é preciso mudar de táctica. Alguma dúvida em relação a isto? Isto para dizer que, caso haja alunos prejudicados (e infelizmente vai haver, tenho certeza disso) eu e os outros professores em greve vamos estar de consciência tranquila, pois os únicos culpados disso são os senhores do MEC! Quanto aos sindicatos e o seu poder, só lhe digo o seguinte: pode parecer que, ao fazer greve, estou a fazer o jogo deles, engrossando os números que lhes permitem ter visibilidade, e dando-lhes argumentos para se promoverem em confronto com o MEC. O problema é que, como em tantos outros aspectos da nossa vida social, o sistema está montado para um trabalhador apenas poder fazer greve caso o sindicato do seu sector a decrete (independentemente de esse trabalhador ser sindicalizado, ou ser, mas noutro sindicato). Discordo totalmente disso, mas como não posso decretar, de forma exclusivamente pessoal, que estou em greve (ou mesmo em conjunto com outros trabalhadores) sou forçado (neste caso da greve) a andar a reboque dos sindicatos. Mas que fique bem claro que faço greve única e exclusivamente por mim, e nada por eles.

Farto da escumalha política disse...

Esqueci-me de lhe perguntar: e o artigo do Miguel Mota, não quer comentar?

Pedro disse...

Continuo a achar que há coincidências a mais nesse discurso com o discurso do meu grande amigo primaço.
Mas, pronto, não vou insistir mais na questão. Vamos então voltar ao tratamento por você e à lógica do anonimato? Ok, por mim tudo bem, até porque aprecio o confronto de ideias. Tu sabes. Ups!!! Enganei-me. Você sabe...

Ora, artigo do Miguel Mota? Vamos lá analisar. Este senhor tenta, na minha opinião, colocar, como se costuma dizer, no mesmo saco PSD e PS. Esquece-se, ou faz-se por esquecer, que os governos do PSD podem ter tido muitos erros (e tiveram, como o desperdiçar de muitos fundos comunitários), mas foram os governos do PS de Sócrates que fizeram disparar a dívida pública dos 60% do PIB (valor considerado por todos como razoável) para os quase 100% do PIB. Foram os governos socráticos que insistiram em obras públicas (sobretudo auto-estradas) que já não precisávamos (ainda por cima recorrendo a PPP`s vergonhosas). Enfim, foi Sócrates que nos meteu na bancarrota...
Por isso, não concordo com Miguel Mota quando tenta colocar ao mesmo nível o PSD e o PS. Para mim PSD e PS não são iguais. Podem ser iguais nos vícios do clientelismo e do amiguismo. Mas, em matéria de obra feita, os governos PSD foram sempre mais competentes do que os do PS. Foi o PS que nos meteu neste buraco e trouxe para cá a troika. É a minha opinião...

Farto da escumalha política disse...

Amigo Pedro, volto a dizer que não faço ideia de quem é esse tal primaço. Mas se quer tirar as dúvidas, basta que o contacte e lhe pergunte se foi ele que escreveu isto.
Quanto ao que o Pedro diz sobre o artigo do Miguel Mota, eu também acho que o Sócrates foi provavelmente o pior governante de Portugal, pelo menos nas décadas mais recentes (também não era difícil, convenhamos). Só que isso não faz do PSD bom, pois tal como o Pedro reconhece, os vícios são os mesmos. As (poucas) virtudes do PSD (quando comparado com o PS, não em absoluto, entenda-se) são as tais diferenças de pormenor, que levam a que se possa considerar que são farinha do mesmo saco, no essencial.
Já agora, um pormenor: não critique tanto o Sócrates, pois apesar do péssimo desempenho dele, a verdade é que ele deu ao PSD o pretexto perfeito para tomar medidas extremamente impopulares, que de outra forma o seu partido dificilmente tomaria, não por falta de vontade, mas por falta de oportunidade...

Anónimo disse...

Nem fui à escola. Greve é greve.

Anónimo disse...

Estamos à espera de um comentário seu ao grande sucesso que a greve teve.

Anónimo disse...

Estou muito contente por ter ido vigiar o exame de hoje de Português e de a minha escola ter assegurado todas as salas para os nossos alunos realizarem o seu exame.
PS. Não sou de Português...

Felicidades para os alunos que o realizaram e para as suas famílias..

MJ

Farto da escumalha política disse...

Amiga MJ
Vou já recomendá-la para receber uma condecoração no próximo 10 de Junho, pois a sra merece.
Já que gostou tanto de vigiar o seu exame, não quer vigiar também aqueles para os quais eu estou nomeado? Posso dar uma palavrinha em seu favor para lhe darem uma medalha...

Santiago disse...

A maior vergonha desta classe é o constante queixume sobre as condições a que os professores são sujeitos diariamente e depois nada fazem para fazer ouvir a sua voz. Não me venham com sentimentalismos sobre as consequências negativas desta greve para os alunos. Como é de esperar nenhum aluno sairá prejudicado dado que era certo que se iria encontrar uma nova data para a realização da Prova de Português. Sendo assim, não posso compreender a falta de coragem em não fazer greve aos exames. A maioria que defende outras formas de luta menos radicais podem a partir de agora ficar conscientes que perderam a autoridade moral para manifestar qualquer desagrado perante as futuras políticas destrutivas que serão aplicadas na Educação. O que está aqui em jogo não é só as 40 horas e a Mobilidade Especial, é sim um conjunto de medidas que foram ao longo destes dois anos implementadas em nosso desfavor e que nos fazem constantemente mossa na nossa dignidade como professor e passo a relembrar:
1º Aumento do número de alunos por turma. Como é possível que todos os professores se queixem que as turmas são cada vez mais barulhentas, indisciplinadas, desinteressadas e com fraco rendimento e depois não fazerem nada para demonstrar o seu desagrado?
2º Revisão curricular que retirou imensas horas letivas e reformulou outras a diversas disciplinas e que é responsável pela destruição de imensos horários em todos os grupos disciplinares à exceção de Português e Matemática.
3º Retirar a hora de Direção de Turma da Componente Letiva o que acarreta mais uma turma para os professores completarem a totalidade da componente Letiva.
4º Não aplicar o respeito da graduação profissional aquando dos concursos nacionais dado que em muitos casos temos professores menos graduados a ficarem com melhores escolas e mais perto de casa( QZP estarem à frente dos QE no Destacamento)e o ridículo Concurso extraordinário, assim como este concurso interno com as miseráveis vagas manipuladas pelo MEC.
5º A constante vergonha que ocorre nos concursos de oferta de escola em que os professores sujeitam-se a situações degradantes para quem é considerado mão de obra qualificada.
6º A possível requalificação dos docentes considerados excedentários e que farão uma possível formação à força em 12 meses e que terão habilitações para dar aulas em qualquer grupo de recrutamento onde haja falta de recursos humanos. Onde está a defesa de uma escola de qualidade?
7º Finalmente, o constante roubo que nos é feito aos nossos salários. Será que é só no meu salário é que têm tirado dinheiro todos os meses? Devemos falar sobre o nosso vencimento e não devemos ter vergonha disso. Temos sido espoliados mensalmente e o dinheiro faz falta a toda a gente e os professores não são exceção.
Se estas razões não são suficientes para que possamos lutar pelos nosso poucos direitos que ainda temos, então posso dizer que os professores que não fizeram greve não têm qualquer autoridade moral para demonstrar desagrado pelas condições que presentemente têm.
Pedro, acho que devia ter feito greve pois sei que também sente na pele estas medidas destruidoras da nossa qualidade profissional.
Para grandes males, grandes remédios.
Para todos os professores que fizeram greve um bem haja, para os outros...........